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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Autorização de uso das praças!!!!!

 

A MOSTRA DE TEATRO DE RUA LINO ROJAS tem sido muito importante no sentido de conversarmos sobre tantas impedições na rua e conversar sobre isso com a populaçao, na última edição ocorrida de 05 a 14 de novembro teve os debates na praça mesmo, logo após os espetáculos. E manifestaçoes muito interessantes puderam agregar em nossas discussões. Um artista plástico de rua, que pinta quadros sentado no chão, diz que trabalha há anos com a Constituição na mão (e mostrou o livretinho amarelo, todo rasgado e todo grifado nos artigos sobre liberdade de expressão), ele disse ainda que já foi quase preso várias vezes e sempre usa a Constituição pra exercer seus direitos. Depois, um advogado disse que conseguiu o direito na justiça para seu cliente, o cantor Fabiano Martins, segundo ele, artista de sucesso das praças.

Curiosamente, na quinta feira, esse mesmo artista de que o advogado falou: Fabiano Martins, apareceu na Praça do Patriarca com sua caixa de som pra fazer o show de música e vender seus cds. Falei da Mostra e dos espetáculos, que tinham autorizaçao da Sub-Sé e perguntei se ele tinha autorizaçao também. Ele disse que tem pra apresentar em qualquer lugar a qualquer hora e me mostrou um monte de papéis de toda uma briga judicial daquele advogado e do debate com a justiça brasileira. É isso mesmo: Um artista de rua, um cantor aqui de São Paulo foi atrás dos direitos legais de uso livre das praças e, pasmem... CONSEGUIU!

Ele atua quase que em uma turnê fixa: segundo ele, todas as quintas está na Patriarca, terça na Sé e assim por diante... Tem até fãs que o acompanham...

O principal é que ele deixou que eu tirasse xerox de todo processo jurídico que não foi fácil... Várias vezes deferido, mas da última, em brasília, conseguiu autorização!

Um advogado, amigo do Movimento de Teatro de Rua, vai tentar isso pra gente também. Todos nós devemos brigar juridicamente pra que NÃO HAJA MAIS MOTIVOS DE NOS TIRAREM DAS RUAS. Afinal, se um conseguiu, já abre precedentes pra que todos nós consigamos... é só irmos atrás da lei...

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Escambo em Umarizal por Junio Santos

Cumprimos com mais uma etapa de nossa trajetória. Realizamos o XXVIII Escambo Popular Livre de Rua no bairro popular da COHAB na periferia  Umarizal-RN. E como cada escambo que fazemos com sua própria cara. Como não temos formula, projeto, forma definida o escambo vai se moldando a realidade do lugar e dos participantes e como sempre tem acontecido no Movimento novos artistas e curiosos chegam pra viver seu primeiro escambo e isso faz com sempre estejamos começando, o que sempre achei muito bom.

Desse escambo, definido dia 07 de setembro de 2010 na roda final ou inicial do XXVII Escambo em Lucrecia, produzido com muita garra pelo arte e riso, culturarte da Cohab e Caras e Caraíbas do Caraíbas e com o patrocínio total da população da COAHB, que chegava de bicicleta, moto, a pé, com doações de alimentos e até pratos ja prontos confirmamos mais uma vez ser possivel, com muitas dificuldades é claro, ser independentes, inclusive sobre o que conversamos, debatemos, apresentamos e encaminhamos. Isso quer dizer que não discutimos nada distante e irreal para nós como a campanha e os lobbys por fulano ou por sicrano nos cargos públicos. Tratamos de aprofundar a conversa sobre a volta amargosa da repressão aos que brinca ao ar livre, trocando cenas, jogos, danças, cantigas por algumas moedas entregues de forma espontânea e sem sacanagem, nem imposição dos impostos impostores que esvaziam as carteiras do povo brasileiro.

Sabemos que teve bons e marcantes momentos e desses podemos destacar a roda e as apresentações do domingo em frente da capela de são francisco, com um público ativo, participante, atiçante, vibrando, entrando em cena, interropendo o espetáculo, mudando e provando que não há estética que aguente ficar estática quando se abre, sem medo a participação popular.

O Escambar do domingo com a presença do mestre-poeta-barbeiro Toinho de Otília com seus poemas fortes, bem feitos e intrigantes e o respeito e admiração que ele tem por essa moçada escambista de Umarizal.

Destacamos ainda e com louvor a presença e a conversa com o mestre carneirinho com 84 anos de boi de reis e cavaquinho dizendo a todos que só tinha 55 anos porque só conta como idade os anos de brincadeiras que geram vida.

O Mestre Lolô com muito saber, garra, interpretação e uma memória fantástica, falando, fazendo cenas, interpretando personagens e cantando textos e músicas de dramas seculares que por muito tempo foram manifestações cênicas de Umarizal.

Isso é muito forte e marca nossa passagem pelo XXIX Escambo na sempre receptiva Umarizal.

Destacamos também a presença de artistas andarilhos do Peru, Colombia, Bolívia e pela primeira vez de uma jornalista - a Larisa do Jornal Mossoroense de Mossoró - que se hospedou onde todos se hospedam, comeu e bebeu o que todos comeram e beberam e prepara matéria especial sobre o Escambo no proximo domingo e no domingo sequinte irá publicar uma entrevista que fez conosco.

Pra encerrar envio agradecimentos a Pequena e Francisco Antonio - pai e mãe de Emanuel - que colocaram o carro e a poderosa mais uma vez a serviço do Escambo e nos ofereceram um almoço especial no sabado.

A Chico Paulo e Socorrinha, mãe de Joelson, fica nosso agradecimento pelos cafés a tardinha e a Dona Iraci e seu Inácio, seridoenses lá da linda Serra Negra agradecemos de coração pelas panquecas, tapioca, café e as histórias que foram contadas na tardinha do domingo.

No mais, parabéns a todos e nossos aplausos para o Arte e Riso, Caras Caraíbas, Culturarte e as lindas crianças do grupo de danças semi-desaparecidas Araruna.

Em breve voltaremos a Umarizal com mais e mais teatro de rua, poesia, música, dança, grafite, cinema, fotografia, folguedos populares e a alegria que contagia o Escambo Livre de rua!

Valeu!! 
Junio Santos - Cervantes do Brasil

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Carlos Biaggioli entrevista Danilo Cavalcante

MAMULENGO É BRINQUEDO DE RUA



Entrevista concedida a Carlos Biaggioli (setembro/06)


Há muita arte de rua e espaços alternativos sendo feita por artistas dedicados às mais variadas vertentes do que se convencionou chamar como Teatro de Bonecos: marionetes, manipulação, fantoches, sombras... e mamulengos! Tanto é que, na 1ª Mostra de Teatro de Rua da Cidade de São Paulo, realizada em setembro deste ano, fez parte um espetáculo de mamulengos  apresentado na Praça do Patriarca, região central da Capital. Foi ali que o Portal da CPTconversou com o mamulengueiro Danilo Cavalcante.

Portal da CPT – Há quanto tempo você está em São Paulo?
Danilo Cavalcante – Nove anos. Sou da cidade de Canhotinho, em Pernambuco.
Portal – Como é que você começou a trabalhar com mamulengos?
Cavalcante – A primeira vez que eu vi mamulengo eu tinha 15 anos. Fui numa festa de S. Sebastião, onde vai um monte de mamulengueiro, mestre de mamulengueiro, casa de farinha, que são dois bonecos trabalhando ao mesmo tempo, e foi ali que eu entrei na barraca. Vim embora para São Paulo e comecei a trabalhar como ator, palhaço, mas não tirei da minha cabeça o mamulengo. Até que em 2004 comecei a brincar de verdade com mamulengo.
Portal – O que significa entrar na barraca?
Cavalcante – Barraca é onde ficam os bonecos. Entrar na barraca é para brincar.
Portal – É um exercício de improvisação?
Cavalcante – Não: é entrar na barraca do mamulengueiro, para brincar, mexer nos bonecos dele, dar vida aos bonecos. Mamulengo, aqui em São Paulo, se chama fantoche. Mas mamulengo possui uma estrutura própria, cabeça só de madeira, boca fechada.
Portal – E tira comédia da violência, não é? As pancadas que o boneco dá é o grande xiste cômico, a hora em que a platéia ri mais.
Cavalcante – As pessoas gostam de violência, não sei porque. Na verdade é o mal que entra, né? É o Bem contra o Mal.
Portal – Isso parece ser uma coisa muito simples, típica da arte popular nordestina: sem "psicologisse". Trabalha com o Diabo, que é uma figura alegórica muito poderosa.
Cavalcante – Com o Diabo, com a morte, com o padre e todo este cunho religioso, que é contra e é a favor...
Portal – Como é se expressar por meio de bonecos? 
Cavalcante – O boneco mudou a minha vida. Se eu continuasse como palhaço e como ator aqui em São Paulo, trabalhando, com eventos também fazendo palhaço, perna de pau, se eu tivesse esta mesma função até hoje não sei se eu estaria bêbado ou jogado na sarjeta...
Portal – Quais são suas grandes referências nesta arte?
Cavalcante – Mamu Sebá, de Caruaru. Foi o primeiro mamulengueiro a me levar para dentro da barraca dele. O outro é Sandro Roberto, aqui de S. Paulo, que também é de PE. O Valdeck vi algumas vezes, mas o Sandro e o Mamu Sebá são as pessoas que mais vi e trabalhei, quem me colocou dentro do boneco.
Portal – Qual é a essência do trabalho de mamulengo? O que é importante que o artista tenha consciência, antes de ir para rua, de estabelecer a relação com o público através de bonecos?
Cavalcante – Boneco é mágico. O mamulengueiro, antes de tudo, tem que ser artesão, criador e vendedor de suas próprias histórias. É para isso que ele transfere todo o seu trabalho de artista. No meu caso, para o boneco. É um trabalho de rara beleza, sem muito luxo. A barraca é de chita, os bonecos são todos de madeira, a pintura à tinta óleo, a boca a gente pinta com esmalte para dar um colorido melhor. Mas é um espetáculo de rara beleza, um improviso.
Portal – Como é esta relação do improviso com a platéia? As gags lançadas na relação da platéia já estão preparadas, fazem parte de um repertório, ou você as cria na hora, dependendo de cada platéia?
Cavalcante – Cada platéia é um espetáculo diferente. Para adulto é de um jeito, para criança é de outra e para Terceira Idade é de outra. Cada espetáculo depende de como eles reagem. Criança é participativa até demais. Adulto viaja demais. Terceira Idade é maravilhosa. Eu tenho, na cabeça, o roteiro, mas varia de acordo com o público. É ping-pong, pergunta-e-resposta, como no circo, né? Conta até três, conta até quatro. Rosinha passou? Eles vão falar que passou, então este jogo a gente já tem marcado na cabeça, assim como a embolada, que não tem nada de improviso, que é toda decorada.
Portal – É você quem faz os seus bonecos?
Cavalcante – Sim. Tem o do Mestre Saúba, que é um boneco pequeno, e tem o seu Garó, do Messaúba. Mas o resto é tudo meu.
Portal – Hoje em dia você trabalha só com seus bonecos?
Cavalcante – Só mamulengos.
Portal – Por que sua opção por trabalhar sozinho?
Cavalcante – Eu tenho preguiça de ensaiar. Se pudesse, matava os diretores. Como não tenho muito saco, prefiro trabalhar sozinho. Meu trabalho não é ensaiado: eu vou lá e faço, improviso, no gogó — justamente por causa dessa preguiça. Eu combino com os músicos meia-hora antes, entramos e fazemos o espetáculo. Sem ensaio, nada. "Olha, eu falo isso para você", pronto e acabou. Acontece um pouquinho no circo, mas no mamulengo a gente não ensaia.
Portal – Independente de ser sozinho ou acompanhado, você está trabalha com mamulengo há quantos anos?
Cavalcante – Firmemente desde 2004. Mas vivencio o mamulengo desde os meus 15 anos, portanto, há vinte anos.
Portal – Quais são os grandes erros de quem trabalha com mamulengos?
Cavalcante – A pessoa pensar no boneco primeiramente para ganhar dinheiro. Isso é um grande equívoco. Eu acredito no dom, com o qual você nasce. Eu sou privilegiado de Deus e nasci com o dom para trabalhar com boneco. E faço só boneco hoje. Eu não faço outras coisas.
Portal – Você tem facilidade para mudanças de registro de voz. Isso é técnica? É improviso, sem querer? É uma junção disso tudo? Você trabalha bem com as duas mãos, consegue trocar um braço sozinho, enquanto o outro já está levantado, o que demanda boa coordenação motora e principalmente vocal. Existe uma preparação sua, neste sentido? Durante todos esses anos, houve da sua parte alguma preocupação com este tipo de formação?
Cavalcante – Vou ser bem sincero. Nunca parei para nada. Só olhei. Fiz assim com o Mamú Sebá: olhei, dentro da barraca dele. Olhei, criei as vozes, imaginei o boneco, botei na mão e já saiu a voz, que saiu naturalmente. Às vezes, quando eu estou muito cansado, acontece de eu trocar voz, fazer voz feminina no masculino, por causa do número de apresentações. Mas eu tomo muito cuidado. Eu não ensaio: é só na cabeça!
Portal – E quanto à sua formação? Que recursos você agregou nestes 20 anos de ofício, que hoje facilitam sua atuação com Teatro de Mamulengo?
Cavalcante – A vivência. Eu não pesquiso Teatro de Mamulengo, eu vivo o Teatro de Mamulengo, a cultura popular. Vejo muito mamulengo, muita coisa de boneco, muita coisa de palhaço – entrei no circo também, fiz algumas coisas. Vejo Teatro de Rua, teatro de palco, leio contos (Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho). Tudo isso foi material pro meu mamulengo de hoje. Porém, há pessoas muito importantes, para mim, aqui em São Paulo, como Ednaldo Freire, Cida Almeida eHeraldo Firmino, cara sensacional, pegou muito no meu pé quando eu fui fazer o estudo de palhaço lá com ele.
Portal – Então é o famoso "anti-herói" que estamos aqui entrevistando! O Teatro de Mamulengo nos reporta, nós da metrópole, ao universo nordestino, vindo das entranhas da cultura brasileira. Sendo nordestino, como você vê esta relação com o espectador urbano, das grandes capitais?
Cavalcante – As artes não têm fronteiras. Lá no Nordeste, eu já vi no sítio um boneco malfeito com uma comunicação direta demais, que pode ser apresentada do jeito que eu apresentei hoje, aqui, sem mudar absolutamente nada. É bom registrar que, aqui em S. Paulo, tem um cara que botou o mamulengo na mídia, que se chama Valdeck de Garanhus. O que eu estou conversando aqui se deve muito a ele, cujo mamulengo, nascido lá nas décadas de 60, 70, com a febre de mamulengo em Pernambuco, tinha figurinos que não eram bem arrumadinhos, eram mal-cortado, enfim. A gente já tem esta preocupação de cortar direitinho, costurar, pintar direitinho. O mamulengo que a gente apresenta aqui em S. Paulo pode ser apresentado em qualquer canto. Agora, alguns daqueles que estão sendo apresentados lá em Pernambuco, as pessoas daqui não entenderiam, por causa das piadas locais. Se você disser "é nóis na fita, meu irmão" lá no Nordeste, eles não entenderão nada. O que a gente faz aqui é uma coisa mais nacional, universal, apresentável em qualquer canto, sem nenhum problema.
Portal – Pode-se dizer que este teu espetáculo, de certa forma, no bom sentido da palavra, até dependa da platéia, no sentido da relação viva. Como você vê o Teatro de Mamulengo, como ocupação artística do espaço urbano, da rua?
Cavalcante – Ele nasceu na rua, né? É brinquedo de rua. Essa brincadeira de mexer com as pessoas é para me comunicar com elas, de elas não ficarem de braços cruzados, de responderem. É como um: "Acorda!". Às vezes, o cara está triste, de braços cruzados, eu mando ele descruzar o braço, digo que é energia negativa, o cara dá uma risada... Eu já mexi, já cumpri minha parte, que é colocar todo mundo em sintonia dentro do espetáculo.
Portal – O Teatro de Mamulengo tem uma prospecção muito boa fora do país. OBenedito, o Cabo Setenta ou o Coronel são personagens muito conhecidos. Porém, o roteiro você cria livremente, ao teu belprazer, a depender da tua relação com o público, não é?
Cavalcante – O roteiro não é fechado, tanto que hoje suprimi um boneco no final, porque eu tinha que acabar em 1 hora... Os personagens são fixos, assim como na commédia dell'arte. O Benedito é sempre o Benedito, tal como o Coronel e oCabo Setenta.
Portal – Como se fossem uma "tradução", no Brasil, dos tipos da commédia dell'arte?
Cavalcante – Isso mesmo! E aí tem a história: a surpresa de Benedito com o Boi Surubim deixado pelo Coronel Libório, quando ele vai atrás dum outro boi. À partir daí se desenvolve a história. De acordo com o público. Este é meu canovaccio.
Portal – Você tem outros canovaccios?
Cavalcante – Tem "A Batalha do Capitão Filadélfia Contra o Coisa Ruim", onde o demônio seqüestra a Rosinha, criação minha. Tem "O Mamulengo da Folia na Festa da Rosinha" e o "Boca Mole". Com estes três roteiros é que eu brinco.
Portal – Mudando um pouco de assunto, como você vê a realização desta 1ª Mostra de Teatro de Rua da cidade de S. Paulo, homenageando Lino Rojas, fundador do Instituto Pombas Urbanas?
Cavalcante – Acho importantíssimo. Uma cidade como São Paulo não ter uma mostra de Teatro de Rua? Todas as cidades têm. Cidade pequena tem festival! Espero que se esteja plantando uma semente, que tenham mais mostras. O povo precisa. O povo agradece. Uma nova formação de platéia de Teatro de Rua.
Portal – Você é um militante dentro do Movimento de Teatro de Rua de S. Paulo praticamente desde que o movimento se constituiu. Como você vê a situação atual do MTR/SP?
Cavalcante – As pessoas precisam se agrupar mais. Elas ainda ficam muito na disputa de quem é que vai liderar. Elas precisam conversar mais e ver que é um movimento, não de grupo, mas de teatro. Não é um cada um achando que é o mais importante. Seria importante haver esse encontro, pelo prazer de todos conversarem em prol do movimento, sem ficar olhando pro seu umbigo. Mas o movimento está crescendo. Ele chega lá.
Portal – Como você vê esta aproximação com o Poder Público, que culminou com a realização desta mostra?
Cavalcante – Importantíssimo. Acho que chega atrasada. A gente já bateu tanto, já correu tanto... Mas ainda acho pequeno. Ainda falta envolvimento do Estado e de uma instância federal. O Teatro de Rua é deixado de lado, como uma "coisa menor". E ele não é. É muito grande. Os mesmos custos que se tem para fazer um espetáculo de palco, se tem na rua.
Portal – Que resultados você espera depois da realização desta mostra?
Cavalcante – Espero que tenha sensibilizado o secretário, enfim, o pessoal do poder, para que tenha mais, outra mostra. Como eu disse as pessoas precisam e a gente precisa também estar mostrando nosso trabalho para as pessoas. E uma cidade como São Paulo não ter um festival de Teatro de Rua, agora ter, já é um passo importante, agora falta muito. É um pequeno degrau que a gente subiu.

Entrevista realizada por Carlos Biaggioli para o Portal da Cooperativa Paulista de Teatro, como a mesma foi retirada do ar, o entrevistador autorizou-nos a publicá-la.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

II Mostra de Teatro de Rua da Zona Norte - 2010

Relato por Marcos Pavanelli

            Olá amigas e amigos do teatro de todos os tempos, que ocupam os espaços públicos com sua arte e suas inquietações políticas, estéticas e estão espalhados por todo território nacional.
            Hoje dia 31 de outubro de 2010, dia em que elegemos a primeira mulher presidenta deste país, aconteceu o encerramento da II Mostra de Teatro de Rua da Zona Norte,  realizada pelo Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo em parceria com o coletivo CICAS (Centro Independente de Cultura Alternativa e Social), Sinfonia de Cães e MTR/SP (Movimento de Teatro de Rua de São Paulo).
            Aconteceram três apresentações: A primeira foi do grupo Santista Quarteto, Trio Los Dos, que apresentou esquetes clássicas do circo brasileiro, mescladas com música, acrobacias e malabarismos. É um grupo novo com muita garra e que tem a pegada da rua, como diria nosso mestre, Calixto de Inhamuns: "Tem sangue nos olhos!". Para sobreviver da sua arte recorrem aos semáforos, faróis e praças, de onde tiram o seu sustento e não deixam a peteca cair.
            O Segundo grupo, o também jovem Trupe Arruacirco da Zona Leste de São Paulo, milita no Movimento Livre Leste da Cidade de  São Paulo e MTR – SP. Apresentaram o espetáculo "Se os Tubarões Fossem Homens" que faz uma analogia entre os peixes explorados pelos tubarões e nossa sociedade. Quem são os peixes? Quem são os tubarões?Quem são os exploradores e colonizadores? Quem são os explorados e colonizados?Alguns diriam: Que espetáculo panfletário! Nós do Núcleo Pavanelli rebatemos: Viva o teatro panfletário! Viva o teatro popular que toma partido e diz claramente de que lado está e qual sua opinião diante do caos em que se encontra nossa sociedade capitalista baseada na propriedade privada e na exploração do homem pelo homem.
            O último a se apresentar neste dia e que encerrou a mostra foi o veterano nas ruas deste Brasil, o grupo Buraco d`Oráculo, parceiros do Núcleo Pavanelli há muito tempo, desde os primórdios da fundação do Movimento de Teatro de Rua de São Paulo. Com 12 anos de janela apresentou o espetáculo "Ser Tão Ser – narrativas da outra margem", sua nova montagem. O espetáculo tem início em uma roda onde o público é convidado a cantar, ouvir causos e tomar um café que é feito na hora pelos atores/personagens e que, logo em seguida, convidam este mesmo público a ir para outro canto da praça onde será realizada a encenação.
            Apesar do tema denso – falta de moradia e criação de políticas públicas para resolver o problema –,  o grupo conseguiu passar sua mensagem de forma poética, driblando com maestria os contratempos que ocorrem na maioria dos espetáculos encenados em praça pública, como por exemplo as "nossas" crianças, já habituadas com as frequentes apresentações e que passeavam no meio da cena sendo incluídas no espetáculo.
            Na manhã do dia 24 de outubro recebemos em nossa sede no bairro do Tucuruvi o grupo Nativos Terra Rasgada de Sorocaba – SP,  que chegou numa caravana de três carros com os integrantes do grupo e alguns familiares nos remetendo aos tempos das caravanas circenses e das trupes de commédia  dell'arte . Nós do Núcleo Pavanelli nos juntamos a esta caravana e fomos para o  Jardim Julieta, na praça Carlos Kozeritz - a praça da feira, como a chamamos. Lá aconteceu o espetáculo "Pindorama, a Saga de um Cristo", que narra a trajetória de Jesus pelo Brasil, em seus diversos momentos históricos: descobrimento do Brasil, proclamação da república, entre outros; o espetáculo apresenta uma versão diferente da história oficial, sob a ótica do povo colonizado.
            No dia das crianças, 12 de outubro foi a vez de nosso grupo, Núcleo Pavanelli, levamos nosso espetáculo de repertório "O Básico do Circo" que estreou em 2000 e neste ano comemora dez anos e mais de uma centena de apresentações pelo Brasil. A apresentação foi na rua, em frente ao CICAS e as crianças que já assistiram este mesmo espetáculo várias vezes e já se apropriaram do roteiro e das gagues foram, ao longo da apresentação, narrando aos que estavam ali pela primeira vez, o que os palhaços, a nova bailarina, o dono do circo e os músicos da trupe iriam aprontar a cada cena. Isto não tira o frescor e o prazer que os atores do Núcleo Pavanelli tem em apresentar este espetáculo durante todo este tempo.
            Outro espetáculo que aconteceu na praça ao lado do CICAS no dia 10 de outubro, foi "A moça que casou com o diabo" da Companhia As Marias de São Bernardo do Campo – SP.  O grupo passou o dia com o Núcleo Pavanelli e o pessoal do CICAS e participou de dois cortejos: um pela manhã, na praça da feira, antes do ensaio aberto do "Forroque" – uma encenação teatral / musical do Núcleo Pavanelli com a participação de Roger Duran "O Monobanda" integrante do coletivo Sinfonia de Cães e a tarde o cortejo pelo Conjunto Habitacional e pelas vielas da comunidade ao redor do CICAS. Apesar da virada do tempo, que trouxe um frio danado, o público não perdeu mais essa oportunidade e até o fim da apresentação foi se achegando. A farsa divertiu, provocou a participação e a reflexão. Os atores jogavam, o público respondia e interferia o tempo todo como se o espetáculo fosse mesmo formado por um texto encenado por atores e público.
            A Companhia dos Inventivos da cidade de São Paulo,  trouxe no dia 09 de outubro , o espetáculo "Canteiro" e, por causa da chuva fina, a apresentação aconteceu dentro do galpão do CICAS. Tivemos um público de aproximadamente 50 pessoas, em sua maioria infantil. Os Inventivos, já nos primeiros minutos da encenação, conquistaram todos com sua energia e narrativa envolventes. O mais impressionante é que até as crianças de 2 e 3 anos ficaram quietas até o final, o público não tirava os olhos dos atores e participava quando solicitado.Com seus instrumentos musicais e de percussão confeccionados pelo grupo fizeram a gira e conclamaram todos os orixás para proteger e abençoar mais um espaço de resistência cultural que está se firmando na periferia da Zona Norte de São Paulo. Com adereços e cenários feitos de material reciclável e sucata este espetáculo é um belo exemplo de como o dinheiro público esta sendo bem utilizado pelos grupos de teatro de São Paulo. Ao final da apresentação a moçada dos Inventivos nos disse que esse tinha sido seu melhor público infantil.Então é Gooolll!
            Na tarde do dia 25 de Setembro a Trupe Olho da Rua  de Santos, litoral de São Paulo, também veteranos do teatro de rua do Brasil,  apresentou "Batatas, Pinheiros e Outras Histórias", em frente ao CICAS na rua do Poeta 740 , em uma programação do Festival Sinfonia de Cães que reúne várias bandas alternativas de Rock da Cidade de São Paulo. Numa rua com este nome não poderia faltar poesia, que o grupo trouxe junto com um tema não tão poético como a desapropriação de pessoas que moram em aéreas urbanas em nome do progresso, como aconteceu no  bairro de Pinheiros e Largo da Batata. Aproveitando o ensejo e sua experiência em improvisar a Trupe Olho da Rua "brincou" e incluiu dentro de seu espetáculo a tentativa de demolição do CICAS pela subprefeitura da Vila Maria , em junho desse ano. Logo após a apresentação gravamos um relato que fará parte de um vídeo documentário que esta sendo elaborado pelo coletivo responsável pelo registro audiovisual do CICAS e ficamos surpresos  com o amadurecimento de nossos discursos políticos e ideológicos. Parabéns Trupe Olho da Rua!
            A II Mostra de Teatro de Rua da Zona Norte de São Paulo, começou no dia 19 de setembro de 2010 com o já tradicional cortejo do Núcleo Pavanelli  pelas ruas do Jardim Julieta. Logo após o cortejo e junto com os atores e atrizes do Núcleo Pavanelli que formaram um trio nordestino com sanfona, zabumba e triangulo, o grupo  Mamulengo da Folia, apresentou o espetáculo:
"A Festa da Rosinha Boca Mole" na praça Carlos Kozeritz . Danilo Cavalcante, diretamente de Canhotinho-PE, um mamulengueiro de mão cheia, despejou naquela praça toda a tradição desses bonecos nordestino e brasileiro, envolvendo o público numa brincadeira gostosa e prazerosa como só os grandes mestres da cultura popular sabem fazer. Com sol quente e a praça cheia, o mamulengo encantou adultos e crianças provocando um riso frouxo e um desejo de quero mais...Viva a cultura popular!!Viva o Mamulengo da Folia!.
            Queremos destacar ainda dois pontos relevantes desta Mostra. O primeiro é sobre os cortejos. Espetáculos a parte que aconteceram nas ruas do conjunto habitacional, nas vielas da comunidade ao redor do CICAS e dentro  da rua da feira. Em nossa primeira saída em cortejo  encontramos em nossa trajetória, muitas pessoas do bairro que não vão até o local da apresentação dos espetáculos e nem freqüentam o Galpão e as atividades desenvolvidas no CICAS. São homens, mulheres, crianças e jovens, que saem de suas casas e apartamentos e ficam no portão pra ver a banda passar. O que começou timidamente, acabou tomando um corpo e chegamos a ficar até uma hora nessa caminhada. É o encontro o que mais nos interessa e é a partir dele que estamos pensando em outras intervenções para esse diálogo cênico musical.
            A feira é a feira! Barracas de frutas e verduras, gritos de todos os lados, gente comprando e vendendo e nós lá, com nossa charanga que vai do começo ao fim. É um mar de gente misturada. Uns passam e cantam empolgados, outros nem tanto. Os feirantes já se acostumaram e entram no clima. No último cortejo um deles disse para uma atriz do grupo: "Ah, então é você que fica falando no microfone: é hoje, é hoje, é só chegar? Bom te conhecer!"
            Por fim, o fato de termos realizado a II  Mostra de Teatro de Rua da Zona Norte sem nenhum apoio financeiro, garantindo apenas com nosso fundo de caixa, um valor para o transporte dos grupos, conseguimos realizar mais esta ação que não é nossa e sim de todos os grupos, coletivos e pessoas que contribuem para a criação e manutenção de uma rede, cada vez mais fortalecida que são os Movimentos Locais e a Rede Brasileira de Teatro de Rua. Dentro da diversidade de expressões artísticas e também de opiniões, encontramos no fazer e no desejo de construir com o outro, seja ele artista ou público, um mundo melhor e mais justo onde todos tenham as mesmas oportunidades, onde todos possam ser ouvidos e dar sua contribuição para que aconteça uma grande revolução ética e moral, baseada no principio de que todos são iguais e cada um pode fazer a diferença no local onde mora, onde vive que é o mundo inteiro.   

sábado, 13 de novembro de 2010

Legalidade e justiça

Legalidade e justiça

Entre o legal e o justo, existe a Política, sem a qual ainda estaríamos no regime da escravidão que também era legalizada. Outro exemplo: se o MST restringisse suas ações apenas ao campo da legalidade, estaria proclamando a sua própria extinção para alegria geral de uma parcela da nação; e então, a "legalidade" garantiria que a concentração de terras alcançasse um nível tal que a legislação no Brasil, para adequar-se a nova realidade, teria que buscar "jurisprudência" no antigo regime feudal (Alguém tem dúvida?).

Já ouvimos dizer que a Lei do Fomento surgiu na contramão dos ventos da nova orientação capitalista, o neoliberalismo; e que é uma Lei que está a frente do seu tempo. Apesar disso (ou talvez por isso), ainda não conseguimos replicá-la em nenhuma outra cidade do País, mesmo com a incessante luta dos artistas locais que mantêm a tensão constante com os alcaides de plantão, quase sempre em defesa da liberdade de criação artística.

Não há liberdade de criação artística se os artistas não tiverem os meios de produção, também não há liberdade quando o poder público intervêm colocando "corda no bloco" através da imposição de um aparato burocrático estranho à natureza do trabalho artístico como é o caso do Decreto Nº 51.300/10.

O campo da legalidade deveria ser o campo do Secretario Municipal de Cultura e seus assessores, pois é nesse campo que eles nadam de braçada, fazem prescrições e despacham e-mails; mas, com Decreto Nº 51.300/10 o Poder Público Municipal age não só de forma Injusta com o trabalho artístico desenvolvido na cidade de São Paulo, mas também de forma Ilegal.

Em reunião com o Exmo. Senhor Claudio Lembo, Secretário dos Negócios Jurídicos do Município de São Paulo no final 2009, por ocasião de uma tentativa anterior de "enquadrar" a criação artística da cidade através do Decreto Nº 49.539 de 2008, o Sr. Claudio Lembo, conhecedor da legislação, admitia então que o Decreto Nº 49.539 não se aplicava ao Programa de Fomento, considerando a natureza da Lei Nº 13.279/02 que lhe garante a existência. Nesse tempo, um parecer Jurídico, que ainda temos em mãos, certificava que a Lei do Fomento possui particularidades que a impede de ser regulamentada por um Decreto genérico, mesma característica do Decreto 51.300/10 que ora combatemos.

O curioso é que a particularidade levantada pelo parecer jurídico, a qual exclui o Programa de Fomento do Decreto, parece ter a mesma natureza da particularidade defendida pela Secretaria Municipal de Cultura para exclusão das OCIPS (as tais Organizações Sociais), as quais todos sabemos, representam uma pedra angular no processo de privatização da Cultura defendido pela atual gestão.

Assim, as tentativas de criar um aparato burocrático para os Programas de Fomento de teatro e dança, parece-nos uma iniciativa deliberada de atentar contra a liberdade de criação artística ou, contra a liberdade de expressão, como propugnam os orgãos de imprensa. Essas tentativas tornam-se ainda mais injustas quando proclamam de forma ardilosamente simplista que somos contra a prestação de contas, e assim, pela milionésima vez faz-se necessário repetir NÃO SOMOS CONTRA A PRESTAÇÃO DE CONTAS, sempre prestamos contas, somos contra as investidas burocráticas através de Decretos que visam paralisar um dos mais democráticos programas de política cultural do País.

No capitalismo quase toda injustiça tem amparo legal. Não vou perder tempo dando exemplos; feche os olhos, acesse o HD da sua memória e reconhecerá as inúmeras vezes em que o justo e o legal estiveram em campos opostos. Isso explica (mas não justifica) porque uma pequena minoria se apropria da riqueza produzida por uma maioria, e isso é legal!!! (papo de Comunista para iniciar a conversa).

Lutar contra o Decreto é legal e é justo!!



Por Dorberto Carvalho

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

5ª MOSTRA DE TEATRO DE RUA LINO ROJAS :: convite ::

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5ª MOSTRA DE TEATRO DE RUA LINO ROJAS
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