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sexta-feira, 31 de julho de 2015

Dona Zefinha: herdeiros de uma arte milenar

Adailtom Alves Teixeira[1]

Aristóteles afirmava que “o homem é único animal que ri” e Millôr Fernandes complementava: “e é rindo que mostra o animal que é”. Os integrantes do grupo Dona Zefinha, de Itapipoca/CE são herdeiros de uma tradição milenar que, ao longo da história fez reis, rainhas, burgueses e, principalmente, os populares rirem. São representantes dos bobos, menestréis, arlequinos e palhaços. Artistas que dominam a palavra, o corpo, a voz e tocam diversos instrumentos musicais.

Trata-se de um grupo familiar que foi criado ainda na década de 1990 e leva o nome da mulher que cuidou na infância dos três irmãos Ângelo Márcio, Orlângelo Leal e Paulo Orlando. A trupe mantém em repertório diversos espetáculos, administram um espaço cultural na cidade de Itapipoca/CE e auxiliam na realização do Festival de Inhamuns/CE. Além do trio, fazem parte dos espetáculos apresentados a atriz Joélia Braga e o músico Samuel Furtado.

Dona Zefinha participou da oitava edição do Amazônia Encena na Rua, uma criação do Imaginário e, hoje, realizado pelo Sesc. O grupo brindou o público com dois espetáculos: O circo sem teto da lona furada dos bufões, um musical infantil, mas que agrada a todas as idades; e O casamento de Tabarim, farsa medieval adaptada por Orlângelo Leal que mistura versos de cordel, música e outras obras teatrais.

As apresentações ocorreram nos dias 25 e 26 de julho na Praça das Três Caixas d`Água na cidade de Porto Velho/RO. O público, se não foi o maior é certo que foi um dos maiores durante a programação e ninguém arredou pé, pois o domínio dos menestréis é enorme, tanto cênico, como na relação direta com o público. Os artistas fazem da praça sua sala de estar. Prova disso foram os comentários do público: “são ótimos”! “que diabo mais esquisito” e continuavam a gargalhar.

No espetáculo Tabarim, a chave cômica gira em torno da esperteza, da malandragem desse personagem arquetípico, que busca nos golpes, em sua astúcia a possibilidade de uma vida menos dura, com pouco trabalho. Daí a ideia de casar com uma mulher rica, mas nem sempre as coisas ocorrem conforme o desejo, já que tem que enfrentar Méfisto, que virá buscar a alma da amada. Misto de Briguela e Arlequino, Tabarim se safa dos problemas que provoca e até daqueles que não buscou para si.


Já o Circo sem teto... rende homenagem aos circos populares, sobretudo os pequenos circos, nos quais os palhaços são fundamentais. Cabe destacar que as criações musicais são riquíssimas, muito bem arranjadas e executadas. Fica evidente que o manancial da cultura popular brasileira é fonte inspiradora, mas também espaço de construção do repertório do grupo, aliado ao estudo e ao rigor técnico, presente nos dois espetáculos apresentados no Amazônia Encena na Rua. Que esses artistas continuem a provocar o riso e a inspirar outros arteiros mundo a fora.

Fotos: Agenda Porto Velho




[1] Professor da Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Rondônia; mestre em Artes pelo Instituto de Artes da UNESP; ator e diretor teatral.

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