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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

TÁ NA RUA TÁ NO ETÉREO

Em 1980 surgiu um grupo formado por atores e atrizes que se lançaram nos espaços abertos em busca de uma linguagem teatral popular e horizontal. Não estavam satisfeitos com os caminhos tomados pelo Teatro até ali convencional. Romperam com a caixa fechada e se lançaram nas ruas com sua trouxa, seu tambor e sua bandeira, cortejando pelas avenidas como uma nova proposta para a população ainda prisioneira da Ditadura. Assim nasceu o Tá Na Rua. Foram anos pesquisando para então poderem dizer que eram uma família, onde cada membro tinha sua identidade.

Uma dos membros da família era Lucy Mafra, a mulher que rodopia, grita e cai. Quando ela se apresentava o mestre de cerimônias perguntava: Porque ela grita? Porque ela rodopia? Porque ela cai? A sua forma explosiva, sua rodada violenta impressionava a platéia, que impactada, respondia e revelava as questões e dificuldades do povo naqueles anos de ferro. Ela grita e cai por causa do aumento do leite? Por causado desemprego? Ou porque ela está doente e não consegue ser atendida? O número apresentado por Lucy era um entre outros apresentados pela Família Tá Na Rua, que revelava toda uma situação vivenciada pela sociedade e uma atuação com a qual a platéia se identificava, pois tinha a ver com seus cotidianos.

O Tá Na Rua completou este ano 34 anos de existência e tudo teve seu inicio com estes atores que não tiveram medo de se despir das suas ideologias e vestir os trapos da fantasia. A linguagem que a atual geração do grupo herdou deve muito aos seus fundadores, entre eles, Lucy Mafra. Nós os chamamos de dinossauros, um apelido carinhoso e que de certo modo tem a haver com os primórdios do grupo, onde cada um, quando se manifestava, ficava do tamanho dos repteis colossais.

No dia 04 de Dezembro, a mulher não rodopiou, não gritou, mais caiu. Sua saia não mais vai girar...  Não nesta dimensão. Nesse momento imagino que seu espírito esteja dormindo e sendo cuidado pelos médicos do plano astral. Assim que acordar e estiver melhor, vai vestir a melhor saia e se encaminhar para o Circo Etéreo, onde, segundo se fala, os artistas que partiram desse mundo se encontram e se apresentam. Sua energia pura irradia esperança e paz para tranqüilizar as almas errantes e inquietas e amenizar as energias violentas da terra. Lá, será recebida por membros do grupo que também já partiram e então o Tá Na Rua, que leva esperança e alegria, também estará se manifestando no Circo Etéreo, pois conta com um time poderoso.

Mais uma vez Lucy poderá representar a mulher que rodopia, grita e cai, desta vez tendo a companhia de Serginho Luz, o rapaz que salta, salta alto, salta por cima da trouxa, solta entre as nuvens; de Marcele, que estará dançando como nunca – “Ana Maria Entrou na Roda” – e tendo como  parceiro Antônio Firmino, o negro de sorriso fácil e força nos pés. Todos embalados pelo som do DJ das Emoções Baratas, Roberto Black.

Tá Na Rua, Tá Na Praça, Tá No Etéreo.
Evoê, Atótó, Ogunhê, Namasté, Amén

Herculano Dias

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