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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Relato da palestra do Alexandre Mate sobre o teatro épico



I Encontro do Núcleo de Pesquisadores
Teatro Épico – Alexandre Mate
Por Adailtom Alves
Preâmbulo
O relato que ora apresento, trata do encontro realizado em São Paulo no Espaço Eureka, nos dias 05 e 12 de fevereiro de 2010. É uma realização do Movimento de Teatro de Rua de São Paulo e do Núcleo de Pesquisadores de Teatro de Rua. O encontro inicial foi proposto pelo próprio Alexandre Mate (Professor Doutor do Instituto de Artes da UNESP) em reunião com alguns pesquisadores. O objetivo dos encontros é fornecer material teórico acerca do fazer teatral de rua.
Estes encontros também já vinham sendo discutidas em reuniões do MTR desde 2009 e deveriam ser posto em prática em 2010. Portanto a proposta de Alexandre Mate veio ao encontro do desejo do coletivo.
No primeiro dia estavam presentes 21 pessoas e no segundo encontro 29. A necessidade de dois encontros também foi colocada pelo próprio Alexandre Mate, que necessitaria de, ao menos, oito horas para expor todo o tema acerca do teatro épico e do épico brechtiano, ao que, de pronto, foi aceito por todos os presentes.
O objetivo desse relato é compartilhar o conteúdo debatido, bem como a bibliografia indicada na apresentação do tema.
Dia 05/02/10 – Teatro Épico
Alexandre Mate começou falando dos propósitos dos encontros e historicizou sobre o Núcleo de Pesquisadores de Teatro de Rua, criado em maio 2009 na cidade de Angra dos Reis-RJ. Os encontros para discussões teóricas de alguns temas levantados deverão ocorrer sempre na última sexta-feira de cada mês. Começou-se pela primeira sexta por problemas de agenda.
Para falar do teatro épico foi necessário retomar a questão dos gêneros teatrais. Sendo que até o século XIX havia três gêneros bem definidos: épico, lírico, dramático – ainda que não exista gênero puro.
Alexandre utiliza-se muito da etimologia, ciência que estuda a origem das palavras, posto elas não serem esvaziadas de sentido, daí sua importância. E afinal, a comunicação ocorre pelas palavras. Já uma linguagem estética pressupõe uma organização dessa comunicação, portanto são organizadas dentro dos gêneros literários.
Toda palavra em sua criação ganha um sentido denotativo, portanto, as palavras são criadas historicamente, no decorrer do tempo ganham sentidos conotativos, isto é, novos sentidos.
No estético somos levados ao desconhecido, àquilo que não dominamos totalmente, por isso a arte é polissêmica. O maravilhoso está no seio popular – por isso a arte não nega nada e inclusive recebe esse maravilhoso e coloca em suas manifestações artísticas. Entretanto, por transitar com o maravilho a arte popular vale-se do alegórico, isto é, organiza os símbolos de forma a serem entendido por todas as pessoas. O que não significa facilitação, mas sofisticação, pois este saber vem sendo transmitido oralmente por milênios. De qualquer forma, a arte lida com o imponderável, por isso o artista não tem domínio sobre a recepção, até porque a arte não veio para explicar, sua função é realizar uma troca de experiência.
Como a ideologia pega a todos, independente de classe social, o artista popular necessita dominar este saber milenar, para que, assim, possa burlar a moral burguesa ou aristocrática. Na rua é preciso utilizar este saber anterior, acumulado ao longo dos tempos, daí a astúcia do artista popular.
Divisão de gêneros
Começando pelo gênero que nos interessa, o dramático, Alexandre afirma que sua raiz vem do verbo grego draos = posso, faço, alcanço, conquisto. O sujeito realiza por ele mesmo, daí a ação dramática.
O estabelecimento das ações são dadas pelas próprias personagens, que agem utilizando o diálogo. Diálogo que significa pensamento exposto, por isso a contraposição de um personagem a outro.
Personagem vem de persona (máscara) + agon (debate), isto é, uma máscara que age (dialoga). Entretanto, quando surgiu o dramático na Antiguidade clássica, as personagens sofriam intervenção de um coro. Personagem coletiva.
A tragédia (gênero teatral) tem partes ditas pelas personagens e algumas partes pelo coro (personagem coletiva que representa os cidadãos gregos). Assim, a tragédia é composta de mimese (o ator coloca-se no lugar da personagem, de forma a confundir-se com ele) e diegese (a situação é apresentada, narrada). Esse gênero teatral era composto de cinco partes dialogadas (daí os cinco atos) e quatro partes narradas (totalmente suprimidas nos dramas burgueses). Por isso não existe gênero puro.
Quanto ao lírico, primeiro gênero, seu nome é originário do instrumento lira, que era utilizado em rituais de rememorização, chamados exercícios mnemônicos, com função de lembrar os deuses e os heróis.
Tudo que há em nós é trazido pelo mundo da cultura (BAKHTIN), ou seja, ao nascermos o mundo está dado com todo seu manancial cultural.
Aqui é importante atentar para o fato da doxa = opinião, senso comum. Não somos seres objetivos, não vemos o outro objetivamente, mas pelo que foi construído. O Alexandre cita o exemplo da indústria cultural que fabrica ideais e mitos o tempo inteiro, assim as moças ao olharem um rapaz tem como ideal o Brad Pitt, algo construído e não um ser real de carne e osso. Assim o lírico revela o mundo a partir de uma singularidade, uma mistura do real com a ficção.
Assim, "nada em cultura é natural". Toda cultura é arbitrária. O mundo da cultura homogeiniza a totalidade das coisas para serem apreendidas.
O épico vem de epos, aquilo que é exterior; diz respeito a história, por isso está em oposição a subjetividade do lírico. Em um teatro que se vale do épico as ações apreendidas de uma personagem são aquelas exteriorizadas, daí a necessidade da mistura da mimese e da diegese.
Se no dramático a personagem é autônoma para contar a história, o épico vale-se do dialogismo (múltiplas vozes). Em teatro, dialogismo pressupõe teatralidade, uma das formas é o rompimento da quarta parede e a explicitação do jogo teatral.
Ao retomar a história da divisão dos gêneros, afirmando que era aceito até o século XIX a divisão dos três gêneros. Alexandre fala do surgimento do simbolismo que opunha-se ao movimento realista (que pretendia mostrar a vida como ela é). O simbolismo quer apresentar a arte como reinvenção da vida. Um autor chamado Conde de Lautreamont escreve uma obra chamada Cantigas de Maldoror, que os críticos não conseguiram encaixar em nenhuma das gavetas que havia até então, daí nominam de NON SENSE. Daí o rompimento dos gêneros nesse período.
Retomando para encerrar a teoria dos gêneros, Alexandre afirma que o épico é hibrido por definição, indicando que o texto "Cenas de Rua", de Bertolt Brecht, mostra a explicitação do épico brechtiano, que apresenta o jogo político. Aqui finaliza a teoria dos gêneros.
Trabalhando conceitos
Alexandre passa a trabalhar alguns conceitos que considera fundamental. Como estou apresentando de forma mais narrativa, solicito que se reportem aos textos da Simone e do Edson, que se ativeram bastantes aos conceitos em sua constituição etimológica (ver na sequência).
Alexandre abre essa parte afirmando que a teoria não é para escravizar-nos, mas para libertar-nos. Fala de Bakhtin, que afirma que "em cultura tudo é arbitrário", estabelecidos a partir de códigos, daí a linguagem ser abstrata. Para Bakhtin, no mundo da cultura "tudo é coisa", assim damos nomes sem saber porquê.
Toda coisa tomada pela cultura transforma-se em signo (do latim sinal). Em arte todo signo transforma-se em símbolo. A palavra é derivada do grego syn (união, junção...) + boleios (astro, asteroide, cometa) => apreensão com iluminção. O símbolo pede uma decifração de senha. Em arte toda coisa pressupõe a tradução pelo mundo da cultura, dessa forma, pede uma chave de decifração. É importante sabermos que nossa apreensão é visual, mas não vemos por nós mesmos, mas pelo mundo da cultura. Assim precisamos de chaves para apreendermos os símbolos, mas não aqueles que nos é dado pelo mundo da cultura, mas sim em sua raiz.
Outro conceito que nos diz respeito é ficção. Vem do latim fictus (imagem transformado em verbo); mesma raiz de factor (fabricar). Trata-se da junção do substantivo + verbo = fazeção => construção de imagens.
Em artes tudo é símbolo. No popular o símbolo torna-se alegoria para poder chegar a todos. Alegoria pressupõe seleção das coisas, das formas, dos símbolos, para traduzir para todos. O teatro popular, portanto, pressupõe uma seleção de símbolos, mas isso não é fácil como nos querem impingir, muito pelo contrário, requer sofisticação.
Quem vai para a rua passar o chapéu não transforma sua obra em mercadoria, no palco vende-se antes, portanto, mercantiliza-se, vira mercadoria.
Aqui finalizamos o primeiro dia de encontro.
12/02/10 – Teatro épico e épico brechtiano
Estavam presentes 29 pessoas. O Alexandre solicitou que o Edson e eu fizéssemos um apanhado do encontro anterior e assim o fizemos. Mesmo assim ele retomou outros pontos que julgou necessário.
O Alexandre abriu colocando que é difícil apreender o fenômeno teatral em sua totalidade. Retomou o termo teoria, que tem a mesma raiz que teatro. Quando assistimos a um espetáculo é um embate do repertório de quem vê com a obra. Trata-se de um choque do modo de ver, de apreender (teoria).
Somos seres opacos, pois vemos o que nos dão e não do nosso real ponto de vista, pois em cultura nada é natural. M. de Foucault afirma que é preciso evitar certas palavras para não sermos meros reprodutores do que não conhecemos. Por isso, muitas das vezes, indivíduos progressistas tem obras reacionárias, nesse caso é preciso ficarmos com a obra, pois essa não mente.
O primeiro choque que a obra nos remete é com nós mesmos. Temos que lutar contra o que está plantado dentro de nós. Retomou alguns conceitos do teatro aprofundando-os. "Teatro é uma linguagem estetizada que acontece no tempo e no espaço." No drama a ação pede uma identificação psicológica, pois a personagem age por si mesma, desenvolvendo-se por meio de sua subjetividade. Assim o fenômeno teatral do drama ocorre aqui e agora.
Historicizou a quebra desse paradigma ainda no século XIX, mesmo período da afirmação do drama burguês, ou seja, no mesmo século que se afirmou, vê-se os primeiros lampejos de rompimento. Entretanto o paradigma permanece, vide as novelas.
Em 1843, foi criado por decreto a "Escola de Bons Modos", no qual o ministro daria incentivos para as produções teatrais que se falasse da burguesia. Outras classes não interessava. Era preciso realizar a revolução francesa no campo da cultura.
Em 1887, também na França, André Antoine funda o Theâtre Libre (teatro livre) fundamentado nas teses de Emile Zola, segundo o qual o drama burguês não dá conta da realidade, pois o mundo não é composto apenas de indivíduos burgueses, é preciso que o proletário apareça em cena.
O teatro livre (leva esse nome porque fugia da censura que havia, pois era mantido por trabalhadores) é levado à Alemanha por Otto Brahn, transformando-se em Freie Bühne (Cena ou palco livre). Em Berlim estava Erwin Piscator que afirma que o drama não dá conta de discutir a sociedade alemã daquele período, isto é, da luta de classes. Bertolt Brecht, bem jovem na época, era assistente de Piscator.
O teatro então passa a ter uma nova forma que dê conta da luta de classes, por isso não pode ser ilusionista, pode até ter momentos, mas é teatralista por excelência, supondo a troca de experiência, em que o maior interesse é no político e no estético. Esse teatro é intermediado por intervenções na obra, isto é, há lacunas a serem preenchidas em processo. O espectador todo o tempo sabe que é teatro.
O Alexandre ao falar de forma e conteúdo cita um exemplo de como a forma pode engessar o conteúdo. Em Eles não usam black-tie, a forma (drama burguês) engessou o conteúdo (político): a luta de classes.
Nessa trajetória de rompimento do drama, outra forma que vai se opor a essa é o drama naturalista, que ainda contem elementos ilusionistas. Na Alemanha, por mergulhar na história, não é possível reproduzir totalmente os ambientes no palco, assim escolhem objetos para significar o ambiente. A narrativa vem por teoscoscopia, forma narrativa de apresentar aquilo que não é essencial ao burguês: greve, peidos etc., sendo portanto, escatológico. Assim, para a classe trabalhadora a sua imanência é apresentada no palco e a teatralidade explicitada, para o burguês não interessa isso. Dessa forma é possível concluir que todo teatro de rua, por exemplo, é épico por excelência, pois não há quarta parede e requer uma troca de experiência efetiva.
O épico é relacional. O jogo é instaurado entre atores e público, é o que Umberto Eco chamou de "obra aberta." O termo jogo (lat. Jocus), significa jogo, mas também ludibrio, isto é, uma mentira contada, que a plateia acredita.
Teatro épico brechtiano
O épico revela os alicerces, as estruturas e procedimentos (caminhos) do jogo teatral, por isso mesmo é metalinguístico. Por isso Boal chamou os espectadores de expectator.
Piscator, no Freie Volks Bünhe, em 1918 montou um espetáculo chamado "Bandeiras" em que deveria haver um telão no fundo, entretanto o cenógrafo não entregou a tempo, chegando no meio do espetáculo e relatando o ocorrido aos espectadores. Abriu-se aos mesmos se deveria colocar ou não o telão e se voltariam todo o espetáculo ou apenas de onde pararam. Essa foi, dentro do teatro épico, a primeira descontinuidade do espetáculo, abrindo possibilidades futuras de investigação para Brecht.
Para Brecht os aspectos estéticos necessitam ganhar contornos políticos. O teatro de Brecht teve várias fases, afinal ele vem de uma tradição burguesa (era de família abastada); liga-se ao expressionismo alemão (que trabalha o conceito de deformação) => o expressionismo aprofunda o drama burguês para mostrar uma sociedade catastrófica; é importante lembrar da 1ª Guerra Mundial de 1914 na qual estava mergulhada toda Europa; para estes viver significa arrastar o drama da civilização, é um drama de pesadelo; o expressionismo denuncia a realidade, mas não politicamente, porque o herói sempre morre.
Depois Brecht pesquisa o teatro de feira, um teatro improvisacional de Paris do século XVII, que por sua vez liga-se aos cômicos Dell`arte. Estuda ainda um outro fenômeno de público na época: o teatro de cabaré, que era originário do Vaudeville. Aí conhece Karl Valentin.
Por tudo que foi exposto fica claro que o épico se opõe ao drama.
O Alexandre entra em um tema complexo, trata-se de forma e conteúdo. Cita Adorno, para quem "a forma decanta a ideologia." Tentando deixar um pouco mais claro dá o exemplo de um copo transparente com água, onde é jogado açúcar. Se mexido esse açúcar tende a desaparecer, mas se olharmos atentamente, no fundo do copo é possível perceber pequenos grãos de açúcar. Os grãos seria a ideologia que permanece no conteúdo (a água), os dois abraçados por uma forma (o copo). Por isso Brecht desconfia de tudo na aparência naturalizado. Política e estética andam juntas em qualquer esfera da vida, porque somos seres sociais. Por isso ao refuncionalizar a forma épica (uma das diferenças entre épico e épico brechtiano), Brecht desnaturaliza as coisas. Por isso mesmo apresenta narrativas com temporalidades explicitas, fragmentadas, por intermédio de diferentes pontos de vistas, isto é, não linerlariedade. A classe dominante é sempre apresentada de forma paródica.
Brecht pensa em educar e divertir por intermédio do distanciamento, o Efeito V: efeito de entendimento. Para entender é preciso distanciar-se da coisa.
O teatro épico brechtiano se formaliza ainda por intermédio de expedientes como cartazes (literalização da cena), músicas (sem função climático-emocional), explicitação metateatral (revelação dos processos ilusionistas).
Todo esse processo começou no século XIX, porque naquele período havia uma grande disputa filosófica entre racionalidade e irracionalidade.
Para finalizar Alexandre disse ficar devendo um outro ponto importante na obra de Brecht: o conceito de GESTUS. Além disso, afirmou que tem se empenhado – chamando a todos para essa tarefa – em documentar o teatro de rua, para que não passe ao largo da história como se não tivesse existido, como ocorreu em todos esses séculos.
O próximo encontro.
Ficou agendado para o dia 26/02/10, no mesmo local (Espaço Eureka) e hora (19:00 h) um Encontro com Calixto de Inhamuns (dramaturgo, diretor e ator), que abordará a trajetória do Mambembe e sua própria história, portanto, parte da história do teatro paulistano.
Bibliografia Indicada
Walter BENJAMIN. O Narrador.
Mikhail BAKHTIN. Marxismo e Filosofia da Linguagem.
Terry EAGLETON. A Idéia de Cultura.
Bertolt BRECHT. Cenas de Rua.
John BERGER. Modos de ver.
Peter SZONDI. Teoria do Drama Moderno.
Gerd BORNHEIN. Brecht: a estética do teatro.
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ENCONTROS – TEATRO ÉPICO – ALEXANDRE MATE
Por Edson Caeiro
06.02.2010
TEATRO ÉPICO
Linguagem estética = organização das palavras num conceito em que agrega ou desagrega = síntese
Desde os gregos há 3 gêneros literários distintos: lírico, dramático, épico
(etm) etimologia = denotação histórica
Gênero (ghenos) significa origem
Estética – estesia, apreensão dos sentidos que transita com o maravilhoso
Leitura – O NARRADOR de Walter Benjamim
Maravilhoso (persa MIR + AB) = ser conduzido pelo desconhecido
POLISSÊMIA = múltiplos sentidos, múltipla interpretação subjetiva
Fazer Arte é deixar-se levar pelo desconhecido
Arte popular ligada a troca de sentidos, transgride a cultura oficial, é preciso se relacionar
DRAMÁTICO
(grego DRAOS) drama = ação
Draos = posso, faço, alcanço, conquisto
- ação fundamentada no diálogo, que move ações pessoais dos personagens
- se colocar no lugar da outra pessoa (PERSONA)
- DIÁLOGO = contraposição de 02 pensamentos racionais
TRAGÉDIA = parte dialogada (personagem) = individuo
Parte narrativa (Coro) = grupo social
DIEGESE = +- flashback atual – narrativa
TEORIA
Theoros = ver verticalmente
THEA = VER THEATRON = lugar que se vê
AGON = DEBATE
PERSONA + AGEM – capacidade de 01 pessoa dialogar
Diálogo /autonomia da máscara
LIRICO
Lira = instrumento de corda usado nos rituais de rememorização (lembrar Deuses, Heróis)
Rituais mnemônicos = rituais de memória
Por exemplo: lembrar do 1º. Beijo na boca
Todo ritual de lembrança traz subjetividade = lembrança significativa
SCHOPENHAUER = a musica vai direto à alma.
A Cultura homogeniza a percepção para certos conceitos sociais
- Ninguém nasce acreditando em Deus, isto nos é apresentado pela cultura que estamos inseridos.
DOXA = senso comum, opinião
- uma pessoa é banhada por uma cultura cheia de valores, dogmas.
LIRICA = reino da subjetividade, o que é real não existe
Interpretação singular da realidade
MIKHAIL BAKHTIN
- a realidade escraviza-se ao sentimento
AUTONOMIA = AUTO + GOVERNO (NOMIA)
ÉPICO
EPOS/EPIS = exterior, exterioridade
O épico contrasta o lírico, pois exterioriza o sentimento, o pensamento
Busca apreensão histórica
Explecitam suas necessidades, seus desejos na sua trajetória de vida.
DIEGESE/MIMESE = o épico mistura a ação e narração do personagem
DIALOGISMO (Relação) = diálogo de múltiplas vozes, múltiplo fluxos de diálogos
Sem 4ª. PAREDE – os artistas assumem a presença da platéia
TEATRALIDADE = mostra-se ao expectador que ele participa de um ritual teatral.
Teatro de caixa não é celebração, não é ritual
ESPETACULARIZAÇÃO é diferente TEATRALIDADE
PROCESSUAL – teatro de rua vai se fazendo na relação espaço x público
Teatro épico é mais hibrido = épico x dramático e cheio de teatralidade.
SIMBOLISMO
Surge no século 19, opõe-se ao retrato realista (elitista) e propõe a recriação da vida.
Conde de Lautreamont escreveu: Cantigas de Maldoror = non sense
B.BRECHT – Cenas de Rua (épico) explicitação do jogo
Teatro de Shakespeare não é ilusionista. Tudo é apresentado através da DIEGESE.
A teoria precisa nos conceder "asas" para termos outros conhecimentos; uma base para ir além.
Em cultura tudo é arbitrário !!
MIKHAIL BAKHTIN
No mundo da cultura tudo é COISA: material ou imaterial.
Quando a coisa é tomada pela cultura = SIGNO
SIGNO (LATIM) sinal, algo que pode ser conhecido
Em arte todo SIGNO se transforma em SIMBOLO
SIMBOLO (grego) SIM + BOLEIOS
Sim = junção, união, reunião
BOLEIOS astro, asteróide, cometa
Boleios – apreensão luminosa do cometa que passa (anos-luz)
WALTER BENJAMIM – A obra de arte na época de sua reprodutividade técnica
Exemplo: pôr do sol atrás da montanha.
- ele se pôs, mas pode-se ter idéia, pela reverberação luminosa que nos dá a idéia do sol.
Símbolo = conjunção de senhas (conhecimentos culturais, repertório)
Senha – conhecimentos pessoais
TRADUÇÃO – traição, trair a coisa original pelo meu modo de ver
TEATRO É UMA ARTE SIMBÓLICA DE COMPLEXO ENTENDIMENTO
FICÇÃO – fictus (latim) = imagem
Factos – factory (fabrica)
Ficção= constrói imagens, figuras
Em Arte toda coisa ganha um símbolo
Teatro de rua tem Alegorias apreensíveis e contempla um público de 03 a 80 anos
LEGO – seleção por critério de reconhecimento de formas
LEGO significa SELEÇÃO
12.02.2010
Teatro épico x Teatro épico Brechtiniano
Para VER é preciso limpar o nosso repertório.
Repertório vem de repetir.
Recuperar a potencia do OLHAR, mexer no nosso repertório, senão caímos na OPACIZAÇÃO = opaco.
Opaco = enxergamos como nos apresenta.
Revisitar sempre o nosso repertório, o qual pode gerar CHOQUE.
Revisitação nos conceitos do nosso repertório
SYN + PATHOS = SIMPATIA = união de emoção, sentimento
Ler: MICHEL FOUCAULT
DOXA = senso comum
DRAMA (forma estética) no século XIX
Romantismo vem de ROMA + NICE = à moda de
Poeta soldado = poetas que defendem a palavra = vão contestar
O Romantismo chega a França em 1827.
LEON FAUCHER (1843) cria decreto de seção de espaço aos autores que louvarem a burguesia.
ÉCOLE DU BOM SENS = escola do bom senso.
DIAL + LOGO = 2 razões
O drama se valoriza no diálogo, não há intervenção narrativa.
O personagem autônomo fala por si mesmo.
INTERSUBJETIVIDADE = mas esta é a minha visão
Esta é a minha opinião
HIC ET NUNC = aqui e agora
Drama com começo + meio + fim
Hic et nunc = está acontecendo aqui e agora a relação PALCO X PLATÉIA
Para o espectador os personagens se apresentam agora, vivem agora e se apresentam para a platéia de agora.
= colocar-se na pele do personagem.
Nos manuais do PLAYWRITING = não tem narrativa, nada pode atrapalhar o fluxo do diálogo
1887 – ANDRÉ ANTOINE funda o THÊATRE LIBRE, que seguiu as teses do naturalismo de EMILE ZOLA.
ZOLA não queria ser chamado de Artista, mas sim de cientista.
Naturalismo precisa de FATOS (ciência)
A vida como ela é ??? NÃO !!
A vida como um RETRATO (TRANCHE DE VIE) do que ela é.
TRANCHE DE VIE = fratura da vida, viés da vida.
Sugestão de leitura: TEORIA DO DRAMA MODERNO de PETER SZONDI
Casa de Bonecas de Ibsen = forma falida do drama burguês
FREIE BUHNE = cena livre
OTTO BRAHN traz para Alemanha, para a Associação de Trabalhadores
A forma do Drama não dá conta de discutir as coisas mais quentes da sociedade e sua realidade social
Por isso a necessidade da criação de uma NOVA FORMA para discutir a realidade social
NOVA FORMA = QUEBRA total do ILUSIONISMO = ERWIN PISCATOR
Teatralismo diz respeito a troca de experiência (política estética), existe intervenção na obra.
Sugestão de leitura: B.BRECHT A ESTÉTICA DO TEATRO, de GERD BORNHEIN
Drama x drama naturalista = ilusionista
Drama naturalista = opção por um realismo simplificado
Drama FRANCES x Drama Alemão
Drama alemão = narrativa vem por TEOSCOSPIA (narração do escatológico)
Mitos da personagem = elegância, sem comportamento escatológico = boa educação.
POLIFONIA no discurso = teatralidade
Teatro de rua é explicitamente relacional
JOCUS (latim) = ludibrio, jogar
TEATRO ÉPICO = revela estrutura e procedimentos da METALINGUAGEM, que é a arte se explicitando na condição de arte.
1918 FREIE VOLKS BUHNE = cena popular livre
Espetáculo bandeiras no 1º de Maio.
O Sr. HEARTFIELD chega com um telão, 30 minutos após o inicio da estréia do espetáculo, rompendo a platéia e dizendo que como era feriado, 1º de maio, não havia condução, nem dinheiro para o táxi, ERWIN PISCATOR interrompe a apresentação e pergunta ao publico o que fazer??
- e a platéia responde: vocês não pensaram no espetáculo com o painel? Pois então coloque-o.
1918 – Bertolt Brecht – Poema Pobre BB e depois BAAL
Brecht foi assistente de direção de Erwin Piscator
Brecht vem de uma tradição burguesa e se liga ao expressionismo = deformação
ELMER RICE (USA) diz: o expressionismo radiografa a realidade burguesa.
Viver é danoso = drama expressionista
TEATRO DE FEIRA
Paris século XVII = improvacional
Os atores não podem conversar (falar) então criaram códigos (PLACAS, GESTOS) – improvisação
Teatro cabaré alemão = VAUDEVILLE
Vaudeville = Revue de fin d'année (chiste)
Revisitar os acontecimentos que se destacaram no ano = retrospectiva
KARL VALENTIN
Teatro {de forma} épica = Bertolt Brecht
ADORNO diz: A FORMA DECANTA A IDEOLOGIA
Decantar = resíduos que ficam
Exemplo: copo d'água + açúcar
O açúcar se dissolve e contamina o H2O
= a forma contamina o conteúdo
- desconfiai de tudo natural na aparência, pois tudo É CRIADO.
Política e estética andam juntos.
Brecht diz: em arte é preciso ser radical, ter uma bandeira política.
TEATRO ÉPICO BRECHTINIANO
= narrativas com temporalidade explicitas e apresentados por intermédio de diferentes pontos de vista.
O teatro x luta de classes
No texto CENAS DE RUA de B.Brecht é apresentado um atropelamento e os depoimentos (sob judice) num tribunal tem várias versões: motorista, vitima, cobrador, transeunte, ou seja, cada um apresenta o SEU PONTO DE VISTA sobre o atropelamento.
Brecht diz: em cena não há meio termo com a burguesia
Exige uma explicitação política = posição política
O POPULAR apresenta um ponto a mais, colocando o dedo na ferida, por isso fere os padrões burgueses.
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Os gêneros: épico, lírico e dramático
Por Simone Pavanelli
- dramático
Verbo draos: posso/ faço/ alcanço/conquisto
O sujeito vale por ele mesmo
Drama significa ação. O gênero dramático significa o estabelecimento de ações pela própria personagem, ação essa fundamentada no diálogo.
Diálogo (grego)
Dial + logo: a contraposição de 2 ou mais pensamentos.
Quando surge o gênero dramático tinha a intervenção narrativa do coro que representava a voz do povo. A tragédia é um gênero teatral que tem uma parte narrativa, dita pelo coro, coletiva. Esse grupo social representava o cidadão grego. Os gêneros teatrais não são puros.
A tragédia mistura mimese e diegese.
Teoria vem de Theoros (grego) que tem a mesma origem de Theatro
Thea: ver
Personagem: persona + agem
Persona: máscara
Agem/ agon: debate
Personagem: capacidade de uma máscara debater/ dialogar
Lírico:
Lyira: instrumento de corda usado historicamente nos rituais de rememoração. Diz respeito a lembrar dos Deuses/ heróis. São exercícios mnêmicos. Todo ritual de memória vem carregado de subjetividade. A Lyra era utilizada para facilitar o trânsito de lembrança da memória subjetiva. A cultura homogeinisa o repertório do indivíduo.
O gênero lírico é banhado pelo subjetivo. O indivíduo interpreta o real. V~e a realidade a partir de uma interpretação singular
Nada na cultura é natural!
Tudo que somos é cultura!
Toda cultura é arbitrária!
Culturalmente ninguém é virgem!
Doxa: senso comum/ opinião
Orto: reparação
Ortodoxa: Reparar o senso comum/ opinião d indivíduo, aquilo que está posto pela cultura. A nossa cultura é referenciada por muitos valores.
LÍRICO – SEMELHANTE A SUBJETIVIDADE
DRAMÁTICO – SEMELHANTE A DIÁLOGO/ AUTONOMIA (AUTOGOVERNO) DA PERSONAGEM
ÉPICO- EPOS/ EPIS – SIGNIFICA EXTERIOR/ EXTERIORIDADE
O épico contrasta diretamente com o lírico. Diz respeito a história que pode ser apreendida por qualquer ser. Tudo que é exterior está na história. O épico é o gênero híbrido que mistura em partes iguais ação e subjetividade tendo como primeira característica o dialogismo, ou seja múltiplas vozes contam a história, múltiplos fluxos de diálogos. A exterioridade é fundamental pára contar alguma coisa. O épico mistura vozes e se explicita na linguagem teatral.
Dialogismo- diferentes modos de contar.
Surge no séc XIX o simbolismo que opõe-se ao realismo (retrata a realidade)
Mikail Bakhthin: No mundo da cultura tudo é coisa. Quando a coisa indistinta é tomada de modo cultural ela se transforma em signo que em latim significa sinal.
Em arte tudo é símbolo!
Sim + bolo
Sym: junção/ união/ incorporação
Bolo vem de boleyos (astro/ asteróide/ cometa)
Símbolo: junção de múltiplas possibilidades de reconhecimento de coisas do mundo da cultura.
Ficts: imagem/ factory (fábrica de coisas)
Ficção: fazer figura/ figureiro
A ficção constrói imagens
Alegoria: seleção de símbolos em arte
A: sim
Lego: seleção
O teatro de rua pressupõe uma seleção sofisticadíssima de símbolos.
Qual a lógica da ideologia?
Indicação de leitura:
Walter Benjamim: "O Narrador" e "A obra de arte no tempo da sua reprodutividade técnica"
Maravilhoso – ser conduzido pelo desconhecido
Estético – está ligado a se deixar levar pelo desconhecido