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terça-feira, 29 de setembro de 2020

ESTUDOS DE TEATRO(S) DE RUA



ESTUDOS DE TEATRO(S) DE RUA

“QUEM DÁ TANTO A CARA Á TAPA
  PODE DAR A CARA Á TELA
  VEM COM A GENTE NESSE EMBALO
  NOSSA ARTE CONTINUA
  EU NÃO ME CALO 
  ME COLOCO E EMBARCO NELA
  ESTUDOS DE TEATROS DE RUA”
      (música de Toni Edson)

RESUMO

ESTUDOS DE TEATRO(S) DE RUA é um curso livre, promovido de forma gratuita e virtual através de inscrições e apresentações pelo nosso canal de Youtube, pretendemos dialogar o conteúdo das histórias das Artes Cênicas na Rua, seus artistas e fazedorxs (rueirxs), as principais obras e grupos de referência, as questões sociais e políticas de seus fazedorxs através dos manifestos, manifestações e festivais, como também as possíveis abordagens e perspectivas contemporâneas. Serão destacados as pedagogias e locais de ensino e pesquisa de conhecimentos específicos desta modalidade teatral, pelas escolas, formações pelos grupos, disciplinas acadêmicas e suas produções (livros, editais, TCCs, mestrados, teses e produções audiovisuais etc.).

Propomos um curso que abriga abordagens a um só tempo confluentes, divergentes, complementares e, por vezes, conflitantes sobre os Teatros de Rua do país.

Este Curso está vinculado diretamente a disciplinas da graduação de Teatro Licenciatura e de projetos de extensão e ainda com o Grupo de Pesquisa CNPq UFAL Brincantuar: artífices cênicos... que tem em uma de suas linhas de pesquisa as Artes Cênicas de Rua.

A comissão organizadora é composta por professores de diversas Universidades e grupos do país trazendo seus projetos, pesquisas, grupos de atividades e toda a experiência em Artes Cênicas na Rua.

Dividido em três momentos


BREVE HISTÓRICO

Esse projeto nasceu da necessidade de registros, diálogos e trocas em plena Pandemia de Covid 19 de 2020. Devido à necessidade de encontrar momentos de reflexão, aprendizado e trocas, alguns integrantes da Rede Brasileira de Teatro de Rua (RBTR) - que estava desenvolvendo seus encontros virtuais - decide por esta iniciativa dos ESTUDOS DE TEATRO(S) DE RUA. Para tanto, agregamos professores acadêmicos, pesquisadores, profissionais e alunos (da Ufal e da UNIR), para assessorar as questões conceituais e estruturais deste webinário.

Um dos encontros


OBJETIVOS

O objetivo deste curso é estimular o interesse pela pesquisa, experimentação e prática dos Teatros de Rua, ressaltando as dimensões existenciais, políticas, sociais, culturas e poéticas do fazer Artes Cênicas na Rua. Para isso, vamos compartilhar e dialogar com os profissionais acerca de um amplo espectro de experiências, fazeres e estudos que enveredam por diferentes campos do saber, tais como estudos da cena, filosofia, sociologia, antropologia, psicologia, estudos culturais e religião, para citar alguns exemplos.


EQUIPE

Comissão acadêmica e organizadora:

Profa. Dra. Ana Carneiro (UFU)

Ana Maria Pacheco Carneiro: http://lattes.cnpq.br/2871760285264620

Prof. Dr Licko Turle (Instituto Artivista)

Noeli Turle da Silva / Licko Turle: http://lattes.cnpq.br/6181670089929835

Profa. Dra. Jussara Trindade (UNIR)

Jussara Trindade Moreira: http://lattes.cnpq.br/2455489235718674

Prof. Dr Ivanildo Piccoli (Ufal)

Ivanildo Lubarino Piccoli dos Santos: http://lattes.cnpq.br/3371038837189854

Prof. Ms Alexandre Falcão (UNIR)

Alexandre Falcão de Araújo: http://lattes.cnpq.br/0059449047020903

Prof. Ms. Adailtom Alves (UNIR)

Adailtom Alves Teixeira: http://lattes.cnpq.br/7072637053498414

Profa. Ms. Vanéssia Gomes 

Vanéssia Gomes dos Santos; http://lattes.cnpq.br/4942315555756162



Equipe técnica:

Alan Cardoso, Alex Zampielly, Aline Almeida, Anne Luz, Josival Silva, Louise Brandão, Luiz Santhos, Roberta Brito, Rosy Farias, Stephanie Caroline e Victor Satti,


Contato: 

Estudos de Teatro(s) de Rua de 24 de junho a 19 de dezembro de 2020

Onde: Curso online, pelo canal do 

Youtube: https://www.youtube.com/channel/UC072UB1oDLXSp8s5-UJ2aYQ/  

email: estudosteatroderua@gmail.com

Instagram/Facebook: @estudosdeteatroderua  

Twitter: @estudosteatro

                                                  



sexta-feira, 17 de julho de 2020

A hora e a vez das mulheres protagonistas da cena (dentro e fora do palco)


Durante a XIII Mostra Lino Rojas, organizada pelo Movimento de Teatro de Rua de São Paulo (MTR/SP) no segundo semestre de 2019, tive a oportunidade de assistir, na Casa de cultura do Itaim Paulista, zona leste da capital paulista, ao espetáculo Vulcânicas - Ensaio sobre nossos corpos femininos em luta, inspirado nos livros Calibã e a Bruxa, de Silvia Federicci e Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés, em montagem da companhia também denominada Vulcânicas. Fiquei muito contente em ver o novo caminho coletivo trilhado por um conjunto de mulheres artistas experientes e aguerridas: Cinthia Arruda, Ju Flor e Natali Santos, oriundas do longevo e importante grupo Pombas Urbanas. A obra teve a direção de Aysha Nascimento, artista integrante do coletivo Negro de Teatro e da Cia. dos Inventivos e a dramaturgia de Rafaela Carneiro, integrante do grupo também feminista Madeirite Rosa e, por sua vez, artista madura oriunda da Brava Companhia.
Cinthia Arruda, Natali Santos e Ju Flor em Vulcânicas. Galpão do Folias.
Foto: Sheila Signário.

Considero que a obra expresse tanto um momento de militância e pesquisa artística específico extremamente relevante dessas atrizes-criadoras, em torno das questões interseccionais de gênero e classe, como também seu processo histórico de luta e resistência cultural na zona leste de São Paulo, onde está sediada a companhia. Porém, diferentemente de percursos anteriores, desta vez o trabalho se dá a partir do protagonismo feminino na cena e na criação artística.
                Como é sabido de todes que tenham algum nível de consciência de classe, o acesso aos recursos públicos e privados de fomento às artes e a cultura é absolutamente desigual, com privilégios ligados à classe, raça, gênero e distribuição da produção cultural no território das cidades (especialmente em relação à dicotomia centro-periferia). Nesse sentido, em que pese a qualidade artística do trabalho das Vulcânicas, estou plenamente consciente que seu sustento e continuidade – assim como de tantos outros coletivos periféricos – necessita de um olhar diferenciado por parte do poder público, para que não se reproduza a exclusão histórica que privilegia grupos mais centrais e, frequentemente, mais ligados aos circuitos acadêmicos e da crítica teatral e ainda, cuja predominância de poder, muitas vezes, mantém traços mais evidentes do patriarcado. Por esse e outros motivos associados, no que tange à crítica teatral, dedico-me principalmente ao teatro de rua, na busca de jogar luz sobre essas potentes experiências e reverter parte do preconceito que acomete essa modalidade teatral, mas começo também a dedicar mais atenção aos coletivos que se dedicam às lutas anti-opressão específicas (também chamadas, talvez de forma equivocada, de lutas identitárias) por vê-las como determinantes para o enfrentamento das questões que ferem nosso tecido social.
Apresentação de Vulcânicas na ocupação Nove de Julho. Foto: Dayse Serena.

Ainda que o espetáculo de estreia do coletivo Vulcânicas não seja propriamente teatro de rua, suas criadoras, por também serem atrizes de rua, trazem em seu jogo de cena e em sua temática, eminentemente popular e classista, muitos dos aspectos que me atraem no teatro de rua e que proporcionam ampla comunicação com o público das cidades. Na obra, de estrutura assumidamente épica, memórias documentais e ficcionais se mesclam entre imagens de trabalhadoras periféricas, mães, filhas, esposas, feiticeiras (bruxas, santas ou nenhuma dessas opções maniqueístas?) apresentadas de forma tocante e hábil pelas atrizes, que também são musicistas, cantam e tocam belamente em cena. Sua narrativa, em que pese alguns pontos e significações que podem ser aprimorados, no sentido das costuras dramatúrgicas e de encenação, é tocante e envolvente, como manifesto,  denúncia e acalanto em mulheres que, a despeito de toda a violência histórica, aprenderam a cuidar e estão (estamos) aprendendo a se cuidar, como nos lembra uma bela canção do espetáculo:
Fazer-se sã, neste lugar, apenas existir
E já não ser, para lhe agradar
Não vim pra lhe servir
 
Natali Santos. Apresentação realizada no Galpão do Folias.
 Foto: Sheila Signário.
Por isso e vários outros méritos, desejo longa vida ao espetáculo Vulcânicas...[1] e a seu coletivo homônimo, torcendo para que ele possa circular por todas as regiões da cidade de São Paulo e em muitas outras localidades mais, proporcionando beleza, diversão (no sentido brechtiano) e inspiração pra luta e resistência das mulheres e para o combate ao machismo estrutural que sangra diariamente nossa sociedade e nossas relações humanas.





Alexandre Falcão de Araújo
Professor do curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Rondônia – UNIR
Coordenador do Grupo de Trabalho Artes Cênicas na Rua, da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-graduação em Artes Cênicas – ABRACE



[1] Parte da obra, adaptada para o audiovisual (de forma inteligente e sensível) por conta do contexto da pandemia do COVID 19, pode ser conferida no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=d-TL-mHF6KM

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Fascismo à brasileira


Adailtom Alves Teixeira

Um a cada oito casos de COVID-19 no mundo está no Brasil. Ultrapassamos mais de um milhão de casos confirmados (no mundo todo são pouco mais de oito milhões) e mais de 49 mil mortes, fora a subnotificação. No entanto, quando olhamos para o governo é ainda mais desesperador, pois não vemos nenhuma ação no sentido de enfrentar seriamente essa situação. Não temos se quer alguém da área da medicina no Ministério da Saúde. O que vemos é apenas um jogo de acusações para com os governos estaduais e um governo central acuado, buscando defender os seus devidos os últimos acontecimentos. Somado o descaso e as ações dos grupos que lhe dão sustentação, podemos afirmar: sim, o fascismo caminha a passos largos no Brasil.
Tomarei aqui as ideias apresentadas em uma palestra de Vladimir Safatle, para expor a concepção de um fascismo à brasileira, pois, se alguns anos atrás usávamos em seu sentido mais banal, como uma exconjuração, uma forma de distratar o outro, hoje, podemos utilizar em seu sentido analítico. Vejamos quatro características do fascismo, aí vocês podem dizer se estão ou não presentes no Brasil – e não necessariamente a apenas a um ano, mas, algumas (ou todas?) características são históricas.
A primeira característica do fascismo é o culto à violência. Esse culto pode aparecer de muitas formas: nas falas como ser favorável à tortura, no desejo de armar uma parte da sociedade brasileira, nas milícias etc. O que leva, em certo sentido, a um Estado paralelo, uma espécie de Estado paramilitar, os exemplos no Rio de Janeiro, a greve de policiais no Ceará e a forma de atuação das polícias nas periferias brasileiras. Isso leva a um Estado suicidário, concepção que Safatle pinça de Paul Virilo. Isto é, é uma etapa posterior ao Estado necropolítico. A morte se banaliza, no Estado suicidário um amplo espectro de pessoas são lançadas à condição de coisa, logo, são sujeitos matáveis. São mais de 65 mil mortes violentas por ano no Brasil. Mas vamos trazer pro hoje, lembram da dança com caixões ou das buzinas em frente ao hospital? Essa banalização da morte inclui quem banaliza, afinal ao irem para rua colocaram as próprias vidas em jogo.
A segunda característica é uma paranoia identitária: um nacionalismo exacerbado. A pátria, seus símbolos (hino, bandeira), as fronteiras, juntam os sujeitos de maneira cega. Mais, esses grupos elegem um inimigo que precisa ser combatido. É nessa perspectiva que qualquer alusão ao mínimo de direitos, torna-se problemático, pois todos viram comunistas, de reais comunistas até ao João Dória. A coisa terrível nisso tudo é a cegueira, pois patriotismo significa um mínimo de defesa dos recursos da pátria, no entanto, o que vemos é um governo entreguista e dizendo isso às claras, afinal o que é “passar a boiada”, “vamos vender essa p... logo”? Assim, essas contradições são absorvidas e causam uma tremenda opacização nos ditos patriotas, sendo, muitos deles, os próprios expropriados.
Outra característica, a terceira, é uma profunda insensibilidade para com os historicamente marginalizados, isto é, indígenas, LGBTQI+, negros (que apesar de serem maioria, devido a seu pouco poder social, enquadram-se como minoria). Essa insensibilidade implode a solidariedade, afeto fundamental para a construção de qualquer sociedade que se pretenda e queira ser um pouco mais igualitária. E claro que, nesse aspecto, a lógica neoliberal cumpre papel fundamental, pois priorizou e a continua a priorizar uma extrapolação do indivíduo e da propriedade privada.
A quarta característica do fascismo à brasileira é a transferência do poder a alguém que estar fora da lei, alguém que quebra as regras todo o tempo. Alguém que manifesta o desejo anti-institucional, posto ser o representante daqueles que estão, também historicamente, fora do poder decisório. No entanto, não significa que seja menos político, pois o outsider centraliza esse desejo de poder desse grupo, lhes representa, isto é, um determinado corpo social transfere o poder a alguém igual a si mesmo, que pensa e age igual a si. Esse alguém detém o poder, mas é simples, é igual àquele sujeito que lhe dá sustentação.
Percebam que, desse ponto de vista, muitos dos elementos, ou mesmo todos, sempre estivem presente na história brasileira. Não à toa que, sempre que se busca historicamente exemplos de fascismos fora da Europa, vem da África do Sul, que pariu o apartheid, e o Brasil, em que a história dos integralistas são um exemplo. Esses elementos fascistas estão presentes a bastante tempo e representa uma camada populacional entre 20 e 30% da população. O Brasil sempre foi extremamente conservador.
Para irmos encerrando essa reflexão, cabe destacar que Bolsonaro e seu governo foi gestado por seis forças: 1) o setor financeiro; 2) as igrejas, sobretudo as neopentecostais; 3) o agronegócio; 4) as Forças Armadas; 5) a Justiça ou grande parte desse setor e; 6) a grande imprensa brasileira. Apenas os dois últimos saltaram fora desse governo suicida, os demais continuam apoiando e lhe dando sustentação.
Se a esquerda quiser avançar – esquerda que é esquerda deve ter, no mínimo, como horizonte a igualdade radical e a soberania popular – precisa fazer o dever de casa e construir um programa e saber onde quer chegar, mas não pode mais deixar de lado, deixar de discutir esses elementos fascistas elencados acima e presentes em nossa história e que hoje nos governa. Nunca enfrentamos o lado terrível de nossa história. Ninguém foi julgado, por exemplo, pelas torturas que cometeram durante a ditadura civil-militar, os jovens negros continuam a morrer e continuamos, como sociedade a olharmos pro lado. Para criar uma nova subjetividade, capaz de gestar uma nova sociedade, se faz necessário, além das outras tarefas, realizarmos esses enfrentamentos históricos.

domingo, 31 de maio de 2020

Salvar as pessoas. Elas salvarão a arte e a cultura


Adailtom Alves Teixeira

Tornou-se manifesto que tudo o que diz respeito à arte deixou de ser evidente, tanto em si mesma como na sua relação ao todo, e até mesmo o seu direito à existência.
Theodor Adorno – Teoria Estética

A despeito de Raymond Williams, em seu livro Palavras-chave, considerar o termo cultura complexo e complicado, tratemos um pouco dessa questão – ainda que, como se verá, não será esse nosso foco, porém, importante para entendermos a urgência de nosso tempo.
Cultura, em sua raiz, vem de colere, relacionando-se com habitar, cultivar, proteger e honrar com veneração. Se o verbo habitar se desenvolve para colonus, até chegar em colônia e honrar com veneração para culto, cultura assume o sentido principal de cultivo ou cuidado. Ou seja, se o sentido inicial se referia a lavoura, “o cuidado com o crescimento natural” no dizer de Williams, no século XVI o cuidado natural incluiu o desenvolvimento humano: cultivo da mente e do espírito. Assim, podemos afirmar, cultivamos nosso espírito com o que colhemos da cultura.
Não percamos de vista, portanto, a ideia de cultivo e cuidado relacionados à cultura. Logo, as artes são uma parte da cultura, mas não toda a cultura. O desenvolvimento histórico, no entanto, faz com que, via de regra, falemos de cultura como sinônimo de arte. Para ficarmos ainda com o autor galês, este afirma que isso ocorreu principalmente a partir do século XVIII. Já as artes, poderíamos definir como objetos sensoriais diversos que portam peculiaridades – na forma, na recepção, no suporte, na produção etc. – e foram criadas como uma resposta ao medo humano diante da natureza. Não obstante, o medo veio carregado também de admiração e, talvez, daí herdamos ou buscamos nosso senso de beleza, inspirando-nos na harmonia presente na natureza.
Nascemos em um mundo da cultura e somos cultivados pelo que há nela. Assim, se há ódio, podemos receber essa cultura. Mas herdamos também toda a produção artística humana, que, em larga medida, são exemplos de caminhos a serem seguidos em um caminho de sensibilidade, de solidariedade e de crítica àquilo que não seja saudável ao cultivo do que nos faz humanos. Contra a cultura do ódio e da morte, há que se cultivar a cultura da vida. Muitos são os caminhos, mas é certo que esse percurso passa pelas artes.

A urgência de nosso tempo
No momento, pode-se dizer que as pessoas do mundo inteiro vivem o medo de algo invisível advindo da natureza. A pandemia nos colocou em insegurança. Para enfrentar esse momento muitos têm recorrido às artes. Seja para acalmar, seja para passar o tempo, seja para buscar alento, seja para ajudar na construção de outros mundos, outras possibilidades, inclusive distópicas. Músicas, filmes, livros, contação de histórias, teleteatro, entre outras. No Brasil, porém, a esmagadora maioria dos artistas que tem nos ajudado a criar mundos, possibilidades e a suportar esse nosso tempo, estão completamente sem renda, ainda que continuem a produzir. Claro que a arte é maior que qualquer artista individualmente e todas elas sobreviverão a este momento. Mas é justamente a arte que tem nos mostrado ao longo de milênios, de séculos, a importância do cuidado do outro. No dizer do poeta Ray Lima: “cuidar do outro, é cuidar de mim”. Salvemos as pessoas! Não só os artistas, mas não esqueçamos deles. Salvemos as pessoas. Elas salvarão as artes. Sejam elas produtoras ou fruidoras.
Nesse momento difícil que atravessa a sociedade brasileira, de descrédito da ciência, do uso do medo e do ódio na política, de perseguição a intelectuais e artistas, faz-se necessário ficarmos atentos para não retornamos no tempo, não nos perdemos nessa floresta escura. Pois todo esse caldo terrível também é cultura, produz imaginário, cultiva nosso espírito. Não é fácil enfrentar o vírus biológico e o social. Ainda assim, os artistas resistem e se mobilizaram para pressionar o Congresso e o Governo Federal. Em todo o Brasil, por via remota, os segmentos culturais se reuniram e conseguiram fazer com que o PL 1075/20 fosse votado na Câmara Federal. A Lei recebeu o nome de Aldir Blanc, numa justa homenagem a este grande compositor. O próximo passo é no Senado e depois a assinatura do presidente. Nas negociações perderam parte dos recursos e outros pontos importantes. Ainda assim, a Lei é fundamental para a sobrevivência dos artistas e para a continuidade de suas atividades. Cabe ressaltar que os recursos destinados virão da própria área da cultura. A Lei apenas disciplina o destino destes recursos. Existem também debates e proposições em alguns estados e municípios, todos importantes, mas a Lei federal tem o escopo de abrangência nacional.
Todos estão em um processo de reinvenção. As artes também já passam por essa mudança, mas não podem se reinventar apenas nas plataformas digitais – ainda que fundamental nesse momento. Para tanto, os artistas precisam continuarem existindo. Eles foram os primeiros a pararem e serão os últimos a retornarem. E quando retornarem, muitas artes vão se reinventar em relação direta com seu público. Para tanto, para que o retorno seja potente, há que existir artistas. Que a aprovação da Lei Aldir Blanc seja rápida. Os artistas têm pressa! Há que se continuar a semear cuidados e produzir imaginários plenos de humanidade.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Carta Aberta da Rede Brasileira de Teatro de Rua pela Aprovação da Lei de Emergência Cultural



Carta Aberta da Rede Brasileira de Teatro de Rua – RBTR – pela
Aprovação da Lei de Emergência Cultural

Para: Parlamentares do Congresso Nacional e relatores(as) do Projeto de Lei (PL) 1075/2020.


A Rede Brasileira de Teatro de Rua (RBTR), criada em março de 2007 em Salvador/BA, é um espaço físico e virtual de organização horizontal, sem hierarquia, democrático e inclusivo, agregador de artistas, ativistas e coletivos nesta esfera do teatro brasileiro, bem como pesquisadoras(es) das artes cênicas, educadoras(es) populares e professoras(es) de escolas e universidades, além de profissionais dos mais diversos campos da Cultura, nos 26 estados do Brasil e Distrito Federal.
Desde 2007, realizamos 22 encontros presenciais, contemplando quase todos os estados brasileiros. Neste ano, o 23º Encontro seria realizado em Serra Talhada, Pernambuco, que foi adiado devido a pandemia da Covid-19. No entanto, através de plataformas virtuais, reunimos nas últimas duas semanas artistas de mais de vinte estados e do Distrito Federal, somando articuladoras(es) de mais de 40 municípios presentes, além de artistas outros países como Argentina e Portugal. Nestes encontros, foi unânime a necessidade da aprovação IMEDIATA do PL 1075/2020 - que conta com projetos de lei 1089, 1251 e 1365 (todos de 2020) apensados - em âmbito nacional, auxiliando emergencialmente os inúmeros artistas de todos os Estados em meio e após a pandemia COVID-19.
Entendemos que com a suspensão dos eventos municipais, estaduais e nacionais como ações, feiras, apresentações, espaços, entre outros eventos, há uma verba que pode ser direcionada aos artistas, em formatos de bolsas e auxílios e não em forma de editais competitivos. É hora de valorizar a nossa cultura, que é mais do que essencial na reconstrução de uma sociedade sadia.
Contamos com o mais pronto trabalho dos(as) parlamentares e relatores(as), nesses projetos de lei que, em caráter de urgência, significam a sobrevivência de grupos, espaços e artistas de todo país. Já somamos mais de 50 dias de pandemia e nenhum plano efetivo do Estado foi feito. Pagamos nossos impostos. Atuamos em nossas comunidades realizando ações de caráter público e tornando acessível às cidadãs e cidadãos o acesso à arte e as culturas. Exigimos que os senhores e senhoras atuem agora com responsabilidade e prontidão. Sem mais,

Assinam a carta:

“Amorada” – grupo de pesquisa Crítica aos espetáculos de rua: critérios, reflexão e produção de críticas, Instituto de Artes, UNESP, São Paulo/SP
Amora - Santo André/ SP
Arruaça, Mossoró/RN.
Árvore casa das Artes, Vitória/ES
Associação Cultural Circo Paratodos, Mariana/MG
Associação de Teatro de Parauapebas - Pará
Associação Cultural Joana Gajuru - Maceió/AL
Associação Cultural Palhaços Trovadores, Belém/PA
Associação de Capoeira Nacional-Origem Angola Núcleo de Umarizal/RN
Associação Teatral Boca de Cena, Macapá/AP
Atores em Cena - Belém/PA
Bambare Arte e Cultura Negra – Pará
Bojiganga de Artes, São Paulo/SP.
Brava Companhia, São Paulo/SP
Cafua Espaço Cultural, Chapada dos Guimarães/MT.
Casarão do Boneco - Belém/PA
Centro Cultural Rosa Luxemburgo -Ananindeua/PA
CHAP - Companhia Horizontal de Arte Pública/ RJ
Cia de Teatro de Potoqueiros - Belém/PA
Cia. Colcha de Retalhos / São Paulo
Cia Arte e Riso - Umarizal/RN
Cia Benedita na Estrada - Campinas/SP
Cia Candongas - Belo Horizonte/MG
Cia Canina de Teatro de Rua e Sem Dono/SP
Cia Escarcéu/ Mossoró/RN;
Cia LaCasa/AL
Cia Lamparim de Circo e Teatro - Quixeramobim/CE.
Cia Negra de Teatro - Belo Horizonte/MG
Cia Pierrot Lunar - Belo Horizonte/MG
Cia Teatro dos Ventos, Osasco/SP
Cia Teatro Madalenas, Belém/PA
Cia. Bornal de Bugigangas, Assis/SP
Cia. Estável de Teatro, São Paulo.
Cia. Os Palhaços de Rua - Londrina/PR
Cia. Visse e Versa de Ação Cênica - Rio Branco/AC
Circo Teatro Capixaba - Divino de São Lourenço/ES.
Circovolante, Mariana/MG
Clowns de Shakespeare, Natal/RN
Cóccix Cia Teatral, Belo Horizonte/MG
Coco do Gavião – Umarizal/RN
Coletivo CLanDesTino - Dourados/MS
Coletivo Fulô - Crato - Ceará/ Óbidos - Portugal.
Coletivo MENELÃO de Teatro - São Bernardo do Campo/ SP
Como Lá em Casa Teatro e Cia Bella, São Paulo/SP
Companhia Cultural Ciranduís - Janduís/RN
Companhia de Teatro Soluar - João Pessoa/PB
Companhia KHAOS Cênica - Canoas/RS
Cooperativa de Trabalho InMinas de Teatro - Minas Gerais
Corredor Latinoamericano de Teatro- BR.
Curta Dança, BH/ MG
Dirigível Coletivo de Teatro - Belém/ PA
Ecoaecoa Coletivo - Porto Alegre/RS.
Eduardo Henrique– São Paulo
Encontro Internacional de Dramaturgia Emergente, Minas Gerais
ERRO Grupo - Florianópolis/SC
Espaço das Artes de Belém/PA
Esquadrão da Vida - Brasília/DF
Fábrica de Teatro do Oprimido de Londrina, Londrina/PR.
Federação de Teatro do Acre - FETAC/AC
Festival de Teatro em Casa, BH/MG
Francisco Gaspar - São Paulo/SP
Gertrudes está Louca - São Paulo.
Gita - Grupo de Investigação e Treinamento Psicofísico do Atuante - PA
Grupo A Pombagem - Salvador / BA
Grupo Cirquinho do Revirado, Criciúma/SC
Grupo de Teatro Unipop - Belém /PA
grupo de teatro Artes Piracui, Macapá/AP
Grupo de teatro De Pernas Pro Ar -Canoas/RS
Grupo de Teatro Flor de Lys - Benevides/PA
Grupo de Teatro Maré, Macapá/Ap.
Grupo de Teatro Pirlimpimpim. Macapá/AP.
Grupo de Trabalho Artes Cênicas na Rua, da Abrace – Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-graduação em Artes Cênicas
Grupo Experimental de Teatro de Rua e Floresta Vivarte, Rio Branco/AC
Grupo Folhas de Papel - Belém/PA
Grupo Gambiarra, Belo Horizonte/MG
Grupo Imbuaça/SE
Grupo Konga / RJ
Grupo Manjericão. Porto Alegre/RS.
Grupo Maria Cutia - Belo Horizonte/MG
Grupo Nóis de Teatro -Fortaleza/CE
Grupo Olho Rasteiro, Curitiba/PR
Grupo Ponto Com Arte, Belo Horizonte/MG
Grupo Populacho - Guarulhos/SP
Grupo Quem Tem Boca é Pra Gritar- João Pessoa/PB
Grupo Rosa dos Ventos - Presidente Prudente/SP.
Grupo Ser Tão Teatro/ PB
Grupo TAMTAN Tanquinho/Bahia
Grupo teatral Hemisfério do Amapá.
Grupo Teatro de Caretas – Fortaleza/CE
Grupo TIA, Canoas/RS.
Grupo Tibanaré - Cuiabá/MT
Grupo Ueba Produtos Notáveis de Caxias do Sul/RS
Grupo Xingó de São Paulo
Gueto Poético – Salvador/BA
Imaginário Maracangalha – Campo Grande/MS
Instituto Cultural Casarão das Artes - Cuiabá/MT
Ivanildo Piccoli, Maceió/AL
Licko Turle, Salvador/BA 
ln Bust Teatro com Bonecos - Belém/PA
Mãe da Rua - São Paulo. 
Mamulengo de Cheiroso/ SE
Mamulengo Sem Fronteiras/DF
MiraMundo Produções Culturais- São Luís/MA
Movimento Cultural Desclassificáveis, Macapá/ AP.
Movimento de Artistas de Rua de Londrina - MARL, Londrina/PR.
Movimento de Teatro de Rua de São Paulo – MTR/SP
Nativos Terra Rasgada/ Sorocaba/SP
No meu Terreiro Tem Arte, Ingazeira/PE
Núcleo Aclowndemia de Palhaçaria - Sorocaba/SP.     
Núcleo Sem Drama Na Cia da Cabra Orelana - São Paulo/ SP
Núcleo Vermelho/ São Paulo - SP
O Buraco d`Oráculo - São Paulo /SP      
O Imaginário Rondônia, Porto Velho/RO             
Ói Nóis Aqui Traveiz – Porto Alegre/RS
Oigalê Cooperativa de Artistas Teatrais - Porto Alegre/RS
Os Mamatchas - Bauru-SP / Morón-Argentina
Pombas Urbanas, São Paulo/SP
Ponto de Cultura Circo Viva -Duas Barras/RJ
Ponto de Cultura Povo de Fé e de Festa, Macapá/AP
Povo da Rua-teatrodegrupo-/RS
Rosa dos Ventos - Presidente Prudente/SP
Rualuart Brasil, Governador Dix sept Rosado/RN
Semente da Leitura - Vitória/ES.
Será O Benedito / RJ
Sérgio Zank - Buenos Aires - Argentina
Setorial de Teatro de Porto Velho/RO
Som Na Linha - Presidente Prudente/SP.
Teatro da Pedra Associação Cultural, São João del-Rei/MG
Teatro de Rocokóz - São Paulo/SP
Teatro do Município de Capanema - Pará
Teatro em Trâmite e Micro Centro Cultural Casa Vermelha - Florianópolis/SC
Teatro Municipal Ramon Stegman - Pará
Teatro Público - Belo Horizonte/MG
Teatro Ruante, Porto Velho/ RO
Tríade Cia de Teatro - BH e Ribeirão das Neves/ MG
Tropa Mamulungu- Teatro de Rua BONECOS -Rio Branco/AC
Troupe Vira Rumos - Belém/PA
Trupe Circuluz - Olinda/PE
Trupe Olho da Rua – Santos/SP
Truppe Dell Art, Belo Horizonte/MG
Vila do Teatro- Espaço de Ocupação Cultural / Santos/SP

quinta-feira, 5 de março de 2020

Lançamento do livro TEATRO DE RUA: IDENTIDADE, TERRITÓRIO

No próximo dia 14 de março, na Giostri Livraria Teatro, será lançado o livro Teatro de Rua: identidade, território de autoria de Adailtom Alves Teixeira. O autor teve por objetivo pesquisar e analisar alguns espetáculos criados para a rua, buscando identificar de que maneira a identidade (sentimento de pertencimento) e o território (o espaço significado) influenciam nesse processo. O grupo pesquisado, Pombas Urbanas, que completou 30 anos de existência, estar sediado na parte leste da cidade de São Paulo (SP). Uma característica importante é que o grupo cria seus espetáculos com base na observação da realidade na qual estar inserido. A obra trata de forma mais vertical de dois espetáculos: Mingau de concreto e Histórias para serem contadas, visando a tornar clara a relação entre território e identidade.

SERVIÇO
O QUÊ: Lançamento de livro
ONDE: Giostri Livraria Teatro
              Rua Bela Vista, 201 - São Paulo/SP
 QUANDO: 14/03/2020 a partir das 17h.
INFORMAÇÕES: (11) 3284-8783