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quinta-feira, 29 de março de 2012

Feliz Aniversário, Florianópolis - 286 anos


http://www.errogrupo.com.br/v4/pt/2012/03/23/cultura-fantasiada/

Cultura Fantasiada Cultura da Fantasia Cultura Fantasiada da Cultura de Fantasia da Cultura

Hoje, 23/03/2012, no aniversário de 286 anos da Ilha do Desterro, decidimos presentear a nossa cidade com o início de uma série de ações práticas para enfrentar um conflito que há anos perdura em Florianópolis, mas que se mantém oculto, fantasiado de qualidade de vida. Cultura Fantasiada vem para contribuir com os esforços burocráticos tomados pela classe artística em defesa de nossa cultura. Acreditamos que chegou o momento de colocar os problemas de nosso setor perante a sociedade de forma mais incisiva, de fazer-nos ver, de importunar, de utilizar táticas de enfrentamento mais diretas, sem concessões ou negociações. Já vimos que gentileza nem sempre gera gentileza.
A indústria turística em nosso estado, como toda indústria, parte da lógica do lucro, como os políticos de Santa Catarina ainda não aprenderam as diferenças drásticas entre cultura, esporte e turismo, a cultura catarinense é operada há anos pelas leis do capital, e assim assistimos no âmbito de nossa cidade dois aspectos nefastos dessa lógica: a devastação ambiental e uma política cultural de fantasia.
A devastação ambiental é evidente e perceptível a olho nu. Nosso mar e nosso ar estão poluídos. Já a devastação cultural, além de a vermos claramente, adentra em nosso subconsciente e nos anestesia perante as demais mazelas da cidade.
A fantasia cultural é engendrada de forma a manter a lógica predatória de um mercado do turismo que visa o lucro e a satisfação do cliente.
O que se observa, por exemplo, é um sindicato de artistas que serve muito mais à indústria cultural em torno de um parque temático do que em prol das necessidades da classe artística.
Nesse contexto, se estabelece um atrelamento das parcas verbas públicas e da legislação de incentivo cultural favorecendo negócios em torno de produtores culturais e políticos aproveitadores que não possuem como objetivo a manutenção de uma política cultural de fomento e de crítica política ao status quo.
Em contrapartida a população não possui acesso à produção das suas cidades e os artistas não dispõem de espaços, editais e incentivos para desenvolverem suas pesquisas, assim como um circuito subsidiado para apresentarem seus trabalhos. Ainda que pululem aqui e ali mega-eventos e empreendimentos de construtoras, que giram muito mais em torno dos famosos "para inglês ver" e "quando há sangue nas ruas, compre terras", os incentivos às manifestações culturais apenas reforçam o caráter assistencialista das políticas culturais em nosso estado. Os mega-eventos existem para gerarem palanques políticos e capital aos senhores e senhoras produtores. Se eles ocupam os nossos espaços culturais com suas campanhas e conchavos políticos, nós ocuparemos os seus monumentos e palanques com nossas ações culturais de protesto.
Atualmente, aos artistas o que resta é o mercado de trabalho informal. Além disso, existe um ataque do Estado que visa privatizar a sua única instituição pública de formação de profissionais de arte, a Universidade do Estado de Santa Catarina, para reafirmar o seu plano de manter a informalidade e desinstrumentalização dos artistas, ao mesmo tempo em que em nome da cultura desvia verbas para a restauração de igrejas ou monumentos de representação de poder como uma ponte. Esta ponte, que na verdade é uma ponte, uma obra arquitetônica, deveria ser mantida ou reformada com verbas de outros setores do governo e não da cultura.
Nas vésperas do aniversário de nossa cidade, nos perguntamos: enquanto artistas o quê devemos comemorar?
Não comemoramos nada, apenas demonstramos o nosso poder de ação, que é pouco, mas pode aumentar. Nesse ano de eleições, os artistas são arma e não vamos apontar essa arma para nossas cabeças, apontamos nossas armas para políticas mercadológicas e agimos para delimitar nossa linha de enfrentamento diante de procedimentos que falseiam a construção de nossas histórias e memórias.
ERRO Grupo
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quarta-feira, 28 de março de 2012

Ato do dia 27 de março em São Paulo

Leiam sobre a repercussão sobre o ato realizado pelo Movimento de Teatro de Grupo no dia 27 de março, dia internacional do teatro e dia nacional do circo, na cidade de São Paulo:


http://passapalavra.info/?p=54876


http://www.brasildefato.com.br/content/ato-em-s%C3%A3o-paulo-reivindica-pol%C3%ADticas-p%C3%BAblicas-voltadas-para-cultura#.T3O4uOed-AE.facebook


http://bolaearte.wordpress.com/2012/03/28/todo-apoio-aos-trabalhadores-do-teatro-do-circo-e-da-cultura-brasileira-como-um-todo/


Leia a carta denúncia: 
http://www.teatroderuaeacidade.blogspot.com.br/2012/03/ato-do-dia-27-de-marco.html

segunda-feira, 26 de março de 2012

Leis das artes de rua pra que?


 
Na ultima sexta feira, dia 16 de março, nós do Rosa dos Ventos (P. Prudente-SP) tivemos um encontro em Santos-SP com a galera do movimento teatral santista e lá ouvimos o relato do também visitante Marcos (Núcleo Pavanelli/São Paulo) sobre a lei das artes de rua da capital paulista. Ele falou de ambiguidades da lei e dos equívocos que acompanham sua discussão na cidade. Embarcando no que Marcos disse, lanço algumas questões que, espero, ajude a situar o problema. ...Nesses últimos tempos tem sido comum a repressão policial com expulsão muitas vezes violenta de artistas de rua das áreas centrais de muitas cidades brasileiras – os relatos nesta Rede [RBTR] são muitos e atestam isso. Ao mesmo tempo observamos o surgimento de decretos e leis municipais para regulamentam as artes de rua. Esse é o contexto geral. Essa repressão não é um fato comum a toda a cidade, mas apenas as suas áreas centrais, especialmente os centros antigos ou históricos, que são hoje muito populares e atraem artistas de rua que ali encontram público para desenvolver sua arte e sobreviver dela. O que está por trás da repressão aos artistas de rua é a estratégia das elites de restabelecer esses espaços – no passado abandonados por elas e assim popularizados, para elas "degradados" – em seus circuitos de negócio e vida além da busca dos altos lucros imobiliários decorrentes (capital imobiliário abocanhando a gigantesca mais-valia urbana). Esse processo também contribui para a nova imagem-identidade da "cidade" que se quer projetar, vender para dentro e para fora (o mundo). Na literatura de urbanistas, sociólogos e geógrafos todo esse processo é conhecido como "gentrificação", denominação cuja raiz da palavra inglesa – gentry – evidencia seu caráter de classe, aparecendo no discurso oficial escondido atrás de palavras como: (planos de) revitalização, requalificação, reabilitação, revalorização, etc., que no fundo se destinam a promover gentrificação, isto é, a retirada das camadas mais pobres de um espaço, destruindo seus lugares de moradia, consumo, lazer, trabalho, cultura etc., para dar lugar a chegada das pessoas mais "nobres" e suas atividades. A gentrificação de áreas centrais de valor histórico e cultural é capítulo central da política urbana hegemônica e agora segue impulsionada por grandes obras e operações urbanas pagas com dinheiro público por ocasião da realização dos grandes eventos esportivos da Copa e Olimpíadas (Rio de Janeiro).[1] Frente à mobilização e manifestação dos artistas de rua em escala nacional (como a desencadeada pela RBTR) e local contra a repressão das artes de rua o poder público respondeu imediatamente com a perspectiva de elaboração leis e decretos para regulamentar essas atividades no espaço urbano, novamente sob a argumentação de combater a (ideológica) "desordem urbana". Ao poder público essas leis e decretos servem antes para dizer que está tratando da questão, enquanto artistas de rua ao lado de outros trabalhadores continuam tendo seus direitos cerceados em espaços públicos. Ou seja, o poder público responde assim ao problema com uma ideia (leis e decretos) e não com uma ação concreta de garantia dos direitos civis, extensivamente violados nesses espaços. É possível observar – e há juristas que dizem isso – que essas leis e decretos surgem para disciplinar o que em tese não deveria ser disciplinado, de vez que seu objeto não é mais que o exercício de um direito fundamental previsto na Constituição Federal e que, portanto, deveria ser compreendido em seu sentido ampliativo e não restritivo como aponta a elaboração dessas leis e decretos. Melhor dizendo, não há por que estabelecer regras e normas para o trabalho do artista de rua no espaço público quando sua atividade não ultrapassa o que é já reconhecido direito de todo cidadão. E é justamente isso que explica porque muitos artistas de rua conseguiram mandado de segurança assegurando seu direito de trabalho em espaço público. O ponto é: o que deveria SIM ser discutido abertamente com a sociedade para então ser objeto de Lei não o é porque não é para ser orientado pelo interesse público: a referência aqui é à realização de eventos diversos (espetáculos comerciais, culturais, esportivos, religiosos etc.) que envolvem a instalação de mobiliário em espaço público com interdição parcial ou total de vias e uso de som em média ou alta potência. As autorizações para esses eventos são decisões pessoais de dirigentes públicos, portanto não obedecem a nenhum critério público, universal, predominando nesses casos os interesses privatistas e de marketing urbano associados. Minha provocação é sobre o papel dessas leis e decretos como mecanismo de estímulo à arte pública em contexto de gentrificação. Que arte pública? Essa dimensão pode ser depreendida dessa política que tem no elemento cultural importante papel econômico e "civilizador". Muitos grupos de teatro de rua e outros artistas podem se beneficiar da elitização e turistificação de espaços públicos de áreas centrais, fazendo parte de sua programação cultural, todavia em detrimento da presença (do direito) de muitos outros artistas populares não aí bem vindos por seus trajes, tipo de arte, relação com o público etc. Enfim, essas leis e decretos parecem indicar a estetização desses espaços e da arte pública nele realizada. 

Luis Paulo Valente


[1] O dossiê "Mega-eventos e violações de Direitos Humanos no Brasil", produzido por pesquisadores, acadêmicos e movimentos populares indica que mais de 170 mil pessoas terão seu direito de moradia violado ou ameaçado em conseqüência dos mega-eventos no Brasil nos próximos anos. Imensas áreas públicas centrais das cidades estão sendo destinadas através das chamadas Parcerias Público-Privadas a realização de operações urbanas que, na verdade, são operações imobiliárias, em clara "suspensão" da Constituição Federal que diz que áreas públicas devem ser destinadas prioritariamente a produção de habitação de interesse social. Confiram o dossiê em http://www.portalpopulardacopa.org/.

domingo, 25 de março de 2012

Artistas de Rua – uma nova gramática para as cidades


Artistas de Rua – uma nova gramática para as cidades

Hoje dia 22/03 de 2012 no Jornal o Dia saiu um artigo do Doutor em Sociologia pela PUC-RJ Sr. Paulo Azevedo intitulado "A cidade apresenta suas armas" apontando a socialização da Arte como ação fundamental no debate sobre a ocupação do espaço público e a vida nas cidades. Ele começa abordado o tema assim: "Desacreditados, todos nós, de uma política tradicional, é necessário e mesmo urgente dar vida às novas gramáticas políticas de interferência no seio das cidades, tendo as artes um papel fundamental neste debate."
O artigo evidencia de forma contundente a necessidade de perceber o papel transformador das Artes, afirmando  que: "A Dança , a Performance,  o Circo , a Música, a Literatura, a Poesia, as Artes Plásticas e Visuais...precisam estar onde o povo está!"
Na realidade autor, neste artigo indaga como, nós- a sociedade, enxergarmos esta Arte que está na Rua ou poderia estar transformando cotidianamente esse espaço.  Afinal, elas trazem como ele próprio diz: "o belo, o entretenimento, o bom humor..." enfrentando a violência gratuita e a fobia nos seus mais diversos matizes produzida pela estrutura ideológica reinante na nossa sociedade contemporânea.
Esse "fazer público", hoje no Brasil, é atacado com uma nova máscara social. As amarras de dominação estão travestidas de aparência pública como: ordenação urbana e controle do espaço público se sofisticando em novas formas de repressão coletiva, onde uma casta decide quem pode operar nas ruas das cidades como os Kassabs e Paes da vida.
Prosseguindo, no artigo de Paulo Azevedo, registro o seguinte trecho: "Como subverter esta posição e fazer entender que os artistas de rua, na rua, pra rua são fundamentais na recriação das cidades e revitalização mesmas em seus meios históricos", e ainda pergunta, "Sabe-se que há uma quantidade significativa de gente produzindo arte nas ruas, nas praças, mas onde eles se encontram promovem tal experiência? Que tipo de fomento recebem para ativar as esquinas?"
A mim, artista público, cabe agradecer essas perguntas, pois as mesmas me colocam no centro da discussão do fazer cultural na sociedade contemporânea.
Ao fazermos a Arte ocupar as ruas, esquinas e praças, nós reencontramos a sua função pública, pois ela passa ser repartida por toda coletividade, tanto no campo da práxis como no campo simbólico. Ao rompermos o cotidiano dos espaços urbanos com lúdico estilhaçamos os grilhões da vida privada estabelecendo uma nova possibilidade de troca e convívio social resgatando a celebração a vida coletiva.
 Essa nova possibilidade de organicidade social, creio eu, é o que Paulo Azevedo aponta como resposta as suas inquietações como demonstra na parte final do seu texto: "Nos cantinhos de cada esquina, onde há solidão e indiferença, nos terrenos baldios e nas avenidas engarrafadas pela movimentação das pessoas podemos estar presentes, afinal é no contato com a cidade e seu cimento que podemos influenciar na construção de novas paisagens urbanas e porque não dizer de uma outra cidade"
Para terminar só posso agradecer as palavras deste sociólogo e discordar só do final do seu artigo dizendo: Ah, se essa Rua fosse nossa.... Nós Artistas de Rua.

Lino Rocca
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sexta-feira, 23 de março de 2012

ATO DO DIA 27 DE MARÇO.


GRANDE ATO / DENÚNCIA DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS DE TEATRO EM LUTA.
 
DIA 27 DE MARÇO
DIA INTERNACIONAL DO TEATRO E NACIONAL DO CIRCO
 
É CHEGADA A HORA DE COBRAR NOVAMENTE UMA POLÍTICA ESTRUTURANTE PARA O BRASIL!
Apropriaremos-nos do formato da Escola de Samba pra sair às ruas de São Paulo num ato que mescla "Festa e Denúncia".
O Ato terá inicio às 12h no Teatro Municipal de São Paulo e na seqüência ganhará às ruas em Cortejo para dialogar com a população que receberá a Carta Denúncia.
Na Comissão de frente teremos a figura da MADRINHA LADY ROUANET acompanhada de seus serviçais e cortejada pelas Secretarias e Ministério da Cultura.
AOS GRUPOS DE TEATRO SOLICITAMOS:
- Chegar ao Teatro Municipal pontualmente ao meio dia para organizarmos as ALAS.
- Se possível escolher alguns músicos do grupo pra fazer parte da ALA dos Músicos (Bateria), pois os mesmos irão compor e ensaiar o repertório do Cortejo em frente ao Teatro Municipal em espaço aberto.Cada coletivo se comprometerá de trazer os seus instrumentos. (A idéia é usarmos o repertório dos nossos espetáculos).
- Cada grupo ficará responsável pela sua atuação, produção e performance no trajeto, é importante termos a devida organização pra que cada ALA seja bem vista. Não necessariamente precisa fazer alguma apresentação, se quiser pode apenas cantar as músicas que serão propostas e distribuir a Carta Denúncia.
- Pedimos que venham caracterizado(a)s com figurinos de seus espetáculos, maquiagem, estandartes e mega-fones.
- Cada grupo escolhe um responsável pra organizar a distância entre uma ala e outra.
AOS MOVIMENTOS SOCIAIS E ORGANIZAÇÕES SOLICITAMOS:
- Presença dos companheiros(a)s pra endossar a luta.
- E que se distribuam nas ALAS que serão formadas.
No dia formaremos as ALAS "DAS PLACAS" (que cobram uma política estruturante) e "DOS MORTOS DO TEATRO E OUTROS QUE QUEIRAM PROPOR".
Compareça!
Dia 27 de Março de 2012 às 12h.
No Teatro Municipal de São Paulo
Praça Ramos de Azevedo, S/N
Informações: (11) 8121-6554 begin_of_the_skype_highlighting            (11) 8121-6554      end_of_the_skype_highlighting ou 9592-0945
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CARTA DENÚNCIA
 
Dia Internacional do Teatro
Denúncias
 
NESTE 27 DE MARÇO DE 2012 – DIA INTERNACIONAL DO TEATRO E DIA NACIONAL DO CIRCO  – NÓS, COLETIVOS ARTÍSTICOS COMPONENTES DO   MOVIMENTO DE TEATRO DE GRUPOS DE SÃO PAULO, MAIS UMA VEZ, EXIGIMOS POLÍTICAS PÚBLICAS QUE ESTEJAM À ALTURA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO PAIS, SEJAM EFICAZES E TENHAM CONTINUIDADE. ENTENDEMOS QUE O CUMPRIMENTO DESSAS PROPOSIÇÕES ATENDE NÃO APENAS AOS PROFISSIONAIS DE TEATRO, MAS CONTRIBUI PARA A GARANTIA DO ACESSO E A FRUIÇÃO DOS BENS CULTURAIS A TODA POPULAÇÃO.
Reafirmamos nossa luta histórica contra as leis de renúncia fiscal que ao longo de suas existências revelaram-se como um mecanismo perverso, utilizado para carrilhar os poucos recursos públicos para os interesses privados das corporações. Reafirmamos a defesa dos espaços públicos para o interesse público, assim, nos manifestamos contra qualquer proibição ou burocratização para utilização desses espaços por parte do teatro de rua ou demais artistas, bem como defendemos que os espaços públicos ociosos sejam ocupados para o desenvolvimento de atividades artísticas e culturais.     
 
No âmbito Federal: Repudiamos o não comprometimento do Executivo Federal e do Congresso Nacional com o Projeto de Lei de Fomento ao Teatro Nacional – Prêmio Teatro Brasileiro. A demora na sua aprovação é um impedimento à democratização dos recursos para as artes cênicas no país. Denunciamos a falta de planejamento do Ministério da Cultura que tem abandonado os profissionais de teatro na condição da mais completa incerteza, sem saberem como e quando os editais federais serão lançados, julgados, contratados e, principalmente, pagos. Denunciamos a descontinuidade e a precarização das ações culturais já existentes tais como os Pontos de Cultura.
 
No âmbito Estadual: Denunciamos a falta de iniciativa do Executivo Estadual em defender a equiparação entre os recursos destinados à renúncia fiscal e os editais (ProAC ICMS e ProAC editais), defendida pela Comissão de Educação e Cultura da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo; defendemos a retomada das discussões sobre a implantação do Fundo Estadual de Arte e Cultura. Repudiamos a privatização da cultura pela renúncia das atribuições da Secretaria Estadual da Cultura em favor das chamadas "Organizações Sociais" e a política cultural com foco na construção de edificações em detrimento das ações culturais que efetivamente envolvam os artistas e a população.  
 
No âmbito Municipal: Repudiamos a crescente interferência do Executivo Municipal nas leis de fomento ao teatro e à dança, levando a uma burocratização mortal ao processo criativo. Denunciamos ausência de novas leis e programas que dêem conta da crescente demanda da cidade e a precarização de algumas ações culturais tais como o Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), o Projeto Piá e a programação cultural dos CEUs. 
Movimento de Teatro de Grupos de São Paulo
In memorian
Ademar Guerra
Adilson Barros
Alberto GuziK
Alberto D'Aversa
Alfredo Mesquita
Altair Lima
Anatol Rosenfeld
Antonio de Andrade
Ariclê Perez
Armando Bogus
Augusto Boal
Arrelia
Benedito Corsi
Benajmin de Oliveira
Cacilda Becker
Campelo Neto
Cláudio Correa e Castro
Cláudio Mamberti
Carlos Zara
Carlos Miranda
Carlos A. Sofredinni
Carlos Augusto Strasser
Carlos Queiroz Telles
Carequinha
Chico Martins
Ciro Del Nero
Chiquinho Brandão
Chicharrão
Célia Helena
Consuelo Leandro
Dina Sfat
Dias Gomes
Dionísio Azevedo
Décio de Almeida Prado
Dulcina de Moraes
Eduardo Conde
Edith Siqueira
Elísio Albuquerque
Eugênio Kusnet
Fernando Peixoto
Fernando Torres
Felipe Carone
Flávio Rangel
Flávio Império
Francisco Milani
Francarlos Reis
Fredi Kleemmann
Gianfrancesco Guarnieiri
Gianni Ratto
Gerson Abreu
Grande Otelo
Heleny Guariba
Hugo Della Santa
Iara Amaral
Ivan Albuquerque
Irina Greco
Isabel Ribeiro
Ítalo Rossi
João Albano
João Cândido Galvão
John Hebert
José Ferro
José Renato Pécora
Jorge Andrade
João Apolinário
Laerte Morrone
Lélia Abramo
Leina Crespi
Leonor Bruno
Lenine Tavares
Lílian Lemmertz
Lineu Dias
Lino Rojas
Luis A. Martinez Corrêa
Luís Sérgio Person
Luiz Armando Queiroz
Maria Duschenes
Mário Lago
Marlene França
Madame Morrineau
Mazzaropi
Miroel Silveira
Myrian Muniz
Mylene Pacheco
Olair Cohan
Oswaldo Barreto
Osmar Rodrigues Cruz
Oduvaldo Viana (pai)
Paulo Autran
Paulo Lara
Paulo Mendonça
Paulo Pontes
Paulo Villaça
Paulo Wolf
Paulo Yutaka
Petrônio Nascimento
Plínio Marcos
Piolin
Procópio Ferreira
Rafael Carvalho
Raul Cortez
Renato Consorte
René Gumiel
Reinaldo Maia
Ricardo Bandeira
Roberto Crosco
Roberto Freire
Rogério Cardoso
Rodolfo Mayer
Rodrigo Santiago
Rui Afonso
Rubens Corrêa
Rubens Brito
Ruthinéia de Moraes
Sadi Cabral
Sandra Bréa
Sandro Polônio
Sérgio Brito
Sérgio Cardoso
Sérgio Viotti
Sérgio Ropperto
Serafin Gonzáles
Tácito Rocha
Timochenko Webbi
Toresmo
Vianinha
Walter Avancini
Walter D'Ávila
Waterloo Gregório
Yan Michalsky
Zanone Ferrite
Zé Vicente
Ziembinski
 
A esses artistas e tantos outros que por qualquer lapso de memória não se encontrem relacionado(a)s, dedicamos este 27 de março de 2012.


quinta-feira, 22 de março de 2012

terça-feira, 20 de março de 2012

LEI 1º DE ABRIL DE 1964-2012

LEI 1º DE ABRIL DE 1964-2012

Cria a Comissão Nacional da Mentira no âmbito da República Autocrática Saudosista da "Contra-Revolução de 64"

OS APARECIDOS POLÍTICOS, comissão autoproclamada, como em todo processo arbitrário, não faz saber ao Congresso Nacional e a nenhuma organização da sociedade civil:

Art. 1º É criada, no âmbito do imaginário saudosista de alguns militares da reserva, dos discursos esquizo-paranóicos dos militares de pijamas e dos grupelhos conservadores golpistas-midiáticos, a Comissão da Mentira com a finalidade de promover a moral e os bons costumes a fim de efetivar o direito à mentira, à injustiça e a falta de memória.

Art. 2º A Comissão da Mentira, composta de forma arbitrária, será integrada por quantos reacionários tiverem interessados (ou que conseguirem nos comprar), designados pela Comissão dos Aparecidos Políticos, identificados com os "bons costumes" que ninguém sabe de onde vem, de reconhecida idoneidade humilhadora e com a defesa de condutas morais, morais e morais.

§ 1º Não poderão participar da Comissão da Mentira aqueles que:

exerçam interesse por assuntos políticos, com exceção daqueles de natureza alienada.
não tenham condições de atuar com extrema parcialidade e fervor pela pátria golpista da Comissão.
estejam em cargos ocupados de forma democrática.

§ 2º Os membros serão designados para mandato até o dia que acharmos melhor, pois não devemos satisfação a ninguém, só aos bons costumes da nossa saudosa pátria golpista.

§ 3º A participação na Comissão Nacional da Mentira será considerado um exercício público vergonhoso e nas surdinas, como tem sido a nossa prática ao longo desses anos.

Art. 3º São objetivos da Comissão Nacional da Mentira:

I – Impor no imaginário social o fato de que a democracia no Brasil foi consolidada pós Ditadura Civil-militar;

II – Promover uma campanha intensa de criminalização das pessoas que procuram os restos mortais do seus familiares desaparecidos políticos;

III – Quando se falar de mortos e desaparecidos políticos, sempre trocar pelos adjetivos de: terroristas, subversivos, assaltadores de bancos, criminosos e esquerdistas desordeiros;

IV – Fazer campanhas intensivas de acobertamento dos restos mortais dos mais de 300 mortos e desaparecidos políticos;

V – Esconder, através da exaltação de líderes militares genocidas e de valores das elites, os locais públicos que tenham qualquer tipo de relação com aquele período. Porões de Tortura? Aonde? Quando?

VI – Batizar ruas, bairros, escolas e até municípios com os nomes dos nossos pais, avôs, bizavôs, tataravôs e até onde a nossa honrada árvore genealógica permitir (nossa vontade de autoafirmação é inversamente proporcional a nossa confiança na democracia);

VII – Acusar todos aqueles que falam em direitos humanos de revanchistas e defensores de bandidos;

VIII – Criminalizar a pobreza que deve ser excretada do seio da nossa pátria (afinal, no seio dela não há leite para todos);

IX – Manter nossas práticas em defesa da ordem e da moral através da matança da juventude (preferencialmente os pretos e os pobres), das torturas nas delegacias e centros de privação de liberdade, na criminalização dos movimentos sociais e nos grupos de extermínios. Louvamos ações como a do Caso Pinheirinho e de repressão à greve de policiais (espaço agora de infiltração de comunistas enviados pelo fantasma do Lênin e de seu SSA - Serviço Secreto do Além);

X – Repetir mil vezes a lógica binária de que se tratava de uma "guerra de dois lados".

Art. 4º Para execução dos objetivos previsto no Art. 3º, a Comissão Nacional da Mentira poderá:

I - Fazer o que quiser, na hora que bem quiser e no momento que bem entender;

II - Executar testemunhas que possam de alguma forma expor informações que prejudiquem a "estabilidade social". O assassinato de um guia-testemunha do Caso da Guerrilha da Araguaia, em 2011 na cidade de Marabá, deve servir de exemplo;

III - Impor medo em pessoas que viveram naquele período como nas pessoas que hoje não sabem o que ocorreu;

IV - Promover audiências públicas, mas só nos nossos grupos secretos. (Só pode entrar quem tiver pijama de cor verde e amarela);

V - Estabelecer parceria com organizações religiosas extremistas, bancadas parlamentares de programas policiais, movimentos elitistas latifundiários como a União Democrática Ruralista (alguém tem que nos manter financeiramente, claro) e qualquer pessoa ou organização civil que tenha predisposição à sociopatia;

§ 1º As requisições nos incisos I, II e III podem ser revistas pelo próximo psicopata que assumir o cargo.

§ 2º Os dados, documentos e informações sigilosos fornecidos à Comissão da Mentira deverão se manter escondidos como sempre tiveram.

§ 3º É dever dos servidores públicos e militares a colaborarem com a Comissão Nacional da Mentira (claro, nós vamos ameaçá-los se não o fizerem).

§ 4º As atividades da Comissão da Mentira não terão caráter jurisdicional ou persecutório, afinal boa parte do nosso Poder Judiciário ocupado por alguns dos membros dos nossos grupos de pijamas (mas eles, além de usarem pijamas, usam também lençoizinhos pretos) não sabem o que significa a palavra Justiça de Transição.

§ 5º Qualquer cidadão que demonstre interesse em esclarecer a situação do fato será boicotado, sabotado, chamado de terrorista e, se insistir muito, já sabe o que faremos, não é?

Art. 5º Observadas as disposições da Lei no 6.683, de 28 de agosto de 1979 (a qual temos que repetir sempre que foi ampla, geral e irrestrita apesar de ser feita por nós) e as outras leis que não precisamos respeitar, obviamente, deverá a Comissão atuar fugindo ao máximo do Arquivo Nacional, da Comissão da Anistia, Comissão Especial sobre mortos e desaparecidos políticos e de todas outras legislações da excretável Constituição de 1988.

§ 1º Apesar de sermos totalmente contrários à Comissão Nacional da Verdade colocamos que: aplaudimos o curto prazo de dois anos para as atividades da mesma, o período dispersivo de investigação(1946-1988), o baixo número de integrantes e o seu caráter não punitivo.

Art. 6º A Comissão Nacional da Mentira deverá firmar parceria com instituições de ensino superior que têm sido ótimos espaços de perpetuação do esquecimento em detrimento de um ensino técnico e funcionalista.

Parágrafo Único. Os cargos previstos nesse artigo serão automaticamente permanentes, vitalícios e ligados aos nosso grupos conservadores.

Art. 7º A Comissão Nacional da Mentira terá o prazo de existência até o dia em que a justiça de transição for consolidada e quando todos os brasileiros terem a memória sobre o que foi o Ato Institucional nº 5, o fechamento do congresso, os vários tipos de tortura, desaparecimentos e crimes de lesa-humanidade.

Art. 8º Como primeira atividade da Comissão de Mentira, conclamamos a todos a participarem

§ 1º Do "Cordão da Mentira": no próximo dia 1º de Abril de 2012, data de aniversário do golpe da nossa "Ditadura Civil-Militar", a partir das 11:30hs, nos concentraremos na frente do Cemitério da Consolação e sairemos pelas ruas da cidade de São Paulo ao som dos tambores, para Celebrar a Mentira desta Democracia - uma Verdadeira Democradura.

§ 2º Da II Jornada Para Não Esquecer Jamais realizada em Fortaleza-CE, entre os dias 26 à 1 de abril de 2012.

Art. 9º Fica resguardado o dia 1º de Abril de 2012 para a divulgação pública dos nomes dos militares golpistas de 64, atualmente vivos, e presentes nos seus círculos militares, que irão compor essa Comissão Nacional da Mentira.

Art. 10º Para dizer que somos democráticos, deixaremos esse documento aberto para aqueles que se interessam em adicionar novos artigos. Os interessados em adicionar os artigos ou parágrafos devem encaminhar um e-mail para aparecidospoliticos@gmail.com com o assunto [Artigos] ou adicionar nosso perfil no Facebook: Aparecidos Políticos (http://www.facebook.com/profile.php?id=100003307123208)

GUERRA É PAZ.
LIBERDADE É ESCRAVIDÃO.
IGNORÂNCIA É FORÇA

Fortaleza, 18 de Março de 2012, 190º da "Independência, 123º da "República" e 48º da Ditadura Civil-Militar

segunda-feira, 19 de março de 2012

Chauí, viveiros de castro, Rolin et al. sobre o MinC


Na última década, o Ministério da Cultura transformou-se em uma área especialmente dinâmica do governo federal. Ao reconhecer a importância primária das práticas de sentido para a vida social, o Estado deu-se finalmente conta de que tem responsabilidades incontornáveis no que toca ao estímulo, apoio e defesa das manifestações criativas que emergem do povo, ou melhor, dos povos brasileiros como expressão de sua vitalidade e de sua personalidade.
À medida que o país foi ganhando projeção internacional, maior foi se tornando a necessidade de definirmos e consolidarmos a contribuição distintiva que o Brasil espera estar em condições de dar à civilização mundial. Com este objetivo, a abertura da esfera pública a uma multiplicidade de agentes e ações, oriundos de todas as regiões do Brasil, ligados à criação de cultura, isto é, de valor existencial - artistas, ativistas digitais, produtores culturais, editoras independentes, coletivos experimentais, criadores da moda e do design, intelectuais, povos indígenas, comunidades tradicionais, quilombolas, movimentos contra a discriminação de gênero e de orientação sexual, ambientalistas, grupos culturais dos mais variados matizes e propósitos - constituiu-se em uma das experiências institucionais mais inovadoras que o Estado brasileiro jamais promoveu.
Sob a liderança das gestões da cultura durante os 8 anos do governo Lula, o acolhimento entusiástico de uma vasta gama de manifestações antropológicas, tradicionais como modernas, regionais como nacionais, locais como globais, deu direito de cidadania e densidade politica a vários conceitos novos, doravante parte de nosso vocabulário de política pública: "cultura digital", "pontos de cultura", "cultura viva", "patrimônio imaterial", "cidades criativas", "economia da cultura", "diversidade cultural", "creative commons", "compartilhamento", "cultura e pensamento", "cidadania colaborativa", "participação setorial" e tantos outros. Um Plano Nacional de Cultura foi redigido pelo MinC com ampla participação dos setores interessados, e foi aprovado pelo Congresso Nacional. Tratou-se de um esforço consistentemente democrático de transformação da agitação social em meio de conquista de uma voz pública, de expressão da força viva dos povos de nosso país nos termos de um discurso de dimensões propriamente políticas, no sentido mais nobre da palavra.
Como herdeiro legítimo deste legado, o governo Dilma tem um grande desafio pela frente. É enorme a expectativa dos inúmeros grupos envolvidos no processo de emancipação cultural iniciado nas gestões passadas. Os que acompanham, como cidadãos, essa histórica reviravolta inquietam-se sobre a orientação que irá prevalecer uma vez encerrado o primeiro ano de uma gestão federal de cultura marcado por hesitações, conflitos e por mudanças de rumo que nos têm parecido infelizes.
É inevitável constatar que houve inúmeras perdas de visibilidade e de nitidez no horizonte da política cultural, comprometendo a imagem de um país que avança para o futuro sem perder a relação com seu passado, e que se moderniza sem destruir suas tradições. Depois de inúmeras notícias desalentadoras ao longo do ano que passou, a opinião pública constata que a presente gestão de nossa política cultural vem se mostrando descomprometida com o legado das conquistas recentes neste âmbito, como o atestam as inúmeras iniciativas de grande impacto dentro e fora do País. É digno de nota, em particular, o que parece ser o total desconhecimento, por parte da atual gestão do MinC, do debate internacional sobre os desafios que o novo regime capitalista globalizado coloca para os criadores em todos os âmbitos da cultura, nesta época em que a criação de valores existenciais se viu capturada e sujeitada pela produção de valor econômico.
O despreparo para a prática do diálogo e do embate crítico por parte dos atuais responsáveis pelo MinC é dolorosamente evidente. É assustador, por exemplo, que em recente entrevista a ministra afirme que tem vivido uma "guerra de nervos" e que todo o seu universo de preocupação esteja reduzido à sensação de que os que discordam de sua gestão estejam apenas querendo derrubá-la de seu posto, deixando de lado o sentido maior da vida democrática que é a possibilidade do diálogo e da reconciliação em benefício de algo público e de grandeza comum.
A criação cultural é indissociável da construção inovadora de horizontes para o País, é a cultura que forma as realidades que nos condicionam e projetam os destinos da vida em comum. Não faz mais sentido pensar nos quadros anacrônicos que tinham a chamada "infraestrutura", ou economia, como elemento primacial da vida humana, ao passo que a cultura, ou "superestrutura", era vista como artigo de luxo. Pois não é possível, justamente, entrarmos em pleno século 21 equipados com uma "superestrutura" mental que data do século 19. É um engano gravíssimo um Estado contemporâneo não dar a devida importância à agenda das políticas culturais, pois a economia sem a cultura não pode mais do que propagar a desvalorização de uma sociedade, colocando-a a mercê de interesses estritamente econômicos.
Desde que a crise global se abateu sobre o ocidente capitalista em 2008, a agenda cultural se tornou um tema ainda mais importante para nós e as disputas de sentido vão direcionando os possíveis caminhos a seguir. Ora, foi precisamente neste momento crítico que passamos a constatar a decadência do protagonismo do governo federal na área da política cultural, com a trágica perda de capacidade para gerar consensos mínimos e coordenar o desenho de horizontes para os inúmeros segmentos que estavam sendo reconhecidos pelo governo Lula. Esse perigoso isolamento do MinC pode nos fazer retroceder mais e mais nos próximos anos, ainda que a prosperidade econômica se mantenha. A mera celebração de uma "cultura" concebida como excedente simbólico entregue a profissionais consagrados da indústria de entretenimento certamente não pode substituir a consciência ativa do papel central que a força de trabalho criativa passou a desempenhar no cenário do novo regime capitalista. O MinC de hoje desconhece os sistemas de acumulação financeira, de ganho unilateral de corporações com os direitos autorais e de imagens. Ao tornar-se refém de um modelo institucional arcaico, o governo federal vai aceitando que as forças mais reativas do modelo neoliberal passem a conduzir as subjetividades, tornando-se um instrumento para sustentar apenas desejos sociais compulsivos de consumo, como se estes fossem o meio de produção de sociabilidade.
Neste sentido, a escolha do(a) ministro(a) que a Presidenta tem em suas mãos é um dos trunfos fundamentais na consolidação do projeto de país que se começou a implantar desde o fim da ditadura militar. Esta é uma responsabilidade crucial do governo federal e da sociedade civil, não podendo ser deixada ao sabor da Realpolitik e seus jogos de acomodação partidária. Esperamos que Dilma Rousseff, que tem mostrado grande competência na condução do País em outros setores, confirmada pelos altos índices de aceitação popular, tenha sensibilidade e coragem para indicar um ministro da cultura à altura do que requer este cargo, em vista da importância do Brasil no cenário mundial contemporâneo. Um(a) ministro(a) que alie uma escuta fina para a diversidade cultural, no acompanhamento das complexas demandas culturais internas e na articulação ousada com o cenário internacional, sobretudo em torno dos problemas deste novo estatuto da cultura.
A experiência acumulada por este nome escolhido é algo essencial neste momento. Quer em termos profissionais, quer em familiaridade com a política da criação contemporânea e a rica variedade a de suas manifestações, uma liderança suprapartidária e democrática é o que pode garantir um pulso firme e uma capacidade de gestão dinâmica, de verdadeira liderança nesta direção que o presente nos aponta. Nós signatários, como todos os produtores de cultura neste País, temos nossa parcela de responsabilidade nesta tarefa: cabe a nós o apoio ao futuro portador desta inteligência de qualidade cultural e a exigência de uma escolha acertada para os próximos anos da atual gestão federal neste importante âmbito da vida nacional.
MARILENA CHAUÍ, EDUARDO VIVEIROS DE CASTRO, SUELY ROLNIK, LAYMERT GARCIA DOS SANTOS, GABRIEL COHN, MANUELA CARNEIRO DA CUNHA, MOACIR DOS ANJOS
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terça-feira, 13 de março de 2012

Carta aberta à população de Santo André do MTST


CARTA ABERTA À POPULAÇÃO DE SANTO ANDRÉ

Desde o dia 2/03 a cidade de Santo André tem vivido uma realidade nova com o acampamento Novo Pinheirinho onde se abrigam mais de mil famílias que sobrevivem a anos sem um lar digno para morar.
Santo André é hoje uma cidade com déficit habitacional de mais de 20 mil habitantes, só perdendo pra São Bernardo na região do ABC. Esses trabalhadores não têm onde morar e vivem em condições muito precárias de moradia. Em 4 anos se construiu pouquíssimas casas populares na cidade e no próximo período planeja-se entregar 1.600 casas, o que não resolve nem dez por cento do problema de moradia da cidade. A falta de moradia coloca em risco a vida das pessoas, que a cada dia que passa vem perdendo seus direitos, inclusive o direito de poder morar com dignidade.

O acampamento Novo Pinheirinho representa um grito de desespero e de indignação de milhares de famílias que já não suportam mais trabalhar a vida inteira e não ter ao menos uma casa para seus filhos viverem bem. Representa a resistência do povo explorado que luta por dignidade, que resolveu se organizar e aprendeu que a união dos trabalhadores é a mais poderosa arma contra aqueles que exploram e oprimem. Sofremos ameaça de despejo e lutamos para que a lei de zoneamento presente no Plano Diretor da cidade seja cumprida, pois há mais de 10 anos o terreno está sem cumprir qualquer função social. Essa é uma área onde, por lei, somente moradias populares podem ser construídas (Zona Especial de Interesse Social – ZEIS).

Durante 11 dias o acampamento sobrevive com a solidariedade das comunidades vizinhas, que fazem doações de alimentos, roupas e brinquedos. Está em luta, organizando marcha, em que conquistou uma negociação com a prefeitura de Santo André, dizendo que irá interceder pelas famílias e entrar em contato com o proprietário do terreno para negociação, além disso, a prefeitura se comprometeu a fazer a coleta de lixo do acampamento.

Isso prova que o movimento está no caminho certo, mas a luta continua, pois ainda não está nada ganho, avançou-se alguns passos, porém ainda não venceu a batalha.
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
MTST


Contatos regional ABC
Maria: (11) 81552983

quinta-feira, 8 de março de 2012

Teatro, política e feminismo: por uma vida justa, feliz, com autonomia e sem violência


Existe um profundo desequilíbrio entre homens e mulheres nas sociedades atuais. Os exemplos são numerosos: é comum as mulheres receberem salários inferiores aos dos homens para as mesmas funções; elas são vítimas de violências físicas e psicológicas pelo simples fato de serem mulheres; na divisão das tarefas sociais, geralmente são destinadas às mulheres as funções de limpeza (na casa e no trabalho) e de cuidados; é frequente o tratamento preconceituoso nos meios de comunicação, em particular na publicidade, mostrando a mulher como objeto de consumo masculino; nossa legislação é arcaica, impondo ideias como a de maternidade compulsória e criminalizando as mulheres que praticam a interrupção voluntária da gravidez; o número de creches é insuficiente, confinando as mulheres ainda mais ao lar; mulheres em cargos políticos e de comando ainda são exceções, no Congresso Nacional, por exemplo, elas representam apenas 10%; a livre orientação sexual não é respeitada e preconceitos são tolerados; muitas mulheres cumprem jornadas duplas ou triplas de trabalho.

Por que é tão urgente e necessário explicitar e enfrentar todas estas dificuldades? E mais: pode o teatro dar conta de um tema como desigualdade de gênero e apresentar possibilidades de transformação social?

Com relação à primeira pergunta, parece óbvio que não é possível aceitar qualquer tipo de desigualdade se o que buscamos é uma sociedade realmente livre e justa. E, no que diz respeito as desigualdes de gênero e sexo, estas tem se apresentado como uma das faces mais cruéis do atual sistema político-econômico (que gera 1 bilhão de famintos e miseráveis, dos quais 70% são mulheres, entre outras desgraças que recaem com maior intensidade sobre o sexo feminino: desemprego, precariedade no trabalho, violência doméstica etc). Um casamento perfeito entre patriarcado e  capitalismo.

É neste sentido que o teatro tem como principal função "responder aos perigos de uma época" (como diz o dramaturgo marxista Edward Bond) e lançar as provocações necessárias para que nos tornemos conscientes e atuantes no curso da história, da nossa história e também no entendimento de que a luta por melhores condições de vida para toda-o-s só se faz coletivamente. Portanto, se não estamos satisfeita-o-s com as desigualdades de classe, etnia e gênero e se queremos que as ideias voltem a ser perigosas, em meio a tanta apatia, o teatro – como espaço horizontal, de reflexão mútua, de reunião e assembleia, espaço provocativo e propositivo – pode ser uma ferramenta potente nesta luta de Davi contra Golias.

No entanto, é importante atentar para o fato de que nos jovens países da América Latina, como o Brasil, onde o principal veículo de comunicação e transmissão de "cultura e pensamento" é a televisão comercial (segundo dados da Articulação Mulher e Mídia, menos de 10% da população lê jornal e são baixíssimos os índices de frequentação de teatro, cinema e outras atividades culturais), a formação estética, intelectual e política de grande parte da população está submetida ao controle de alguns poucos grupos econômicos que detém o poder das concessões públicas dos veículos de comunicação. Além disso, os governantes de nosso país preferem destinar quase metade do orçamento federal para o pagamento dos juros da dívida e apenas 0,06% para a pasta da Cultura.

No Brasil, atualmente, arte e cultura são tratadas como mercadorias e estão longe de serem um direito da população (como previsto no art. 215 da Constituíção desde 1988). Diante deste quadro, a disputa simbólica, do imaginário e dos meios de expressão é urgente e esta luta deve unir movimentos artísticos e sociais!

A discussão política sobre as questões que envolvem opressão de gênero, violência contra a mulher e temas afins também estão na ordem do dia – por um lado, uma mulher presidindo, pela primeira vez, o país e, por outro, uma Secretaria de Mulheres (que representa um avanço institucional) com verba ínfima para implementar o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, gestado nas últimas três conferências nacionais. Além disso, é preciso considerar o crescimento da bancada conservadora e religiosa no Congresso que impede os avanços das leis contra as formas de opressão às mulheres, entre elas a necessária discussão sobre a legalização do aborto, uma vez que o número de mortes de mulheres por conta de abortos clandestinos é uma questão de saúde pública e não de moral.

Neste sentido, diversos coletivos artísticos da América Latina vêm dando eco a esta problemática em seus trabalhos. A maneira como a sociedade se apropria do corpo e do espaço social da mulher, com o objetivo de engessá-la dentro de uma ideologia patriarcal, é hoje objeto de estudo de artistas e coletivos como Maria Galindo & Mujeres Creando (Bolívia), Mujeres Publicas (Argentina), The Magdalena Project (Rede Internacional de Mulheres), Jesusa Rodrigues e Liliana Felipe (México), As Loucas de Pedra Lilás (grupo de artistas feministas de Recife), as Obscenas (Belo Horizonte), Atuadoras (São Paulo), entre tantas outras, anônimas ou conhecidas, através das Américas.

Se as dificuldades de produção já são enormes, elas se multiplicam quando coletivos artísticos resolvem tematizar as questões de gênero - como se este assunto não tivesse a menor importância ou as mulheres já tivessem conquistado sua autonomia.

Durante os últimos 4 anos o coletivo do qual faço parte, a Kiwi Companhia de Teatro, enfrentou muitas dificuldade e desafios. Com o projeto artístico Carne – patriarcado e capitalismo nos deslocamos por toda a cidade de São Paulo, buscando os lugares onde o debate sobre a violência contra as mulheres poderia ser útil à comunidade e aos movimentos de mulheres, ao invés de ficarmos no conforto de um espaço cênico tradicional. Esta era uma das exigências de um trabalho com características de agitprop, aliado à consciência política mais abrangente sobre um novo modelo de sociedade, onde toda-o-s possam ter, no mínimo, as mesmas chances de realização como seres humanos.

Este projeto nos fez enfrentar "na carne" os problemas estruturais da nossa sociedade, mas nos mostrou também, ao afirmarmos a liberdade, a justiça e a autonomia e recusarmos os fatalismos, os preconceitos (de raça/etnia, de classe, orientação sexual) e todas as formas de violência impostas às mulheres, que a reflexão coletiva (entre a-o-s artistas, o público e os movimentos sociais) e os recursos que a arte nos oferece podem resultar numa sociedade transformada pela ação de mulheres e homens.

Temos o direito de acreditar que "a vida é boa!" como disse Machado de Assis antes de morrer.

Fernanda Azevedo
Kiwi Companhia de Teatro / Cooperativa Paulista de Teatro

Lembrete: O feminismo não é o contrário do machismo. Feminismo é a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres.