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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Relato do mestre Ray Lima sobre o Ocupa Nise - Rio de Janeiro/RJ

Nunca vi, vivi tanta ciência, educação popular, arte, amorosidade, humanização, produção de saúde, alegria, criatividade, fé, liberdade, afetividade incondicional, espontaneidade, vontade coletiva, expressividade, intuição, humanidade, etc. tudo isso junto e ao mesmo tempo. Uma polifonia de existência, resistência e saber.
 
Desde o dia 09 de julho que estamos acampados, ou melhor, hospedados no Hotel da Loucura, no terceiro andar, um espaço adaptado de antigas enfermarias desativadas do hospital psiquiátrico Nise da Silveira. Trata-se do II Congresso da Universidade Popular de Arte e Ciência - UPAC que este ano acontece dentro de um hospital. Aqui nos misturamos com os "clientes" como Nise gostava de chamar as pessoas que são trazidas para cá em busca de tratamento, amparo e cuidado. Antes da Dra. Nise da Silveira reinavam o eletrochoque, a lobotomia e outras soluções tanto quanto brutas, violentas. Hoje sentimos que, embora com os avanços provocados pela ação corajosa e amorosa daquela mulher alagoana e nordestina a partir da arte e da ciência, muito tem a ser feito em termos de conduta médica e de aprofundamento da pesquisa e da prática da arte em processos de cura, de reanimação do ser para a retomada de sua dignidade como ser humano autônomo, liberto e senhor de si. Dra. Nise demonstrou que isso é possível por meio da criação artística, principalmente da pintura e também da terapia com animais. E nós, a partir do teatro, da cenopoesia, da dança, da música, das manifestações e celebrações criativas e alegres, em 15 dias de residência e resistência, convivendo com tantas pessoas maravilhosas, sensíveis, sofridas, mas extremamente inteligentes e capazes de se relacionar com o outro com uma sinceridade que nas relações sociais lá fora é muito raro encontrarmos. É assim, fazendo arte, comendo, aprendendo e vivendo juntos, até porque alguns deles e delas passaram a dormir no Hotel da Loucura conosco, portanto é desse modo que vamos desvendando os mistérios das relações humanas, dos desequilíbrios que a sociedade gera em nossos corpos e almas e depois nos expurga, nos afasta do convívio coletivo, nos atrancafiando nas redomas da solidão, do desprezo e da violência. Hoje não mais do eletrochoque e da lobotomia, mas ainda da chamada "camisa-de-força química" e do descuido, de sutis maus-tratos físicos e anímicos. Pelos depoimentos emocionados de cuidadores e clientes, pela nossa emoção, pela mudança sentida também em nós esse congresso representa um passo fundamental adiante em relação aquilo que Nise da Silveira iniciou nos 40 do século passado.
O jovem artecientista Vitor Pordeus através da UPAC e do Núcleo de Arte e Ciência da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro nos provoca e aponta caminhos. Por aqui já passaram José Pacheco da Escola da Ponte de Portugal, Amir Haddad do Tá na Rua do Rio de Janeiro, Dra.Vera Dantas das Cirandas da Vida-CE, o diretor, encenador, cenopoeta e dramaturgo Júnio Santos do Movimento Escambo Popular Livre de Rua, Dra. Heloísa Helena Costa da Universidade Federal da Bahia, o Cantor Ney Matogrosso, além dos grupos de teatro de rua de São Paulo:Pombas Urbanas, Inventivos e Buraco d'Oráculo; e ainda o músico e compositor Edu Viola e sua companheira educadora e cantora Lu Calheiros. Do Ceará: Pintou Melodia na Poesia; Cirandas de Arte, Aprendizagens, Pesquisa e Cuidado; as Cirandas da Vida; e o Templo da Poesia. De Sergipe: duas representantes do MOPS/ANEPS das práticas integrativas e populares de Cuidado de Aracaju; de Florianópolis a cuidadora e Homeopata Dra.Aidê Haviaras; do Rio:Mãe Tânia, Leo e Gabriela Haviaras do grupo Tupi NagÔ,  e os agentes culturais de Saúde; o pesquisador da Fiocruz e palhaço Matraca; o dentista, gestor de saúde e músico Gert Wimmmer, entre outros; do Rio Grande do Norte, o Bando La Trupe de Natal e  o Cervantes do Brasil de Macau. Do Nise da Silveira, Dra. Gladis coordenadora do Museu do Inconsciente, o diretor do Instituto Nise da Silveira, o ponto de cultura Loucura Suburbana. E por fim: Reginaldo ou dependendo da ocasião e do dia pode ser nosso Rei Naná ou nossa Rainha Judith; o Pelézinho, cantor, compositor e rei das embaixadinhas; Rogerinha, cantora de rap e samba maravilhosa; Roque, intérprete incrível de Roberto Carlos e ator; Odacir, cantor de samba canção e de raiz; Gadu, o Grande Arquiteto do Universo, de uma cultura literária invejável,  canta Chico e recita Vinícius. Rogerinho, o nosso passarinho beija-flor, de uma singeleza, delicadeza absoluta e encatadora; Jeane Cardoso, Rita, Ritinha, Enoque, Janice, Flávia, Patrícia Marinho, Jorge, entre tantos outros e outras que não caberia nesta lista de homens e mulheres doidos e doidas para viver e ganhar um espaço para expressar suas dores, sonhos e esperanças. Aqui nasceu uma nova visão de saúde mental e o museu do inconsciente. Agora é dado um outro passo importante rumo a uma base de formação e de práticas substanciais em arte e ciência.
 
Estou espantando com tudo isso. Vida que segue sob o ritmo alegre e aprendente do Ocupa Nise e do Congresso da UPAC.



Textos produzidos pelos integrantes do Pombas Urbanas no OcupaNise - RJ

Companheiros,


Seguem três textos que produzimos aqui no Hotel da Loucura durante este intenso e vigoroso Congresso da UPAC - Universidade Popular de Arte e Ciência que está sendo realizado no Rio de Janeiro dentro do Hospital Psiquiátrico Pedro II.

Companheiros,

Queremos compartilhá-los com vocês essa magnífica experiência que estamos vivendo junto  com muitos companheiros de Teatro de Rua como Ray Lima, Filipo e Junio Santos do  Movimento Escambo, Inventivos, Buraco D'oráculo, grupo Tupinagô e diversos coletivos culturais.


Para saber mais sobre o OcupaNise! acessem os links abaixo








Marcelo Palmares
Pombas Urbanas

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Ocupa Nise  Hotel da LoucuraOcupa Nise  Hotel da Loucura
          Gostaríamos de relatar a importância que este congresso tem para a sociedade e principalmente para os clientes e funcionários desta instituição a qual a Dra. Nise da Silveira se dedicou tanto, passando por cima de preconceitos e exigindo mudanças drásticas nos tratamentos utilizados que ao em vez de curá-los os deixavam como zumbis cambaleantes. Mostrou que com a arte é possível mudar, transformar, curar. Hoje estamos vivendo esta experiência de uma maneira intensa, fora de nosso ambiente de trabalho que já estamos acostumados para conviver durante 31 dias hospedados no Hotel da Loucura entre grupos de teatro de rua, músicos, bailarinos e bailarinas, brincantes, atores e atrizes,  grandes poetas cantadores, artistas plásticos, médicos e futuros médicos, agentes culturais de saúde e clientes,  que nos emociona,  alegra e nos espanta.           Gostaríamos de relatar a importância que este congresso tem para a sociedade e principalmente para os clientes e funcionários desta instituição a qual a Dra. Nise da Silveira se dedicou tanto, passando por cima de preconceitos e exigindo mudanças drásticas nos tratamentos utilizados que ao em vez de curá-los os deixavam como zumbis cambaleantes. Mostrou que com a arte é possível mudar, transformar, curar. Hoje estamos vivendo esta experiência de uma maneira intensa, fora de nosso ambiente de trabalho que já estamos acostumados para conviver durante 31 dias hospedados no Hotel da Loucura entre grupos de teatro de rua, músicos, bailarinos e bailarinas, brincantes, atores e atrizes,  grandes poetas cantadores, artistas plásticos, médicos e futuros médicos, agentes culturais de saúde e clientes,  que nos emociona,  alegra e nos espanta. 
           E para nós, fazedores de arte, está sendo uma experiência motivadora e provocante,   pondo a prova, a cada momento,  as nossas capacidades artísticas e de convivência humana porque nesta convivência estamos misturados,  deixamos de ser  sabedores da arte para sermos aprendizes , de ser protagonistas de um espetáculo formal para ser coadjuvantes de várias histórias que estavam guardadas dentro de uma caixa a sete chaves e que agora se abre com a música, a poesia e  imaginação. A nossa experiência tem que ser usada para contribuir na construção de novas possibilidades.           E para nós, fazedores de arte, está sendo uma experiência motivadora e provocante,   pondo a prova, a cada momento,  as nossas capacidades artísticas e de convivência humana porque nesta convivência estamos misturados,  deixamos de ser  sabedores da arte para sermos aprendizes , de ser protagonistas de um espetáculo formal para ser coadjuvantes de várias histórias que estavam guardadas dentro de uma caixa a sete chaves e que agora se abre com a música, a poesia e  imaginação. A nossa experiência tem que ser usada para contribuir na construção de novas possibilidades.
           É lindo ver nas assembleias artísticas, seres humanos que estavam em uma condição de cativeiro, dopados pela consciência e sabedoria soberba de alguns ditos estudados da ciência do comportamento humano  e do mercado farmacêutico,  serem  livres nas suas expressões, dos preconceitos,  dos sossega-leão, do esquecimento, da desumanização. A cada dia que convivemos com os clientes percebemos como estão evoluindo. Quem não falava agora múrmura algumas palavras e canta, dança, se emociona e nos emociona. Quem era triste dava  rompantes de gargalhadas, quem  tinha pouco movimento dançava, quem era tido como violento dava abraços de amor e carinho, quem era tido como esquizofrênico  declamava poesias de Carlos Drummond, e Vinicius de Morais e cantava músicas de Chico Buarque e Secos e Molhados com uma segurança  de se maravilhar, inventa, cria e recria novos ritmos, novas músicas.  Saímos daqui  renovados e recuperados, motivados por novas ideias,  e que a Arte também pode remover montanhas. A Arte cura.           É lindo ver nas assembleias artísticas, seres humanos que estavam em uma condição de cativeiro, dopados pela consciência e sabedoria soberba de alguns ditos estudados da ciência do comportamento humano  e do mercado farmacêutico,  serem  livres nas suas expressões, dos preconceitos,  dos sossega-leão, do esquecimento, da desumanização. A cada dia que convivemos com os clientes percebemos como estão evoluindo. Quem não falava agora múrmura algumas palavras e canta, dança, se emociona e nos emociona. Quem era triste dava  rompantes de gargalhadas, quem  tinha pouco movimento dançava, quem era tido como violento dava abraços de amor e carinho, quem era tido como esquizofrênico  declamava poesias de Carlos Drummond, e Vinicius de Morais e cantava músicas de Chico Buarque e Secos e Molhados com uma segurança  de se maravilhar, inventa, cria e recria novos ritmos, novas músicas.  Saímos daqui  renovados e recuperados, motivados por novas ideias,  e que a Arte também pode remover montanhas. A Arte cura.
           É incrível a coincidência de algumas coisas, ao terminar este escrito , Albertina  trazida por Ivan para mostrar como ficou o Hotel da Loucura , abre a porta do quarto  dizendo como foi a sua época de sua internação e  agradece o que vê hoje com uma declaração do psicólogo  Roberto Crema: " Os que ainda mantém as ideias fechadas são os dragões e vocês que estão ocupando este espaço são os novos avatares".           É incrível a coincidência de algumas coisas, ao terminar este escrito , Albertina  trazida por Ivan para mostrar como ficou o Hotel da Loucura , abre a porta do quarto  dizendo como foi a sua época de sua internação e  agradece o que vê hoje com uma declaração do psicólogo  Roberto Crema: " Os que ainda mantém as ideias fechadas são os dragões e vocês que estão ocupando este espaço são os novos avatares".
Paulo Carvalho, Marcelo Palmares e Natali Santos - Pombas UrbanasPaulo Carvalho, Marcelo Palmares e Natali Santos - Pombas Urbanas
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Hotel da LoucuraHotel da Loucura
Me hospedei no Hotel da LoucuraMe hospedei no Hotel da Loucura
Não sabia o que ia fazerNão sabia o que ia fazer
Não sabia o que ia dizerNão sabia o que ia dizer
Me sentia preso, muitas vezes incapazMe sentia preso, muitas vezes incapaz
E o que eu sabia não servia aqui,E o que eu sabia não servia aqui,
O que eu queria não servia aqui,O que eu queria não servia aqui,
O que compreendia tão pouco serviaO que compreendia tão pouco servia
  
Me hospedei no Hotel da LoucuraMe hospedei no Hotel da Loucura
E fui atropelado por um caminhão de emoções e cançõesE fui atropelado por um caminhão de emoções e canções
Por poesias e atuaçõesPor poesias e atuações
Quebrei-me todo ficando em pedaços no chãoQuebrei-me todo ficando em pedaços no chão
Mas  aos poucos fui me recompondo só com os pedaços da imaginaçãoMas  aos poucos fui me recompondo só com os pedaços da imaginação
Para criar uma nova cançãoPara criar uma nova canção
E  resto continua no chão.E  resto continua no chão.
  
Me vou do Hotel da LoucuraMe vou do Hotel da Loucura
Agradecido com tudo que aquiAgradecido com tudo que aqui
Aprendi.Aprendi.
  
Paulo CarvalhoPaulo Carvalho
Pombas UrbanasPombas Urbanas
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Querida  Nise,Querida  Nise,
Como vai?Como vai?
Quero lhe contar da surpresa que tive ao receber seu convite, entregue Pordeus, acompanhado dos seus querubins caídos, ou melhor, cuspidos dos céus do descaso onde as nuvens de hipocrisia e entorpecentes tentam apagar o brilho das "estrelas de lucidez" que habitam esta resistente ocupação quilombola suspensa e submersa no meio do Engenho de Dentro. Contradigo-me agora, dizendo que não me surpreende. Mas como dizia o poeta: "Um homem que não se contradiz é um homem morto". Quero lhe contar da surpresa que tive ao receber seu convite, entregue Pordeus, acompanhado dos seus querubins caídos, ou melhor, cuspidos dos céus do descaso onde as nuvens de hipocrisia e entorpecentes tentam apagar o brilho das "estrelas de lucidez" que habitam esta resistente ocupação quilombola suspensa e submersa no meio do Engenho de Dentro. Contradigo-me agora, dizendo que não me surpreende. Mas como dizia o poeta: "Um homem que não se contradiz é um homem morto".
Não me surpreende que você saiba da minha enfermidade, dessa febre que não baixa, que lá fora é controlada por potentes doses de ganância, poder, imoralidade e violência que bombardeiam meu corpo incessantemente, prescrita em pequenas porções, para que eu não tenha uma convulsão de abstinência de vida.  Você já teve essa febre? Já delirou?Não me surpreende que você saiba da minha enfermidade, dessa febre que não baixa, que lá fora é controlada por potentes doses de ganância, poder, imoralidade e violência que bombardeiam meu corpo incessantemente, prescrita em pequenas porções, para que eu não tenha uma convulsão de abstinência de vida.  Você já teve essa febre? Já delirou?
Querida amiga, quero lhe agradecer pela vela que deixaste acesa ontem e hoje é fogueira neste quilombo onde me reencontro a todo momento com minha alma, tentando me curar das drogas, dos cracks,  das maquiagens, dos acidulantes e conservantes,  que o Todo-Poderoso SISTEMA  me injeta todos os dias e noites através  dos cabos  que me conectam ao Uni-presente, Uni-potente, pelos eletrochoques virtuais, irreais, impalpáveis de imagens que não sinto, que não sou, que desejo e que não quero.Querida amiga, quero lhe agradecer pela vela que deixaste acesa ontem e hoje é fogueira neste quilombo onde me reencontro a todo momento com minha alma, tentando me curar das drogas, dos cracks,  das maquiagens, dos acidulantes e conservantes,  que o Todo-Poderoso SISTEMA  me injeta todos os dias e noites através  dos cabos  que me conectam ao Uni-presente, Uni-potente, pelos eletrochoques virtuais, irreais, impalpáveis de imagens que não sinto, que não sou, que desejo e que não quero.
Aqui minha alma dança de saias de palha, representa, vibra, baila ensandecida de verdade e humanidade, tornando-se invólucro do meu corpo que reivindica a todo instante um espaço que me foi usurpado. Aqui minha alma dança de saias de palha, representa, vibra, baila ensandecida de verdade e humanidade, tornando-se invólucro do meu corpo que reivindica a todo instante um espaço que me foi usurpado.
Aqui, nesta cidade submersa nos lodos da "Verdade Única", os rituais mais antigos são representados todos os dias pelo índio que toca e canta em roda  para crianças de todas as cores, para que seus corpos se encontrem com seus ancestrais, para não tenham medo do som dos tambores e não se esqueçam da dança, para que a ferrugem corrosiva e cancerígena lhe são injetados nas salas de aulas das escolas feudais pelos  Capitães e Senhores do Engenho de Fora não atinja seus ossos e sonhos. Aqui, nesta cidade submersa nos lodos da "Verdade Única", os rituais mais antigos são representados todos os dias pelo índio que toca e canta em roda  para crianças de todas as cores, para que seus corpos se encontrem com seus ancestrais, para não tenham medo do som dos tambores e não se esqueçam da dança, para que a ferrugem corrosiva e cancerígena lhe são injetados nas salas de aulas das escolas feudais pelos  Capitães e Senhores do Engenho de Fora não atinja seus ossos e sonhos.
Enquanto rabisco esta prosa, nossa guarda de loucos, prostitutas, execrados, viados, bêbados, mendigos, meninos de rua e desvairados incendeia a passarela com seus cânticos satíricos, poetizados para despertar os marinheiros e aventureiros de todo o Sul da América. Toda uma gente sem destino marcado, vindos das gotas de poeira cósmica. Um canto que nunca ouvi, mas sei cantar.Enquanto rabisco esta prosa, nossa guarda de loucos, prostitutas, execrados, viados, bêbados, mendigos, meninos de rua e desvairados incendeia a passarela com seus cânticos satíricos, poetizados para despertar os marinheiros e aventureiros de todo o Sul da América. Toda uma gente sem destino marcado, vindos das gotas de poeira cósmica. Um canto que nunca ouvi, mas sei cantar.
Bom minha irmã, vou terminando esta carta com os pedaços de palavras que encontro soltas nos olhos das estrelas que encontro no caminho, porque Mãe Naná, um deus negro de cabelos de Iara, ou de Judith, já deu a ordem a Maturana que tocasse o sino, que Espinosa aprontasse o café e o vinho negro que será servido pelas Bacantes aos Brincantes da Folia que partirão em missão ceno-poética para libertar São Roque da Fanta Laranja que foi aprisionado na "Mansão dos Mortos" pelos Zangões da Cegueira que tentam impedir a nova Primavera  anunciada pelas borboletas, que em breve irão partir daqui, carregadas de pólen dos jardins do Engenho de Dentro. Não existe volta. O cimento não pode mumificar a semente.Bom minha irmã, vou terminando esta carta com os pedaços de palavras que encontro soltas nos olhos das estrelas que encontro no caminho, porque Mãe Naná, um deus negro de cabelos de Iara, ou de Judith, já deu a ordem a Maturana que tocasse o sino, que Espinosa aprontasse o café e o vinho negro que será servido pelas Bacantes aos Brincantes da Folia que partirão em missão ceno-poética para libertar São Roque da Fanta Laranja que foi aprisionado na "Mansão dos Mortos" pelos Zangões da Cegueira que tentam impedir a nova Primavera  anunciada pelas borboletas, que em breve irão partir daqui, carregadas de pólen dos jardins do Engenho de Dentro. Não existe volta. O cimento não pode mumificar a semente.
Despeço-me deixando meu "abraços com asas" ao Pai-Xão, a Mãe-Terra, ao Fruto-Filho ao Espírito e ao Santo.Despeço-me deixando meu "abraços com asas" ao Pai-Xão, a Mãe-Terra, ao Fruto-Filho ao Espírito e ao Santo.
Que todos se  AMÉM!Que todos se  AMÉM!
Marcelo Palmares – grupo Pombas UrbanasMarcelo Palmares – grupo Pombas Urbanas
OcupaNise! - Quilombo do Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, 26 de julho de 2012.OcupaNise! - Quilombo do Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, 26 de julho de 2012.


CAMPANHA FINANCEIRA PARA A REALIZAÇÃO DO FESTIVAL FLASKÔ FÁBRICA DE CULTURA

 
Para quem não sabe, a Flaskô é uma Fábrica Ocupada que fica no interior de São Paulo, na cidade de Sumaré. Desde 2010, a fábrica realiza junto de diversos coletivos e grupos, o que chamamos de Festival Flaskô: Fábrica de Cultura. Ao longo dos últimos dois anos, realizamos em um final de semana um espaço de vivência cultural muito rico nas dependências da fábrica ocupada, com muito teatro, debates, apresentações musicais e oficinas.
Essa iniciativa tem como fundamento a necessidade de transformar o espaço da fábrica ocupada, que ao longo da semana, coloca-se dedicada a produção de bombonas e tambores plásticos com o fim de manter o emprego de cerca de 70 trabalhadores que lá trabalham, em um espaço de lazer e produção cultural. Além disso, contamos também com a população da Vila Operária e Popular, ocupação por moradia que se encontra aos arredores da fábrica onde moram mais de 550 famílias, que por se encontrarem em uma periferia, acabam tendo com o festival, a chance de acesso a algo pouco comum em sua rotina.
Com o inicio de 2012 podemos perceber que a crise econômica que vem atingindo principalmente o setor industrial, abalando grandes empresas patronais, com demissões e recessos, também atinge a Flaskô. Sendo assim, em uma tentativa de não comprometer a realização do 3° Festival Flaskô: Fábrica de Cultura, recorremos à plataforma de financiamento de projetos da internet chamada Catarse. Nessa plataforma recebemos doações para o projeto, porém, para conseguirmos o dinheiro, precisa-se atingir o valor máximo pedido, caso contrário, as doações retornam para seus devidos doadores.
Para garantir alimentação, alojamento, transporte dos grupos musicais e de teatro, estrutura mínima para a realização das atividades, e disponibilidade de transporte para público interessado, pedimos a quantia de 8000 reais. Nosso prazo para atingir esse valor é até dia 15 de agosto e como disse anteriormente, é de fundamental ajuda para a realização do Festival.
Para doar acesse:
Para saber mais sobre o festival acesse: 
 
Qualquer dúvida, entrem em contato conosco.
Contamos com a sua colaboração.
Se possível, divulguem. 
Atenciosamente,
Batata
Fábrica de Cultura da Flaskô – Fábrica Ocupada pelos Trabalhadores


Narrativas de Outra Margem - Uma Biopolítica para as Artes Públicas de Rua


Dar não dói o que dói é resistir. (Amir Haddad)

O II Seminário Amazônico de Teatro de Rua, realizado em Porto Velho - RO, reuniu artistas, pensadores e lideranças de todos os Estados da Amazônia Legal brasileira, Rede Teatro da Floresta e representantes de outros Estados articulados à RBTR – Rede Brasileira de Teatro de Rua, integrando a programação do V Festival Amazônia Encena na Rua de 21 a 29 de Julho de 2012.
 Em rodas de exposição das ideias, artistas e produtores do movimento cultural mantiveram em discussão o teatro o público e a cidade, deliberando a partir da Carta Pororoca (anexo) as diretrizes e demandas da região e definindo para os anos de 2012 a 2013 três eixos de prioridades:
Espaços livres – constituindo de redes de serviços e ações para uma política de espaços públicos abertos;
Incentivo a regionalização – programas e investimentos voltados para apresentação, intercâmbio e circulação da produção;
Promoção da produção – Programas de difusão cultural e incentivo à pesquisa, como meio de valoração da diversidade.
Considerando que o movimento cultural sofreu um processo de desconfiguração das relações de consulta, controle, e diálogo para construção do sistema nacional de cultura e que os avanços como o reconhecimento dos segmentos culturais (antes marginalizados), promoção da cultura popular, e das culturas tradicionais e os segmentos criativos e associativos, sofreram um grande retrocesso do diálogo construído ao longo de dez anos entre a sociedade civil e o poder público.
Considerando ainda o isolamento dos meios de decisões do próprio sistema de gestão da cultura, e a secundarização das demandas emergentes e prioritárias dos segmentos produtivos que gerou uma sensação nacional de invisibilidade da cultura como arte e manifestação popular e pressupondo que a cultura é viva e um braço forte para geração e distribuição de renda para redução das desigualdades sociais, o II Seminário Amazônico de Teatro de Rua decide fazer um apelo nacional: Dilma, não desmanche!
Buscando integração de outros segmentos da cultura, a campanha nacional "Dilma, não desmanche!" exige diálogo das ações e investimentos para cultura, restabelecendo o reconhecimento da identidade da arte e dos segmentos de fruição do pensamento cultural do país, com os dizeres:
Dilma, não desmanche!               Dialogue já!
Campanha Nacional pela Identidade da Arte e do pensamento cultural brasileiro.
 A serem incorporados nas redes sociais, materiais publicitários, eventos e apresentações artísticas de todos os artistas brasileiros, como prova de resistência ao desmonte das relações e dos nossos avanços adquiridos nas relações de interesse público por uma política pública para a cultura.

                                                                                             Porto Velho – RO, 29 de julho de 2012.


Anexo 1:
CARTA POROROCA
           
            Reuniram-se os articuladores da RBTR – Rede Brasileira de Teatro de rua (AC, AM, AP, BA, DF, MA, MG, MT, PA, RJ, RN, RO, RR, RS, SP, TO) em Porto Velho, Rondônia, de 16 a 25 de Julho de 2010, no 1º Seminário Amazônico de Teatro de Rua e 3º Festival Amazônia Em Cena na Rua, juntamente com a Rede Teatro da Floresta.
A Rede Teatro da Floresta busca uma biopolitica construída por artistas/articuladores do Teatro da Amazônia. A Rede entende que o Brasil, com todas as suas instituições e mecanismos de políticas culturais para as artes do teatro, não poderá continuar míope quanto aos artistas do norte do país e suas poéticas e procedimentos cênicos, e principalmente, deixar de reconhecer o que significa o CUSTO AMAZÔNICO do fazer cultural/teatral em nossa região, implicando uma compreensão das dimensões histórica, geográfica, sócio-política, econômica e imaginária de nossa terra e tribos.
Quais são as ruas desses encontros de redes em Rondônia?
O asfalto, uma estrada de piçarra, uma trilha de mata, um igarapé, uma beira de rio, um alto-mar de água doce, o alto de um barranco, a profundeza de uma gigantesca cova de extração mineral, um "Q" de pedaço de céu aberto. Todas essas ruas são de uma "lonjura" e de uma largura amazônicas, que implicam custos tão imensos, do tamanho dessas geografias.
Nessas ruas, há sempre um teatro-troca entre artistas-índios, artistas-quilombolas, artistas-árabes, artistas-orientais, artistas-brancos - todos misturados como uma encantaria. Todos esses "imaginados", "imaginários", "reais" - fazedores de teatro - apresentam-se compondo o Teatro da Floresta, que associados a RBTR – Rede Brasileira de Teatro de Rua – criaram neste evento de Teatro de Rua, um fenômeno singular: a primeira POROROCA (encontro) de duas grandes redes de teatro do Brasil.
Juntos, nós teatreiros deste Brasil da diversidade, queremos reivindicar ações efetivas com o objetivo de construir políticas públicas para o teatro, mais democráticas e inclusivas, tais como:

·         Que os editais sejam regionalizados e sejam criadas comissões igualmente regionalizadas e indicadas pelos artistas, bem como a criação de mecanismos de acompanhamento e assessoramento dos artistas-trabalhadores e grupos de Teatro da Floresta;
·         Que dentro desta compreensão de regionalização, possa a Rede Teatro da Floresta, com transparência de critérios, gerir com autonomia a distribuição da verba destinada aos editais do setor para região Amazônica.
·         Que o MINC crie três representações do próprio Ministério, com escritórios da FUNARTE, iniciando desta forma a expansão pela região norte na perspectiva de abrangência de todo território brasileiro.
·         Com vistas ao reconhecimento do custo amazônico (em anexo), garantido nas principais diretrizes da 2ª Conferencia Nacional de Cultura. se faz necessária a criação de programas específicos que contemplem, na perspectiva de uma reparação: a produção, circulação, formação, registro e memória, manutenção, pesquisa, intercâmbio, vivência, mostras e encontros do Teatro da Floresta.
·         A aprovação e regulamentação imediata da PEC 150/03 (atual PEC 147), que vincula para a cultura, o mínimo de 2% do orçamento da União, 1,5% no orçamento dos estados e Distrito Federal e 1% no orçamento dos municípios;
·         Reformulação da lei 8.666/93 das licitações, convênios e contratos, com a criação de um capítulo específico para as atividades artísticas e culturais, que contemple nas alterações, a extinção de todas e quaisquer formas de contraprestação financeira, considerando que o trabalho artístico de rua já cumpre função social.
·         A extinção da Lei Rouanet e de quaisquer mecanismos de financiamentos que utilizem a renúncia fiscal, por compreendermos que a utilização da verba pública deve se dar através do financiamento direto do Estado, por meios de programas e editais em formas de prêmios elaborados pelos segmentos organizados da sociedade;
·         Criação de um programa interministerial (exemplo: MINC/MINISTÉRIO DAS CIDADES) em parceria com os Estados e Municípios para a construção e/ou reforma de espaços públicos (praças, parques e outros), adequando-os as necessidades dos artistas e trabalhadores das Artes de Rua, além da inclusão imediata destes espaços no programa de construção dos equipamentos culturais do PAC.
·         Que os espaços públicos (ruas, praças, parques, entre outros), sejam considerados equipamentos culturais e assim contemplados na elaboração de editais públicos, Plano Nacional de Cultura e outros;
·         Garantir a aplicação dos recursos obtidos através da extração do petróleo na região pré-sal, a extração de minérios e usinas hidroelétricas da Amazônia, para o Teatro da Floresta.
·         A criação de um programa nacional de ocupação de propriedades públicas ociosas, para sede do trabalho e pesquisa dos grupos de teatro de rua;
·         A extinção de todas e quaisquer cobranças de taxas, bem como a desburocratização para as apresentações de artistas-trabalhadores, grupos de rua e afins, garantindo assim, o direito de ir e vir e a livre expressão artística, em conformidade com o artigo 5º da Constituição Federal Brasileira;
·         Que os editais para as artes sejam transformados em leis para garantia de sua continuidade, levando em consideração as especificidades de cada região (ex: custo amazônico);
·         Que quaisquer editais públicos ou privados tenham maior aporte de verbas e que seja publicada a lista de projetos escritos, contemplados e suplentes, e a divulgação de parecer técnico de todos os projetos avaliados, para garantir a lisura do processo;
·         Promover o maior intercâmbio entre o Brasil e demais países da América Latina, através de programas específicos (exemplo: países que integram a Amazônia internacional);
·         Exigimos o apoio financeiro da FUNARTE aos Encontros Regionais, Nacionais e Internacionais, no valor equivalente ao montante que é repassado àqueles realizados pela Associação dos Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil.
·         Propomos como indicativo a inclusão nas Universidades, instituições de ensino e escolas técnicas, matérias referentes ao estudo do Teatro de Rua, da Cultura Popular Brasileira e do teatro da América Latina, bem como estas IES garantam o registro e a constituição histórica da diversidade cênica do Teatro da Floresta e obrigatoriamente um estudo do imaginário da Amazônia. 
·         A valorização e financiamento das publicações e estudos de materiais específicos sobre teatro de rua e manifestações tradicionais Amazônicas, inclusive as contemporâneas, respeitando sua forma de saber enquanto registro.
·         Que o MINC realize uma reforma na diretoria de Artes Cênicas da FUNARTE, transformando as atuais coordenações em diretorias setoriais de Teatro, Circo e Dança.
·         Inclusão dos programas setoriais nos mecanismos do Pro cultura;

O Teatro da Floresta constituiu esta carta tendo como apoio as cartas desenvolvidas nos encontros presenciais da Rede Brasileira de Teatro de Rua, endossando que o Teatro de Rua é um símbolo de resistência artística, comunicador e gerador de sentido, além de ser propositor de novas razões no uso dos espaços públicos abertos. Levando em consideração as especificidades e a diversidade da região e do povo amazônico, com suas vozes, experiências e saberes.

            Reunidos nestes 10 dias, ficou acordado que os próximos encontros da Rede Teatro da Floresta serão sediados nos festivais de caráter nacional e internacional da região amazônica. 


25 de Julho de 2010
Praça das Caixas D'água, Porto Velho / RO
Rede Teatro da Floresta

Anexo 2:

CUSTO AMAZÔNICO

            Existe uma região no Brasil composta por indígenas, europeus, asiáticos, negros africanos, caboclos e nordestinos brasileiros migrados, e principalmente, e quase totalmente, por uma mistura-mesclada de todos os outros citados, o "Homo amazonius", ser humano adaptado ao seu território.
            Formada pelos sete Estados da região norte, mais parte do Maranhão e parte do Mato Grosso, esta região, a Região Geoeconômica da Amazônia ou Complexo Regional Amazônico, ocupa 59% por cento do território desse país, cerca de 5,1 milhões de quilômetros quadrados de barreiras geográficas, que obriga o ser humano adaptado a, dentro de um único Estado, levar 32 horas de viagem fluvial para ir de um município a outro, sem opção terrestre ou aérea. Ou, dentro de um único município, percorrer 900 km de um distrito até a sede urbana, por terra (digo, lama), sem opção fluvial ou aérea.
            Ser humano adaptado a apenas duas estações: a de poeira, no verão, e a de lama, no inverno, se estiver em área terrestre, e a de lama, no verão e de muita água, no inverno, se for ribeirinho. O Clima equatorial úmido, predominante na região, gera altas taxas de precipitação pluviométrica. No verão chove todo dia, no inverno chove o dia todo. Em qualquer das situações, terá que enfrentar a malária, a dengue, a leishmaniose, e, a cada novo período de lama, o aumento de cerca de 40% no preço dos alimentos e medicamentos que podem ser comprados (se tiver onde comprar). Quem tem equipamentos eletrônicos ou qualquer outro bem com um mínimo de sensibilidade à umidade, necessita de um estado permanente de manutenção ou perda total de documentos, objetos, acervos.
            Em centenas de lugarejos e comunidades de dezenas de municípios paga-se muito e arrisca-se a vida para simplesmente ir e vir, pois as únicas vias de acesso são os rios e igarapés da maior bacia hidrográfica do planeta, com quatro milhões de quilômetros quadrados só na Amazônia brasileira. Os barcos, meios de transporte predominantes na região, no geral, não tem equipamentos de segurança, a maioria não possui coletes salva-vidas, proteção contra o escapamento de fumaça do motor e nem contra o eixo de funcionamento (gerando um dos índices mais elevados de escalpelamento do mundo), sem conforto e limpeza. Ainda assim, é caro. O diesel que alimenta esses barcos sai de São Sebastião (SP) e percorre de 6 a 10 mil quilômetros para ser consumido e, nisso, entre navios, barcos, caminhões e muitos dias de viagem, gasta 10 milhões de reais, transformando-se no diesel mais caro do país.  
            Esse mesmo diesel torna a energia 5 vezes mais cara na região, pois é gerada em usinas termelétricas alimentadas...pelo diesel, que, além, jogam no ar, por ano, o equivalente a toda a frota de veículos da cidade de São Paulo no mesmo período. Com essas condições, existem distritos, comunidades e até regiões da Amazônia brasileira sem energia elétrica. Também, no trecho amazônico da transamazônica, 66% da população não tem água encanada e 27% não tem instalações sanitárias.
            O ser humano adaptado, mesmo o mais adaptado, com toda a certeza prefere condições mais adequadas de vida. Disse adequadas. Ele não precisa de um prédio de apartamentos, nem de um carro do ano, alguns nem de trabalho precisam, pois já tem, mas de condições sanitárias melhores, comodidades que a energia elétrica estável permite, água encanada, médico, escola, arte, reconhecimento cultural. Os governos, sem disposição política de chegarem até essas pessoas, passaram anos estimulando o êxodo e hoje 73% da população amazônida vive nas cidades. Estes enfrentam problemas semelhantes aos das cidades do sul e do sudeste do Brasil (bolsões urbanos de desemprego, violência, drogas, sobrevida), mas, sem infraestrutura. Os outros, mais adaptados, que por algum motivo continuam na floresta ou nas beiras de estradas e de rios, sobrevivendo da pesca, do extrativismo vegetal ou da agricultura familiar, parecem ter menos direitos sociais de cidadania que os das cidades (eles não vivem nas cidades mesmo).
            Sim, as políticas públicas no Brasil apresentam vários problemas. Mas, para a Amazônia, submetem o amazônida a um processo econômico que não o considera, não considera as características da região e, por conseguinte, não respeita a sua cultura. Repete experiências que deram certo noutros contextos culturais e naturais, concebe povo e natureza como primitivos e atrasados. A idéia de desenvolvimento sustentável, que considera o meio e seu sujeito, insere suas necessidades presentes e prevê condições futuras, não é essencial nessas políticas, aparece limitada a alguns programas de alguns órgãos dos setores ambientais. Ou seja, a grandeza, a riqueza e a diversidade da floresta são reconhecidas, mas o ser humano que a habita, não.
            Falemos então dos custos disso. Esta região possui o 3º Produto Interno Bruto do Brasil (perdendo para o Centro-Sul e para o Nordeste), com uma economia baseada no extrativismo animal, vegetal e mineral. Algumas multinacionais estão instaladas na região, sobretudo na serra dos Carajás (Pará), de onde se extrai parte do minério de ferro do país. Alguns pólos industriais se destacam na região, a saber, o Pólo Petroquímico da Petrobras, com extração de petróleo e gás natural nos poços de Urucu, em Coari/AM, o Pólo Industrial de Manaus (PIM) e o Pólo de Biotecnologia, também em Manaus. O PIM fabrica a maioria dos produtos eletrodomésticos brasileiros valendo-se de uma política governamental de isenção de impostos.
            Ainda que Manaus seja o terceiro Estado brasileiro em PIB per Capita, com R$ 13.534, Belém, Boa Vista e Palmas estão entre os do fim da fila, com R$ 4.875, R$ 4.749 e R$ 4.392, respectivamente. No ranking do Indice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Estado que chega mais perto do topo é o Mato Grosso, em 11º lugar. Vai seguido sequentemente pelo Amapá, Amazonas, Rondônia, Tocantins, Pará, Acre e Roraima. O Maranhão é o penúltimo. O Acre tem o município líder na taxa de analfabetos: 60,7% dos 4,45 mil habitantes de Jordão não sabem ler ou escrever.
            (Para falarmos um pouquinho de teatro, segundo o Anuário de Estatísticas Culturais, publicado pelo MinC em 2009, a Região Norte tem 46 teatros, perde para todas as regiões. Não vou nem falar dos 689 teatros do Sudeste. Os últimos cinco Estados da lista em quantidade de teatros são do Norte. A maioria dos equipamentos teatrais da região, senão todos, fica nas capitais. Palmas (TO), por exemplo, tem um teatro para 220 mil habitantes).
            Considerando que isso seja resultado de uns quatro séculos de exploração em favor das metrópoles e da nação, ainda é um lugar onde o de fora aponta o que deve ser valorizado e explorado, indica o tipo de cultura apreciável, mostra o que se esperar para o futuro. Uma história de anulação da identidade cultural do ser humano da região, uma imposição de valores. Assim, a Região Geoeconômica da Amazônia ou Complexo Regional Amazônico, entrou nesse século com sua identidade cultural em risco de desaparecimento, substituida por uma imagem estrangeira de exotismos, sem um projeto firme de desenvolvimento adequado à sua gente e à sua diversidade de expressão.
            Há uma situação a ser reparada, cuja responsabilidade é da nação. Há um reconhecimento a ser deflagrado sobre as possibilidades de um ser moderno, integrado à natureza, mesmo que em centros urbanos, sujeito da sua própria cultura (no caso dessa região, pela diversidade, diremos: culturas), capaz de escrever sua história. Atitude de grandeza humana para além de detrimentos entre regiões e sim de completude de uma expressão nacional. O "Homo amazonius" deve apontar seus próprios modelos, com o respeito e o reconhecimento das demais populações brasileiras.
População da Amazônia em 2009 (estimado) 24.728.438

Fontes:
Revista Veja Especial Amazônia, editora Abril, ano 42, setembro 2009. http://veja.abril.com.br/especiais/amazonia/index.html
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142002000200008 Amazônia: uma história de perdas e danos, um futuro a (re)construir. de Violeta Refkalefsky Loureiro  (mestre em Sociologia pela Unicamp, doutora em Sociologia pelo Institut des Hautes Études de l'Amérique Latine (Paris) e professora da Universidade Federal do Pará).






terça-feira, 17 de julho de 2012

Debate dia 28 de julho, na Flaskô - (Re)Estatização e os desafios da classe trabalhadora

Convocatória para II Seminário: "A luta pela (re)estatização e os desafios da classe trabalhadora"
FRENTE ÚNICA CONTRA A PRIVATIZAÇÃO E OS ATAQUES AOS TRABALHADORES!
A dialética dinâmica da luta de classes é o motor da história. Permeada por contradições, a disputa em torno do conceito e do papel do Estado esteve sempre presente no debate da classe trabalhadora para a superação do capitalismo.
Depois das grandes guerras imperialistas, a burguesia defendeu a presença do Estado como espaço impulsionador da acumulação do capital. Ocorre que, depois, com a crise do capitalismo adotou nova tática de aparecer com um discurso abertamente liberal, onde a acumulação do capital deveria ocorrer com a menor presença do Estado, cabendo a esse "somente" o papel de conter a classe trabalhadora. Junto à isso, adotou-se a privatização como linha dorsal de sua atuação.
No entanto, logo depois tal discurso se comprovou uma falácia e o Estado novamente foi o instrumento para salvar o grande capital. Bush realizou estatizações (GM, JPMorgan, etc.). No Brasil, Lula, por meio do BNDES, injetou dinheiro público para salvar grandes empresas (JBS FriBoi, Aracruz Celulose, Banco Panamericano, etc.).
O fato é que a estatização como instrumento tático para a construção do socialismo e a emancipação da classe trabalhadora, obviamente, não é compatível com o capitalismo. Por isso, o debate da estatização passa pela compreensão da dinâmica da luta de classes, discutindo-se como a classe trabalhadora deve pautar suas ações.
A luta da classe trabalhadora passa pela distribuição dos recursos públicos, direcionando-os para a construção de uma verdadeira transformação social. Ao olharmos o orçamento dos governos, pode-se ver que dinheiro para os serviços públicos tem. Porém, a prioridade da burguesia
Além da luta pela distribuição dos recursos públicos, é certo que a expropriação dos meios de produção é uma pauta histórica da classe trabalhadora e da luta pelo socialismo. Sua vinculação com a luta pelo controle operário norteou processos históricos da luta dos trabalhadores. Em tempos de crise do capitalismo, da burguesia querendo que os trabalhadores "paguem a conta", atacando direitos trabalhistas e precarizando os serviços públicos, por meio de ajustes fiscais e desoneração da folha de pagamento, e privatizações. É o que estamos vendo na Europa e no mundo, mas mesmo no Brasil, com as medidas apresentadas pela burguesia de conciliação entre capital e trabalho.
É com esse objetivo que a Fábrica Ocupada Flaskô, que luta há nove anos pela estatização sob controle operário, pretende promover com a realização do "II Seminário: A luta pela (re)estatização e os desafios da classe trabalhadora", no dia 28 de julho, sábado, das 9h às 20h, conforme a proposta que segue abaixo.
Gostaríamos de contar com não somente da presença de vocês para contribuir no debate, como impulsionar essa atividade, e mais, traçar ações de frente única em defesa do patrimônio público, construído historicamente pela classe trabalhadora, enfrentando, assim, a lógica do capital e a privatização dos serviços públicos.
Saudações de luta,
Conselho de Fábrica da Flaskô - www.fabricasocupadas.org.br
Contato: 19-3864-2139 – mobilizacaoflasko@yahoo.com.br
Alexandre Mandl – alexandremandl@yahoo.com.br – 19-8129-6637
Pedro Santinho – pedro.santinho@uol.com.br – 19-9696-6379
II Seminário: "A (re)estatização e os desafios para a classe trabalhadora"
 
Sábado, 28 de julho, na Fábrica Ocupada Flaskô, em Sumaré/SP
 
FRENTE ÚNICA CONTRA A PRIVATIZAÇÃO E OS ATAQUES AOS TRABALHADORES!
·        8h30 – Inscrições e Café da manhã
 
·        9h – A luta do Movimento das Fábricas Ocupadas pela estatização sob controle dos trabalhadores
- Pedro Santinho (coordenador do Conselho de Fábrica da Flaskô)
- Serge Goulart (ex-coordenador do Conselho Unificado das Fábricas Ocupadas)
 
·        10h - A luta pela Petrobrás 100% estatal e os desafios para a classe trabalhadora
- Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo
- Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro
 
·        11h00 – A luta pela (re)estatização da Embraer e os desafios para a classe trabalhadora
- Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos
 
·        12h – Almoço
 
·        14h00 – A luta pela (re)estatização dos Transporte Público e os desafios para a classe trabalhadora
- Flávio de Castro (doutorado sobre estatização do transporte rodoviário)
- Roque Ferreira – Sindicato dos Ferroviários de Bauru e Mato Grosso do Sul
 
·        15h – A luta pela manutenção dos Correios 100% estatal e os desafios para a classe trabalhadora
- Sindicato dos Correios
 
·        16h – Lanche/Intervalo
 
·        16h30 – A luta pelos Aeroportos 100% estatais e os desafios para a classe trabalhadora
- Sindicato dos Aeroportuários (SINA) e do Comitê contra a Privatização dos Aeroportos
 
·        17h30 – A luta pela (re)estatização da Vale e os desafios para a classe trabalhadora
- Movimento dos Atingidos pela Mineração, CPT/PA e Associação Justiça nos Trilhos
 
·        18h30 – Confraternização