Adailtom Alves Teixeira
Quando o muro separa, uma ponte une
Se a vingança encara, o remorso pune
Você vem me agarra, alguém vem me solta
Você vai na marra, ela um dia volta
E se a força é tua, ela um dia é nossa
Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de
ontem chegando
Que medo você tem de nós, olha aí
Pesadelo - Maurício Tapajós /
Paulo César Pinheiro
Hoje, 15 de outubro de 2021, no dia das professoras e professores, realizou-se em formato híbrido – parte presencial e parte por via remota – mais um encontro da Rede Brasileira de Teatro de Rua (RBTR). O encontro foi dentro do Festival Matias de Teatro de Rua que está ocorrendo no Acre, de 12 a 16 de outubro, e é uma idealização e realização da Cia Visse Versa de Ação Cênica.
O encontro é uma retomada. Criada em 2007, em Salvador, a RBTR, desde que veio a pandemia teve que se adaptar, realizando um encontro totalmente virtual e agora este no formato híbrido. Apesar das dificuldades, o encontro contou com a presença de articuladores de nove estados, mais o DF. Começando pelos anfitriões do Acre, Amazonas, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rondônia e São Paulo. Não é pouco.
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Registro do momento final. Ao centro as pessoas do presencial
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Ouve muita emoção e falas contundentes, como a Daniel Iberê Guarani, que não falou apenas da questão indígena, mas de todas e todos os expropriados desse nosso Brasil. Quanto as demais falas, além da constatação de precariedade geral a que estão submetido os/as fazedores/as em seus municípios e estados, tratou-se dos problemas da aplicabilidade da Lei Aldir Blanc, que pôs a nu a gestão pública de cultura: há um despreparo generalizado de nossos gestores e pouco diálogo com os Conselhos de Cultura, quando há. O despreparo dos gestores culturais, somado a ausência de outras políticas públicas acendeu o alerta: como sobreviver ao próximo ano, sobretudo nós, artistas de rua, sempre marginalizados e relegados a escanteio por parte dos poderes públicos?
Foi destacado ainda a importância de nós mesmos começarmos a pensar e elaborar um protocolo de retorno às ruas, neste momento de transição. Outro ponto destacado foi a solidariedade, ela tem sido e continuará sendo fundamental entre nós. Além disso, destacou-se também a importância de nos aproximarmos de outros coletivos, movimentos sociais maiores, que estão fazendo frente a este desmonte generalizado pelo qual passa o Brasil – ação que muitos coletivos ligados à RBTR já fazem, como sabemos. Desse ponto de vista, para além disso, perguntou-se: qual será a nossa ação prática de enfrentamento, já que cartas não adianta mais? Como mostrar nossa força em uma ação conjunta em todo o país?
Por fim, foi falado da importância da luta, apesar de difícil, em relação a aprovação da Lei Paulo Gustavo, não só porque ela aperfeiçoa alguns mecanismos da Lei Aldir Blanc, mas porque os recursos são da área da cultura e se não a aprovarmos, talvez percamos os recursos, porque há outras leis do pacote de maldade do ministro Paulo Guedes que estar saqueando os fundos públicos e o de cultura pode não escapar. A RBTR está viva, segue balançando e agora, presencial, híbrida ou virtual, reconstruindo os afetos, discutindo a cidade e participando da construção de uma nova sociabilidade. Quanto ao Festival Matias de Teatro de Rua segue com sua programação presencial, sendo um farol para todos que lá estão e que também realizam festivais repensarem os seus.