Por Adailtom Alves Teixeira – Ator e historiador
A doutora Evelyn Furquim Werneck Lima, professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde coordena o Laboratório de Estudos do Espaço Teatral, organizou recentemente o livro "Espaço e Teatro: do edifício teatral à cidade como palco", composto de treze artigos de diversos estudiosos do tema, sem dúvida uma excelente contribuição para quem pesquisa o espaço teatral. Os artigos vão desde a historicização dos espaços, passando pela construção de edifícios alternativos, a propostas de ocupação da cidade como palco.
A doutora Evelyn Furquim Werneck Lima, professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde coordena o Laboratório de Estudos do Espaço Teatral, organizou recentemente o livro "Espaço e Teatro: do edifício teatral à cidade como palco", composto de treze artigos de diversos estudiosos do tema, sem dúvida uma excelente contribuição para quem pesquisa o espaço teatral. Os artigos vão desde a historicização dos espaços, passando pela construção de edifícios alternativos, a propostas de ocupação da cidade como palco.
A professora Evelyn organiza, prefacia e escreve um artigo em que discute dois espaços criados pela arquiteta Lina Bo Bardi: o Teatro Oficina e o espaço do Sesc Pompéia, ambos em São Paulo. As duas propostas rompem com a quarta parede, “saindo de uma ‘moldura’ preestabelecida” (p. 14). O Teatro Oficina foi concebido como “rua de passagem”, embora tenha ficado sem a abertura no fim do prédio que daria em uma praça; já o espaço do Sesc Pompéia, que havia sido uma fábrica, foi adaptado para gerar “estranheza e desconforto” para distanciar os espectadores. Assim, segundo a autora, os dois espaços são também recuperação da “memória do lugar.”
Os destaques são os artigos de André Carreira – Teatro de invasão: redefinindo a ordem da cidade –, Ricardo José Brügger Cardoso – Inter-relações entre espaço cênico e espaço urbano – e de Paola Berenstein Jacques e Fabiana Dultra Britto – Corpografias urbanas: relações entre o corpo e a cidade. André Carreira propõe um teatro de invasão, em que a cidade não é cenografia, mas elemento dramatúrgico do espetáculo. Um teatro de rua que inclui “os fluxos urbanos na construção da linguagem cênica” (p. 68), realizando, assim, uma releitura da cidade nesse processo de invasão. A proposta, segundo Carreira, nos leva a repensar o funcionamento do espetáculo teatral, pois trata-se de um “novo teatro”, muito mais próximo de uma linguagem cinematográfica.
O teatro, por ser uma criação urbana, “sempre manteve relações estreitas com a cidade” (p. 84), é o que afirma Cardoso em Inter-relações entre espaço cênico e espaço urbano. O artigo discute os momentos de tensão, harmonia e comunhão entre o teatro e a cidade. O autor parte da Idade Média, em que a cidade foi transformada em espaço teatral, nos mostrando como as encenações foram abandonando as cidades e ganhando os palácios. No século XX, segundo o arquiteto, não houve modelos absolutos, por isso na segunda metade desse século o teatro voltou a ganhar os espaços abertos como ruas, parques, bem como os edifícios não projetados para este fim. No Brasil, no entanto, as experimentações foram interrompidas por causa da ditadura militar. Por fim, o autor afirma que o teatro nos espaços abertos são importantes porque auxiliam na re-significação da própria cidade.
Em Corpografias urbanas, as autoras partem da premissa “que o corpo e a cidade se relacionam”, ou seja, a memória urbana se inscreve no corpo, registrando sua experiência. Assim, o habitante de determinada região carrega sua significação, sua história. Por isso, corpografia não pode ser confundida nem com cartografia e nem com coreografia. Este corpo que registra, é um corpo-resistência, uma oposição ao processo de espetacularização. O estudo desse corpo, desse “fenótipo”, pode auxiliar na criação da dança, melhorando o aproveitamento nas coreografias. Embora as autoras tratem da criação no campo da dança, é possível pensar as corpografias também do ponto de vista da linguagem teatral, nesse campo, o estudo daria uma maior expressividade corporal aos espetáculos teatrais.
Para uma melhor compreensão do processo de mudança dos espaços cênicos no Brasil, os artigos de Ezio da Rocha Bittencourt e de Romualdo Rodrigues Palhano – que abordam a história do teatro no Rio Grande Sul e no interior da Paraíba respectivamente –, são muito importantes. Os autores nos apresentam a história do teatro desde o século XVIII, sendo que no século XIX vemos a afirmação do edifício e da cena à italiana, uma proposta afastada das “virtudes populares do teatro grego, do medieval ou do renascimento elisabetano” (Bittencourt, p. 32).
Outros artigos ainda discutem os espaços da cidade em Nelson Rodrigues, Pina Bausch e o teatro pós-dramático de Heiner Müller. Outros, discutem a cenografia e o espaço, o teatro de revista em São João del-Rei, o uso da memória na construção do espetáculo e de como uma comunidade carioca foi transformada pela ocupação de um grupo teatral, o Nós no Morro.
O livro lançado em 2008 pela 7Letras, traz uma contribuição importante à todos os fazedores de teatro que veem o espaço como fundamental na criação dos espetáculos, bem como na relação atores e platéia, já que qualquer avanço teatral passa por uma discussão e pela pesquisa do espaço teatral. Como há pouca bibliografia sobre o assunto, atores, diretores de teatro e os pesquisadores do espaço teatral em geral ganham com esta excelente obra.
Fonte: LIMA, Evelyn Furquim Werneck (org.). Espaço e teatro: do edifício teatral à cidade como palco. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008. 246p.