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domingo, 29 de agosto de 2010

Teatro e performance e as estratégias de ocupação urbana

Por Adailtom Alves Teixeira
Resenha apresentada à disciplina de Pós-Graduação da UNESP - Metodologia de Pesquisa em Artes

O sujeito e o espaço urbano estão umbilicalmente ligados, afinal cada vez mais se vive nos centros urbanos. Motivado pelas possibilidades de uso da rua, local de ocupação estratégica, onde a rebeldia pode vir a enfrentar os sistemas de controle, em que o teatro de rua passa a ser uma "potência de transformação social", Pedro Diniz Bennaton, apresenta em sua dissertação, Deslocamento e Invasão: estratégias para a construção de situações de intervenção urbana, estratégias colhidas no agit-prop (teatro de agitação e propaganda), nos dadaístas, surrealistas e nos situacionistas, estudando também os diversos grupos políticos espalhados pelo mundo e relatando também a experiência de seu coletivo, o ERRO Grupo. O pesquisador escreve na primeira pessoa, retomando suas experiências da infância e da adolescência, identificando nesse período as primeiras rebeldias que o transformaram como pessoa. Por isso mesmo acredita nas intervenções artísticas nos espaços abertos urbanos como formas de transformações sociais mais profundas.
O autor não separa política da arte, pois, segundo sua visão, só assim é possível transformar "a vida cotidiana", também entende que não há separação entre as artes, bem como entre arte e vida, conceitos cada vez mais movediços. Além dos movimentos artísticos já citados, o referencial teórico do autor passa por Guy Debord e sua sociedade do espetáculo, Richard Schechner, sobretudo sua obra Teoria da Performance. Por tratar-se de um estudo interdisciplinar, Bennaton utiliza diversos outros autores para fundamentar sua pesquisa, como Walter Benjamin, Michel de Foucaut, Giles Deleuze, Marc Augé, Fredric Jamenson, Michel de Certeau, Michel Maffesoli, todos internacionalmente conhecidos. No Brasil, utiliza Silvana Garcia, Renato Cohen e André Carreira, sendo este último seu orientador. Seu percurso teatral tem um escopo também sociológico, filosófico e antropológico, já que trata do teatro de rua em diálogo com o espaço urbano que é constantemente reificado.
Do ponto de vista metodológico, apesar de não deixar claro, é possível identificar uma abordagem fenomenológica, já que foca nas estratégias de uso e ocupação dos espaços urbanos por performances e espetáculos teatrais, sem muita separação entre arte e vida. Apesar de fazer retomadas no tempo, não contextualiza os períodos históricos apresentados, focando em seu objeto: as estratégias de ocupação e invasão do espaço urbano, de forma a romper com os sistemas de controle.
No capítulo primeiro, o autor aborda o sujeito pós-moderno, indivíduo fragmentado, reflexo de uma lógica de mercado, em que impera o individualismo e uma identidade transitória. Preocupado em como chegar a esse indivíduo fragmentado, pergunta-se que teatro provocaria esse sujeito, já que o próprio teatro está submetido a uma lógica de mercado. Para Bennaton, o tempo presente exige uma "agressividade" para se poder "ligar com a lógica de mercado", só assim poderíamos abalar as bases do sistema. Para tanto, faz-se necessário conhecer as estratégias apresentadas por ele. Um dos caminhos é não ser didático, não devemos transmitir mensagens, mas mostrar, por meio do teatro de rua, que é possível intervir no espaço urbano, só assim revelamos a fragilidade de organização da cidade:
"Ao explorar a fragilidade das câmeras de vigilância, o discurso vazio das propagandas colocadas nas ruas, ridicularizar os produtos comercializados, mudar os nomes das ruas etc., a arte pode interferir na rígida camada, de construção de sentidos e discursos, na qual estamos sujeitos." (p. 33-4)

Assim, os "vandalismos" performáticos que invadem as ruas, deixam marcas, criam fissuras na estrutura de controle urbano. Só a rua pode nos oferecer as provas reais de repressão, seja pela arquitetura, seja por meio de repressões impostas pelo poder público, que visa controlar e regular a cidade. A efemeridade do teatro e da performance tem, segundo o autor, a possibilidade de dialogar com essa sociedade, pois fundiria arte e vida. Só a recuperação da ilegalidade do teatro de rua nos permitiria transgredir os sistemas de controle que nos oprime, por isso mesmo essa arte jamais deve cair no mercado.
Bennaton entende que "operando os procedimentos estratégicos de forma consciente das estratificações e controles do sujeito pós-moderno, o artista poderá transformar a si mesmo e aos outros" (p. 49). Entretanto, alerta que não basta está na rua para ser político, é preciso utilizar os procedimentos estratégicos de ação, a imprevisibilidade da rua e os seus elementos, só assim será possível romper as fronteiras entre arte e vida, tornando-se transformador para quem faz e para quem presencia ou participa.
No segundo capítulo, como já colocado, o autor busca as matrizes de suas estratégias: as práticas do agit-prop, as correntes modernistas, dadaísmo e surrealismo, além dos situacionistas. Esse mapeamento apresenta o que ele chama de procedimentos estratégicos de "invasão e deslocamento." O levantamento vem acompanhado de muitos exemplos, inclusive políticos. Assim, se os dadaístas aderiram ao anarquismo, os surrealistas ligaram-se ao comunismo anárquico de Andre Breton, apresentando estratégias diferenciadas. Entretanto, ambos fugiram do realismo socialista, e, ao realizarem eventos efêmeros, questionaram a arte como produto.
O autor tem por objetivo demonstrar que, em todos esses movimentos vanguardistas, o espaço urbano foi estratégico para tornar claro a relação "entre arte e política, arte e transformação" (p. 62). Mas se autor tem como projeto político subverter a ordem estabelecida por meio de sua prática artística, fica claro a fragilidade de sua proposta, pois torna-se uma prática isolada, isto é, sem vínculos com os movimentos sociais, ficando impossibilitado de criar reverberações ou ações em grande escala, já que não encontra eco. Outro risco, esse apontado pelo próprio autor, é a possibilidade de uso dessas estratégias pelo mercado, citando o exemplo dos brainstorming, criado pelos surrealistas e absorvido pelo marketing invisível. Dessa forma, fica claro que a proposta do autor tem forte conteúdo político, mas que pode "escorregar" ou esvaziar-se pela fragilidade ao ser praticado isoladamente.
No terceiro capítulo de sua dissertação, Pedro Bennaton apresenta diversos exemplos de grupos contemporâneos que utilizam as estratégias de ação apresentadas. Trata-se de um teatro próximo ao teatro de guerrilha, um teatro em movimento, de ruptura, político e com uma linha muito tênue entre vida e arte. Atualmente é possível identificar esse tipo de estratégia no H.I.J.O.S. (Hijos por La Identidad e Justicia contra el Olvido y el Silencio), que realiza seus escrachos públicos visando "punir" os militares argentinos que participaram de torturas. Todos seus membros são filhos de desaparecidos da ditadura argentina que clamam por justiça.
Se se pode afirmar que é no ambiente urbano, em especial na rua, que "enxergamos as provas reais da repressão social, da repressão massificada" (p. 81), é preciso ocupá-la escandalizando-a, transgredindo-a, subvertendo também o mercado, dessa forma é possível intervir nas estruturas de poder. É o que faz o já citado H.I.J.O.S. na Argentina e o Black Block na Europa. No Brasil é possível identificar o Grupo Laranjas, o Grupo Empreza, o GIA e o ERRO Grupo, entre outros. A maioria dos grupos sugiram em ambientes universitários, tendo como forte característica de suas ações o anonimato das identidades dos praticantes.
Outro grupo citado, o Reclaim The Street, agiu em 1999 em mais de quarenta países e cento e vinte cidades, usando a internet e misturando em suas manifestações um misto de "carnaval ilegal, protestos e ações diretas" (p. 91). Assim, na visão de Bennaton, não precisa ser um expert para participar dos procedimentos de invasão, basta está disposto e adequar-se as estratégias criadas por esse coletivo, pois o grupo parte da idéia que qualquer um pode realizar essas ações e quanto mais pessoas, mais impactante pode ser. Já o Black Block tem como característica a desobediência civil, dessa forma, a eficácia está ligado ao tempo de execução. Os grupos partem do principio de Guy Debord, para quem a cidade carrega em sua história a liberdade e a tirania, esse enfrentamento da tirania organizacional estruturante da cidade é libertário.
Muitos dos atos desses grupos não são para serem assistidos, mas sim vivenciados, experimentados. Por isso mesmo requer estudo e conhecimento do território no qual se inserem, bem como das possibilidades de deslocamento. Citando o exemplo de seu coletivo, o ERRO Grupo, que sempre solicita autorização ao Poder Público para suas performances, o autor entende que mesmo com autorização é possível romper com a ordem, já que a invasão e a ocupação "se constroem pelo nível de afrontamento, estranhamento e invasão física dos atores, em territórios que não são pré-estabelecidos ou delimitados para a representação" (p. 129). Por isso o praticante não pode ter medo ou ter respeito pelas leis que regem o espaço público, pois, se assim proceder, corre o risco de não ousar. Mas com estratégias e ousadia é possível agir no cotidiano da cidade, rompendo e infiltrando-se no cotidiano da mesma.
Aliado a teoria de Schechner, as palavras e as ações situacionistas foram não apenas referências para o autor, mas sim "alicerces de sustentação e incentivo essenciais para a leitura das ações urbanas" (p. 143). Por entender que essas estratégias alinham-se ao sujeito pós-moderno, Bennaton entende que pode ser praticado em qualquer lugar do mundo, sem necessidades de estudo das especificidades culturais de cada lugar. Aqui, mais uma vez, o autor simplifica e se contradiz, pois ao citar uma performance de seu grupo que foi mal recebida e interpretada de forma equivocada fora do Brasil, tendo que explicar-se inclusive para a polícia, fica patente que o indivíduo pós-moderno não é o mesmo em todos os lugares do globo. Diante do exemplo, fica claro que faz necessário conhecer também as especificidades culturais de cada lugar, ainda que o sujeito pós-moderno esteja em todos os lugares as resistências as mudanças também estão lá. E ainda que partamos da ideia de subversão, o que em determinado lugar subverte em outro pode ser natural.
O autor toca ainda em outro ponto importante. Todo esse procedimento de subversão da ordem mercadológica faz com que os grupos engajados nesses processos sofram problemas de financiamentos de suas práticas, e não poderia ser diferente, por isso o autor alerta para o fato da necessidade de se ter outras profissões para manter essas práticas político-artísticas.
A dissertação de Pedro Bennaton é fundamental para todos aqueles que querem radicalizar sua prática teatral no espaço aberto urbano, apontando para as diversas possibilidades de ocupação e invasão da cidade com teatro, sem prender-se a uma ou outra técnica específica, tudo é possível, até mesmo as estratégias da propaganda. O que importa é a criação de uma arte política, de ruptura e próximo da vida. Por outro lado, fica claro também uma fragilidade no processo apresentado pelo autor, pois se não for disseminada por muitos grupos ou por movimentos sociais, de forma interligada, como ocorre na Europa, pode vir a ser absorvido pelo mercado como algo experimental, afinal na desertificação do real, o que impera é o mercado, ente que veste as roupas e cospe o discurso democrático, absorvendo aquilo que se contrapõe a ele mesmo, mas que ao ser aceito, incorporado, por mais forte que seja essa contraposição, esvazia-se e passa a ser mais um produto como outro qualquer na prateleira das artes.

Fonte
BENNATON, Pedro Diniz. Deslocamento e Invasão: estratégias para a construção de situações de intervenção urbana. Florianópolis, UDESC, 2009, f. 158. 

Carta do MTR/SP protocolada na Prefeitura de São Paulo dia 23/08/10


CARTA ABERTA DO MTR/SP A FAVOR DA LIBERAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS ABERTOS PARA A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES ARTÍSTICAS.
Esta carta é um protesto contra as perseguições abusivas por parte do aparelho estatal contra as artes populares. Chegamos à primeira década do século XXI e os artistas populares e a arte que produzem continuam relegadas ao esquecimento ou sofrendo constantes ameaças.
Perseguição aos artistas, fechamento ou ameaça de fechamento de espaços culturais geridos por coletivos, rígida fiscalização, atores apanhando da polícia, proibição de eventos em praças públicas, tudo isso ocorrendo em 2010 em diversos lugares do Brasil. O que está ocorrendo? Onde ficam os direitos garantidos pela Constituição?
"é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença"
Constituição Brasileira, artigo 5º termo IX
Toda e qualquer arte que se coloca como contra hegemônica, vem sofrendo perseguições. A constatação é dura, mas a realidade pode ser ainda muito mais.
Após a realização do FORUM da 5º MOSTRA LINO ROJAS DE TEATRO DE RUA em Julho de 2010, discutindo as dificuldades dos grupos em realizar suas atividades pelas ruas, nós do MTR/SP (Movimento de Teatro de Rua da cidade de São Paulo) coletamos diversos relatos de grupos de teatro de rua a respeito desses entraves. Os relatos denunciam a falta de respeito ao artigo 5º da Constituição Brasileira.
Porém, ao investigarmos, facilmente nos deparamos com casos onde grandes produções ou jovens artistas que se enquadram na ditadura do mercado tem sido apoiados com muito dinheiro via leis de incentivo como a Rounet.
Enquanto isso as artes populares sofrem com despejos, falta de apoio e reprimendas policiais.
Exigimos um posicionamento das gestões públicas e o apoio da população para que seja garantida aos artistas populares a liberdade de expressão e de trabalho com dignidade.
Arte não é luxo, nem lixo. Ela pode e deve ser feita na rua.
São Paulo, 23 de Agosto de 2010
MTR/SP


Movimento de Teatro de Rua da Cidade de São Paulo
(O Movimento de Teatro de Rua da Cidade de São Paulo (existente desde 2002) agrega diferentes grupos e companhias de teatro de rua, pensadores e afins que visam a construção de políticas públicas permanentes que garantam a continuidade de pesquisa, produção e circulação do teatro de rua nessa cidade. O Movimento propõe ações que possibilitam o desenvolvimento de reflexões sobre o teatro de rua em âmbito nacional, bem como sobre sua relação com a cidade. Os integrantes do movimento de teatro de rua da cidade de São Paulo defendem a valorização do espaço público aberto como local de criação, expressão e encontro, compreendendo que assim esse espaço torna-se ambiente propício à ampliação da cidadania de quem com ele se relaciona.)


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sábado, 21 de agosto de 2010

ARTISTAS MORREM EM FRENTE À PREFEITURA! (mobilização artística nacional dia 23/08)


 
ARTISTAS MORREM EM FRENTE À PREFEITURA!
Artistas do MTR/SP (Movimento de Teatro de Rua de São Paulo) morrem simbolicamente no próximo dia 23 em ATO PÚBLICO pelo cumprimento da Constituição Brasileira.
"é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença"
Constituição Brasileira, artigo 5º termo IX
No dia 23 de agosto (Dia do Artista e Dia Contra a Injustiça), no Largo do Paissandu, a partir das 10h, em São Paulo, os grupos de teatro de rua do MTR/SP darão início a uma manifestação repleta de intervenções artísticas, em conjunto com a Rede Brasileira de Teatro de Rua,  a favor da liberação dos espaços públicos abertos (ruas, praças, vielas, jardins, parques) para realização das suas atividades artísticas. A manifestação será feita por todo o país.
Em São Paulo estão confirmadas as presenças dos grupos:
Buraco d'Oráculo
Cia As Marias
Cia dos Inventivos
Cia do Miolo
Como Lá em Casa
Grupo Teatral Parlendas
Mamulengo da Folia
Núcleo Cênico ProjetoBaZar
Núcleo Pavanelli
Pombas Urbanas
Populacho e Pic Nic
Trupe Artemanha
TUOV (Teatro União e Olho Vivo)

Os artistas seguirão em cortejo até a Praça Patriarca e o ponto alto da programação será por volta das 14h, horário em que os participantes se deitarão em frente ao prédio da prefeitura de São Paulo, montando um cemitério cênico repleto de cruzes brancas em um ato simbólico de morte do artista popular. Neste momento ocorrerá leitura a população de uma Carta Aberta (que será encaminhada aos Prefeitos, Governadores, Secretários de Cultura, MinC, FUNARTE, Conselho Nacional de Política Cultural, Conselhos Municipais e Estaduais de Cultura, vereadores, deputados e senadores).
Outras cidades do Estado de São Paulo se mobilizarão simultaneamente conforme descrito abaixo:
Em SOROCABA o grupo Nativos Terra Rasgada fará mobilização, juntamente com outros grupos da cidade, na Praça Coronel Fernando Prestes (Centro) mantendo os mesmos horários e ações da capital.
Em PRESIDENTE PRUDENTE os grupos Circo Teatro Rosa dos Ventos, Os Mamatchas e outros grupos integrantes da Federação Prudentina de Teatro marcarão presença com banda e na companhia lúdica do bonecão caricatura "Secontrário de Cultura". Os locais da manifestação serão as entradas: do Teatro Municipal e Teatro César Cava no horário de abertura dos espetáculos do FENTEPP (Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente), que terá início no dia 20 de Agosto e cuja programação detalhada ainda não foi divulgada no site oficial do evento, fato questionado pelos grupos envolvidos na manifestação.

SOBRE O MTR / SP
O Movimento de Teatro de Rua da Cidade de São Paulo (existente desde 2002) agrega diferentes grupos e companhias de teatro de rua, pensadores e afins que visam a construção de políticas públicas permanentes que garantam a continuidade de pesquisa, produção e circulação do teatro de rua nessa cidade. O Movimento propõe ações que possibilitam o desenvolvimento de reflexões sobre o teatro de rua em âmbito nacional, bem como sobre sua relação com a cidade. Os integrantes do movimento de teatro de rua da cidade de São Paulo defendem a valorização do espaço público aberto como local de criação, expressão e encontro, compreendendo que assim esse espaço torna-se ambiente propício à ampliação da cidadania de quem com ele se relaciona.

Realizações:
- 1º Seminário de Teatro de Rua (2003);
- Overdose de Teatro de Rua – 5 edições;
- 1ª Temporada de Teatro de Rua de São Paulo (2004);
- MOSTRA DE TEATRO DE RUA LINO ROJAS – 4 edições (a 5ª edição ocorrerá ainda em 2010)
- Revista Arte e Resistência – 2 edições;
- Participação na criação da Rede Brasileira de Teatro de Rua.

Sobre a RBTR (Rede Brasileira de Teatro de Rua)
Criada em 2007, a Rede Brasileira de Teatro de Rua é atualmente formada por movimentos e grupos de 27 estados brasileiros. Já realizou sete encontros, trazendo inclusive grupos da Argentina e da Colômbia para os debates.
A Rede Brasileira de Teatro de Rua é um espaço físico e virtual de organização horizontal, sem hierarquia, democrático e inclusivo
SERVIÇO
Manifestação a favor da liberação dos espaços públicos abertos para a realização de atividades artísticas.

São Paulo (capital)
Dia 23 de Agosto de 2010
Horário: Das 10h às 14h.
Local: Largo do Paissandu (concentração) seguindo em cortejo até a Praça do Patriarca (centro de São Paulo)
CONTATO: Aurea Karpor  (11) 8337-5168  (11) 8337-5168http://www.blogger.com/

Sorocaba
Dia 23 de Agosto de 2010
Horário: Das 10h às 14h.
Local: Praça Coronel Fernando Prestes (centro)
CONTATO: Flávio Melo  (15) 9748-3690  (15) 9748-3690http://www.blogger.com/

Presidente Prudente
Dia 23 de Agosto de 2010
Horário: início dos espetáculos do FENTEPP
Local: Entrada dos Teatros:
Teatro Municipal Procópio Ferreira - Piso inferior da Prefeitura Municipal de Pres. Prudente – SP - Av. Cel. José Soares Marcondes, n° 1200 – Centro
Teatro César Cavas - Rua José Bongiovane, 700
CONTATO: Lois  (18) 9747-6867  (18) 9747-6867 http://www.blogger.com/

TODOS ESTÃO CONVIDADOS A PARTICIPAR!!!
MTR/SP

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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Nossa opção pelo teatro de rua

Nossa opção pelo teatro de rua...

  ...Se dá pela liberdade, pelo posicionamento e enfrentamento que propõe. A rua não tem dono, o que define o ator da rua é a relação com o público, nada mais. O chapéu é sua remuneração, a mais sincera e singela, a rua é o palco mais legítimo, o ator na rua está na corda bamba, se não domina os elementos... não dá para correr para a coxia. O ator da rua transforma e convenciona tudo, inclusive seu palco. A rua pode ser tudo, é um lugar de trânsito de energia e acontecimentos muito fortes. As manifestações culturais mais fortes são na rua, As rodas de capoeira mais tradicionais são na rua, o carnaval de rua, o hip hop, o rap, o grafite, as comemorações religiosas...  Quando o povo quer protestar vai para a rua. Por isso ficamos "de cara" quando espetáculos que tem toda independência e autonomia precisam pedir uma autorização para apresentar-se na rua.Que é nossa, é de todos. Essa relação é da rua, com o artista, com o povo e não de um terceiro, da burocratização.

Existem locais ainda, onde não é tão simples apresentar, devido ao grau de hostilidade presente na comunidade, ao "escanteamento" social que sofrem e de uma relação mais ausente ou inexistente que o teatro representa para essas pessoas.  Então, tem toda uma relação a ser construída, estabelecida entre público e artista, e a rua como via. Não é uma autorização, um papel, que te dá essa segurança, essa comunicação.

Outro dia, no meio de uma apresentação, em um parque próximo do centro da cidade, duas gangues resolveram disputar espaço no mesmo local, data e hora do nosso espetáculo, eles chegaram depois do teatro já ter iniciado, ou seja, a rua cobra suas necessidades.

  

                                                                                   *Marcelo Militão – TIA

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Amir Haddad escreve sobre Amazônia Encena na Rua

A Volta da Esperança


 Por Amir Haddad

Estive em Porto Velho para o "Amazônia Encena na Rua". Saí de lá com a sensação exata, de que em apenas um dia e duas noites de permanência, eu tinha participado de um evento que, de tão grande, que poderia ser, fazia com que ele então parecesse pequeno, diante do que ainda poderá ser.

Nos tempos em que vivemos raramente a esperança tem nos visitado.  Na imensidão da Amazônia, em um novo mundo em formação, os caminhos ainda estão abertos, mais abertos que nos grandes centros e aglomerados urbanos.

Que ninguém mais se vanglorie do progresso acelerado. Já sabemos onde isto nos leva. Porto Velho pode construir uma corrente de Desenvolvimento Cultural e Cidadania, que a ajudará escapar da encruzilhada e dos perigos deste "progresso acelerado".

Por suas características urbanas e geográficas, é uma cidade apta a acolher em seus braços e praças a manifestação livre e espontânea da cidadania, através de seus ritos e celebrações culturais.  Os moradores, e advindos de outras regiões também, trazem consigo manifestações, em algum lugar, de sua etnia e Identidade Cultural.  E a cidade ainda não soterrou a todos embaixo da poeira cinza esbranquiçada do desenvolvimento econômico, voraz e destruidor, apesar de algumas boas intenções...

Em Porto Velho ainda há possibilidade de um vislumbre de esperança, se a Vida Cultural não for descuidada. Alem do que já está feito, sente-se que ainda há muito o que fazer, e muito o que crescer.  Por isto ainda tão pequeno. Por isto tão grande.

Por isso também o "Amazônia Encena na Rua" me pareceu tão promissor, jovem, vibrante, transformador. O evento tem as características necessárias para promover o desenvolvimento de uma política cultural de ocupação dos espaços públicos urbanos e devolvê-los para o convívio e valorização da cidadania e da cidade.

Dentro de cada apresentação naquela pequena grande praça iluminada, havia uma luz maior que a de fora: a luz do prazer de se apresentar em praça publica para todos, e de trazer dentro do peito o sonho ainda possível da Utopia.

Parabéns aos organizadores e boa sorte no futuro.


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Deliberações do Fórum da 5a Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas

PRIMEIRO FÓRUM DE TEATRO DE RUA DO NÚCLEO REGIONAL DE PESQUISADORES (SP) - 29, 30 E 31 DE JULHO DE 2010


ALGUMAS DELIBERAÇÕES E SUGESTÕES PARA DISCUSSÃO COM OUTROS SEGMENTOS PARA ENCAMINHAMENTOS.


            Durante três dias, o estar junto e a reflexão tiveram um significativo e prazeroso significado. Encontro com iguais e curiosos, o Primeiro Fórum de Teatro de Rua, organizado pelo Movimento de Teatro de Rua de São Paulo e pelo Núcleo Regional de Pesquisadores de Teatro de Rua (SP) conseguiu tentos absolutamente significativos. Com número de participação variando entre 50 e 100 pessoas, por período (e foram 6 períodos - excetuando-se a noite de sexta-feira, em que houve o lançamento do segundo número da revista Arte e Resistência na Rua), o evento passou por questões importantes e resolveu encaminhá-las para discussão, organização dos sujeitos inseridos e interessados no processo e encaminhamentos  necessários.

            De modo geral, tendo em vista a programação do evento - dividindo reflexão principalmente dialógica (muitos dos fazedores de teatro de rua participaram das cinco mesas) e outras atividades (intervenções artísticas, coletas de relatos,[1] lançamento de revista, ida a espetáculos) - a crítica ao evento foi bastante positiva.

            Em 29/07, fruto das discussões, foram destacados os seguintes pontos:

- dificuldade muito maior para o grupo existir do que para produzir seus espetáculos. A dificuldade decorre, sobretudo, das distintas e sempre presentes formas de repressão.

Ação I. A primeira ação coletiva proposta a todos foi: montar uma espécie de dossiê, construído coletivamente a partir de relatos de experiências dos companheiros que já passaram por problemas com as autoridades cerceadoras. Nesses relatos, a ideia é apresentar os estratagemas de que se lançou mão para socialização das táticas de conquista àqueles que passam pelos mesmos problemas. Esta ação será centralizada por Simone Pavanelli. Alexandre Mate, conforme compromisso público fará a redação final.

- denúncia quanto às proibições de passar o chapéu ao fim do espetáculo (em São Paulo: SESCs e projeto Teatro nos Parques). No sentido de criar uma carta-documento (de protesto contra este tipo de arbítrio), o companheiro Antônio Sobreira, do grupo Rosa dos Ventos (Presidente Prudente), escreveu a carta abaixo que, em curto espaço de tempo, deverá receber acréscimos para encaminhamento às instituições que se arrogam ao direito de impor "seus pontos de vista" triturando uma significativa tradição e história. Apresenta a carta:

O Chapéu e a arte de rua

O teatro e os artistas que fazem arte de rua têm seu reconhecimento em projetos governamentais, empresas que investem em cultura. Com esse reconhecimento é comum que o teatro de rua seja recebido por instituições que antes davam mais atenção ao teatro de palco.

          O teatro de rua, entretanto, tem uma importante tradição com seu público que é o "passar o chapéu" ao final da apresentação. Esta prática tradicional, cuja documentação histórica remonta ao período medieval, tem sido proibida, coibida ou evitada em alguns desses novos locais de apresentação.

O artista de rua não depende apenas dos projetos e das instituições que os contratam, mas sim da população que é o berço e companheiro de seu trabalho. Nesse sentido, ser coibida a passagem do chapéu tem uma função negativa para a educação do público no que concerne à valorizar a arte apresentada na rua.

Não é apenas uma questão de manter uma tradição por seu charme medieval, mas sim de garantir a auto sustentação da arte e manter uma relação com o público que é fundamental para o reconhecimento desses artistas de rua.

Esse ato tem caráter de defesa de um posicionamento segundo o qual a arte de rua deve viver da rua. Tomada essa posição, significa dizer que esse movimento não pretende migrar para as salas e ambientes tradicionais para as artes cênicas, mas sim, manter seus pilares em sua origem que é chegar sempre em locais que a arte dificilmente consegue chegar.

Esta carta tem o objetivo de orientar artistas e interessados em compreender que "passar o chapéu" é um ato de preservação do teatro e da arte de rua que tem como prioridade as trocas de experiência nos espaços públicos por princípios estéticos, de conteúdo artístico, político e baseados nos direitos humanos universais sobre o acesso aos bens culturais.

Diante do exposto, solicitamos o reconhecimento da legitimidade, do princípio ético e pedagógico contido no ato de passar o chapéu ou outro procedimento que peça de forma espontânea que as pessoas contribuam com a arte de rua, independente da política e de normas institucionais que restrinjam essa prática inerente ao artista de rua.


Ação II. Portanto, como segunda tarefa de todos, compreendendo apresentar acréscimos e sugestões à carta ela encontra-se aqui anexada.  Esta ação pode ser centralizada pela sempre querida companheira Simone Brites Pavanelli.

Ação III. Criação de comissão de representação do Núcleo Regional de Pesquisadores de Teatro de Rua (SP) para administrar, encaminhar gestões, socializar informações acerca dos fazedores de teatro de rua. Nas decisões sugeridas de sábado, 31/07, no primeiro andar do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, com mais de 30 pessoas presentes, deliberou-se:

- comissão jurídica, centralizada em Romualdo Bacco e Cícero Almeida (ambos do Teatro Popular União e Olho Vivo) para gerir, sugerir, delegar e socializar encaminhamentos de natureza legal. Cabe à esta comissão a análise e divulgação de procedimentos jurídicos indicando normas, leis, pareceres, indicativos para resolução de problemas ligados aos corpus jurídicos constitucionais.

Fundamental que esta comissão possa estar afinada à OAB, ao departamento jurídico da Cooperativa Paulista de Teatro e outras instituições afins.

- comissão de imprensa, formada por Áurea Karpor (Bazar), Natália Siufi (Parlendas), Luciano Santiago (Artemanha).

- comissão de representação nacional e internacional, formada por Marcos Pavanelli (Núcleo Pavanelli), Oswaldo Pinheiro (Cia. Estável) para promover gestões junto aos poderes constituídos: audiências públicas, ida e organização de comissão para discutir com instâncias do poder municipal, estadual e federal.

- comissão de produção de vídeo, constituída pelo sempre presente Fernando Mastrocola e Rogério Ramos (Trupe Olho da Rua). Dentre as principais incumbências, foi tirada uma proposta de coleta de imagens para criação de um vídeo-denúncia de atos arbitrários contra os criadores.

Ação IV. Escrever uma carta conclamando e estimulando, nas cidades onde houver alguma articulação e artistas militantes, a criação de núcleos regionais de pesquisadores em teatro de rua.

Desse modo, a carta abaixo, escrita pela sempre presente companheira do Tá na Rua, Jussara Trindade, caracteriza-se em uma primeira proposta de conclamação. Assim, em prazo relativamente curto, algumas sugestões podem ser acrescentadas à carta para que possamos colocá-la em diferentes fontes documentais como blogs, jornais e boletins de grupos, jornais locais: cidades, universidades etc.

Para organizar as sugestões, enviar propostas para a comissão de imprensa.


Caros companheiros do Núcleo,

Nos dias 29, 30 e 31/07 tive o prazer de participar das atividades do 1º Fórum do Núcleo Regional de Pesquisadores de Teatro de Rua (SP), evento articulado à 5ª Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas, em São Paulo. Foram três dias de debates sobre vários temas de interesse para a nossa prática artística que finalizou com a constatação de que o Núcleo de Nacional de Pesquisadores torna-se, cada vez mais, um espaço de reflexão fundamental para a construção de um novo pensamento teatral no País, processo no qual o teatro de rua adquire hoje extrema importância.

Nesse sentido, somente com o esforço de pesquisadores de todos os Estados alcançaremos o patamar que almejamos - dar visibilidade e legitimidade aos saberes que sustentam o nosso fazer teatral.

Por isso, faz-se necessária a criação de Núcleos Regionais, no sentido estrito de buscarmos a união entre os pesquisadores que se encontram espalhados pelo País, a fim de fortalecermos nacionalmente as nossas convicções. Ainda que a tarefa seja difícil - em função do número reduzido de pesquisadores, em alguns Estados da Federação - talvez já seja possível congregar alguns integrantes que, a exemplo de São Paulo, estejam interessados em trocar experiências, formar grupos de estudo ou realizar outro tipo de compartilhamento permanente, não necessariamente atrelado a um evento maior.

Enfim, a experiência da criação do Núcleo Regional de Pesquisadores de Teatro de Rua (SP) mostra que esse é um caminho possível para o crescimento coletivo, onde todos podem aprender e ensinar simultaneamente.

A proposta que trago do Fórum é esta: vamos trocar ideias a respeito?



Ação V. Criação de comissão para levantamento, organização e socialização de textos escritos para teatro de rua: tanto textos teatrais prontos como roteiros. Estão nesta comissão: Alexandre Mate (Núcleos Nacional e Regional), Aurea Karpor (Bazar), Marcelo Palmares (Pombas Urbanas), Natália Siufi (Parlendas), Patrícia Caetano (Bando La Trupe), Renata Lemes (Cia. do Miolo), Romualdo Bacco (União e Olho Vivo). Aventou-se, também, a hipótese de manter alguma gestão com entidades internacionais, a exemplo do Centro Latinoamericano de Criación e Investigación Teatral, nascido em Caracas, mas sediado atualmente em Buenos Aires e que tem um excelente banco de textos de toda a América Latina. Para quem ainda não conhece, o endereço eletrônico é www.celcit.org.ar

Ação VI. continuar o processo de estudos de grupo de pesquisas que vem se desenvolvendo desde fevereiro de 2010; criar novo grupo de pesquisa sobre o trabalho de análise crítica dos espetáculos de rua. Caso a ação se efetive ainda este ano, com os colaboradores dos espetáculos apresentados na Mostra Lino Rojas, as reflexões daí decorrentes devem ser espalhadas para o MTR.

Intervenções dos palestrantes

            Como aspectos citados pelos diversos palestrantes e convidados, tivemos:

- teatro de rua precisa apropriar-se das experiências postas na/pela rua. A história do Brasil pode e deve fazer parte de sua dramaturgia, sempre em perspectiva aproximada da contemporaneidade. Clareza quanto ao que se quer falar: a rua é um espaço por excelência político. Destas considerações, é fundamental (seminal): não é possível ir para as ruas sem alguma consciência política.

- teatro de rua, muitas vezes, caracteriza-se em projeto de vida. Então, como os commedianti dell'arte devem treinar permanentemente. Nesse particular, o treinamento se caracteriza também como clarificador do conteúdo.

- prestar atenção às teses de Mikhail Bakhtin e à dramaturgia de Luís Alberto de Abreu.

- os artistas de rua devem observar os tipos características da rua: camelôs, feirantes, vendedores ambulantes, os pregadores... A transformação do lugar indistinto, que é o logradouro público, precisa transformar-se em um espaço de troca, conciliando o físico e o metafórico. Na rua, os artistas precisam assumir a rua: geográfico e poeticamente. Os espaços públicos, abandonados ou desfavoráveis à população, precisam ser retomados e ocupados com ajuda da comunidade.

- as experiências dos grupos de rua precisam pautar-se e aprimorar as relações horizontais do coletivo criador. Nesse particular, é preciso considerar os gostares e quereres de cada um.

- grupos de teatro, independentemente de serem de rua ou de outras naturezas, precisam considerar e levar em consideração a crítica. A escuta é fundamental nesse processo. Depois de o resultado estar pronto (o espetáculo) o público da rua é aliado significativo.

Relatos de participantes

            Durante os três dias, em meio às discussões ou nos intervalos delas, um grupo de aproximadamente 10 belas atrizes colheram relatos dos participantes do fórum acerca de suas primeiras experiências, como espectadores de teatro de rua. Esse material será revisado pela dramaturga Daniela Rosa e por Alexandre Mate. Posteriormente, e dando continuidade ao processo de coleta de relatos, pretende-se publicar um Diário de espectadores (à semelhança dos diários dos viajantes estrangeiros).



Alexandre Mate

05/08/2010: frio de derreter os ossos!



[1] Mais adiante se explicitará o pressuposto e os desdobramentos desta ação.

Diário do Oigalê - viagem pelos pampas gaúcho



Olá, pessoal.


Estou escrevendo somente hoje, pois fomos encontrar internet no pampa gaúcho em Garruchos (fronteira com a Argentina). Dentro do possível, estarei descrevendo nossa primeira etapa.

Na terça, dia 03, saímos de Porto Alegre rumo a Itacurubi (mais ou menos 600 km). Pra chegar em Itacurubi (3500 habitantes),  acesso de 40km de chão batido até a cidade, só uma rua com pedras, as outras de chão batido. No dia da apresentação às 15h, dia 04, mais ou menos 600 pessoas na praça central. População nunca assistiu um espetáculo de rua. Presentes boa parte da comunidade, a Sra. prefeita, "todas" as escolas do município e do assentamento próximo, cachorro, galinha e frio de 5° (1° pela manhã). Nos trouxeram água para o espetáculo congelada que não descongelou nem botando no sol, nem no dia seguinte. À noite, fomos recebidos no CTG (ehehehehe) pela comunidade para uma confraternização regada a churrasco, obviamente. Lareira e causos não faltaram. Nem cerveja e cachaça.

Hoje, dia 05, andamos 5 horas e meia de carro para conseguirmos vencer 130 km de chão batido e depois de bastante terra e campo, chegamos a Garruchos, fronteira oeste do RS com a Argentina. Amanhã cruzamos o rio Uruguay com um barco pequeno (não lembro o nome direito, se não me engano chama-se "chalana"). Valor da travessia, R$2,00.

Estamos gravando bastante coisa e tirando outras tantas fotografias. Ah, Garruchos tem 3600 habitantes. A praça foi pintada o meio fio e arrumado alguns buracos para o evento. Também nunca receberam um espetáculo de rua por aqui. Estamos bem entusiasmados com o que estamos vivenciando.


Grande abraço e até breve!

Saudações Coloradas!!!!,



Giancarlo

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Carta da RBTR ao MINC/FUNARTE

Ao Ministério da Cultura


Ministro Juca Ferreira

À Fundação Nacional de Arte

Presidente Sérgio Mamberti

À Diretoria de Artes Cênicas

Diretor Marcelo Bones



Prezados Senhores,



A Rede Brasileira de Teatro de Rua, criada em março de 2007, em Salvador/Bahia, é um espaço físico e virtual de organização horizontal, sem hierarquia, democrático e inclusivo, presente em todos os estados brasileiros. Todos os artistas-trabalhadores, grupos de rua e afins pertencentes a RBTR podem e devem ser seus articuladores para, assim, ampliar e capilarizar, cada vez mais, suas ações e pensamentos.

A RBTR reafirma sua missão de:

• Contribuir para o desenvolvimento do fazer teatral de rua no Brasil e na América Latina;

• Lutar por políticas públicas culturais com investimento direto do Estado, por meio de fundos públicos de cultura, garantindo assim o direito à produção e ao acesso aos bens culturais a todos os cidadãos brasileiros;

• Possibilitar as trocas de experiências artísticas entre os grupos de teatro da rede;

• Reafirmar a necessidade de uma nova ordem por um mundo socialmente justo e igualitário.

Mobilizados para a discussão e elaboração das diretrizes para a utilização do Fundo Setorial para o Circo, a Dança e o Teatro, encaminhamos ao Ministério da Cultura e à Fundação Nacional de Arte as seguintes propostas:



- Que no edital "Programação de Espaços Cênicos" seja aceita a proposta de Sedes Públicas com projetos de ocupação artística de espaços públicos abertos por grupos e coletivos de Teatro de Rua. Sedes Públicas são praças, parques e outros espaços abertos onde grupos atuam com freqüência realizando apresentações, ensaios, oficinas, reuniões e outras atividades teatrais.



- Que seja explicitado nos novos editais e que tenha condições igualitárias a modalidade: teatro em espaços públicos abertos



- Que seja revisto o valor destinado aos Produtores Independente/Empresas Produtoras em relação aos outros editais. Apoiamos a proporcionalidade de 3x1 (Núcleos com trabalhos continuados x Produtores Independentes/Empresas Produtoras).



- Que a Comissão de Seleção seja regionalizada como garantia de representação estadual, tendo a participação de pessoas conhecedoras dos aspectos culturais, dos grupos e das pessoas verdadeiramente comprometidas com o seu fazer para seleção dos projetos apresentados.



- Que os participantes das Comissões de Seleção sejam pessoas com conhecimento e atuação no teatro feito em espaços abertos e espaços fechados.



- Que o Fundo Setorial para o Circo, a Dança e o Teatro seja lançado na primeira quinzena de agosto de 2010 e que o total investido seja aumentado tendo em vista a abrangência destas três áreas. Conforme documento entregue ao Secretário Gustavo Vidigal, no dia 02 de junho de 2010, em Brasília.



O Teatro de Rua é um símbolo de resistência artística, comunicador e gerador de sentido, além de ser propositor de novas razões no uso dos espaços públicos abertos. Mais do que lícito, o teatro de rua presta um serviço imensurável ao desenvolvimento da cidadania, levando conhecimento, saber e entretenimento com acessibilidade gratuita para todas as classes sociais. Para além de uma expressão estética nosso ofício é impulsionado pelo sonho de uma sociedade mais justa e fraterna, pelo direito universal à cultura e à vida.



Agradecemos pela atenção dos senhores.



“A rua é sempre o firmamento de toda arte”

Ray Lima

29 julho de 2010



Rede Brasileira de Teatro de Rua – RBTR

www.teatroderuanobrasil.blogspot.com

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

CARTA POROROCA

Reuniram-se os articuladores da RBTR – Rede Brasileira de Teatro de rua (AC, AM, AP, BA, DF, MA, MG, MT, PA, RJ, RN, RO, RR, RS, SP, TO) em Porto Velho, Rondônia, de 16 a 25 de Julho de 2010, no 1º Seminário Amazônico de Teatro de Rua e 3º Festival Amazônia Em Cena na Rua, juntamente com a Rede Teatro da Floresta.

A Rede Teatro da Floresta busca uma biopolitica construída por artistas/articuladores do Teatro da Amazônia. A Rede entende que o Brasil, com todas as suas instituições e mecanismos de políticas culturais para as artes do teatro, não poderá continuar míope quanto aos artistas do norte do país e suas poéticas e procedimentos cênicos, e principalmente, deixar de reconhecer o que significa o CUSTO AMAZÔNICO do fazer cultural/teatral em nossa região, implicando uma compreensão das dimensões histórica, geográfica, sócio-política, econômica e imaginária de nossa terra e tribos.

Quais são as ruas desses encontros de redes em Rondônia?

O asfalto, uma estrada de piçarra, uma trilha de mata, um igarapé, uma beira de rio, um alto-mar de água doce, o alto de um barranco, a profundeza de uma gigantesca cova de extração mineral, um “Q” de pedaço de céu aberto. Todas essas ruas são de uma “lonjura” e de uma largura amazônicas, que implicam custos tão imensos, do tamanho dessas geografias.

Nessas ruas, há sempre um teatro-troca entre artistas-índios, artistas-quilombolas, artistas-árabes, artistas-orientais, artistas-brancos - todos misturados como uma encantaria. Todos esses “imaginados”, “imaginários”, “reais” - fazedores de teatro - apresentam-se compondo o Teatro da Floresta, que associados a RBTR – Rede Brasileira de Teatro de Rua – criaram neste evento de Teatro de Rua, um fenômeno singular: a primeira POROROCA (encontro) de duas grandes redes de teatro do Brasil.

Juntos, nós teatreiros deste Brasil da diversidade, queremos reivindicar ações efetivas com o objetivo de construir políticas públicas para o teatro, mais democráticas e inclusivas, tais como:



• Que os editais sejam regionalizados e sejam criadas comissões igualmente regionalizadas e indicadas pelos artistas, bem como a criação de mecanismos de acompanhamento e assessoramento dos artistas-trabalhadores e grupos de Teatro da Floresta;

• Que dentro desta compreensão de regionalização, possa a Rede Teatro da Floresta, com transparência de critérios, gerir com autonomia a distribuição da verba destinada aos editais do setor para região Amazônica.

• Que o MINC crie três representações do próprio Ministério, com escritórios da FUNARTE, iniciando desta forma a expansão pela região norte na perspectiva de abrangência de todo território brasileiro.

• Com vistas ao reconhecimento do custo amazônico (em anexo), garantido nas principais diretrizes da 2ª Conferencia Nacional de Cultura. se faz necessária a criação de programas específicos que contemplem, na perspectiva de uma reparação: a produção, circulação, formação, registro e memória, manutenção, pesquisa, intercâmbio, vivência, mostras e encontros do Teatro da Floresta.

• A aprovação e regulamentação imediata da PEC 150/03 (atual PEC 147), que vincula para a cultura, o mínimo de 2% do orçamento da União, 1,5% no orçamento dos estados e Distrito Federal e 1% no orçamento dos municípios;

• Reformulação da lei 8.666/93 das licitações, convênios e contratos, com a criação de um capítulo específico para as atividades artísticas e culturais, que contemple nas alterações, a extinção de todas e quaisquer formas de contraprestação financeira, considerando que o trabalho artístico de rua já cumpre função social.

• A extinção da Lei Rouanet e de quaisquer mecanismos de financiamentos que utilizem a renúncia fiscal, por compreendermos que a utilização da verba pública deve se dar através do financiamento direto do Estado, por meios de programas e editais em formas de prêmios elaborados pelos segmentos organizados da sociedade;

• Criação de um programa interministerial (exemplo: MINC/MINISTÉRIO DAS CIDADES) em parceria com os Estados e Municípios para a construção e/ou reforma de espaços públicos (praças, parques e outros), adequando-os as necessidades dos artistas e trabalhadores das Artes de Rua, além da inclusão imediata destes espaços no programa de construção dos equipamentos culturais do PAC.

• Que os espaços públicos (ruas, praças, parques, entre outros), sejam considerados equipamentos culturais e assim contemplados na elaboração de editais públicos, Plano Nacional de Cultura e outros;

• Garantir a aplicação dos recursos obtidos através da extração do petróleo na região pré-sal, a extração de minérios e usinas hidroelétricas da Amazônia, para o Teatro da Floresta.

• A criação de um programa nacional de ocupação de propriedades públicas ociosas, para sede do trabalho e pesquisa dos grupos de teatro de rua;

• A extinção de todas e quaisquer cobranças de taxas, bem como a desburocratização para as apresentações de artistas-trabalhadores, grupos de rua e afins, garantindo assim, o direito de ir e vir e a livre expressão artística, em conformidade com o artigo 5º da Constituição Federal Brasileira;

• Que os editais para as artes sejam transformados em leis para garantia de sua continuidade, levando em consideração as especificidades de cada região (ex: custo amazônico);

• Que quaisquer editais públicos ou privados tenham maior aporte de verbas e que seja publicada a lista de projetos escritos, contemplados e suplentes, e a divulgação de parecer técnico de todos os projetos avaliados, para garantir a lisura do processo;

• Promover o maior intercâmbio entre o Brasil e demais países da América Latina, através de programas específicos (exemplo: países que integram a Amazônia internacional);

• Exigimos o apoio financeiro da FUNARTE aos Encontros Regionais, Nacionais e Internacionais, no valor equivalente ao montante que é repassado àqueles realizados pela Associação dos Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil.

• Propomos como indicativo a inclusão nas Universidades, instituições de ensino e escolas técnicas, matérias referentes ao estudo do Teatro de Rua, da Cultura Popular Brasileira e do teatro da América Latina, bem como estas IES garantam o registro e a constituição histórica da diversidade cênica do Teatro da Floresta e obrigatoriamente um estudo do imaginário da Amazônia.

• A valorização e financiamento das publicações e estudos de materiais específicos sobre teatro de rua e manifestações tradicionais Amazônicas, inclusive as contemporâneas, respeitando sua forma de saber enquanto registro.

• Que o MINC realize uma reforma na diretoria de Artes Cênicas da FUNARTE, transformando as atuais coordenações em diretorias setoriais de Teatro, Circo e Dança.

• Inclusão dos programas setoriais nos mecanismos do Pro cultura;



O Teatro da Floresta constituiu esta carta tendo como apoio as cartas desenvolvidas nos encontros presenciais da Rede Brasileira de Teatro de Rua, endossando que o Teatro de Rua é um símbolo de resistência artística, comunicador e gerador de sentido, além de ser propositor de novas razões no uso dos espaços públicos abertos. Levando em consideração as especificidades e a diversidade da região e do povo amazônico, com suas vozes, experiências e saberes.



Reunidos nestes 10 dias, ficou acordado que os próximos encontros da Rede Teatro da Floresta serão sediados nos festivais de caráter nacional e internacional da região amazônica.





25 de Julho de 2010

Praça das Caixas D'água, Porto Velho / RO

Rede Teatro da Floresta

http://redeteatrodafloresta.ning.com/







Anexo:



CUSTO AMAZÔNICO



Existe uma região no Brasil composta por indígenas, europeus, asiáticos, negros africanos, caboclos e nordestinos brasileiros migrados, e principalmente, e quase totalmente, por uma mistura-mesclada de todos os outros citados, o “Homo amazonius”, ser humano adaptado ao seu território.

Formada pelos sete Estados da região norte, mais parte do Maranhão e parte do Mato Grosso, esta região, a Região Geoeconômica da Amazônia ou Complexo Regional Amazônico, ocupa 59% por cento do território desse país, cerca de 5,1 milhões de quilômetros quadrados de barreiras geográficas, que obriga o ser humano adaptado a, dentro de um único Estado, levar 32 horas de viagem fluvial para ir de um município a outro, sem opção terrestre ou aérea. Ou, dentro de um único município, percorrer 900 km de um distrito até a sede urbana, por terra (digo, lama), sem opção fluvial ou aérea.

Ser humano adaptado a apenas duas estações: a de poeira, no verão, e a de lama, no inverno, se estiver em área terrestre, e a de lama, no verão e de muita água, no inverno, se for ribeirinho. O Clima equatorial úmido, predominante na região, gera altas taxas de precipitação pluviométrica. No verão chove todo dia, no inverno chove o dia todo. Em qualquer das situações, terá que enfrentar a malária, a dengue, a leishmaniose, e, a cada novo período de lama, o aumento de cerca de 40% no preço dos alimentos e medicamentos que podem ser comprados (se tiver onde comprar). Quem tem equipamentos eletrônicos ou qualquer outro bem com um mínimo de sensibilidade à umidade, necessita de um estado permanente de manutenção ou perda total de documentos, objetos, acervos.

Em centenas de lugarejos e comunidades de dezenas de municípios paga-se muito e arrisca-se a vida para simplesmente ir e vir, pois as únicas vias de acesso são os rios e igarapés da maior bacia hidrográfica do planeta, com quatro milhões de quilômetros quadrados só na Amazônia brasileira. Os barcos, meios de transporte predominantes na região, no geral, não têm equipamentos de segurança, a maioria não possui coletes salva-vidas, proteção contra o escapamento de fumaça do motor e nem contra o eixo de funcionamento (gerando um dos índices mais elevados de escalpelamento do mundo), sem conforto e limpeza. Ainda assim, é caro. O diesel que alimenta esses barcos sai de São Sebastião (SP) e percorre de 6 a 10 mil quilômetros para ser consumido e, nisso, entre navios, barcos, caminhões e muitos dias de viagem, gasta 10 milhões de reais, transformando-se no diesel mais caro do país.

Esse mesmo diesel torna a energia 5 vezes mais cara na região, pois é gerada em usinas termelétricas alimentadas...pelo diesel, que, além, jogam no ar, por ano, o equivalente a toda a frota de veículos da cidade de São Paulo no mesmo período. Com essas condições, existem distritos, comunidades e até regiões da Amazônia brasileira sem energia elétrica. Também, no trecho amazônico da transamazônica, 66% da população não têm água encanada e 27% não tem instalações sanitárias.

O ser humano adaptado, mesmo o mais adaptado, com toda a certeza prefere condições mais adequadas de vida. Disse adequadas. Ele não precisa de um prédio de apartamentos, nem de um carro do ano, alguns nem de trabalho precisam, pois já tem, mas de condições sanitárias melhores, comodidades que a energia elétrica estável permite, água encanada, médico, escola, arte, reconhecimento cultural. Os governos, sem disposição política de chegarem até essas pessoas, passaram anos estimulando o êxodo e hoje 73% da população amazônica vive nas cidades. Estes enfrentam problemas semelhantes aos das cidades do sul e do sudeste do Brasil (bolsões urbanos de desemprego, violência, drogas, sobrevida), mas, sem infraestrutura. Os outros, mais adaptados, que por algum motivo continuam na floresta ou nas beiras de estradas e de rios, sobrevivendo da pesca, do extrativismo vegetal ou da agricultura familiar, parecem ter menos direitos sociais de cidadania que os das cidades (eles não vivem nas cidades mesmo).

Sim, as políticas públicas no Brasil apresentam vários problemas. Mas, para a Amazônia, submetem o amazônida a um processo econômico que não o considera, não considera as características da região e, por conseguinte, não respeita a sua cultura. Repete experiências que deram certo noutros contextos culturais e naturais, concebe povo e natureza como primitivos e atrasados. A idéia de desenvolvimento sustentável, que considera o meio e seu sujeito, insere suas necessidades presentes e prevê condições futuras, não é essencial nessas políticas, aparece limitada a alguns programas de alguns órgãos dos setores ambientais. Ou seja, a grandeza, a riqueza e a diversidade da floresta são reconhecidas, mas o ser humano que a habita, não.

Falemos então dos custos disso. Esta região possui o 3º Produto Interno Bruto do Brasil (perdendo para o Centro-Sul e para o Nordeste), com uma economia baseada no extrativismo animal, vegetal e mineral. Algumas multinacionais estão instaladas na região, sobretudo na serra dos Carajás (Pará), de onde se extrai parte do minério de ferro do país. Alguns pólos industriais se destacam na região, a saber, o Pólo Petroquímico da Petrobras, com extração de petróleo e gás natural nos poços de Urucu, em Coari/AM, o Pólo Industrial de Manaus (PIM) e o Pólo de Biotecnologia, também em Manaus. O PIM fabrica a maioria dos produtos eletrodomésticos brasileiros valendo-se de uma política governamental de isenção de impostos.

Ainda que Manaus seja o terceiro Estado brasileiro em PIB per Capita, com R$ 13.534, Belém, Boa Vista e Palmas estão entre os do fim da fila, com R$ 4.875, R$ 4.749 e R$ 4.392, respectivamente. No ranking do Indice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Estado que chega mais perto do topo é o Mato Grosso, em 11º lugar. Vai seguido sequentemente pelo Amapá, Amazonas, Rondônia, Tocantins, Pará, Acre e Roraima. O Maranhão é o penúltimo. O Acre tem o município líder na taxa de analfabetos: 60,7% dos 4,45 mil habitantes de Jordão não sabem ler ou escrever.

(Para falarmos um pouquinho de teatro, segundo o Anuário de Estatísticas Culturais, publicado pelo MinC em 2009, a Região Norte tem 46 teatros, perde para todas as regiões. Não vou nem falar dos 689 teatros do Sudeste. Os últimos cinco Estados da lista em quantidade de teatros são do Norte. A maioria dos equipamentos teatrais da região, senão todos, fica nas capitais. Palmas (TO), por exemplo, tem um teatro para 220 mil habitantes).

Considerando que isso seja resultado de uns quatro séculos de exploração em favor das metrópoles e da nação, ainda é um lugar onde o de fora aponta o que deve ser valorizado e explorado, indica o tipo de cultura apreciável, mostra o que se esperar para o futuro. Uma história de anulação da identidade cultural do ser humano da região, uma imposição de valores. Assim, a Região Geoeconômica da Amazônia ou Complexo Regional Amazônico, entrou nesse século com sua identidade cultural em risco de desaparecimento, substituida por uma imagem estrangeira de exotismos, sem um projeto firme de desenvolvimento adequado à sua gente e à sua diversidade de expressão.

Há uma situação a ser reparada, cuja responsabilidade é da nação. Há um reconhecimento a ser deflagrado sobre as possibilidades de um ser moderno, integrado à natureza, mesmo que em centros urbanos, sujeito da sua própria cultura (no caso dessa região, pela diversidade, diremos: culturas), capaz de escrever sua história. Atitude de grandeza humana para além de detrimentos entre regiões e sim de completude de uma expressão nacional. O “Homo amazonius” deve apontar seus próprios modelos, com o respeito e o reconhecimento das demais populações brasileiras.



População da Amazônia em 2009 (estimado)

24.728.438



Fontes:

Revista Veja Especial Amazônia, editora Abril, ano 42, setembro 2009. http://veja.abril.com.br/especiais/amazonia/index.html

http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=354

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_estados_do_Brasil_por_IDH#IDH_Renda

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142002000200008 Amazônia: uma história de perdas e danos, um futuro a (re)construir. de Violeta Refkalefsky Loureiro (mestre em Sociologia pela Unicamp, doutora em Sociologia pelo Institut des Hautes Études de l'Amérique Latine (Paris) e professora da Universidade Federal do Pará).

http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2009/10/cultura_em_numeros_2009_final.pdf

http://www.amazonia.org.br/