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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Carta da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS para o Governo e Justiça do Brasil

http://racismoambiental.net.br/2012/10/justica-brasileira-ordena-expulsao-de-indigenas-guarani-kaiowa/

Nós (50 homens, 50 mulheres, 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, vimos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de despacho/ordem de nossa expulsão/despejo expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, em 29/09/2012.

Recebemos esta informação de que nós comunidades, logo seremos atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal de Navirai-MS. Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver na margem de um rio e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay.

Assim, entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio/extermínio histórico de povo indígena/nativo/autóctone do MS/Brasil, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça Brasileira.

A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas?? Para qual Justiça do Brasil?? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados 50 metros de rio Hovy onde já ocorreram 4 mortos, sendo 2 morreram por meio de suicídio, 2 morte em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas. Moramos na margem deste rio Hovy há mais de um (01) ano, estamos sem assistência nenhuma, isolada, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Tudo isso passamos dia-a-dia para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay.

De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs e avós, bisavôs e bisavós, ali estão o cemitérios de todos nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser morto e enterrado junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais.

Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal, Assim, é para decretar a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e para enterrar-nos todos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem morto e sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo de modo acelerado. Sabemos que seremos expulsas daqui da margem do rio pela justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo/indígena histórico, decidimos meramente em ser morto coletivamente aqui. Não temos outra opção, esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Lulismo Fora do Eixo

Lulismo fora do eixo

Os defensores da política "pós-rancor" combinam a "mais pérfida prática reacionária com um discurso aparentemente libertário".

José Arbex Jr.

"Imaginem um liquidificador em que se possa colocar as ramificações da esquerda, com estraté­gias e lógicas de mercado das agências de publi­cidade, misturando rock, rap, artes visuais, teatro, um bando de sonhadores e outro de pragmáti­cos, o artista, o produtor, o empresário e o públi­co. Tudo junto e misturado. O caldo dessa batida é uma nova tecnologia de participação e engaja­mento que funciona de forma exemplar para a circulação e produção musical, mas que, acima de tudo, é um grande projeto de formação política. O Fora do Eixo cria, portanto, uma geração que se utiliza sem a menor preocupação ideológica de aspectos positivos da organização dos movimen­tos de esquerda e de ações de marketing típicas dos liberais. Ë, como disse o teórico da contracul­tura Cláudio Prado, a construção da geração pós-rancor, que não fica presa à questões filosóficas e mergulha radicalmente na utilização da cultura digital para fazer o que tem que ser feito."
O fantástico liquidificador das ideologias é as­sim descrito por Alexandre Youssef, articulista da revista Trip (de onde foi extraído o trecho acima citado, publicado em 12 de maio de 2011), mem­bro do Partido Verde e coordenador do setor de Juventude durante a gestão de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo. Ele tem o mérito indis­cutível da franqueza. Não é todo dia que alguém reúne graça e entusiasmo para cantar as virtudes de um "projeto de formação política" que combi­na, sem qualquer pudor ideológico, métodos or-ganizativos da esquerda com "ações de marketing típicas dos liberais". Claro: tudo isso é feito sem rancor, sentimento ultrapassado e cultivado pe­las pessoas que teimam em se prender a "questões filosóficas" antigas, incapazes de perceber que a cultura digital mudou o mundo. Minai, não foi o FaceBook que provocou a revolução árabe?
Não. Não foi a mais moderna tecnologia que provocou a revolução árabe, mas os mais arcai­cos entre os problemas enfrentados pela humani­dade: a fome e a pobreza. A imensa maioria dos árabes nunca teve acesso à Internet, ao FaceBook e a nada que se pareça com "cultura digital". Nem teve acesso a mesas fartas e empregos dignos. Se­ria melan-cômico presenciar o resultado de uma preleção contra o rancor endereçada aos milhões de manifestantes que, colocando em risco as pró­prias vidas, foram às ruas para derrubar ditado­res em algumas das principais capitais árabes. Em contrapartida, os soldados e oficiais da Otan que, historicamente, lançaram e ainda lançam milha­res de toneladas de bombas sobre uma população civil indefesa, esses não agem movidos pelo ran­cor, mas subordinados a frios interesses geopolí-ticos, e estão perfeitamente integrados à "cultura digital". Os seus brinquedinhos de guerra são produtos da tecnologia de ponta, e incluem robôs e bombardeiros não pilotados. Tudo muito avançado.
O texto de Youssef não teria a menor impor­tância, se ele não fosse expressão de um processo em curso, no Brasil e em todo o planeta, de coop-tação de amplos setores da juventude e da es­querda para políticas de conciliação e abandono da guerra ao capital. Toda essa conversa de "su­peração do rancor" está a serviço de uma ideolo­gia (embora, obviamente, Youssef afirme o con­trário) segundo a qual já não é mais possível falar em luta de classes. Os grandes cenários de em­bates, agora, são os circuitos culturais, não mais o chão de fábrica, o campo e as praças públicas. Ou melhor: todos servem de palco para a grande guerra simbólica.
E como isso aconteceu? É simples. O capitalis­mo pós-fordista, desenvolvido no pós-guerra, te­ria superado a divisão entre trabalho intelectual e manual, para integrar funcionários cada vez mais qualificados a funções que combinam gerência e produção. Além do mais, o vasto acesso ao ensi­no superior, franqueado às populações de baixa renda, teria mudado radicalmente o perfil da for­ça de trabalho, em particular nos países de capi­talismo mais desenvolvido. Essas transformações teriam sido fundamentais para a "culturalização" das classes médias urbanas, para o surgimento da contracultura (incluindo o movimento hippie, en­tre outros) e de novas demandas, que não se limi­tam mais a emprego, salário e conquistas sociais. Do ponto de vista dos novos "setores urbanos mé-' dios", nas palavras do ativista Pablo Ortellado, "as demandas são crescentemente 'pós-materiais' para usar um jargão sociológico."
Desgraçadamente, as manifestações de cente­nas de milhares de jovens e trabalhadores desem­pregados na Grécia, Portugal, Espanha e, mais re­centemente, Itália mostram que as reivindicações são bastante "materiais". Assim como são "ma­teriais" as demandas de trabalhadores franceses, que não aceitam os contínuos ataques promovi­dos pelo capital às suas conquistas históricas ou as de alguns setores do movimento sindical es­tadunidense, que começa a dar crescentes sinais de vida. E mais "materiais" ainda as necessida­des de cerca de l bilhão de seres humanos famin­tos (segundo dados da própria ONU) e outro tan­to de subnutridos. Alguém teria que avisá-los de que eles poderiam saciar a própria fome a carên­cia de nutrientes com bus virtuais. É fantástico o show da vida.
POLÍTICA "PÓS-RANCOR"
Para outros advogados da política "pós-rancor", o proletariado teria sido substituído pelo "precaria-do", uma massa difusa, formada pêlos milhões de trabalhadores e jovens que habitam as imensas fa­velas e bairros da periferia. Tais "multidões" (para usar um conceito proposto pelo italiano Toni Negri, segundo quem não existe mais imperialismo, em­bora haja império) já não se identificariam como classe, mas como grupos que defendem interesses específicos (género, raça, opção sexual, sujeitos de direitos difusos etc.), e que ganham força a partir do momento em que adquirem visibilidade social. Para tanto, podem e devem se valer das novas tec-nologias de comunicação e produção de bens sim­bólicos e culturais. A "antiga" e "superada" luta de classes passaria a ser travada nos circuitos midiáti-cos, em que mesmo os protestos de rua viram espe-táculo e "performance". A "vanguarda", agora, se­ria formada pêlos "gestores culturais", justamente os mais capacitados a articular os esquemas desti­nados a dar visibilidade a determinados eventos e grupos (e a captação de recursos e patrocínios, ob­viamente, ganha um papel estratégico e, como tal, regiamente remunerado nesse processo).
No Brasü, especificamente, a política "pós-ran­cor" ganhou um impulso formidável em 2002, com a campanha do "Lulinha paz e amor". O sindicalis­ta barbudo foi substituído por um senhor modera­do e sorridente, trajando terno e gravata e juran­do respeito ao capital, mediante o compromisso firmado pela Carta ao Povo Brasileiro. Com a ser­vil capitulação ideológica petista, a avenida para o "vale tudo" estava escancarada.
No admirável novo mundo do lulismo, tor­nou-se particularmente emblemática a história do grupo Fora do Eixo (FDE), mencionada por Yous-sef como um exemplo fulgurante de como se faz política nos novos tempos. O FDE foi criado em 2005, pelo publicitário cuiabano Pablo Santiago Capilé, como um "coletivo de gestores da produ­ção cultural", inicialmente com pólos em Cuiabá, Rio Branco, Uberlândia e Londrina (portanto, fora do eixo tradicional formado por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília). Com a proposta de revelar no­vos valores culturais "independentes", e adotan-do o modelo organizativo baseado na formação de "coletivos" (núcleos orgânicos sem patrões nem empregados), o FDE conseguiu o apoio do progra­ma Cultura Viva do Ministério da Cultura, durante a gestão de Gilberto Gil e depois sob Jucá Ferreira. Ao mesmo tempo, trabalhou com o patrocínio de empresas e grupos privados vinculados aos circui­tos cultural e digital, espelhando-se na experiên­cia de grupos semelhantes, como o Creative Com-mons estadunidense.
Como resultado, hoje, segundo os dados da pró­pria organização, o FDE é uma próspera empresa de gestão cultural que agrega 57 coletivos em todo o país, com capacidade para realizar 5 mil shows em 112 cidades. Teoricamente, os "gestores" não são assalariados, mas, claro, recebem pelo seu tra­balho, o que transforma a participação nos "co­letivos" em meio de vida (os "coletivos" adotam moedas próprias e normas internas de distribuição de recursos). A retórica dos "gestores" é, aparente­mente, combativa, com alguns vernizes de rebel­dia: evoca o estímulo à arte independente, o direito de usar drogas, a luta contra o racismo e todo tipo de discriminação etc etc etc. Seu "público alvo", portanto, são os milhões que formam o "precaria-do". Coerente com tal retórica, o FDE, em contato com outros grupos assemelhados, participa da or­ganização de atos e manifestações, mas tudo de­vidamente "enquadrado" e delimitado pela conve­niência política.
Um exemplo foi a sua atuação na organização da "Marcha da Liberdade", realizada no dia 28 de maio, em protesto contra a repressão feroz que se abatera sobre a "Marcha da Maconha", no começo do mês. Capilé, um dos organizadores, agora nega, mas durante a reunião que preparou o ato de 28 de maio mencionou a possibilidade de patrocínio da Coca-Cola à marcha, sem necessariamente ter que expor a marca (a empresa estaria apenas cul­tivando "boas relações" com os ativistas). A pro­posta foi vetada pelo coletivo Desentorpecendo a Razão (DAR) e Movimento Passe Livre, segundo re­latos divulgados pelo coletivo Passa Palavra. Além disso, o FDE e grupos congéneres posicionaram-se contra a proposta de incluir, como pauta da mar­cha, a reivindicação de proibir aos policiais o uso de armas de fogo para reprimir manifestações. Não haveria mesmo razão para uma proposta tão ran­corosa: liberdade é apenas uma calça velha, azul e desbotada, certo?
A experiência do FDE é o próprio retraio do lu­lismo: combina a mais pérfida prática reacionária com um discurso aparentemente "libertário". Suas ações são motivadas por interesses pecuniários próprios, mas apresentadas como se fossem ges­tos de altruísmo. Na lógica mercantüista tão bem apresentada por Yousseff, mesmo as manifestações são transformadas em happenings e oportunidades de bons negócios com patrocinadores interessados em vender uma imagem dinâmica e "progressista". As "antigas" e "rancorosas" reivindicações dos tra­balhadores e jovens pelo acesso real e material ao mundo da cultura e das artes são açambarcadas, administradas e domesticadas por um vasto em­preendimento, que envolve fundos públicos, pa­trocínios de corporações e de empresas privadas e "gestores culturais" que se encarregam de encon­trar os artistas e promover os eventos. Finalmente, a técnica da "gestão cultural" é transportada para o ativismo militante e justificada com um discur­so "pós-rancoroso", o mais adequado ao mundo das reivindicações "pós-materiais". O FDE e con-gêres constituem a expressão Mista do movimen­to "cansei".
Se existe algo de real nas alegações dos "pós-rancorosos", incluindo os "lulinhas paz e amor", é a afirmação de que a batalha ideológica trava­da nos "circuitos culturais" adquiriu importância muito maior e central do que à época de Karl Marx. Isso é óbvio, já que as tecnologias de comunicação experimentaram um desenvolvimento vertiginoso no século 20. E, além disso, a humanidade sofreu as experiências de génios do mal da comunica­ção, como é o conhecido caso de Joseph Goebbels, cujas técnicas de propaganda passaram a ser ado-tadas e aprimoradas por Hollywood e outros cen­tros produtivos da indústria cultural (outro concei­to "rancoroso" e ultrapassado, aliás).
Mas nada disso autoriza a afirmação de que o proletariado foi dissolvido no "precariado" e que desapareceu a luta de classes, agora substituída por uma difusa batalha cultural, se tanto. A ex-tração da mais valia continua sendo o "segredo" do capital, e o imperativo do crescimento da taxa de lucro a sua lei compulsória. Isto é, não há re­produção do capital sem a exploração cada vez maior do trabalho humano livre. Mudaram os pa­râmetros que condicionam a luta de classes, as circunstâncias culturais e ideológicas em que ela se desenvolve, assim como as formas de articula­ção entre as várias classes exploradas e oprimidas. Mas nenhum "circuito cultural" aboliu as classes, que não podem ser sociologicamente quantifica­das (classes não constituem um mero dado esta­tístico), mas que dão o ar da graça em momentos de crise e de ameaças às conquistas sociais, como demonstram a revolução árabe e a Zona do Euro.
Bastaram duas semanas de mobilizações em Barcelona e Madri para desarticular três décadas de retórica conciliadora de Luiz Zapatero e com­panhia. Os "precariados" do Oriente Médio, Nor­te da África e Zona da Euro mostram que não é nos circuitos digitais que se trava a guerra con­tra o capital, mas nas ruas. Nas barricadas. Estas sim, são as mesmas que se erguiam nos tempos de Marx, assim como é o mesmo rancor que se ex­pressa nas palavras de ordem contra a miséria e os gestores do neoliberalismo.
Nenhum liquidificador abolirá a luta de classes.
José Arbex Jr. é jornalista.


terça-feira, 9 de outubro de 2012

O que há para além dos muros que nos impõem?


Adailtom Alves Teixeira[1]

Não havia exigências em termo de criação estética, e a filosofia dominante do CPC era essa: a forma interessava enquanto expressão do artista. O que interessava era o conteúdo e a forma servia apenas enquanto comunicação com o público. Foi daí que surgiu esta concepção do CPC de que deveríamos usar as formas populares e rechear estas formas com o melhor conteúdo ideológico possível.
Carlos Estevam Martins apud Julián BOAL. As imagens de um teatro popular

Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem.
Eric HOBSBAWM. Era dos extremos: o breve século XX

O III Encontro de Estudos Teatrais e 2º Fórum de Teatro de Rua, com o tema As formas fora da forma, ocorrido de 04 a 08 de julho de 2011 no Instituto de Artes da Unesp, foi revelador sob vários aspectos. Primeiro porque reuniu grandes pesquisadores do circo, do teatro de revista, do teatro de feira, do agit-prop (Agitação e Propaganda) e do teatro de rua; segundo porque se apresentou muitas informações que não são encontradas na maioria dos livros de história do teatro.
Quero destacar dois pontos importantes: o primeiro são as informações trazidas por João das Neves sobre os Centros de Cultura Popular (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), que teve uma vida breve, de dezembro de 1961 a abril de 1964. Porém teve uma imensa produção artística, sobretudo teatral.
            O encontro que ocorreu no dia 06 de julho tinha à mesa Robson Camargo Corrêa, Maria Thaís, José Fernando Azevedo e João das Neves, último a falar e tinha como tema o CPC. João abriu sua fala falando sobre como é recente a classe operária brasileira, passando ao surgimento do CPC, que nasce de uma dissidência do Teatro de Arena; o que detona esse processo é o texto A mais valia vai acabar, seu Edgar de Oduvaldo Viana Filho e Chico de Assis. Esses dois artistas procuraram os intelectuais do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiro), encontraram o sociólogo Carlos Estevam Martins, com quem travaram parceria. Até aí tudo bem, de certo modo essa história parece está bem registrada. No entanto, João das Neves frisou um ponto muito importante e que, segundo ele, vem sendo negligenciado pelos historiadores do teatro daquele período: trata-se da Carta de Princípios escrita por Carlos Estevam Martins. O documento de Martins, segundo João das Neves, era para uma discussão interna do CPC, mas ao ser publicado, vem sendo analisado como o pensamento do mesmo, quando não era. João das Neves fez um alerta sério: o CPC ainda é analisado sem as fontes primárias e com olhar da elite intelectualizada. Portanto, João reclama que a história vem sendo escrita sem que se procurem aqueles que participaram ativamente desse processo, utilizam apenas documentos escritos, o que, na prática, não dá conta de toda a realidade e da complexidade que foi aquele movimento. Afinal, ainda segundo João das Neves, não havia um CPC único, mais vários. O CPC não seguia as proposições da UNE e, por sua vez, cada um dos núcleos eram independentes, pensavam no que e como fazer. Por fim, já no debate com os presentes, João explicou que a escolha da rua pelo CPC se deu, primeiro, por questões econômicas, era mais barato; segundo porque era e é onde o povo está. No entanto, não havia valorização hierárquica, tanto que mantiveram tanto a produção nos espaços fechados, mas, principalmente na rua, havendo uma retroalimentação entre ambos.
            O segundo ponto a destacar ocorreu já no 2º Fórum de Teatro de Rua, no dia 07 de julho e contou com a participação de Ana Rosa Tezza, Hélio Fróes, Licko Turle e Lindolfo Amaral. Lindolfo é professor universitário e integrante do Grupo Imbuaça, coletivo que participou do Movimento Brasileiro de Teatro de Grupo (MBTG), no inicio dos anos 1990. Muitos foram as questões trazidas por Lindolfo Amaral: de como nosso olhar acostumou-se a vê com os olhos do colonizador; questões ligadas a verticalidade no teatro de rua, que, no seu entender, até 1987 só havia horizontalidade, mas com a vinda do Teatro Tascabile e do Teatro Potlhach, ambos da Itália, começou uma verticalização no teatro de rua brasileiro, isto é, a cena ganhou verticalizações, como por exemplo, uso de prédios na dramaturgia. Mas a contribuição sobre o MBTG foi fundamental, pois, segundo Lindolfo, o mesmo era puxado pelo teatro de rua. Ou seja, o teatro de rua esteve a frente de um movimento nacional de grupos em uma época em que não havia as facilidades tecnológicas que existe hoje. Até onde se sabe, essa informação é novidade e como houve pouca produção teórica sobre o MBTG, não se conhece muito sobre sua história.
            O MBTG foi criado em plena era Collor (1990-1992)[2], tinha por objetivo a troca e apoio mútuo entre os grupos. O grupo Fora do Sério, de Ribeirão Preto, sediou os dois primeiros encontros, ocorridos em 1991 e 1993. Além disso, produziu dois números da revista Máscara. Na edição de nº 2, o editorial “Existindo na Instabilidade” apresentava o porquê da existência da publicação e do MBTG: havia um “desejo comum” de que o teatro se manifestasse “como uma arte acessível a todas as classes sociais, e que os homens, mulheres e crianças de todas as idades [pudessem] comunicar-se através dele” (1993: 3). Infelizmente o MBTG realizou apenas três encontros, o último foi realizado em 1997, em São Paulo, na Mostra de Teatro de Grupo, organizado pela Cooperativa Paulista de Teatro.
            Recuperar essas histórias é fundamental para a memória do teatro brasileiro. Saber que o CPC, apesar de ter um objetivo comum, foi diverso na maneira de ser, demonstra, ao menos, que não há um único ponto de vista sobre a história. Por sua vez, recuperar a memória do teatro de rua, responsável por criar um movimento nacional ainda na década de 1990, faz-se necessário para os movimentos atuais, pois demonstra, ao menos, que a vontade de se juntar já vem de há bastante tempo. Saber que ambos os movimentos são populares e objetivavam chegar às massas, nos lança novos desafios, pois todos os fazedores de teatro de grupo de hoje, têm dívida com aqueles que nos antecederam. Ao mesmo tempo, o público que ambos os coletivos visavam atingir com sua arte, ainda não foram plenamente alcançados. Não podemos perder o fio da história e nem perder de vista o nosso espectador, pois ele ainda precisa ser conquistado, como alerta o camarada Brecht em Meu Espectador:
Recentemente encontrei meu espectador.
Na rua poeirenta
Ele segurava nas mãos uma máquina britadeira.
Por um segundo
Levantou o olhar. Então abri rapidamente meu teatro
Entre as casas. Ele
Olhou expectante.
Na cantina
Encontrei-o de novo. De pé no balcão.
Coberto de suor, bebia. Na mão
Uma fatia de pão. Abri rapidamente meu teatro. Ele
Olhou maravilhado.
Hoje
Tive novamente a sorte. Diante da estação
Eu o vi, empurrando por coronhas de fuzis
Sob o som dos tambores, para a guerra.
No meio da multidão
Abri meu teatro. Sobre os ombros
Ele olhou:
Acenou com a cabeça.


Bibliografia
BOAL, Julián. As imagens de um teatro popular. São Paulo: Hucitec, 2000.
BRECHT, Bertolt. Poema: 1913-1956. Trad. Cesar Souza. São Paulo: Brasiliense, 1986.
MÁSCARA. Revista de Teatro. Ano II, nº 2, junho, 1993.
TEIXEIRA, Adailtom Alves. A rua como palco: o teatro de rua em São Paulo, seu público e a imprensa escrita. Monografia de Iniciação Científica. 72 f. São Paulo: Universidade Cruzeiro do Sul, 2008.

Publicado originalmente em Rebento: Revista de Artes do Espetáculo, n 3, março de 2012, p. 176-180.



[1] Mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,  membro do Núcleo Brasileiro de Pesquisadores de Teatro de Rua e integrante do Buraco d`Oráculo.
[2] Em 1989, depois de 29 anos sem eleições diretas, o alagoano Fernando Collor de Mello, então candidato pelo PRN, foi eleito com 42,75% dos votos válidos, contra 37,86%) dos votos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A campanha apresentava modelos opostos, o primeiro se pautava na redução do papel do Estado e o segundo propunha uma forte atuação do Estado, sobretudo na economia.

sábado, 6 de outubro de 2012

Defesa pública da alegria

Manifestação em Porto Alegre contra a privatização do espaço público.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Links do documentário Fomento 10 anos


Movimentos esculacham governador que determinou o massacre no Carandiru

Movimentos esculacham governador que determinou o massacre no Carandiru


Luiz Antônio Fleury Filho autorizou a Polícia Militar a invadir o Pavilhão 9 do presídio. No total, 111 detentos foram mortos

 

02/10/2012

José Francisco Neto

De São Paulo

 

 

  

Movimentos fizeram um escracho na frente da casa de Fleury,

governador de SP que ordenou o massacre no Carandiru. Foto: Igor Carvalho

  

No dia em que se completam 20 anos da maior chacina da história do sistema penitenciário brasileiro, os movimentos sociais Rede Dois de Outubro e Levante Popular da Juventude fizeram um esculacho – um ato de denúncia – em frente à casa do ex- governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho. Na época, Fleury autorizou a Polícia Militar a invadir o Pavilhão 9 do presídio. No total, 111 detentos foram mortos.

Poesias, canções e uma demonstração simbólica de 111 velas acesas em frente à residência do ex-governador, no bairro do Pacaembu (SP), integraram a ação em memória dos presos, que durou cerca de 30 minutos. Aproximadamente 60 pessoas participaram do ato.

Para Juliane Furno, integrante do Levante Popular da Juventude, o objetivo da manifestação é denunciar a política de extermínio que segue dentro e fora dos presídios. "Os 20 anos do massacre não têm nada pra comemorar, e sim pra lamentar e impedir que essa política de extermínio se perpetue pela lógica do Estado", comenta.

Durante a tarde desta terça-feira (2), os movimentos seguem para a Praça da Sé, centro de São Paulo, onde farão um ato ecumênico em memória dos detentos que foram assassinados. "Vamos fazer uma caminhada cobrando responsabilização de todos os responsáveis, e no sábado terá uma nova atividade no Parque da Juventude, onde se localizava o maior presídio da América Latina", complementa Danilo Dara, da Rede dois de Outubro.

 

2 de outubro de 1992

No dia 2 de outubro de 1992, Fleury concedeu poder de decisão ao coronel Ubiratan Guimarães para que os cerca de 340 homens dos batalhões de elite da Polícia Militar invadissem o pavilhão 9. O objetivo era conter um motim iniciado com uma discussão entre os presos "Barba" e "Coelho", mas a ação resultou em 3,5 mil disparos de grosso calibre. Nenhum PM foi alvejado.

A Comissão que investigou os excessos cometidos naquele 2 de outubro conclui que não houve negociação e "os PMs dispararam contra os presos com metralhadoras, fuzis e pistolas automáticas, visando principalmente a cabeça e o tórax".

Entre os envolvidos na operação, apenas o coronel Ubiratan foi a julgamento pelo massacre, sendo responsabilizado por 111 mortes e cinco tentativas de homicídio. Foi condenado a 632 anos de prisão em regime fechado. Por ser réu primário e ter endereço fixo, o coronel conseguiu recorrer da sentença em liberdade. Ironicamente, o pavilhão 9 era específico para réus primários. Cerca de 80% das vítimas do massacre esperavam por uma sentença definitiva. Ainda não haviam sido condenadas pela Justiça.

Mais tarde, a sentença contra o coronel foi anulada. Ubiratan elegeu-se deputado estadual. Em setembro de 2006 foi encontrado morto em seu apartamento, com um tiro no abdômen. Ciumenta, a namorada teria matado "por amor'.

Como o massacre ocorreu um dia antes de a população escolher prefeito e vereadores para o próximo mandato, o número oficial de mortos no massacre do Carandiru só foi revelado uma hora antes do encerramento das votações. As eleições estavam salvas e a ordem mantida.


Ata do XI Encontro da RBTR - João Pessoa - PB


Car@s amig@s da RBTR,


Envio abaixo, e em anexo, a Ata do XI Encontro da Rede Brasileira de Teatro de Rua, realizado de 13 a 16/09 na cidade de João Pessoa (PB), na sede do Grupo Quem Tem Boca é Pra Gritar.


Antes de qualquer coisa, gostaria de ressaltar que esta Ata visa apenas registrar uma memória do XI Encontro - na perspectiva de alguém que se encontrava presente na ocasião - a fim de proporcionar, àqueles que não puderam participar do evento, um panorama (ainda que parcial) dos temas, assuntos, questões que emergiram e animaram os debates desses dias. Contudo, em lugar de "organizá-los" – o que iria inevitavelmente modificar esse registro pelo filtro de meus próprios critérios - segui a ordem em que os assuntos abordados vieram à tona, obedecendo ao fluxo do pensamento coletivo no intuito de tentar manter, o mais possível, a vitalidade daquele momento.

Apresento-lhes, ainda, algumas desculpas:


- em primeiro lugar, por não ter podido divulgar prontamente a presente Ata, em função das várias atividades que ocuparam meu tempo de modo imprevisto ao retornar de João Pessoa;

- por quaisquer equívocos que eu possa ter cometido ao fazer estas anotações, sobretudo a partir do 2º dia, quando a tarefa de relatoria "geral" ainda não se encontrava sob a minha responsabilidade e para os quais peço a devida correção;

- pela falta de algum comentário ou dado relevante que tenha inadvertidamente escapado ao relato, e peço a reconstituição dessa memória pelos que puderem contribuir nesse sentido;


Gostaria, ainda, de agradecer aos articuladores da RBTR presentes ao XI Encontro pela confiança em mim depositada, no cumprimento desta tarefa que considero da maior importância. Foi esta, também, uma forma de retomar as minhas atividades junto à RBTR, por meio do tipo de ação política na qual acredito - baseada não em gestos grandiloquentes ou discursos intimidadores - mas nas estratégias menos óbvias de uma "micropolítica" muitas vezes silenciosa e até anônima, que buscam incansavelmente o lugar do afeto dentro do político.


Viva o Teatro de Rua!!!! 

Jussara Trindade
 

XI ENCONTRO DA REDE BRASILEIRA DE TEATRO DE RUA – JOÃO PESSOA (PB) – 13 a 16/09/2012


Local: sede do Grupo Quem Tem Boca é Pra Gritar

 

Primeiro dia: 13/09

 

Propostas iniciais:

- apresentação dos presentes;

- exibição de um vídeo sobre os 10 anos da Lei de Fomento ao Teatro, intitulado "Teatro contra a barbárie";

- leitura da Carta de Santos;

- Agradecimentos ao grupo anfitrião, pelo articulador Chicão Santos (RO), em nome de todos os presentes.

 

Articuladores presentes e seus respectivos grupos:

1.      Cecília Lauritzen (PB) – Quem Tem Boca é Pra Gritar;

2.      Zaine Diniz (RO) – O Imaginário;

3.      Chicão Santos (RO) – O Imaginário;

4.      Dani Mirine (AC) – Grupo Experimental Vivarte;

5.      Marcos Pavanelli (SP) – Núcleo Pavanelli;

6.      Rafaela Herrane (SC) – Resta Nóis Cia Livre de Teatro;

7.      Osvaldo Pinheiro (SP) – Cia Estável de Teatro;

8.      Luiz Calvo (SP) – Cia Estável de Teatro;

9.      Romualdo Freitas (PE) – Cia do Balacobaco;

10.  Noêmia Scaravelli (SP) – Como Lá Em Casa;

11.  Marcelo Palmares (SP) – Pombas Urbanas;

12.  Naiara Cavalcanti (PB) – Quem Tem Boca é Pra Gritar;

13.  Erlon Cherque (PB) – Universidade Federal da Paraíba – UFPB

14.  Kuka Matos (BA) – Gueto Poético;

15.  Fernando Kinas (SP) – Cia Kiwi (Cooperativa Paulista de Teatro);

16.  Fernanda Azevedo (SP) – Cia Kiwi (Cooperativa Paulista de Teatro);

17.  Jussara Trindade (RJ) – Núcleo de Pesquisadores de Teatro de Rua;

18.  Licko Turle (RJ) – Grupo Tá Na Rua;

19.  Adailton Alves (SP) – Buraco d'Oráculo;

20.  Walter Cedro (DF) – Mamulengo Sem Fronteiras;

21.  Priscilla Fernandes (MT) – Atores e Metamorfoses;

22.  Osvanilton Conceição (BA) – artista independente/pesquisador teatral;

23.  João Paulo (PB) – Quem Tem Boca é Pra Gritar;

24.  Rafael de Barros (PR) – Exército Contra Nada;

25.  Maicon Nascimento (PB) – Quem Tem Boca é Pra Gritar;

26.  Cleiton Teixeira (PB) – Quem Tem Boca é Pra Gritar;

27.  Joelson Topete (PB) – Quem Tem Boca é Pra Gritar;

28.  Ademilton Barros (PB) – Quem Tem Boca é Pra Gritar;

29.  Clara (?) (PB) – Quem Tem Boca é Pra Gritar.

Ao término das apresentações individuais, a Carta de Santos (escrita em 30/01/2012) foi lida por Osvaldo Pinheiro. Em seguida, foram feitos os seguintes comentários/observações e dadas informações de caráter geral:


(Marcelo) – informa que a Trupe Olho da Rua tem, agora, uma sede pública próxima à Rodoviária de São Paulo;

(Licko) – informa que o Curso de Licenciatura em Teatro à Distância da UNB (PROLICEN) aprovou a criação da disciplina "Teatro de Rua", a ser ministrada em setembro/2012 pelos articuladores Licko Turle (RJ) e Adailton Alves (SP) em Porto Velho (RO);

(Romualdo) – frisa a importância da autonomia gerada pela autogestão da RBTR que se iniciou no Encontro de Teresópolis, levantando a possibilidade de se criar um "chapéu virtual" para garantir a representatividade presencial de articuladores (com dificuldades de viajar com recursos próprios) nos próximos encontros da RBTR;

(Marcos) – ressalta a rotatividade dos articuladores de diferentes regiões como um ponto positivo da autogestão; e relembra a necessidade de se manter as ações locais em suas cidades/regiões, como parte importante da autonomia dos grupos e artistas da Rede;

(Adailton) – fala sobre o Curso de Extensão em Teatro de Rua que vem sendo realizado com êxito na UNESP sob a coordenação do prof. Dr. Alexandre Mate, com destaque para os encontros de discussão sobre os processos artísticos dos grupos de rua de São Paulo;

(Marcos) – frisa a importância das ações locais voltadas para as trocas de experiências entre os grupos; sugeriu ainda que seja realizado um mapeamento das ações concretas promovidas pelo Teatro de Rua por todo o país desde a criação da RBTR, pois embora sejam muitas, estas ainda não foram registradas de modo sistemático;

(Licko) – informa que se encontram abertas as inscrições para o Festival de Teatro de Rua promovido em Porto Alegre pelo grupo Falus & Stercus;

A articuladora Zaine Diniz fez a leitura do texto "Narrativas de outra margem – uma biopolítica para o Teatro de Rua", escrito durante o 2º Seminário de Teatro de Rua – Amazônia EnCena na Rua (RO).


Chegada e apresentação de outros articuladores da RBTR:

30.  Winston Aquiles (PB) – Quem Tem Boca é Pra Gritar;

31.  Natália Siufi (SP) – Coletivo Parlendas;

32.  Maria Gabriela (SP) – Coletivo Parlendas;

33.  Elton (?) (SP) – Coletivo Parlendas;

(Licko) – comenta a criação do GT Artes Cênicas na Rua na Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas – ABRACE, do qual é hoje o coordenador e a articuladora Jussara Trindade, a vice-coordenadora; esse Grupo de Trabalho iniciou em 2011 com apenas 13 integrantes e agora esse número praticamente dobrou, com 25 inscrições para o próximo Congresso em Porto Alegre (outubro/2012).

Propõe discutir também a campanha "Dilma, não desmanche!" como ponto de partida para um diálogo da Rede com a nova ministra da Cultura, Marta Suplicy, cuja posse oficial no cargo estava ocorrendo nesse mesmo momento do Encontro e foi parcialmente acompanhada pelos articuladores por meio da Internet, através de relatos em tempo real feitos por Osvaldo (por exemplo: a Pres. Dilma declara, em seu discurso em Brasília, que em 2013 serão destinados 3 bilhões de reais para o Ministério da Cultura).

·     (Chicão) – faz a leitura dos pontos de discussão citados em mensagem postada por Licko na Rede, como meio de rememorar questões gerais da RBTR e definir os assuntos mais pertinentes à pauta do XI Encontro; destes, permaneceram os seguintes assuntos:

a)      - A descaracterização sofrida pelo Edital Artes Cênicas na Rua (Funarte);

b)      - A participação de articuladores da RBTR no Conselho Nacional de Políticas Culturais, do MinC;

c)      - A realização do II Congresso Brasileiro de Teatro em Osasco (SP);

d)     - A elaboração de um projeto para as Artes Públicas, "fora" da Lei Rouanet;

e)      - A necessidade de obter esclarecimentos sobre o Pró-Cultura;

f)       - A necessidade de discutir as relações da RBTR com o poder público, a fim de viabilizar um planejamento para a audiência com a nova ministra;

g)      -As propostas e ações concretas a serem apresentadas a Marta Suplicy;

h)      - A tentativa, inicialmente fracassada, de instaurar os Grupos de Trabalhos na RBTR.

(Licko) – ressalta a importância de a Rede assumir um posicionamento assertivo na audiência com a nova ministra, em função das várias e importantes conquistas obtidas por seus articuladores desde a criação da RBTR em 2007;

(Marcos) – propõe, para as discussões da RBTR com o Governo Federal, uma organização em dois temas: a) ações de curto prazo (urgentes) como editais etc; e b) ações de longo prazo, como a elaboração de leis específicas para a área; sugeriu, ainda, a elaboração de um "observatório" na RBTR sobre os editais;

(Chicão) – complementa a ideia anterior com a questão do custo amazônico, as conquistas da Rede e a reincidência de diferentes reivindicações, registradas nas Cartas dos Encontros já realizados, como forma de dar maior sustentação à argumentação com a nova ministra;


Após essas colocações pontuais, foram definidos os principais pontos da pauta do XI Encontro, a saber:

1)      1) Relações da RBTR com o Governo Federal, abordando dois tópicos:

·         MinC (Pró-Cultura) e

·         Funarte (editais);

2)     2) Congresso Brasileiro de Teatro;

3)     3) Organização interna da RBTR (GTs);

4)     4) Relações da RBTR com outros movimentos sociais (Redemoinho) e eventos artísticos (festivais).

(Fernanda) – expõe a questão da revitalização do Redemoinho (agora, a nível nacional) em São Paulo;

(Chicão) – lança uma pergunta: "Há interesse da RBTR em participar desse movimento"? Como não houve uma resposta do coletivo a esse respeito, sugeriu-se exibir o vídeo "Teatro contra a barbárie" trazido pelos proponentes (Fernando e Fernanda);

(Romualdo) – após a apresentação do vídeo, pergunta-lhes (a respeito da participação da RBTR no Redemoinho): "Se esse movimento enraizar, a estética popular será mantida"?

(Adailton) – argumenta, em resposta, que a Lei de Fomento propiciou justamente isso, depois de sua implantação em São Paulo;

(Fernanda) – diz acreditar no "princípio de um teatro político", independentemente da estética;

A partir daí, a discussão passa a girar em torno da questão da Lei de Fomento ao Teatro, vigente em São Paulo, suas vantagens e desvantagens; alguns dos articuladores presentes (Adailton, Marcelo, Natália, Calvo) externam impressões positivas a respeito da Lei de Fomento;

(Humberto) – fazendo um contraponto com as falas anteriores, alerta: "Há coisas que contradizem o discurso", chamando a atenção para o fato de que as questões brasileiras são muito específicas e, por isso, cada região tem o seu modo próprio de fazer teatro;

(Licko) – observa que, em sua percepção, os grupos de São Paulo vêm desenvolvendo projetos de cunho político e circulando com os mesmos por todo o país, embora alguns possam ser considerados esteticamente bons e outros, não;

(Walter) – alerta para o risco de acomodação do grupo a uma situação financeira estável, como a que percebe ocorrer, por exemplo, com grupos apoiados pela Petrobrás;

(Fernando) – afirma que o Fomento não uniformizou o teatro em São Paulo;

(Chicão) – argumenta, com base na ideia de que "é preciso respeitar as diferenças", que a Lei de Fomento não interessa a todas as regiões do país, e que "no norte, seria um desastre";


O debate foi interrompido em função do horário de almoço. À tarde, reiniciou-se o Encontro com o 1º ponto da pauta:

1)      Relações da RBTR com o Governo Federal

(Osvaldo) – tenta esclarecer a impressão (segundo ele, errônea) que o vídeo apresentado antes poderia ter suscitado a respeito da Lei de Fomento ao Teatro; e que o objetivo (de obter o apoio da RBTR no processo de revitalização do Redemoinho a nível nacional) seria conseguir a distribuição de recursos públicos para todos os estados da Federação;

Alguns articuladores (Chicão, Romualdo) comentam a necessidade de se amadurecer a questão, uma vez que a mesma levantou controvérsias entre os articuladores presentes;


(Licko) – traz a discussão para o ponto inicial da pauta, comentando que a posse de Marta Suplicy muda todas as estratégias para as futuras ações da RBTR perante o Governo, uma vez que se trata de uma militante do PT assumindo um ministério que, no caso da Cultura, seria pela primeira vez. Alerta para o fato de que até hoje, a pasta da Cultura tem sido "moeda de troca" nas negociações do PT com outros partidos.

(Chicão) – propõe definir uma comissão de articuladores para levar as demandas da RBTR à nova ministra, lembrando que foi de um desses contatos diretos que nasceu o Edital Artes Cênicas na Rua;

(Natália) – chama a atenção para a radicalidade do Teatro de Rua que, em sua opinião, deve ser mantida através de reivindicações positivadas;

(Fernanda) – lembra a questão das ocupações pelos grupos;

(Romualdo) – propõe apresentar, nessa ocasião, um documento ressaltando os pontos que já apareceram em reivindicações anteriores, sem sucesso;

 (Licko) – sugere discutir qual a política do PT para a Cultura – e, mesmo, se este possui uma – para que a Rede possa construir uma argumentação em bases reais com o poder público, sem perder de vista que todos os presidentes da Funarte (desde a criação da RBTR) foram do PT;

(Noêmia) – cita o termo "economia criativa" como o mote que se tornou lugar-comum no discurso sobre a Cultura no país nos últimos anos;

(Fernanda) – acrescenta a "sustentabilidade" como outro termo que seria igualmente perigoso e é muito utilizado pelo PT;

(Kuka) – propõe a elaboração de um dossiê com dados sobre as realizações concretas da RBTR nestes cinco anos de existência, reivindicando o que consta no Plano Nacional de Teatro, ou seja, exigindo apenas o cumprimento de uma legislação já em vigor;

(Chicão) – faz alusão ao Tratado Internacional da Diversidade Cultural, de que o Brasil é signatário sem, entretanto, cumprir as metas ali estipuladas;

(Licko) – pergunta se seria interessante a presença do Dep. Fed. Vicente Cândido (PT) (pela sua atuação anterior no processo de construção e aprovação da Lei de Fomento ao Teatro) ou mesmo outro parlamentar, como integrante da comissão da RBTR;

(Fernando) – comenta que até 2002 o PT possuía um Projeto de Cultura que, entretanto, foi-se diluindo gradualmente com a reorganização do partido e as sucessivas coalisões, chamando a atenção para o fato de que existe um grande jogo de interesses num "governo de coalisão" e que é preciso não idealizar a situação de "ser uma petista" quem está, agora, à frente do Ministério da Cultura;

(Natália) – sugere uma lista de possíveis reivindicações a serem apresentadas num documento, para que possam ser conquistadas ao menos, algumas;

(Chicão) – propõe declarar no documento a posição contrária da RBTR às leis de renúncia fiscal;

(Licko) – ressalta a importância de, neste momento, a RBTR apenas abrir um canal de comunicação com a nova ministra, para conversar politicamente; ou seja, "mostrar a cara", deixar claro que a Rede está organizada e que deseja dialogar. Pergunta a todos se é consenso a ida de uma comissão a Brasília; o coletivo responde afirmativamente;

 (Kuka) – reafirma a importância de a comissão levar um dossiê da RBTR nessa ocasião, dando destaque a artigos da Constituição de interesse para o Teatro de Rua, bem como às leis que já foram citadas em Cartas anteriores, como respaldo para as reivindicações;

(Adailton) – retornando à questão da presença de um parlamentar na comissão, comenta que, quando votada, a Lei de Fomento foi aprovada por unanimidade, mostrando que sempre há comprometimentos diversos nessas questões;

(Fernando) – revela que a Cooperativa Paulista de Teatro já tem um Projeto de Cultura "contra a privatização do espaço e do corpo", o qual deverá ser apresentado ao novo Ministério;

(Chicão) – elogia a iniciativa; em sua opinião, contudo, a RBTR deve construir um documento semelhante, porém com base nas necessidades específicas do Teatro de Rua;

(Natália) – pergunta "o que vamos negociar" efetivamente com Marta Suplicy e propõe que a RBTR, mais do que apenas participar de uma audiência, crie um "fato político" de impacto, em Brasília;


Vários articuladores passam a expor suas posições particulares sobre a questão, as quais oscilam basicamente entre duas tendências: a) a de somente estabelecer um contato inicial com a nova ministra, visando a reabertura de um canal de negociação com o governo; e b) outra, visando demonstrar mais enfaticamente o descontentamento da Rede com os encaminhamentos que o Governo Federal tem dado às questões da cultura no país, sobretudo na área do Teatro.

Como a discussão não avançasse, tornando-se visivelmente improdutiva, Humberto propôs o encerramento do 1º dia, com uma dinâmica de mobilização do afeto entre os articuladores (troca de abraços, enquanto uma canção era entoada).  

 

Segundo dia: 14/09


Por sugestão de Humberto, o trabalho reiniciou com uma atividade artística – uma canção e uma brincadeira - entre os presentes. Depois, apresentaram-se individualmente os articuladores que chegaram nesse dia ao XI Encontro:

 34.  Vanéssia Gomes (CE) – Teatro de Caretas;

35.  Patrícia Caetano (PE) – Grupo La Trupe e Movimento Escambo;

36.  Jonas de Jesus (CE) – Bando Gambiarra;

37.  Bruno Sodré (CE) – Grupo Nós de Teatro;

38.  Erica Peixoto (CE) – Grupo Nós de Teatro;

39.  Luciano Santiago (SP) – Trupe Artimanha;

40.  Danilo Cavalcanti (SP) – Mamulengo da Folia;

41.  Daniele Araújo (CE) – Teatro de Caretas;

42.  Naira Freire (SP) – Coletivo Parlendas;

43.  Marlene Gomes (PE) – O Gaio;

44.  Ivo Rodrigues (PE) – Faradá Arte Negra, O Gaio, Movimento Escambo;

45.  Lucas José (PE) – Grupo Arteiros, Faradá Arte Negra, Drão, Vem Cá Vem Vê.

Licko Turle fez uma síntese do dia anterior como forma de inserir os articuladores recém-chegados nas discussões travadas até esse momento; a seguir, foi realizada uma exposição oral por Fernando, abordando o contexto histórico que deu origem à Lei Rouanet e sua implantação no Plano Nacional de Cultura a partir de 2002; explicou os modos pelos quais os chamados "substitutivos" mantêm os mecanismos de renúncia fiscal; rememorou, ainda, os argumentos em favor do Pró-Cultura (que, em um momento anterior, levaram a RBTR a aceitar as condições do Prêmio do Teatro Brasileiro, inserido nesse Programa).


(Natália) – lembra que no Encontro de Teresópolis a RBTR se colocara em oposição ao fato de o Prêmio estar "dentro" do Programa; contudo, segundo ela esta posição não foi defendida a contento pelos articuladores presentes em Brasília, quando se discutiu a questão presencialmente, com o Governo;

(Kuka) – propõe que a RBTR crie o seu próprio "substituto", aprofundando e dando foco às questões do Teatro de Rua, em lugar de direcionar sua energia para o "renascimento" do Redemoinho ou quaisquer outros movimentos;

(Patrícia) – apoia a criação, pela RBTR, de um Programa para o Teatro de Rua e sugere que a primeira edição da Revista (a ser implementada pelos Gts) seja o "estopim" desse processo, isto é, que seja este o conteúdo da 1ª edição;

(Chicão) – lembra que a Arte Pública, segundo ele um conceito que está além de qualquer política pública, poderia também ser um material relevante como conteúdo a ser desenvolvido e mais divulgado entre os articuladores;

(Marcos) – propõe a criação de um "Programa de Fomento para as Artes Públicas de Rua", como a ação "de longo prazo" a ser realizada pela RBTR, enquanto o apoio aos festivais, mostras de teatro de rua etc, estaria dentro das ações "de curto prazo";


Após um debate aberto sobre as questões acima, a manhã foi encerrada. À tarde foi realizado o Cortejo de Abertura do XI Encontro da Rede Brasileira de Teatro de Rua pelas ruas do centro de João Pessoa. O ponto culminante dessa ação artística foi a grande roda formada na praça central, conhecida como o "Ponto de Cem Réis". Sob a liderança espontânea de um cidadão, atores e público dançaram e cantaram cirandas tradicionais e outras, parodiadas, cujas letras expressavam criticamente a insatisfação da cidade para com o poder público, denunciando de modo bem-humorado a precariedade dos serviços públicos em vários setores (saúde, conservação do meio ambiente, limpeza urbana etc). Em seguida Rafael de Barros, artista de rua de Londrina (PR) que participava pela primeira vez de um encontro da Rede, apresentou o espetáculo-solo El Presidente alegrando o público presente com a irreverência de sua performance.

À noite, na sede do grupo anfitrião, artistas dos grupos presentes e convidados deram início ao "Forró da RBTR", animado ao som de xotes, xaxados, sucessos de compositores nordestinos e do ritmo frenético do Cavalo Marinho. Nesse mesmo dia, comemorou-se o aniversário de 25 anos do grupo anfitrião! 

Vida longa ao Quem Tem Boca é Pra Gritar!

 

Terceiro dia: 15/09


Nesse dia, encontrava-se presente o convidado da RBTR para o XI Encontro, Amir Haddad (RJ); chegaram, ainda, os integrantes da Cia Escarcéu, de Mossoró (RN):

46.  Lenilda Santos;

47.  Nonato Santos;

48.  Jovana Tomaz;

49.  Camila de Paula;

50.  Jeanemeire Eufrásio;

51.  Alan Barbosa;

52.  Odara Santos;

53.  Roberlilson Paulino;

54.  Caio Augusto;

A pedido da articuladora Dani Mirine, do Grupo Experimental Vivarte (AC), foi lido o texto do articulador Juliano Espinhos, do mesmo grupo, postado na Internet nesse momento para a RBTR (do qual foi retirada a epígrafe que abre a Carta de João Pessoa);


(Licko) – reforça a ideia de que a RBTR pretende propor o seu próprio projeto à nova ministra, uma vez que, segundo ele, "outra forma de teatro não nos interessa"; e explicita a sua percepção de que "esta assembleia deseja trabalhar pelo Teatro de Rua", obtendo, nesse sentido, a anuência dos presentes;

(Chicão) – pergunta-se "como é possível mudar o eixo do pensamento do país, por exemplo, sobre o custo amazônico?";

(Osvaldo) – apoia a proposta de criação de um "substitutivo" próprio, em que o tema central seja a "arte pública de rua" do país;

(Adailton) – lembra a necessidade de "zelar e investir" nos espaços físicos dos grupos (sedes), citando como exemplo o grupo anfitrião; que é preciso discutir os modos como os movimentos sociais foram absorvidos pelo governo Lula; afirma que o cerne da discussão está na visão de sociedade que deverá orientar esse projeto/programa da RBTR para a cultura e/ou para as artes públicas; adverte para o fato de que está ocorrendo uma disputa pelo imaginário - do cidadão e do trabalhador – para definir quem irá "organizar o mundo" (citando Amir Haddad): ele ou o mundo globalizado que está aí;

(Erlon) – aponta a questão da construção de identidade da RBTR; "é preciso compreender a rua como identidade", chamando a questão da apropriação "antropofágica" de diferentes linguagens (o cordel, por exemplo), que faz da rua um espaço ímpar de reconstrução das linguagens populares;

(Natália) – comenta que, para o Núcleo de Pesquisadores de São Paulo, "o mais importante é a relação do teatro com a sociedade"; nesse sentido, mostra-se favorável à ideia de criação de um "Programa para as Artes Públicas", mas não necessariamente de rua; propõe, ainda, que o texto enviado por Juliano Espinhos à RBTR seja utilizado na íntegra como um documento "de denúncia";

(Romualdo) - propõe que Fernando elabore esse documento (ou um esboço), a ser discutido pelo coletivo da RBTR;

(Marcos) – sugere a criação de GTs regionais para escrevê-lo;

(Chicão) – aponta a necessidade de se fazer um estudo das políticas públicas voltadas para as artes públicas, além de negociar um edital específico para o Teatro de Rua;

(Erlon) – adverte para a necessidade de se definir o conceito de "arte pública" e de a RBTR buscar uma aproximação com outros setores ligados ao mesmo;


Seguem alguns trechos da fala de Amir Haddad, convidado da RBTR para o XI Encontro, que apenas nesse momento se manifesta verbalmente:


"Deste momento pode surgir o nosso futuro. Quando fomos para a rua, abandonamos um aparelho específico. Não se pode esquecer que há conteúdo ideológico na própria arquitetura! Há, ali, um modo de organizar o mundo, uma distribuição de lugares e valores que estão ali, embutidos. A burguesia tem controle sobre tudo isso e é preciso ter clareza sobre tudo isso. O que significa sair do prédio? É declarar-se 'contra' a ética protestante; e a ética protestante é que produziu o capital. Sair é não ser conivente com essa ética. O artista, ao ir para a rua, está modificando o mundo, mesmo sem pensar nisso. É um ato político, entender o que é o espaço público sem restrições! A burguesia estabelece os seus próprios padrões. [...] Recomendo a todos lerem O improviso de Versalhes, de Molière, e O teatro cômico, de Goldoni. O primeiro conta como os atores foram sendo gradualmente submetidos a 'novas' técnicas de representação, e o segundo apresenta a visão desse autor (Goldoni) sobre a suposta decadência da Commedia dell'Arte e sua proposta de um novo padrão, realista, de atuação no teatro" [...]

Amir compara, ainda, a RBTR a uma "peste": "Nós não somos deste mundo, somos outra realidade! Este mundo, doente, não precisa ser salvo, precisa é se deixar morrer, como já está morrendo [...] e nós, como um vírus, ajudamos a acelerar a morte desse mundo doente. [...] somos a 'ponta' da história, por isso precisamos saber da nossa importância, não deixar baixar a autoestima... Peito aberto, afeto escancarado! Que movimento é maior que este, no Brasil, hoje? Não devemos perder a liberdade a nenhum preço".


(Natália) – defende que é necessário também o trabalho de estudar, registrar, escrever, pois "se não fizermos, alguém fará isso por nós";

(Amir) – concorda, porém ressaltando que é preciso também tomar cuidado "para não criarmos amarras para nós mesmos, estabelecendo paradigmas que nos restrinjam"; como exemplo, narra o episódio envolvendo o Prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, e a situação por que passa o processo de negociação entre os artistas de rua da cidade – hoje mobilizados sob a sua liderança - e a atual prefeitura, que propôs a criação de um edital para o setor;


Lenilda, da Cia Escarcéu (RN), faz a leitura de um texto sobre o "estado de calamidade pública" em que encontra atualmente a cultura, na cidade de Mossoró; dá um depoimento sobre o Auto da Liberdade - evento criado por Amir Haddad nos anos 90 – que foi, depois, totalmente distorcido pelos gestores públicos do município;


(Adailton) – propõe a elaboração de uma moção de apoio aos artistas de rua de Mossoró, a ser anexada à Carta de João Pessoa;

(Amir) – parabeniza o teatro da região nordeste pela resistência;

(Nonato) – fala sobre a "moda" dos editais no Rio Grande do Norte, e que lá existe uma "máfia" de grupos que, embora não sejam de rua, ganham todos os editais; e pergunta: "como podemos prevenir essa prática nefasta?"

(Amir) – chama a atenção para o "atrativo econômico" que representa hoje o Teatro de Rua e as artes de rua como um todo – fator que gera esse tipo de distorção e oportunismo;

(Marcos) – comenta que isso acontece hoje em todas as regiões do país, e propõe, como estratégia, indicar os "nossos" representantes nas comissões de seleção, uma vez que a RBTR dispõe de articuladores capacitados a exercerem essa função;


À tarde, tentou-se finalizar o primeiro ponto da pauta, pela definição da comissão que deverá ir a Brasília. Alguns pontos fundamentais acordados entre os articuladores:

  • ·         A comissão que irá a Brasília para a audiência com a ministra Marta Suplicy será constituída apenas por articuladores presentes ao XI Encontro;
  • ·         A RBTR deverá garantir a presença, na comissão, de um articulador de cada região;
  • ·         A fim de viabilizar os custos de passagens dos articuladores, será realizado um "chapéu virtual";
  • ·         Os articuladores indicados neste Encontro formarão um "núcleo" básico; articuladores não indicados poderão também ir - de acordo com o princípio de autonomia dos articuladores da RBTR - desde que assumam os seus custos de viagem;
  • ·         Amir Haddad será o "convidado de honra" da RBTR a integrar a comissão, sendo suas despesas de viagem custeadas também pelo "chapéu virtual". 

Os seguintes nomes foram indicados pelos presentes:


Região Sul: Rafael de Barros (PR) – Exército Contra Nada

Região Norte: Chicão Santos (RO) – O Imaginário

Região Nordeste: Vanéssia Gomes (CE) – Teatro de Caretas

Região Centro-Oeste: Walter Cedro (DF) – Mamulengo Sem Fronteiras

Região Sudeste: Marcos Pavanelli (SP) – Núcleo Pavanelli

 

A seguir, deu-se início à elaboração de uma listagem de pessoas que poderão ser indicadas oficialmente pela RBTR para integrarem comissões avaliadoras em editais de interesse para os articuladores. Os critérios adotados foram os seguintes:

  • ·         Indicar profissionais (fazedores e pesquisadores) de reconhecida atuação e competência na área teatral, sobretudo no Teatro de Rua;
  • ·         Indicar profissionais de teatro das diversas regiões do país;
  • ·         Indicações direcionadas a editais específicos;

Os seguintes profissionais foram indicados nominalmente por articuladores presentes:

Região Sul: não teve indicações;

Região Sudeste: Jussara Trindade (Artes Cênicas na Rua); Mário Bolognesi (Prêmio Carequinha); Jade Percassi (Prêmio Mirim Muniz); Zeca Ligièro (Prêmio Mirim Muniz);

Região Centro-Oeste: não teve indicações;

Região Nordeste: Romualdo Freitas (Artes Cênicas na Rua);

Região Norte: Lenine Alencar (Prêmio Mirim Muniz); Nonato Tavares (Artes Cênicas na Rua); Fabiano (?)


Como nem todas as regiões e editais foram contemplados, a relação nominal de profissionais de teatro indicados pela RBTR permanece em aberto, a ser completada pelo fórum virtual da RBTR. Licko Turle assumiu a responsabilidade de organizar esta relação.


Em seguida, foi iniciada a discussão do terceiro ponto da pauta do XI Encontro - "Organização interna da RBTR" - iniciando-se pela questão dos GTs que, embora definida no Encontro Teresópolis, não teve o desenvolvimento esperado devido a controvérsias surgidas virtualmente, em momento posterior a essa decisão presencial.


(Adailton) – relata a sua tentativa infrutífera de criar a revista virtual da RBTR (atribuição do GT de Comunicação);

(Licko) – lamenta a polêmica lançada virtualmente sobre a criação da revista naquele momento, a qual acarretou a paralisação das atividades iniciadas; e alerta os articuladores para a necessidade de a Rede sustentar as decisões tomadas presencialmente nos Encontros, uma vez que este é um dos seus princípios básicos;

(Chicão) – propõe a elaboração de uma revista impressa, em papel jornal como alternativa de custos;

(Patrícia) – sugere novamente que a 1ª edição contemple o dossiê da RBTR a ser apresentado em Brasília, adotando textos de estrutura "livre" e não excessivamente formais;

(Romualdo) – propõe que a revista seja semestral;

(Jussara) – explicita o seu apoio a Adailton para a elaboração da revista;

(Adailton) – comenta sobre as questões objetivas que a produção de uma revista implica: custos com papel e tinta; distribuição; elaboração de conteúdo e outros;

(Fernando) – ressalta a necessidade de se definir previamente o projeto editorial da revista, ou seja, qual o formato da revista, que tipo de informação ela deverá conter (já que se trata de um instrumento de comunicação); sugere a formação de uma "comissão executiva", de responsabilidade prático-administrativa e, sobretudo, de um "conselho editorial", responsável por decisões de caráter geral (forma, quantidade de páginas, periodicidade, circulação, distribuição, teor do conteúdo dos textos – mais "acadêmico" ou mais "vivencial", com relatos de experiência, etc);

(Natália) – propõe que um articulador de cada região componha o Conselho Editorial;

(Osvanilton) – sugere que a revista inclua, além de reflexões conceituais (sobre Arte Pública etc), uma seção com o mapeamento dos grupos teatrais de cada região, a ser constantemente atualizado;

(Marcelo) – pergunta se a logomarca da RBTR, criada com urgência para poder ser colocada a tempo no banner do XI Encontro está aprovada pelos articuladores, e os presentes a aprovam;

(Romualdo) – sugere que a RBTR participe de um edital que apoie um possível financiamento para a produção da revista;

(Adailton) – propõe que o Conselho Editorial da revista seja formado por indicação, e que outros articuladores possam participar do processo, como colaboradores e moderadores;


Foram indicados, pelos presentes, os seguintes articuladores para comporem o Conselho Editorial: Adailton Alves (SP), Jussara Trindade (RJ), Licko Turle (RJ), Fernando Kinas (SP) e Patrícia Caetano (PE).


(Marcos) – comenta que os GTs não são "fechados" e qualquer articulador pode participar daquele que desejar;

(Vanéssia) – faz a leitura da definição dos GTs, a qual consta na Carta de Santos;


A seguir, são apresentadas as propostas para os próximos Encontros da RBTR, em 2013, pelos articuladores Dani Merini (AC) em agosto, e Walter Cedro (DF), que confirmará a possibilidade de realização em fevereiro.

 

Quarto dia: 16/09


Pela manhã, Amir Haddad falou aos presentes sobre o movimento que os artistas de rua do Rio de Janeiro vêm realizando desde o veto do Prefeito Eduardo Paes à "Lei Reimont", dentre outras questões ligadas ao conceito de Arte Pública.


À tarde, Licko direcionou a discussão para o último ponto da pauta: o apoio da RBTR ao Congresso Brasileiro de Teatro e as questões relacionadas ao Teatro de Rua nos festivais de teatro do país; verificou-se ser de consenso geral entre os articuladores presentes, a não participação da RBTR nesse evento;


(Licko) – relembra, ainda, pontos importantes da dinâmica dos grandes festivais de teatro do país, sobretudo o da obrigatoriedade de incluir o Teatro de Rua nas programações desses festivais, como condição para receberem verba da Funarte, fato este desconhecido por grande parte dos articuladores presentes;

(Natália) – chama a atenção para a discrepância entre cachês dos espetáculos, estabelecidos nos regulamentos desses festivais (sendo o de Teatro de Rua, sempre menor que o de sala, sem uma justificativa plausível);

(Romualdo) – sugere ampliar a referência a espetáculos de "Teatro de Rua" para "Arte Pública", nesses regulamentos;

(Kuka) – ressalta a importância de a RBTR apoiar a criação de festivais de Teatro de Rua nas diversas regiões do país;

O debate prosseguiu com comentários esparsos; porém a exiguidade de tempo não permitiu o desenvolvimento de todas as questões desse ponto e nem foram definidas ações específicas da RBTR nesse sentido.


No final da tarde, os relatores do XI Encontro (Jussara Trindade, Osvaldo Pinheiro, Romualdo Freitas e Natália Siufi) e os colaboradores Adailton Alves, Patrícia Caetano, Licko Turle, Kuka Matos e Vanéssia Gomes se reuniram, para a elaboração do esboço da Carta de João Pessoa.


À noite, após um inesquecível passeio até o Farol do Cabo Branco e à Estação Cabo Branco de Ciências, Cultura e Artes Oscar Niemeyer, as atividades encerraram na Feirinha de Artesanato de Tambaú, com a bela apresentação de Os ciganos pela Cia Escarcéu de Teatro (RN), e uma contagiante demonstração de Cavalo Marinho pelos brincantes do Quem tem Boca...


No retorno à sede do grupo anfitrião, os articuladores presentes ainda fizeram uma leitura e revisão coletiva da Carta de João Pessoa; decidiu-se iniciar a mesma com uma epígrafe, construída a partir da carta-denúncia de Juliano Espinhos, e anexar moções de apoio da RBTR a grupos teatrais de rua em seus enfrentamentos locais.

Parte dos articuladores se despediu no início da noite, após uma confraternização geral entre músicas e abraços.

Evoé!

 

Rio de Janeiro, 01 de outubro de 2012