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domingo, 29 de dezembro de 2013

Um grito necessário: Aqui não, senhor patrão!


Adailtom Alves Teixeira[1]

Todo espetáculo teatral de rua começa no momento em que os artistas decidem qual será o local da apresentação, começam a dispor o material cênico nesse espaço e a dialogar com o público. A esse procedimento seus fazedores chamam de aquecimento da roda ou de público. Uma hora antes da apresentação, no calçadão da Rua Dom Pedro II, no centro de Guarulhos, os integrantes do Núcleo Pavanelli já estava com tudo montado e brincavam entre si e com o público, anunciando, sempre em coro, o espetáculo do dia: Aqui não, senhor patrão! O espetáculo ocorreu no dia 18 de dezembro de 2013, dentro da 5ª Mostra de Teatro de Rua de Guarulhos, realizado pelo Movimento Cabuçu em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura. Ao longo dessa uma hora que antecedeu o espetáculo propriamente dito, o aquecimento da roda ocorreu por meio de piadas e brincadeiras, com o caráter de rebaixamento, principalmente dos atores, poesias, músicas, em que nada e ninguém são poupados, criando, assim um clima favorável, pois desmontam qualquer hierarquia que possa existir entre atores e público. Dessa forma, todos ficaram à vontade, afinal todos estão no mesmo espaço, no mesmo nível, e o que o aquecimento pretende dizer também é que todos são iguais.

Ainda antes de começar, é feito um pedido de licença ao espaço e às pessoas em forma de músicas, sobretudo indígenas e de matriz afro. A cultura do excluídos serve para irmanar ainda mais a todos, ao mesmo tempo em que pré-anunciam o que deve vir pela frente, pois as músicas falam de exploração, de trabalho e de luta. O público é convidado para dançar, afinal, como diz um ator, “a rua é pública”. Para ilustrar que tudo pode, o ator Lucas Branco dança com um adolescente, quebrando os preconceitos que nos são impostos, de que homem não dança com homem. Anunciam os versos da canção: “Ah! Quem deu esse nó/ não sabe dá/ esse nó tá dado/ e eu desato já”.
Começa Aqui não, senhor patrão! Criado em 2011, o espetáculo visa discutir a exploração do trabalhador, passando por espaços e tempos históricos distintos, demonstrando, assim, que não importa as mudanças, o trabalhador é sempre explorado por aqueles que detêm os meios de produção. O espetáculo inicia apresentando um casal, recém casados, que buscam no trabalho o sonho de uma vida melhor. Perpassam pelo trabalho no campo, em um curtume e uma fábrica; demonstrando, em quase cem anos de história, como os mesmos não decidem sobre suas condições de vida. Se, por um lado, poderíamos achar ilógico tanto tempo de vida e de trabalho, por outro, esse casal é apenas a representação do homem e da mulher que trabalha, símbolo dos trabalhadores não são personagens com histórias individuais, com começo meio e fim. Trata-se de um recurso épico muito interessante e os assistentes logo se identificam. Aliás, as personagens são rodiziados pelos atores, não se fixando a nenhum ator ou atriz.

O Núcleo Pavanelli surgiu e 1999, unindo circo e teatro de rua. Esses dois elementos continuam muito fortes como demonstra o espetáculo em epígrafe. O circo tem deixado as cenas ainda mais teatrais, na medida em as técnicas circenses não são utilizadas como mera exibição de habilidades, mas inseridas de forma bem contextualizada. O malabares e a pirofagia, por exemplo, ilustrando o excesso de trabalho e de exploração, a acrobacia utilizada em uma luta entre dois trabalhadores.
O grupo sabe que arte e sociedade não estão separados e que seus criadores não devem se furtar a discutirem sem tempo histórico. Assim, o espetáculo tem recurso didático e as músicas cumprem um grande papel. Em uma delas, por exemplo, perguntam: “Quem hoje sabe o que é luta de classes? Quem luta pelo que não sabe?” O espetáculo vai se desenvolvendo para que o trabalhador tome consciência que apenas juntos podem realizar algumas conquistas, enfrentar o patrão. Assim, finaliza em uma greve – que sabem ser apenas um primeiro passo da luta – que o público adere. Bastante simbólico a união entre público e atores, ambos trabalhadores. Assim, o espetáculo inicia criando a possibilidade de igualdade entre cena e assistência, entre atores e público e se encerra com todos irmanados por uma causa comum: a luta contra um sistema desagregador e explorador; luta simbolizada em forma de greve.
O espetáculo é bastante musical, tudo executado ao vivo. As músicas ora envolvem, ora distanciam, ora explicam. A música é tão forte, que em uma cena em que tudo ocorre por meio da fala – a cena em que o patrão faz o pagamento mensal – fica um pouco mais lenta em relação as demais.

Ao término do espetáculo, os atores deixam claro que os patrões encontraram outras formas de explorações e que a greve é apenas um passo na organização, por isso o Núcleo Pavanelli se junta a movimentos sociais que tem a perspectiva de acabar com a exploração do homem pelo homem. Depois, o microfone fica aberto para quem quiser falar. Destaco duas falas. Uma de um senhor, que disse ser morador de rua, que agradeceu pelo espetáculo e afirmou que por viver em condição de rua, não o deixam trabalhar, é um desterritorializado do trabalho; outra fala veio de uma criança, Jéssica, que disse ter um sonho: gostaria que quando crescesse fosse respeitada, já que sua mãe, no trabalho dela, não é. Denúncias claras de um sistema que oprime, explora e nos separa de nossa humanidade.
Depois disso, vem a festa, um maracatu, pois como afirmou o ator em cena: “não existe revolução sem festa”. O espetáculo denuncia, ensina e festeja com o público, afinal como escreveu Paulo Leminski em Toda poesia (2013):
em la lucha de clases
todas las armas son buenas
piedras
noches
poemas
Por fim, importante registrar o nome de quase todos que participaram desse processo. Atores: Beatriz Barros, Lucas Branco, Marcelo Roya, Mizael Alves, Otávio Correia, Sabrina Motta, Sidney Herzog e Tiago Cintra. Direção de Marcos Pavanelli. Direção musical de Charles Raszl, Dramaturgia de Simone Brites Pavanelli, com orientação de Calixto de Inhamuns.



[1] Ator, diretor; mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Unesp; integrante do Núcleo Paulista de Fazedores e Pesquisadores em Teatro de Rua; articulador da RBTR e do MTR/SP; integrante do Buraco d`Oráculo.

sábado, 21 de dezembro de 2013

A quase morte de Zé Malandro - Crítica

Registro da apresentação do Grupo de Teatro Drão - PE com o espetáculo A quase morte de Zé Malandro durante do X Festival de Teatro de Rua do Recife.

O Grupo de Teatro Drão - Pe, apresentou na Praça do Diário "A quase morte de Zé Malandro, sujeito imaginário e real contraditoriamente, seria ele da linhagem dos malasartes, chicos, bastiões, entre outros.

É também um homem desses comuns que encontramos nas vielas e esquinas das cidades, com seus baralhos, rinhas ou dominós, ele joga sua sorte ou infortúnio, pobreza, falta de perspectiva, educação, trabalho e mais e mais... Por isso torcemos pelo Zé, quisera ser ele e ter poderes místicos para burla e subjugar a morte-miséria que vem com o diabo-capital. Sistema que como no espetáculo vem enfeitada, cheirosa, atraente nos chamando para bailar a dança da mentira e exploração; levando-nos em seus braços para mais infortúnios...

Por isso torcemos pelo Zé, quisera todos nós ter a mesma astucia marginal que se aprende nas ruas, que se aprende da vida calejada de não ter trabalho, comida, casa, escola, mais e mais...

O Drão tenta reunir e aproximar o cavalo marinho da encenação, no inicio do espetáculo os atores fazem a dança dos arcos, como uma espécie de chamada ou chegança. Todavia a brincadeira do cavalo marinho pode invadir mais a brincadeira Drao, Zé malandro pode ser um fragmento do universo teatral popular presente na brincadeira, onde ele possa realizar um mergulhão corpóreo espacial nos bastiões e mateus. Assim, captando mais instabilidade, malandragem, desordem, inconstância e festividade, elementos próprios dessas figuras; vindo a ser a força matriz da corporeidade social de Zé Malandro, mesmo velho e de bengala. O grupo tem repertório e pesquisa suficiente nesse campo, para executar essa dança de encontro mais visceral com a brincadeira.

Assim como no cavalo Marinho, os personagens também passeiam entre o místico e o real; Zé malandro, a velha, o diabo, a morte, o santo, são figuras do imaginário nordestino. E como também tem o cantador no cavalo marinho, que costura a entrada dos brincadores; no espetáculo o grupo utiliza uma narradora, que é uma interlocutora com o público, conta a saga do Zé, canta a entrada nos personagens.
Nesse sentido, penso que todos os atores devam buscar seu brincante interior, e assim construir seu trupé pessoal, dançando, cantando, girando, brincando. Zé malandro e a narradora, já dão seus passos nessa construção. Até porque, a apresentação do espetáculo contou com a riqueza musical do mestre Ulisses Cangaia, brincante de cavalo marinho, que encheu de mais vida as peripécias de Zé Malandro, ressoando no som sertanejo e en-cantador da sua rabeca.

O Público da Praça do Diário, assistia torcendo, vibrando, rindo e brincando com a zombaria, enganação, malandragem e esperteza de Zé. Premiado com poderes místicos porque no seu caminho passou a sorte, sorte de malandro; uma velha bruxa, feiticeira, andarilha de estradas, que dotou Zé de encantos mágicos para ludibriar inimigos.

É um sujeito desses tão "malacubaco", "malassombro", sagaz, que por não ter nada foi lhe ensinado tudo. Quisera todos nós, sendo dessa natureza quem nem o diabo quer... Pois mesmo com todas as tentativas para não morrer, lutando, resistindo e existindo na vida de batalha que todos vivemos, o malandro cai, tomba, no entanto, em sua (des)indetidade ele não é bem vindo em lugar algum, e teimosamente habita todos os lugares. Zé malando nosso anti- herói, brincador de façanhas imaginárias, ganhador de todas as batalhas que nós desejosamente queríamos ganhar ao menos uma vez no cotidiano.

Olinda, 19 de dezembro de 2013.
Raquel Franco, Atriz e Palhaçada na Trupe Circuluz Cia de Artes. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Crítica de O Cuscuz Fedegoso

Texto de registro da apresentação do "O Cuscuz Fedegoso" / grupo Buraco do Oráculo - SP durante o X Festival de Teatro de Rua do Recife

"Uma ajuda senhor, uma ajuda senhor"... A Rua é o teatro e o Teatro é a rua - assim pensei quando entra em cena o mendigo–malandro- faminto do espetáculo "O Cuscuz Fedegoso" do grupo paulistano Buraco do Oráculo. - Eles estão falando da rua, das coisas das ruas, da vida artéria das ruas, da fome das ruas; cheiros, boca, bunda, comida, doença, morte, burla e esperteza, é o compêndio de diversidades que são as ruas.


A estética do espetáculo traz diversas construções da natureza da criação espetacular das ruas, elementos do que poderia chamar de "espetacularidade de rua". Os personagens, por exemplo, trazem em seus corpos, figurinos, trejeitos e fala, características da bufonaria. São protuberâncias, falos, erotismos, sensualidades e sexualidades, fome e desejo. Não é um tipo apenas de linhagem bufonesca, mas várias, perceptíveis na astúcia; no entanto, e acho que esse é o maior ganho do trabalho, é uma bufonaria com fazer e olhar contemporâneos.

Os bufões são seres urbanos, leva de criaturas marginais que habitam as cidades, fruto dos excrementos sócio políticos que ela produz, todavia nos projetam a visão da potência transformadora e visceral que mina da dor, exclusão e necessidades (materiais e afetivas de todos os tipos), possibilitada por que eles sublimam e mostram um mosaico de liberdades, união, eloquência e abundância de força e vida.

No espetáculo são bandos das urbes atual, espalhados entre nós, muitas vezes somos nós. Foi essa identificação talvez, que trouxe "Maria" para a cena do cuscuz. Logo no inicio do espetáculo entra em cena duas pessoas na roda, um homem e uma mulher, eles não eram do elenco, mas passaram a ser. Tanto, que não sei como o cuscuz será sem "Maria".

O homem interagiu, brincou, divertiu-se e saiu dando adeus ao mundo dentro do outro mundo maior, porém Maria (e esse foi um nome fictício que a mesma ganhou como nova personagem do espetáculo) ela ficou e brincou, Maria trouxe e viveu seu mundo de becos, ruas, desejos, fome, erotismo e dor, compartilhando essa vivência.

Instaurou-se o caos, bendito seja o caos, no já preparado e temperado cuscuz fedegoso. Inicialmente os atores tiveram um ritual de passagem, hesitaram e temeram, pois estavam à beira do precipício que Maria escancaradamente queria lança-los, mas para nossa alegria e deleite, eles se jogaram no abismo e voaram como um bando, uns deram voos rasantes, lindos de ver, outros, mais timidamente ensaiavam suas asas abertas na aventura e imprevisibilidade que se apresenta o teatro de rua.

No cenário, alguns apetrechos e quinquilharias utilizados nas cenas, remeteram a influencia do barroco popular, misturado a plasticidade convulsiva e emaranhada do artista Bispo do Rosário. Perceptível pela deformidade, cores, arabescos, detalhes, miniaturas, colagens e fragmentos. É uma plasticidade preenchida, que enche nossos olhos, provocando atração, mas também medo e repulsa.

É um espetáculo que dialoga sobre os desejos da natureza humana, as necessidades básicas da vida - a fome, sexo, saúde, a sobrevivência e existência.  E toma para si a zombaria, ironia, escárnio, burla. Cada vez que o cuscuz se misturar as ruas, vai ficando mais apetitoso, tomando o rumo de reencontro com sua estética, podendo então mais exalar, desnudar e fazer o público deleita-se.

Um dia antes na Praça da Mustardinha, bairro do Recife, foi realizado apresentação do espetáculo, no entanto o cuscuz só "fedegou-se" na Praça do Diário, centro efervescente da capital pernambucana. Nessa apresentação entrelaçaram-se estéticas e estéticas, onde a rua com seu emaranhado de seres, imagens, força e imprevisibilidade atacou o cuscuz, temperou a seu modo e comeu até o último farelo amarelado, muitas vezes cuspindo-o de volta em outras receitas e sutilezas.

Olinda, 18 de dezembro de 2013.
Raquel Franco, Atriz e Palhaçada - Trupe Circuluz Cia de Artes.

Texto / Lei do Artista de Rua de Porto Alegre

Texto da Lei do Artista de Rua de Porto Alegre.

PROC. Nº 1882/13
PLL Nº 200/13
PROJETO DE LEI

Dispõe sobre a apresentação de artistas de rua nos logradouros públicos do Município de Porto
Alegre, revoga a Lei nº 10.376, de 31 de janeiros de 2008 e dá outras providências.

Art. 1º Ficam permitidas manifestações culturais de artistas de rua no espaço público aberto, tais como praças, anfiteatros, largos e vias.

Art. 2º A permissão de que trata o art. 1º desta Lei fica condicionada à observância dos seguintes requisitos:

I – gratuidade para os espectadores, permitidas doações espontâneas;

II – permissão da livre fluência do trânsito, da passagem e da circulação de pedestres, bem como o acesso a instalações públicas ou privadas;

III – utilização de fonte de energia para alimentação de som com potência máxima de 30 (trinta) kVAs; e

IV – inexistência de patrocínio privado que as caracterize como um evento de marketing, salvo projetos apoiados por leis municipal, estadual ou federal de incentivo à cultura.

Art. 3º Para os fins desta Lei, consideram-se atividades culturais de artistas de rua o teatro, a dança, a capoeira, o folclore; a representação por mímica, inclusive as estátuas vivas; artes circenses em geral, abrangendo a arte dos palhaços, dos mágicos, do malabarismo, dos saltos mortais no chão ou em trapézios; artes plásticas de qualquer natureza; espetáculo ou apresentação de música, erudita ou popular, vocal ou instrumental; literatura, poesia, desafios poéticos, poesia de cordel, improvisação e repentistas; recital, declamação ou cantata de texto.

Parágrafo único. Durante a atividade ou evento, fica permitido ao artista receber doação espontânea em troca de bens culturais duráveis, vinculados às apresentações do(s) artista(s) ou grupos.

Art. 4º As manifestações culturais de que trata esta Lei independem de prévia autorização dos órgãos públicos municipais e não estão sujeitos à cobrança de quaisquer tributos ou preços públicos.

Art. 5º O responsável pela manifestação cultural informará ao Executivo Municipal o dia e a hora de sua realização, a fim de compatibilizar o compartilhamento do espaço, se for o caso, com outra atividade da mesma natureza no mesmo dia e local e possibilitar prévia divulgação.

Art. 6º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 7º Fica revogada a Lei nº 10.376, de 31 de janeiro de 2008


quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Carta do 4º Encontro da Rede Sul

CARTA DO 4º ENCONTRO DE TEATRO DE RUA DA REGIÃO SUL - RBTR

       

Os artistas trabalhadores e grupos da região sul – RS, SC e PR, articuladores da Rede Brasileira de Teatro de Rua reunidos em Londrina – PR, entre os dias 14 e 15 de dezembro de 2013, realizaram o 4º Encontro de Teatro de Rua da Região Sul - RBTR, reafirmando a missão de lutar por políticas públicas culturais com investimento direto do Estado em todas as instâncias: Municípios, Estados e União, endossando, ainda, a luta por um mundo socialmente justo e igualitário.

Em busca do aperfeiçoamento dos sonhos dos articuladores da Rede, a programação do 4º Encontro de Teatro de Rua da Região Sul contou com um cortejo/apresentações pelo centro da cidade e plenárias realizadas nas Vilas Culturais Casa do Teatro do Oprimido e Alma Brasil, esta última tendo sediado também o Sarau Cultural que finalizou o evento.

Este encontro foi organizado pelo MARL – Movimento dos Artistas de Rua de Londrina, movimento este formado por grupos culturais de diversas linguagens: teatro, música, grafite, rap, intervenções audiovisuais, artesanato, cultura popular, entre outros.  Surgiu no ano de 2012 com o objetivo de articular os artistas de rua da cidade, alertando à necessidade de políticas públicas para as artes públicas.

A Rede Brasileira de Teatro de Rua, criada em março de 2007, em Salvador/Bahia, é um espaço físico e virtual de organização horizontal, sem hierarquia, democrático e inclusivo. Todos os artistas-trabalhadores e grupos de rua e afins pertencentes a ela podem e devem ser seus articuladores para, assim, ampliar cada vez mais suas ações e pensamentos.

Os articuladores da região sul pertencentes à Rede Brasileira de Teatro de Rua, com o objetivo de construir políticas públicas culturais mais democráticas e inclusivas, defendem:

  • A criação de programas de ocupação de espaços públicos, para sede dos grupos de pesquisa e trabalho continuado, tornando-se centros de referência para as artes de rua;
  • Manutenção, aprimoramento e permanência de espaços públicos que já possuem ocupação de grupos de pesquisa através de comodato e/ou convênios;
  • Que as instâncias públicas e privadas respeitem a tradição de "passar o chapéu" nas apresentações dos artistas de rua, independente de haver ou não subvenção para a realização do espetáculo;
  • Representações das artes de rua nas comissões regionalizadas dos editais públicos, colegiados setoriais e conselhos das instâncias municipal, estadual e federal;
  • Imediato aumento do aporte de verbas para a Lei de Fomento de Porto Alegre - RS e o Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROMIC) da cidade de Londrina – PR, bem como a criação de novas leis em outros municípios dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná;
  • Garantir a remuneração dos membros da comissão avaliadora dos projetos do PROMIC, em Londrina – PR;
  • Assegurar pelo menos 1% do orçamento dos municípios para a cultura;
  • A extinção de todas e quaisquer cobrança de taxas, bem como a desburocratização para as apresentações de artistas-trabalhadores, grupos de rua e afins, garantindo assim o direito de ir e vir e a livre expressão artística, em conformidade com o artigo 5º da Constituição Federal Brasileira;
  • Imediata aprovação da Lei dos Artistas de Rua nas cidades de Londrina – PR e Florianópolis – SC;
  • Aprovação e regulamentação imediata da PEC 150/03, atual PEC 147, que vincula para a cultura o mínimo de 2% do orçamento da União, 1,5% do orçamento dos Estados e Distrito Federal e 1% dos orçamentos dos municípios;
  • Extinção da Lei Rouanet e de quaisquer mecanismos de financiamento que utilizem a renúncia fiscal;
  • A utilização da verba pública através do financiamento direto do estado, por meios de programas e editais, em formas de prêmios, elaborados pelos segmentos organizados da sociedade;
  • A criação de programas específicos em nível municipal, estadual e federal que contemplem: produção, circulação, formação, registro, documentação, manutenção e pesquisa, mostras e encontros para as artes de rua e mérito artístico na capital e interior dos estados;
  • Aumento da participação dos espetáculos de rua em festivais consolidados como: Porto Alegre Em Cena (RS), Caxias em Cena (RS), Floripa Teatro - Isnard Azevedo (SC), FITA Floripa (SC), Festival de Teatro de Curitiba (PR), Festival Internacional de Londrina - FILO (PR), FENATA (PR), entre outros, com objetivo de promover o intercâmbio e a troca de experiências entre os artistas;
  • Que os espaços públicos (ruas, praças, parques, entre outros), sejam considerados equipamentos culturais e assim contemplados na elaboração de editais públicos e no Plano Nacional de Cultura;
  • Que os editais para as artes sejam transformados em leis para garantia de sua continuidade, fomentando também o intercâmbio entre companhias de diferentes cidades;
  • Que os editais Myriam Muniz e Artes na Rua sejam publicados no primeiro trimestre de cada ano com maior aporte de verbas e que seja publicada a lista de projetos contemplados e suplentes, além da divulgação de parecer técnico de todos os projetos avaliados;
  • Que os editais sejam regionalizados e sejam criadas comissões igualmente regionalizadas, tendo ainda a atribuição de acompanhar o projeto até sua finalização com os respectivos pareceres;
  • Que as estatais contemplem com equidade em seus editais as artes de rua, respeitando o critério de regionalização;
  • Apoio financeiro do Ministério da Cultura, através das suas secretarias e fundações vinculadas, aos Encontros de Teatro de Rua;
  • Criação de Fundos Estaduais, com distribuição das verbas de forma equânime entre as cidades;


O Teatro de Rua é um símbolo de resistência artística, comunicador e gerador de sentido, além de ser propositor de novas razões no uso dos espaços públicos abertos. Assim, reafirma-se o dia 27 de março, dia mundial do teatro e dia nacional do circo, como o dia de mobilização nacional por políticas públicas, e conclamam-se os artistas-trabalhadores, grupos de rua e afins e a população brasileira a lutarem pelo direito à cultura e à vida.

"Um Artista de Rua faz mais que um Ministro da Cultura" – João Pé-de-chinelo – Grupo Manjericão.

Vila Cultural Alma Brasil, Londrina, PR - 15 de dezembro de 2013.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Povoar o imaginário com a possível mudança


Adailtom Alves Teixeira[1]

A rua é um espaço de disputa. No campo da arte é disputa pelo próprio espaço de expressão da mesma, na medida em que se concorre com pastores, sons dos mais diversos, vendedores, eventos dos mais diversos etc. No caso de uma arte que se propõe intervencionista, isto é, que visa discutir a própria sociedade, é disputa também pelo imaginário, sobretudo dos trabalhadores. Trabalhadores, estes, cansados de um sistema massacrante. É nesse campo que se coloca o Coletivo Território B com sua peça Banalidade, não à toa, inserido dentro da programação do Festival de Direitos Humanos. Em cena quatro artistas, dois atores (Danilo Minharro e Luciano Carvalho) e duas atrizes (Bruna Amado e Magê Blanques) narram uma história real: a violenta desapropriação da comunidade de Pinheirinho em São José dos Campos no início de 2012. A apresentação a que assisti ocorreu no dia 13 de dezembro na Praça do Patriarca, centro da cidade de São Paulo.

O teatro de agitação e propaganda, conhecido por agitprop cumpriu grande função durante a revolução russa, sobretudo na forma do teatro jornal, já que em uma grande massa de analfabetos essa era a possibilidade de terem acesso a determinados temas que não tinham por outras vias. Apesar de irem fundo no caso Pinheirinho, o que o Coletivo Território B faz não é teatro jornal, embora cumpra função bem parecida, afinal em uma sociedade em que dez famílias dominam todas as grandes mídias, ir para a rua discutir os temas pertinentes à própria classe trabalhadora é fundamental.

O grupo não se restringe – ainda que não seja pouco – ao caso Pinheirinho, utilizam citações de Anton Tchekhov para mostrar a decadência de uma classe. Se o autor russo escreveu sobre a decadência da aristocracia, o mesmo vale para a burguesia de hoje. Penso que a cena pede mais elementos, alguns adereços para caracterizar essa burguesia, não apenas o chá e o texto. Na cena, um chá da tarde, as personagens que vemos conversando, é como se não pertencessem mais a este mundo. Se por um lado é certo que já não pertencem mais a esta realidade, e aí está a força da cena, por outro, é muito fácil perder a mão e a comunicação com o público, afinal a rua é lugar de trânsito e qualquer desinteresse perde-se a disputa.

Em outro momento bastante lúdico, o Coletivo Território B coloca as pessoas do público para alimentarem a "mamãe grande". Como se questionou alguém do público sobre a representação: "seria os Estados Unidos da América?" É mais, mas não deixa de ser interessante essa identificação. Na brincadeira da cena – e na vida real – todos alimentamos a "mamãe grande", mas na peça, cansados de vermos ela nos devorar, podemos nos vingar, derrotá-la. Ou até, como quase fez de verdade outra pessoa do público, destruí-la, esquecendo que era apenas um objeto, uma representação.

E aqui é importante uma reflexão. Essa vontade de destruição do objeto que representa a personagem "mamãe grande" (o próprio sistema capitalista) – figura agigantada com uma enorme boca que tudo devora – demonstra dois fatos potentes: a força do teatro e a importância de discutirmos o momento histórico atual. Os dois estão sendo feitos pelo espetáculo Banalidade. Uma peça épica que parte da realidade, demonstrando que os integrantes desse coletivo não estão apartados, e muito menos alheios à realidade social, cumprindo, assim, o papel da arte enquanto conhecimento. Por sua vez, e justamente por isso, cumprem outra função imprescindível nos tempos atuais: a disputa do imaginário da classe trabalhadora. Logo, o Coletivo Território B, não poderia está em melhor lugar: a rua.

A peça finaliza apontando para a mudança, mas não diz como, afinal, respostas devem ser criadas coletivamente. Estamos todos vivendo tempos difíceis, a grande maioria dos trabalhadores cansados de tanta repressão, tanto sufoco, tanto depauperamento, incutir nas mentes e corações a necessidade de mudanças profundas na sociedade é também papel da arte. E me parece que a mudança só pode vir da classe trabalhadora, afinal, para o outro lado, ficar como está é o melhor que pode acontecer.


[1] Mestre e Artes pelo Instituto de Artes da Unesp; membro fundador do Núcleo Brasileiro de Pesquisadores em Teatro de Rua; ator e diretor teatral.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Virada Cultural da Baixada Fluminense


"Quem te viu quem te vê"!
(Virada Cultural da Baixada Fluminense)
Nos falares da Baixada Fluminense ecoam sotaques de quase todas as regiões brasileiras. Na contra mão da imposta síndrome de "Belas-adormecidas", as cidades despertam inquietudes e encorajamento estético à diferentes segmentos que afinam estas polifonias em potentes diapasões de respiro e pulsão criativa diante das constantes tentativas de asfixia e invisibilidade cultural e territorial.
São quase quatro milhões de vozes contra o silencio de politicas públicas eficazes para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fontes da cultura e o pleno exercício dos direitos culturais.
Tradicionalmente a atividade cultural e artística na região tem se caracterizado por ações autônomas, sem quase nenhum apoio técnico e financeiro. Nem por isso essas atividades quase sempre protagonizadas e promovidas pela Juventude deixam ou deixaram de existir. Atualmente diversas ações desde festivais de teatro, música e dança, eventos afirmativos com viés cultural, cultura hip-hop, rock, reggae, samba e uma infinidade de mestres e culturas tradicionais em seu território estão em plena ebulição.
Quem te viu Quem te vê?" tem como seu alicerce as lentes dos documentários "Quem se importa" de Mara Mourão (que se tornou um movimento de inspiração para ações transformadoras) ou pelo "Nunca fui, mas me disseram" de alunos do Curso de Produção Cultural da IFRJ do Campus de Nilópolis (sobre a visão que não moradores da região tem sobre a região)
 "Quem te viu Quem te vê?" – é uma atitude de prontidão artística e cultural. Serão 12 horas de encontro, convivência e criatividade com apresentações artísticas, exposições feiras e "intervenções reflexivas- Bate-papos Culturais". Tudo isto articulado através de diferentes redes que animam e energizam os fios da alta tensão que acendem toda produção cultural da região.
Este ato esta articula manifesto cultural para o começo de uma virada na região:
v  A consolidação de um Fórum Permanente de Entidades e Agentes Culturais da região.
v  Criação de Fundo Estadual especifico para Desenvolvimento Cultural Regional.
v  Criação de centros de Formação profissional nas áreas das Artes e Cultura.
v  Efetivação do Programa Estadual Cultura Viva viabilizando novos editais para Pontos de Cultura na região.
v  Criação de amplo programa  publico/privado articulando juventude , cultura e participação social.
Quem te viu quem te vê"! (Virada Cultural da Baixada Fluminense) É um movimento de revitalização cultural da região articulado pelo Programa Brasil/próximo, diferentes redes culturais da juventude e sociedade civil da região base do futuro Fórum Permanente de Entidades e Agentes Culturais da Baixada Fluminense e Fórum de Secretários de Cultura da Baixada Fluminense
Local : PRAÇA SANTOS DUMONT -NOVA IGUAÇU
Data: 07/12/2013- Hora DE 18 AS 6H 

domingo, 8 de dezembro de 2013

Carta de Repúdio ao PL 416 - Florianópolis


Florianópolis, 03 de dezembro de 2013

O Fórum Setorial de Teatro de Florianópolis manifesta o seu repúdio aos atos do Secretário de Estado de Turismo, Cultura e Esporte de Santa Catarina, José Roberto Martins, bem como do Governador Raimundo Colombo que propõem a alteração de Lei Estadual 13336/2005.

A referida Lei tem o mérito de instituir o Fundo Estadual de Incentivo à Cultura - FUNCULTURAL, o Fundo Estadual de Incentivo ao Turismo - FUNTURISMO, e o Fundo Estadual de Incentivo ao Esporte – FUNDESPORTE. No caso do FUNCULTURAL, os recursos devem ser destinados a financiar, através de editais públicos de seleção, projetos na área cultural apresentados por pessoas físicas ou jurídicas sem fins lucrativos.

Acontece que o Secretário José Roberto Martins expediu documento afirmando que parte destes recursos estava sendo usada na manutenção e custeio da própria Secretaria. Quando o Tribunal de Contas do Estado e o Ministério Público Estadual manifestaram a contrariedade a esta aplicação dos recursos, o Secretário solicitou que o Governador propusesse alterações na Lei para que os recursos do FUNCULTURAL, do FUNDESPORTE e do FUNTURISMO possam ser usados legalmente para pagar despesas da Secretaria.

Resumidamente, o Projeto de Lei 416/2013 altera o texto da Lei 13336 da seguinte forma:

Como era? "[a receita proveniente dos Fundos] será destinada a financiar, exclusivamente, projetos que possuam caráter estritamente cultural, turístico e esportivo";

Como fica com o PL 416? "[os recursos provenientes dos Fundos] poderão ser descentralizados para manutenção e custeio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), da Fundação Catarinense de Desporto (FESPORTE) e da Santa Catarina Turismo S.A. (SANTUR) ou utilizados pela Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte (SOL) para sua manutenção e custeio".

Ora, isso fere gravemente o propósito dos Fundos, que deveriam servir para fomentar a produção cultural (e esportiva, e turística) de Santa Catarina. No entender deste Fórum Setorial, o custeio e a manutenção das Secretarias de Estado devem estar previstos no Orçamento Anual do Poder Executivo, preservando o FUNCULTURAL para que ele cumpra a sua finalidade. Não admitimos o repasse desta verba para outro fim que não editais públicos de seleção de projetos culturais.

Pelo exposto, repudiamos e convidamos outras entidades representativas a repudiar atitudes que sequestrem os já irrisórios recursos destinados à cultura catarinense.

Mobilizemos nossos representantes na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina para que eles votem contrariamente ao PL 416!!!


Fórum Setorial de Teatro de Florianópolis



terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Texto para animar a discussão da formação Escambo

A EDUCAÇÃO POPULAR TECENDO TRILHAS DE REENCONTROS PELOS CAMINHOS DO SERTÃO: o movimento Escambo construindo ação-reflexão – ação


Esse é um tempo de reencontros mediados pela energia da criança que nos flexibiliza para o diálogo franco e criativo. É um tempo de embrenhar-se nas estradas do sertão e encontrar reencontrar tantos rostos, corpos, tantos seres!

Os movimentos nos levam por estradas ermas e terras marcadas pela secura da estiagem em maio das quais é possível encontrar oásis de fartura, de verdura, de águas doces e puras.  As emoções afloram e trazem lembranças de uma história de luta e resistência, construção coletiva que começa há 22 anos. Lembranças que se revolvem no baú das nossas mentes e se corporificam, se vivificam. É muita boniteza, como nos dizia Freire, o encontro com os companheiros, e mais bonito ainda, perceber que os laços que tecemos desceram às profundezas da terra com raízes tão profundas que sustentam as intempéries da secura nordestina, sertaneja.


Secura se cura com água e amor

Saudade não se cura.....


Já nos dizia Junio Santos.  Assim meus pés se fincam na areia grossa e as mãos mergulham no espelho de águas cristalinas que revela as marcas dessa construção singular e polifônica, desse canto ao mesmo tempo uno e coletivo.

Ousamos pois debruçar-nos sobre o vivido para apreender e visibilizar esse saber de experiência feito por tantas mulheres e homens de todas as idades.

Sim vamos conjugar o verbo esperançar porque é hora de assumir o compromisso não só com a luta mas com a conquista; com o sonho e o caminhar coletivo dessa marcha-dança  com pausa para uma respiração profunda que realimenta corpos, mentes e espíritos de tantas idades e experiências.

Refletir sobre o caminho, os caminhos que trilhamos. Debruçar-nos sobre a história para nutrir-se de esperança e conjugar o verbo esperançar em coros, cortejos, dança, percussão e poesia, cenopoesia, que faz o coração bater mais forte e rebumba fundo buscando um ritmo comum para nos conectar com o coração da nossa Mãe Terra; que promove o diálogo possibilidade de comprometer-nos com a incerteza do certo ou errado mas com a possibilidade de nos percebermos sujeitos da construção de nossa história assumindo a autoralidade do conhecimento que produzimos a partir da nossa experiência, da nossa arte, da nossa vida coletiva nesse movimento que se expande,se entranha e nos impulsiona a ser mais.

Os questionamentos chegam para que a problematização possa fazer emergir a consciência crítica que amplia nosso olhar e percebendo as situações-limite do cotidiano, construir o inédito viável.

Como caminhar olhando para o outro e para outra sem perder a essência? Mas qual a essência do nosso caminhar?  Como manter a magia, o encantamento que nos une amorosamente? Como manter a luta viva e o sentido profundo de solidariedade que sempre permeou esse movimento?

As perguntas geram outras e outras mais  e assim seguimos aprendendo uns com os outros fazendo o caminho no caminho e sempre estimulando essa curiosidade  de compreender  e lutar contra o que gera opressão.

Assim, à sombra das mangueiras que nos acolheram e cuidaram, trago a minha gratidão a cada um e cada uma que se fazem mestres e nos ajudam a caminhar; a Paulo Freire que nos ensinou a aprender a aprender; e a esse movimento de luta e resistência com o qual me comprometo pra seguirmos juntos.

                                  

Vera Dantas

Felipe Guerra,  RN, 01/12/2013



2% DO ORÇAMENTO PARA CULTURA JÁ: CARTA AOS VEREADORES

São Paulo, 03 de Dezembro de 2013


 

Carta aos Vereadores da Cidade de São Paulo



Excelentíssimo(a)s Senhore(a)s Vereadore(a)s



Esta  carta  representa  o  posicionamento  político  dos  movimentos  culturais  das  periferias  da cidade  de  São  Paulo  no  que  compete  ao  orçamento  da  Secretaria  Municipal  de  Cultura,  que  será votado  nos  próximos  dias.  Estamos  acompanhando  de  perto  este  processo,  conquistando  espaços  de participação  direta  para  debater  as  necessidades  orçamentárias  junto  às  Secretarias  e  Parlamentares, buscando  garantir  comprometimento  com  as  políticas  culturais,  sobretudo  aquelas  que  influenciam diretamente na qualidade da produção cultural presente nas margens.


2% Já

Esta  bandeira  foi  levantada  pelos  movimentos  culturais  das  periferias  na  ultima  audiência pública, realizada em 04 de novembro. No mesmo momento foi apresentada carta aos vereadores com o estudo orçamentário publicado pelo Fórum de Cultura da Zona Leste.
Existe  um  compromisso  firmado  no  plano  de  metas  da  prefeitura  de  2%  do  orçamento  da cidade  para  a  Cultura.  Esta  proposta  também  esteve  presente  como  uma  das  principais  demandas  da Conferência Municipal de Cultura  deste ano  e exigimos  que  seja cumprida  já em 2014.  Para tanto é necessário vontade política e apoio da Câmara dos Vereadores.


2% Como

A  produção  cultural  das  periferias  representa  em  número  a  maior  parte  da  produção  do município,  porém  tem  acesso  preterido  quando  se  trata  de  distribuição  dos  recursos.  São  necessárias políticas que revertam essa realidade cuja lógica é a de concentração dos recursos em programas e leis que, em sua execução, acabam limitados pelos muros ideológicos da exclusão imposta às margens.
 

Dos  453  milhões  previstos  para  2014,  apenas  25  milhões  irão  para  políticas  direcionadas  à periferia. A sociedade representada na Conferencia Municipal de Cultura apontou para a necessidade de investir  em  ações  diretas  nas  periferias  da  cidade  e  o  que  foi  apresentado  pela  Prefeitura  como proposta  orçamentária  não  dialoga  com  o  projeto  de  sociedade  que  queremos.  A  insuficiência  do orçamento destinado à pasta da Cultura levará o retrocesso  ou estagnação de  diversos programas de formação e produção artístico-cultural.

Sendo  assim,  os  movimentos  culturais  da  periferia  apresentam  de  forma  unificada  a reivindicação de aumento significativo do orçamento da Secretaria de Cultura, elencando as  demandas votadas na Conferência Municipal de Cultura,  e que  para nós  são  prioritárias por afetarem diretamente no aumento da quantidade e da qualidade da produção cultural periférica:

  • Aumento  da  verba  destinada  ao  Programa  VAI,  principal  política  cultural  destinada  à  produção cultural periférica;
  • Recurso para políticas de apoio e manutenção de espaços culturais independentes;
  • Recurso para programação dos equipamentos culturais, com prioridade às Casas de Cultural;
  • Verba  para  execução  da  Semana  do  Hip  Hop,  evento  regulamentado  em  lei  há  dez  anos,  mas  sem recurso previsto;
  • Recursos para reforma administrativa da Secretaria Municipal de Cultura, uma demanda apresentada tanto por movimentos como pela própria SMC.


Nós,  movimentos  articulados  das  periferias  de  São  Paulo, também  apresentamos  nesta  carta o total  REPÚDIO ao  PROJETO DE LEI 43/2013 do vereador Andrea Matarazzo  que estabelece a reformulação  da  Lei  Mendonça,  baseada  em  renuncia  fiscal,  transferindo  a  responsabilidade  do direito cultural  e do orçamento público  para a iniciativa privada. Repudiamos o fato desta Câmara Municipal, a casa do povo, não  saber distinguir entre o que beneficia a população de forma direta e o que  beneficia  ao  empresário,  permitindo  a  aprovação  de  uma  lei  que  delega  ao  departamento  de marketing de uma empresa o julgamento do que serve ou não à esta São Paulo, complexa, inovadora nas políticas públicas de cultura e participativa em seus processos de decisão.

Repudiamos o fato deste projeto de lei  injetar falsamente  87 milhões  no orçamento da cultura, enquanto  políticas  diretas  para  a  periferia  representam  um  terço  deste  valor.  Portando  deixamos  claro para o poder legislativo, e também ao executivo, que somos veementemente contrários a esta proposta de lei e lutaremos pelo seu veto.

Por  fim,  destacamos  que  durante  todo  o  mês  de  outubro  nos  reunimos  com  representantes  da Frente  Parlamentar,  Secretaria  Municipal  de  Cultura  e  SEMPLA.  Esta  casa  se  comprometeu  em investir  no  orçamento  da  SMC,  e  não  foi  para  injetar  dinheiro  em  renúncias  fiscais,  mas  para fortalecer  os  programas  já  existentes  que  estão  a serviço  da  população  que  ainda  carece  de  acesso  ao direito à cultura.  O relatório orçamentário apresentado  pela Comissão de Finanças  nesta  segundafeira  não  apresenta  estas  discussões  e  as  pautas  apresentadas  pelos  movimentos  e  cooperativas artísticas.  Perguntamos-nos  então:  para  que  servem  estes  canais  de  diálogo  como  as  conferências  e audiências públicas?  Solicitamos maior comprometimento desta casa no que tange ao interesse da maior parte da população.



Assina esta carta a Articulação dos Movimentos Culturais da Periferia:

Fórum de Cultura da Zona Leste
Movimento Organizado Moinho Vivo
Bloco dos Espaços de Ocupação Cultural
Rede Viva Periferia Viva
Multirão Cultural da Quebrada
Articulação dos Saraus Periféricos
Fórum Municipal de Hip Hop
RECUSA

além de diversos coletivos e artistas independentes em luta.


domingo, 1 de dezembro de 2013

Nota de Repúdio do 10º Festival de Teatro de Rua do Recife - 10 ANOS DE ARTE PÚBLICA - 02 a 07 de Dezembro de 2013


Poderíamos escolher em nosso largo vocabulário, palavras leves e delicadas para não constranger o Governo do Estado de Pernambuco e seus dirigentes. Poderíamos aliviar as tensões e propor mais uma vez um diálogo aprazível para ambas as partes. Poderíamos... mas não dá! A FUNDARPE mais uma vez ignora a importância de um movimento que beira os seus 30 anos de atuação e é reverenciado por todo o Brasil.

O Movimento de Teatro Popular de Pernambuco realiza o Festival de Teatro de Rua do Recife há 10 anos. Nosso Festival é referência no calendário cultural do Recife, proporcionando espetáculos, oficinas e seminários para mais de 50.000 pessoas entre público, artistas e técnicos das artes cênicas, onde circularam grupos locais e de outros estados como: Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraíba, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Ceará e de outros países da América Latina e Europa, respectivamente, Argentina, Chile e Itália.

A FUNDARPE ignora um Festival que atinge todas as RPAs do Recife e distribui sua programação (totalmente gratuita) no centro e nas periferias mais ESQUECIDAS dessa cidade. O Governo do Estado e o famigerado Eduardo Campos, lanças belas palavras de apoio e respeito a cultura popular, mas ignora um Festival que reúne valiosos brincantes de nossa cultura, como: Mestre Inácio do Cavalo Marinho e o Velho Dengoso do Pastoril Profano.

O que faz a FUNDARPE não apoiar o 10º Festival de Teatro de Rua do Recife? TOTAL DESRESPEITO! Além de não oferecer nenhum tipo de apoio, o presidente da FUNDARPE, Severino Pessoa, não teve coragem de comunicar oficialmente a sua decisão. SACANAS! A Secretaria de Cultura do Estado e a FUNDARPE fecharam suas portas e numa atitude por vezes repetida, decidem calar e manter a farsa de sempre.

O Movimento de Teatro Popular de Pernambuco repudia essa atitude e decide ocupar as ruas da cidade com o nosso 10º Festival de Teatro de Rua do Recife. Grupos de São Paulo, Rio Grande do Sul e do Norte, Paraíba e Pernambuco, vão sacudir as ruas e deixar claro para a população o que fazem os gestores. QUEREMOS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS ARTES PÚBLICAS!

Movimento de Teatro Popular de Pernambuco.

A FUNDARPE é sacana!    Poderíamos escolher em nosso largo vocabulário, palavras leves e delicadas para não constranger o Governo do Estado de Pernambuco e seus dirigentes. Poderíamos aliviar as tensões e propor mais uma vez um diálogo aprazível para ambas as partes. Poderíamos... mas não dá! A FUNDARPE mais uma vez ignora a importância de um movimento que beira os seus 30 anos de atuação e é reverenciado por todo o Brasil.    O Movimento de Teatro Popular de Pernambuco realiza o Festival de Teatro de Rua do Recife há 10 anos. Nosso Festival é referência no calendário cultural do Recife, proporcionando espetáculos, oficinas e seminários para mais de 50.000 pessoas entre público, artistas e técnicos das artes cênicas, onde circularam grupos locais e de outros estados como: Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraíba, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Ceará e de outros países da América Latina e Europa, respectivamente, Argentina, Chile e Itália.    A FUNDARPE ignora um Festival que atinge todas as RPAs do Recife e distribui sua programação (totalmente gratuita) no centro e nas periferias mais ESQUECIDAS dessa cidade. O Governo do Estado e o famigerado Eduardo Campos, lanças belas palavras de apoio e respeito a cultura popular, mas ignora um Festival que reúne valiosos brincantes de nossa cultura, como: Mestre Inácio do Cavalo Marinho e o Velho Dengoso do Pastoril Profano.    O que faz a FUNDARPE não apoiar o 10º Festival de Teatro de Rua do Recife? TOTAL DESRESPEITO! Além de não oferecer nenhum tipo de apoio, o presidente da FUNDARPE, Severino Pessoa, não teve coragem de comunicar oficialmente a sua decisão. SACANAS! A Secretaria de Cultura do Estado e a FUNDARPE fecharam suas portas e numa atitude por vezes repetida, decidem calar e manter a farsa de sempre.    O Movimento de Teatro Popular de Pernambuco repudia essa atitude e decide ocupar as ruas da cidade com o nosso 10º Festival de Teatro de Rua do Recife. Grupos de São Paulo, Rio Grande do Sul e do Norte, Paraíba e Pernambuco, vão sacudir as ruas e deixar claro para a população o que fazem os gestores. QUEREMOS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS ARTES PÚBLICAS!    Movimento de Teatro Popular de Pernambuco.

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