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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
Carta Aberta Sobre os Editais de Ocupação da Funarte
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
A Praça Tiradentes e a Arte Pública
O Grupo Tá Na Rua, sediado no bairro da Lapa há mais de vinte anos, tem ali na Praça dos Arcos sua "sede pública". E assim a chama, pela continuidade do trabalho realizado na área e pela profunda relação desenvolvida entre esse trabalho e a comunidade local. No entanto, quando para a realização do presente Festival pensou-se na ocupação de praças estratégicas para a divulgação das idéias e propostas do Fórum de Artes Públicas, o Tá Na Rua decidiu estender suas atividades até a Praça Tiradentes.
Antigo Largo do Rocio, a Praça Tiradentes concentra uma série de aspectos que fazem de sua inclusão no mapa das Artes Públicas necessária e historicamente justificada.
Por ali se formou boa parte da produção artística popular do Rio de Janeiro a partir da virada entre os séculos XIX e XX. Não só em seus teatros e cafés, onde atores, dramaturgos e músicos desenvolveram os gêneros artísticos cujos ecos nos chegam até hoje, como na própria praça produziu-se expressiva cultura popular. Músicos e atores de rua, rodas de capoeira e jongo, e mesmo os corsos carnavalescos, legaram para a história heranças culturais que nós, artistas públicos desta cidade, cultivamos hoje.
Após ter sido vitimada por administrações públicas catastróficas, a praça começou a respirar novamente quando livrou-se de suas grades. O mesmo Grupo Tá Na Rua, a convite da Prefeitura Municipal, incumbiu-se de sua reinauguração. Em grande festa uma infinidade de artistas reviveu seus áureos tempos. E as imagens daquele dia não serão esquecidas.
No projeto de recuperação física da praça, além do belíssimo estatuário e os desenhos em pedra portuguesa, mantiveram-se as árvores e os bancos, que permitem o usufruto deste espaço. Mas ela ainda é, por força do hábito, atravessada por pedestres apressados. Para uma verdadeira revitalização, há que se considerar o potencial encontro dos cidadãos com o espaço.
É, portanto, simultâneo (embora paralelamente) aos processos de revitalização da praça empregados pelo poder público, centros culturais e comércio, que consideramos indispensável sua ocupação pelos artistas públicos para a evocação das almas encantadoras da Tiradentes.
Miguel Campelo
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Ocupando espaços públicos, discutindo a cidade
Tekoha - 8ª Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas |
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
CURIOSIDADES DO EVENTO ARTE PÚBLICA UMA POLÍTICA EM CONSTRUÇÃO
Quem me narrou este fato foi o palhaço Café da Silva Pequeno, que neste dia estava usando sua identidade secreta de Richard Riguetti e que aconteceu no Largo do Machado, onde a curadoria está sendo exercida pelo Grupo Off-Sina.
É bom sempre esclarecer que o palhaço não é um personagem, mas sim uma entidade que quando se manifesta revela as contradições da vida humana e urbana de onde convive, com humor, amor e poesia.
Um bom palhaço que se preze não dispensa sua caixa de ferramentas preferidas: a sua mala. A mala de um palhaço é sagrada, um relicário, o seu baú do tesouro onde se encontram seus truques não escondidos.
A mala do palhaço traz toda sua bagagem de vida, histórias e pesquisas. Pesquisa sim, pois ao contrário do que se pensa, para ganhar o seu nariz e se tornar um palhaço, tem que estudar e se dedicar muito.
Por isso a importância da mala do palhaço na sua vida. Pois bem: o café pequeno contou que o Palhaço Tok Tok, que está de passagem pelo Rio, se encantou com a riqueza poética de uma Boneca nossa muito conhecida. A nossa querida Boneca de Piche Lilica. Assistir a apresentação da Boneca e da sua inseparável parceira Fernanda (uma não se apresenta sem a outra, nessa hora não se desgrudam), mexeu com o lado mais humano do palhaço... sua criança, seu erê. Sabendo que no dia 29 de Janeiro, a Boneca Lilica, que já é uma verdadeira estrela pública dos espaços abertos, iria aniversariar dez anos de vida, não titubeou: queria dar um presente para a Lilica.
Tinha mais: não poderia ser um presente qualquer, não! Tinha que ser especial! Mas qual? Qual seria o presente ideal para uma artista pública e de rua como a Lilica.
Tok Tok pensou, pensou... Torrava sua cabeça: Perfume? Não! Chaveiro? Não! Flores? Não, todo mundo dá flores em aniversário. Um retrato seu autografado e moldurado? Também não. Foi ai que uma lâmpada acendeu sobre sua cabeça: a sua mala, a mala do palhaço.
Mas... A mala do palhaço é seu instrumento de trabalho, seu ganha pão. Será? Será que ele conseguiria se desfazer do seu bem mais precioso, seu companheiro de histórias e estradas?
Angustiado, sem dormir, o palhaço Tok Tok ligou para sua esposa. Peço permissão para poetizar esse momento, dando uma certa dramaticidade no texto.
Tok Tok, sem dormir, liga para sua esposa, que se encontrava dormindo. Sonolenta, a paciente mulher escutou toda a narrativa do seu inquieto marido. A mulher de um palhaço é uma santa, pois conhece cada sentimento do seu marido e sabe como ninguém como falar com ele.
Disse ela: "Meu filho, acompanhe o seu coração, peça conselhos a ele. Com certeza ele saberá responder suas angustias. E dá próxima vez, dá para esperar amanhecer?" E desligou!
Tok Tok ficou com o fone na mão, pensativo.
Largo do machado, dia 29, Lilica comemora seus 10 anos de rua, com bolo, velinhas e parabéns. Tok Tok estava elegantemente vestido como Tok Tok e foi cumprimentar a aniversariante:
- Lilica, tenho um presente para você!
- É? E o que é?
- Aqui... – e Lilica recebeu das mãos do palhaço sua mala.
Lilica não se conteve de tão contente. Uma mala, uma mala de palhaço. Ela agora podia criar mais coisas para enriquecer o seu trabalho.
Tok Tok podia até achar que ficaria triste, mas não, o seu peito se encheu de alegria, pois sua mala agora iria compartilhar novos sentimentos, se encher de novas memórias e gastar sola de sapato por outras estradas, acompanhando uma companheira andarilha das ruas.
Herculano Dias
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Encontros Arte, cultura e ditadura - 1964/2014 e samba do Cordão da Mentira na Kiwi Companhia de Teatro
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Eco Feira
As apresentações culturais começam às 18h, com palco aberto para interveções artísticas puxado pela contadora de histórias Sabrina Falcão. A partir das 20h, se apresentam os Brincadeira Boa (chorinho) e Som de Papel (música regional), grupos que utilizam instrumentos feitos com materiais reutilizados. A programação cultural se estende até domingo, a partir das 10h, com o mímico Abder Paz, oficina de jardinagem para crianças e almoço colaborativo. Para fechar, haverá roda de capoeira e samba de roda com o Grupo de Capoeira Semente do Jogo de Angola.
Sábado (15/02)
- 14h às 22h: Eco Feira (móveis, utilitários, instrumentos musicais, decoração, troca de roupas, macramê, mosaicos, banca dos poetas)
- 17h às 18h: Roda de Prosa – Histórias sobre a resistência cultural Mercado Sul
- 18h às 19h30: Palco aberto e intervenções artísticas de Sabrina Falcão
- 20h: Brincadeira Boa (Chorinho) e Som de Papel (Música Regional)
- 10h: Apresentação de Mímica com Abder Paz
- 10h30: Oficina de jardinagem com as crianças
- 13h: Almoço colaborativo
- 15h: Roda de Capoeira e Samba de Roda (Grupo de Capoeira do Semente do Jogo de Angola)
Endereço: QSB 12/13, Bloco B – Mercado Sul, Avenida Samdu, Taguatinga Sul
Informações: 61 9998.7271 – tempoecoarte@gmail.com – www.tempoecoarte.com.br
Entrada: Franca
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Jornadas de Junho no Brasil
Direção, roteiro e concepção: Carlos Pronzato
Direção de produção: Cristiane Paolinelli
Edição: Ricardo Gomes (Coletivo Das Lutas RJ)
Edição teasers e pesquisas de imagens adicionais: Richardson Pontone
Trilha: Apanhador Só
Realização: Lamestiza Audiovisual
Brasil, fevereiro de 2014.
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Automákina - Universo Deslizante de Porto em Porto
O Público
Fotos do autor
Referências
ALBERNAZ, Paula. Reflexões sobre o espaço público Atual. (in) Espaço e Cidade: Conceitos e Leituras. Lima, Evelyn Furquim Werneck. Maleque, Miria Roseira. (orgs.). Rio de Janeiro: Editora 7 Letras. 2ª edição, 2007.
CARREIRA, André. Teatro de rua: (Brasil e Argentina nos anos 80): uma paixão no asfalto. São Paulo: Editora Hucitec, 2007.
BONFITTO, Matteo. O Ator Pós-Dramático: Um Catalisador de Aporias?. (in) O Pós-Dramático – Um Conceito Operativo?. Guinsburg, Jacob. Fernandes, Silvia. (orgs.). São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.
LUFT, Celso Pedro. Dicionário de Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Ática, 2010.
De Pernas Pro Ar. De Porto em Porto. Programa/Cartaz da Circulação. Canoas, 2014.
Sitios:
www.grupodepernasproar.com.br
www.wikipédia/Steampunk
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
BOLETIM INFORMATIVO FÓRUM DE ARTE PÚBLICA Data: 27 de Janeiro 2014
Amir abre o fórum saudando a todos e cumprimenta aos que vieram pela primeira vez.
"Uma coisa está acontecendo e não podemos depender das autoridades." – foram suas palavras iniciais para que ele descreveu mais uma vez todo o histórico e o porque a necessidade da criação do fórum. Narrou sobre quando a "Operação Choque de Ordem', criada pela recém formada Secretária de Ordem Pública, teve seu inicio e os guardas municipais começaram a proibir e até a confiscar o material de trabalho dos artistas e grupos de rua. Isso levou os artistas a se unirem e se manifestarem. Tentarem impor um decreto na qual dissemos não, pois nenhum decreto é garantia, pois pode ser revogado por novas gestões municipais. Continuamos a nos manifestar e com isso conseguimos emplacar uma lei que garantia o artista de rua de exercer sua profissão. Essa lei foi vetada pelo prefeito. Devido á pressão que foi feita, voltou atrás e pediu para que sua bancada na Câmara de Vereadores derrubasse o seu próprio veto. Isso aqui, na sede do Grupo Tá Na Rua. O Prefeito Eduardo Paes falou em criar um edital, da qual foi dito não, edital não era a política que queríamos. Editais só servem para aqueles que ganham sempre e não era esse o caso para os artistas que atuam nos espaços abertos. Então ele sugeriu que fizéssemos um projeto, projeto esse que teve seu inicio agora em janeiro, depois de quase dois anos de elaboração e espera. Demorou esse tempo por causa da burocracia regida pela Secretária de Cultura Municipal. Eles sugeriram que tivesse o formato de um festival, mas não é um festival que propomos, mais um conceito novo que tinha surgido e que estamos construindo. Por isso retomamos o nome que foi inicialmente no projeto: Arte Pública, Uma Política em Construção e é com esse pensamento que estamos trabalhando, tendo também como objetivo cadastrar e localizar os artistas e grupos que atuam nos espaços públicos e apresentar ao final de três meses, tempo de duração do projeto, um considerável material para mostrar a infinidade de atividades artísticas espalhadas pelas ruas cariocas. Precisamos saber quantos somos e quem somos.
O projeto está acontecendo em seis praças da cidade, sendo curadas por quatro grupos que há muito tempo tem reconhecido trabalho nos espaços públicos do Rio de Janeiro. São elas: Largo da Lapa e Praça Tiradentes, curadoria Grupo Tá Na Rua; Praça da harmonia, na Gamboa, Zona Portuária, curadoria da Cia Mystérios e Novidades; Saens Pena e Praça Xavier de Brito, na Tijuca, curadoria do Boa Praça; largo do Machado, curadoria do Grupo Off-Sina.
São locais onde naturalmente esses grupos já trabalham há muito tempo, independente de qualquer projeto. Agora, com recursos, estas praças terão dias onde os artistas e grupos poderão se apresentar coletivamente. São verdadeiras feiras medievais contemporâneas onde o artista é livre para mostrar o que apresenta na rua. Não tem que montar nada, é ele, livre com sua arte.
E o fórum é o local de encontro, de reflexão, de discutir políticas públicas para as artes públicas.
Amir lembrou que quando começou, no Brasil só existiam três grupos de rua conhecidos no Brasil. Agora são mais de 700. Isso como exemplo para falar sobre a diversidade artística que povoam os espaços abertos no país. Hoje ele está aqui, neste fórum, conhecendo e aprendendo mais sobre o seu ofício e mais ainda sobre as atividades artísticas nos espaços abertos. Estamos construindo uma política que não existe. Somos uma nova possibilidade. Nas terças feiras, aqui no Largo da Lapa, o Tá Na Rua, dentro do evento, tem sua Aula Pública, onde tanto os artistas e a população podem entrar e usar as nossas roupas e fantasias e brincar e praticar sua liberdade com os atores do grupo. No final, quando estamos terminando, nos instituímos a troca de guardas. Chega á operação Lapa Presente e saem os artistas. Eles chegam organizados, são o antivírus e nós somos os vírus, somos a peste. "Sai a Arte Pública e entra a Força Pública" (Amir).
Eles representam o velho e nós representamos a possibilidade. Amir ressalta que é necessário lembrar todo o processo até este dia, para que, aqueles pela primeira vez freqüentam o fórum, tenham conhecimento sobre os fatos que fizeram nascer o movimento.
Depoimentos:
Nélio Fernando, poeta e ator: "Tenho 15 anos de ofício. Tenho minha plaquinha e lá na Quinta da Boa Vista vendo meu poema por R$: 1,00. Fala para quem quiser e recebo a todos com carinho. Quero dar aqui meu apoio. Eu quero é somar. Acho importante construir políticas públicas.
Sergio Biff, Teatro Lambe Lambe: "Não tinha conhecimento deste encontro e é ótimo compartilhar com outros artistas sobre o meu trabalho."
Palhaço Tiririca Cover: "Fui no Rio mais 20 e ai perguntei ao guarda – o abestado pru que num posso me apresentar aqui não? Eu quero disser, eu queria mesmo, disse é que sou da rua... sou abestado mermo da rua..."
"Florentina, Florentina de Jesus, não sei se tu me amas, porque tu me sedus? Viva a rua!"
Pedro Arauto, Grupo Lá e Cá: "O ideal é o artista de rua viver do seu chapéu, sem depender do poder público e do público. Acho muito válido o encontro dessas segundas e do evento em si".
Com esta ultima declaração encerro este boletim. Lembrando sempre que não é uma ata, mas um relato a partir das minhas anotações do Fórum. Está aberto para correções, acréscimos e observações.
Herculano Dias
domingo, 9 de fevereiro de 2014
CURIOSIDADES DO EVENTO ARTE PÚBLICA UMA POLÍTICA EM CONSTRUÇÃO
Sorrisos
Mais uma da Saens Pena, dia 25. Artistas espalhados pela praça, integrados e modificando a rotina do sábado, dando um colorido maior a feira de artesanato, feira tradicional da bucólica Tijuca.
No parquinho para crianças, quase em frete a entrada do Shopping 45, uma pequena platéia em meia lua está formada em frente de uma árvore.
Lá, com suas trançinhas, roupinha vermelha e pele cor de piche, a Boneca Lilica canta e conta histórias: "O sapo não lava o pé, não lava por que não quer..."
As crianças riem, olham curiosas, se divertem com a boneca sapeca e simpática. "Você quer um beijinho da Lilica?" – a criança se aproxima e recebe o dengo da Lilica. "Que beijinho gostoso!" - responde com carinho a boneca. Fernanda é a parceira da Lilica e conduz cada movimento com calma e poesia. Tudo natural, assim como a resposta do seu público, que a aplaude com naturalidade, tanto os adultos como os pequeninos.
Um adulto em particular chama minha atenção, um homem aparentando estar na casa dos quarenta anos, cabelo castanho sendo dominado por fios prateados, olha fixamente as reações de uma pequenina menininha, usando um vestido vermelhinho cheio de pontinhos brancos (parecia uma joaninha), de um ano e meio, talvez dois anos. A boneca e sua parceira se despedem e o homem calmamente pega a menina que exibe um caloroso sorriso infantil.
Minha parte curiosa puxa um fio de conversa com o homem:
"- Parece que ela adorou o espetáculo, não é?"
"- Com toda certeza." – responde o homem enquanto carinhosamente ajeita a menininha no seu colo, sem parar de olhar para o delicado rostinho de covinhas. Noto a emoção que transparece nos seus olhos úmidos por lágrimas que não chegaram a sair, mas que ao mesmo tempo faz brilhar nas retinas por causa da luminosidade da manhã. Me atrevi a bancar o bom samaritano devido a minha ansiedade de entender o quadro que se desenhava na minha frente:
"- O senhor está bem?"
"- É que é a primeira vez que vejo minha filha sorrir desde que veio para esse mundo."
O homem se despede, sai caminhando com sua pequena princesa nos braços.
Esse foi o quadro que se formou diante deste espectador: Um sorriso novo que aflorava... e um sorriso que renascia.