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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A culpa é do vento sul

Por Jussara Trindade - doutoranda UNIRIO

O primeiro espetáculo que assisti, durante o 16º Floripa Teatro, foi Boleba: vai pra rua, menino! do grupo carioca Te Conto Umas. No dia anterior, o céu era “de brigadeiro”: nenhuma nuvem no horizonte. Lembro de ter perguntado a um dos motoristas da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes – entidade promotora do evento - se algum dos espetáculos seria apresentado na rua, pois a programação oficial mostrava apenas espaços fechados e lonas montadas em diversos pontos da cidade. Atencioso, o funcionário disse ser muito arriscado organizar um evento “a céu aberto” nessa época do ano, pois se chegasse um vento sul, “não havia cenário que ficasse em pé”, explicou. Mas, como nesse momento o céu estava perfeitamente limpo e sem o menor indício de chuva, aquela parecia ser uma medida preventiva bastante exagerada.

Ironicamente, durante a madrugada o tempo começou a mudar, com a chegada repentina de um vento frio que trouxe nuvens cinzentas, anunciando chuva na cidade. Foi uma daquelas segundas-feiras que a gente deseja ficar em casa, lendo ou vendo televisão... mas a Lona do Campeche (onde seria realizado o espetáculo e uma oficina) não era tão longe do hotel onde estávamos todos hospedados, e eu contava com a especialíssima carona da companheira Ana Rosa Tezza, que viajara de carro desde Curitiba e estava, agora, cumprindo também a sua missão pelo Núcleo de Pesquisadores de Teatro de Rua. Durante a apresentação de Boleba..., por volta das 15h, o clima foi-se alterando drasticamente; o vento fazia as lonas laterais baterem continuamente e a chuva, que iniciara fina, agora engrossava cada vez mais. Ao final do espetáculo, os atores demonstraram suas dúvidas quanto ao comparecimento dos quatorze inscritos em sua oficina, denominada “O encontro da narrativa com a música”. Felizmente, a oficina foi realizada com sucesso, apesar do mau tempo e do frio crescente. Soube, então, que era esse o tal “vento sul”! No final, quando o público da segunda apresentação do dia (às 20h) já começava a adentrar a Lona do Campeche, percebi que toda a área em frente ao espaço cênico estava alagada, obrigando os técnicos de apoio a trocarem as cadeiras de lugar. Nesse momento, pareceu-me que aquela medida protetora não era tão exagerada quanto me parecera no início...

No dia seguinte, fui ao centro da cidade onde seria apresentada A farsa do bom enganador, pelo grupo paulista Buraco D’Oráculo. A lona, montada no Largo da Alfândega, contava com uma infra-estrutura muito maior que a do Campeche. Aí percebi, com mais clareza, que o excesso de zelo realmente pode descaracterizar um espetáculo de rua; o que se via ali não era apenas um abrigo sobre as cabeças dos atores e do público, mas a necessidade de todo um aparato de “segurança” (para proteger os equipamentos de iluminação, refletores, caixas de som etc que poderiam sofrer sérios danos com a chuva) e “conforto” (havia um camarim para os atores) que me pareceu realmente estranho, tanto ao contexto do teatro de rua, quanto às propostas éticas e estéticas daquele coletivo teatral que, tenho certeza, não se ajustam a tais exigências e que são, contudo, frequentes num teatro de tipo mais convencional. A platéia, organizada frontal e lateralmente, impunha limites retilíneos para a roda que o Buraco criara originalmente para o seu espetáculo, além de estabelecer uma distância indesejável entre atores e público. Enfim, aquilo que poderia ser apenas uma opção, em função da necessidade momentânea de abrigo em caso de mau tempo, transformou-se numa camisa-de-força ideológica que poderia até imobilizar o espetáculo, por subtrair dele justamente o seu elemento mais essencial e imprevisível – a rua! Felizmente, a competência e generosidade dos atores compensaram esses equívocos.

Depois dessa experiência, tenho a certeza de que ainda temos muito a elucidar sobre a nossa arte: esclarecer diferenças, superar distorções, explicar especificidades; um trabalho que vai além dos desafios da arte propriamente dita e alcança uma função, digamos, des-educativa. Quem, além dos próprios rueiros, poderá ensinar à nossa sociedade, preventiva e organizacional, que é justamente no risco, no imprevisto e na imperfeição, que reside o maior mistério? Sábios eram os arquitetos japoneses da Antiguidade que, diante da possibilidade constante de terremotos, aprenderam a construir suas casas com bambu, papel de seda e de arroz. Então, que venha o vento sul e leve os cenários embora; a rua permanecerá no lugar, e é isso o que mais importa no teatro de rua!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Considerações sobre a criação para teatro e rua


Na rua, quando fazemos teatro, nós somos a paisagem. Somos a intervenção efêmera na paisagem que, enquanto ocorre, se torna parte desta, provocando paradas, deslocamentos e desvios, daqueles que passam por onde nos colocamos com nosso teatro. Há os que passam reto como talvez passem há anos sem notar o caminho que percorrem ou o que por ventura se interponha nele. Mas aí se tem jeito não foi o nosso.

Ao menos duas coisas me parecem fundamentais para o teatro que fazemos: a primeira delas diz respeito, a meu ver, especificamente ao teatro de rua. Trata-se do posicionamento estratégico do espetáculo de rua em relação ao espaço de forma a valorizar e destacar o mesmo e integrá-lo como parte do significado da obra; a cidade como cenário, diferente da cidade como palco. Esta logística se repete a cada espaço onde o trabalho acontece. O teatro de rua carrega um elemento de permanência e mudança a cada novo local de apresentação. É como um objeto cuja matéria se desintegrasse ao término de cada apresentação e se reintegrasse novamente num outro espaço, ligeiramente modificada pelo tempo que passou entre um momento e outro e pelo novo espaço, cujos elementos o trabalho incorpora. E entre uma manifestação e outra deste teatro, permanece a aura do que ele foi e a que poderá ser num momento seguinte.

Diferentemente de um quadro que uma vez pintado pode atravessar séculos de museu em museu ou de mão em mão, o espetáculo de teatro se esvai ao final de cada apresentação, podendo se reconstituir, guardadas as devidas proporções, quando novamente encenado pelos mesmos atores que detém o poder de conhecê-lo, portanto o refazem a cada nova apresentação. O segundo item fundamental diz respeito exatamente ao ator, esta figura forte e frágil ao mesmo tempo, que raro prescinde da figura do diretor para confortá-lo ao dar vida a seu trabalho. Penso ser o ator um ser resiliente em seu processo de criação pois é impactado pela personalidade e vida das personagens as quais interpreta; o ator toma distancia de si e ao mesmo tempo que se empresta e se mistura a estas personagens durante o processo de criação e a cada nova representação do espetáculo para ao final de cada jornada tornar a si íntegro e ao mesmo tempo modificado e não raro fortalecido por este processo. Ele aprende não só com as personagens as quais interpreta, mas aprende consigo e aprende de si, das suas emoções a cada micro partícula de seu ser, trazidas a luz. Ao mergulhar para dentro de si em busca da personagem o ator se encontra e estar diante de si e de suas emoções. É um processo dolorido em que a alma e a consciência de si expandem.

É parte do papel do diretor: amparar o ator neste processo de criação, estar atento a detalhes fundamentais como sua voz e a corporeidade em relação ao trabalho que o mesmo desenvolve. Neste sentido dirigir-se num espetáculo é um risco que poucos dão conta de forma satisfatória, mas é possível se pensarmos no fenômeno da resiliência. Domingos Oliveira disse em certa ocasião que consegue se imaginar fazendo o trabalho, contracenando com seus colegas e, portanto, age como se observasse a si mesmo e consegue se dirigir. É possível. Outros também o fizeram e fazem. Eu particularmente prefiro o diretor que, como um maestro, rege a orquestra onde atores tocam com seus corpos a partitura do espetáculo. Um maestro em quem se confie e se possa entregar num processo de criação teatral que por mais brando que seja pra um ator que está ciente de seu ofício é sempre dolorido, às vezes alegremente dolorido, mas dolorido ainda assim. Pois que são sempre preciosidades de sua alma e de outros, de quem o ator toma emprestado, identificando e juntando pequenos cacos, sutilezas a formar a alma das personagens. Visto assim, o diretor é o único desta relação diretor x ator que vê, (quando também não está como ator no processo), a obra acabada, o quadro pintado, se assim podemos dizer.

A responsabilidade do diretor é grande neste processo criativo, pois além da concepção do espetáculo que pode ser discutido com os atores e demais membros da equipe, mas, em última instância é dele, carrega a responsabilidade de estimular e amparar o ator em seu processo criativo. Na rua esta responsabilidade aumenta porque, ainda que para quem faça teatro nesses locais o sinta um pouco como a nossa casa, há sempre o imponderável a ser considerado dentro do trabalho e da segurança do todo e de todos.

Eu penso a rua não como palco, mas como paisagem. Estar na rua não é estar no palco, é estar na paisagem, é ser a paisagem, é se mimetizar a paisagem aos olhos dos que estão de fora da cena. A cidade nos acolhe para dentro de si enquanto compomos com ela o nosso teatro. Estamos na paisagem e a paisagem está em nós enquanto atuamos, somos parte do que se vê, somos a paisagem que vê.

  Por Noemia Scaravelli Como lá em Casa – MTR/SP Socióloga/ atriz e diretora teatral

domingo, 23 de agosto de 2009

Carta de Florianópolis

Os articuladores da REDE BRASILEIRA DE TEATRO DE RUA reunidos em Florianópolis, no dia 19 de agosto de 2009, dentro da programação do Floripa Teatro – Festival Isnard de Azevedo, no evento intitulado “II Encontro de Teatro de Rua da Região Sul, com a presença de 25 articuladores dos Estados de SP, RJ, SC, PR e RS, manifestam-se contra a Portaria da atual gestão da Prefeitura da cidade de Florianópolis que proíbe a atividade de artistas-trabalhadores no espaço público aberto da referida cidade. A Portaria é arbitrária e fere a Constituinte Brasileira – dos Direitos e Garantias Fundamentais Capítulo I dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos no Paragrafo IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.

A Rede Brasileira acredita na livre atividade dos artistas-trabalhadores nos espaços públicos e essa Portaria mostra-se como um perigoso retrocesso no atual quadro democrático que o Brasil já atingiu.

A Rede Brasileira de Teatro de Rua criada em março de 2007, em Salvador/BA, é organização horizontal, sem hierarquia, democrático e inclusivo e está presente em vinte e um Estados, que desde já tomam conhecimento deste fato e assinam abaixo juntamente com outras instituições representativas de Circo e de Teatro espalhadas por todo território nacional.

Rede Brasileira de Teatro de Rua Rede Estadual de Teatro de Rua – RJ
ABRACIRCO - CAMILO TORRES - VICE-PRESIDENTE.
Academia Mineira de Ilusionismo- AMI - Mágico YAGO
Cooperativa Paulista de Circo – Diretoria
Cooperativa de Circenses da Bahia
UBCI - UNIÃO BRASILEIRA DE CIRCOS ITINERANTES - Wladimir Spernega – Presidente
Federação de Teatro do Acre - FETAC
Grupo Off-Sina - RJ
Buraco D’Oráculo - SP
Brava Companhia - SP
Circo Navegador - SP
Grupo Teatral Manjericão - RS
Rosa dos Ventos - SP
Arte da Comédia - PR
Grupo Stravaganza - RS
Cia de Capadócia - SP
Sua Majestade o Circo – Alagoas
Robson Mol - AL
Grupo Raízes do Porto Porto Velho/RO
Suely Rodrigues - RO
Circo Teatro Girassol -POA/RS
Dilmar Messias - RS
Circo Mínimo –SP
CEFAC – Centro de formação Profissional em Artes Circenses Rodrigo Matheus - SP
Galpão do Circo (Escola de Circo de São Paulo - SP)
Alex Marinho - SP
Cia Anjos Voadores
Willams Aris
 Seres de Luz Teatro –SP
Liliana Marcela Curcio e Cristino Abel Saavedra - SP
Troup Trama Circus - MG
Edson de Mello (Dimello)
TRUPE ARLEQUIN DE CIRCO TEATRO - PB
Trupe Estação do Circo (São Carlos - SP).
Ricardo Fruque - SP
Trupeniquim - Cia de Circo
Richard Riguetti - RJ
Lilian Moraes -RJ
Luiz Carlos Buruca - RJ
Crescer e Viver - RJ
Junior Perim- RJ
Ermínia Silva - SP
Mari Morango
Circo Dux -RJ
Fabricio Dorneles -RJ
Lucas Moreira - RJ
Cia Entropia de Patifaria - MG
Cícero Silva - MG
Núcleo Boa Praça - RJ
Companhia 2 Banquinhos - RJ
André Garcia Alvez - RJ
André Luis Soares - RJ
Leo Carnevale - RJ
Luanda Morena -RJ
Vinicius Longo - RJ
Xisto Siman - MG
João Pinheiro - MG
Paulo Santana - MG
Leonardo Silva - Produtor Cultural
Gyselle Andrade Freitas
Grupo LaMínima de Circo e Teatro de SP
Domingos Montagner SP
Fernando Sampaio - SP
Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo, de São Paulo
Marcos Pavanelli - SP
Simone Pavanelli – SP
Barracão Teatro - Campinas
Tiche Vianna -SP
Esio Magalhães -SP
Grupo de Teatro/Circo DE PERNAS PRO AR – Canoas-RS
Raquel Durigon
Luciano Wieser
Duico Vasconcelos
Trupe Estação do Circo (São Carlos - SP)
Ricardo Fruque -SP
Majestade o Circo/Alagoas
Circo Trapézio da Família Cericola – RJ
Tuca Cericola - RJ
Verônica Tamaoki -SP
Grupo Timbre de Galo de Passo Fundo, RS
Guto Pasini - RS
Iracema Pires -RS
GRUPO DE TEATRO RERIGTIBA, de ANCHIETA – ES
Telma Amaral - ES
Grupo Arteatro – Paraty / Mangaratiba
Ailton Amaral - RJ
Companhia Circo Teatro Capixaba – ES
Willian Rodrigues -ES
Ananda Rasuck - ES
Samuel Rasuck - ES
Naiala Rasuck - ES
Diego Elias
Baffi Duico Vasconcelos
Elsa Wolf
Ermínia Silva SP
Netty Palácios
Teatro de Cordel - RJ
Edmilson Santini - RJ
Grupo do Balaio - Circo Intervenção Circo do Balaio
Movimento Livre Leste - união de 11 grupos de circo, teatro, dança, música, performance e outras artes
Leandro Hoehne - artista
Grupo Teatro Caretas – CE
Vanéssia Gomes – CE
NACE - Núcleo transdiscilinar de Pesquisa em Artes Cênicas e Espetaculares - Maceió – Alagoas
Nara Salles – AL
Grupo Z de Teatro – ES
Fernando Marques – ES
Jussara Trindade, do Núcleo de Pesquisadores de Teatro de Rua – RJ
Teatro Terceira Margem - BH/MG
Cristiano Pena – MG
A Cia Elenco de Ouro ( Curitiba/PR)
Cleber Braga – PR
Elsa Wolf ERRO Grupo – SC
Pedro Bennaton - SC Oigalê – RS
Gian Carlos Magno – RS
Cia de Teatro Nu Escuro - Goiânia/GO
Hélio Froes – GO
Diego Elias Baffi
Cia. Crônica de Teatro - Contagem/MG
Jesse Duarte – MG
Trupe Olho da Rua – SP
Caio Martinez – SP
Circo e Teatro de Rua Os Mamatchas, de Presidente Prudente-SP
Trupe Artimanha - SP
Grupo Teatral de 4 no Ato - RJ
Gilvan Balbino - RJ
Pâmela Vicenta – RJ
Cia Mimicalado – Campos do Jordão
Beatriz e Leandro Calado – Campos do Jordão
Raquel Franco - MCTR-MA
Tapete Criações Cênicas – MA
Michelle Cabral - Cia. Chegança - São Luís/MA
Cia dos Inventivos de São Paulo
Flávio Rodrigues – SP
Lis Nobre – Grécia
Rogerio Sette Camara
Spasso Escola Popular de Circo - BH- MG
Silvana Abreu- atriz, diretora e produtora teatral - São Paulo/SP
IntrépidaTrupe - RJ
Vanda Jacques – RJ
Grupo Sítio do Jeca – SP
Reinaldo Facchini – SP
Grupo Cutucurim - Angra dos Reis - RJ
João Novaes – RJ
Alaor de Carvalho
Teatro Itinerante – RJ
Encanta Conto Contadores de Histórias
Dalisa Campos
Cia Anjos Voadores
Cia. d'os Melodramáticos – RJ
Vanessa Galvao – RJ
Licko Turle – RJ
Michelle França
Horácio Storani
Cia Circular – RJ
Erika e Dodô – RJ
Teatro de Roda - RJ
Mariozinho Telles – RJ
Grupo Teatro Kabana de Sabará – MG
Mauro Xavier – MG
Thiago Salles – Campinas – SP
Circo Teatro Girassol - POA/RS
Dilmar Messias – RS
Teatro de Anônimo – RJ
João Carlos Artigos – RJ
Como Lá em Casa
MTR/SP
FRANCISCO GASPAR – SP
Cia Teatro Porão - RJ
Andréa Cevidanes – RJ
Coletivo Nopok do Rio de Janeiro
CENTRO SÓCIO-CULTURAL DE PROMOÇÃO À CIDADANIA - CARCARÁ (Pernambuco)
Willian Santana - PE

domingo, 16 de agosto de 2009

O teatro de rua em São Paulo e sua organização política


Por Adailtom Alves Teixeira[1]

Este artigo tem por objetivo abordar a organização política dos fazedores de teatro de rua em São Paulo e da relação dos mesmos com outros movimentos espalhados pelo Brasil.
A década de 90 do século passado foi um momento importante para a afirmação do trabalho em grupo, sendo também um momento de muitas experimentações técnicas e estéticas. Nesse período diversos grupos romperam com a cena à italiana ganhando espaços alternativos, muitos ganharam o espaço aberto e fizeram da rua o seu espaço cênico. Rua aqui tem um sentido amplo: são espaços abertos como ruas, parques, praças, entre outros.

Se o trabalho em grupo afirmou-se como uma oposição ao mercado, o teatro de rua é a face mais crítica dessa oposição, pois ao colocar-se no espaço aberto, numa relação direta com espectador, rompe com o sistema hegemônico vigente. Este rompimento dar-se pela não cobrança de ingressos e pela re-significação do espaço ocupado, tornando-o um local de fruição. A rua deixa de ser um escoadouro de mercadorias e um local de passagem para ser um ambiente de trocas simbólicas entre os homens.

Pelas agruras e pelos problemas enfrentados por aqueles que fazem arte no Brasil, o país torna-se um solo fértil para a organização política, já que a ausência do Estado marginaliza estes trabalhadores, exigindo dos mesmos uma tomada de consciência para que, juntos, possam fazer frente ao descaso. Assim, em São Paulo, ao mesmo tempo em que os grupos de teatro de rua buscavam afirmar-se através de seus trabalhos, houve a necessidade dos mesmos organizarem-se politicamente em um coletivo maior.

Muitos dos jovens grupos de teatro de rua atuavam e atuam ainda hoje na periferia, fazendo com que, naquele momento, fossem desconhecidos fora de sua região de atuação, isso fez com que fossem rejeitados pelo poder público, afinal “não havia teatro de rua em São Paulo.”[2] Desmerecidos por seus trabalhos, os grupos se uniram buscando o mútuo fortalecimento. Primeiro criaram a Ação Cultural Se Essa Rua Fosse Minha, união de sete grupos: Abacirco, Bonecos Urbanos, Buraco d`Oráculo, Circo Navegador, Farândola Troupe, Monocirco e Pavanelli. Cada grupo se propunha a ocupar um bairro da cidade e desenvolver seus projetos, para futuramente estabelecer um circuito de teatro de rua pela mesma. Na prática, era o que alguns já vinham fazendo, mas agora objetivavam dar visibilidade as suas ações. A Ação começou em 2002 e naquele mesmo ano agonizou, mesmo assim tiveram conquistas: mostraram ao poder público que havia uma nova geração de teatro de rua na cidade que merecia ser ouvida.

Todas as ações desses grupos eram amplamente divulgadas pela mídia. A estratégia de levar o debate para a esfera pública cumpria um duplo papel: divulgava seus trabalhos e escreviam um novo capitulo na história do teatro paulistano. Os sete grupos, através de seus trabalhos e da mídia, chamavam a atenção do poder público para a necessidade das políticas públicas de cultura que contemplassem esse seguimento, ao mesmo tempo em que lançavam um novo olhar sobre o espaço público aberto, mostrando que é possível pensá-lo como local de convívio, lazer e fruição do teatro.
No ano seguinte, 2003, um seminário sobre teatro de rua no Barracão Cultural Pavanelli, com a presença de doze grupos, impulsionou a criação do Movimento de Teatro de Rua de São Paulo (MTR/SP). No seminário surgiu a idéia da realização da Overdose de Teatro de Rua, uma grande mostra teatral em tom de manifestação política. Até 2008 já foram realizadas cinco Overdoses. Se no I Seminário de Teatro de Rua eram doze grupos, a I Overdose conseguiu reunir quinze grupos. Era nítida a vontade de troca e a necessidade de estarem juntos. Os artistas passaram a reunir-se continuamente e travaram contatos com outros movimentos mais antigos como o de Pernambuco (MTP-PE), da Bahia (MTR/BA) e o Escambo Livre, presente no Ceará e Rio Grande do Norte. Essa troca influenciou o surgimento da Rede de Teatro de Rua do Rio de Janeiro e do Movimento de Teatro de Rua de Minas Gerais.

Em 2008 foi dado o pontapé inicial para uma organização nacional, a Rede Brasileira de Teatro de Rua (RBTR). Os encontros realizados em Salvador, Recife e São Paulo, fez com que surgissem novos movimentos estaduais no Espírito Santo, Santa Catarina, Paraná, Maranhão, além da retomada do movimento no Rio Grande do Sul e a discussão da criação de uma Rede Amazônica de Teatro de Rua. Os artistas da RBTR já realizaram cinco encontros nacionais, sendo que o quarto ocorreu em São Paulo e contou com a presença de quase cem artistas, vindos de dezenove estados. O quinto encontro ocorreu nos dias 20 e 21 de abril de 2009 em Arcozelo, Rio de Janeiro e está programado um sexto encontro em outubro desse ano na capital do Acre, Rio Branco.

A RBTR organiza-se de forma horizontal, não há hierarquia, todos os participantes são articuladores e tem como objetivo pensar o nacional e agir no local, daí a importância dos movimentos estaduais, bem como de cada participante. A Rede, através de seus articuladores, está presente em vinte e um estados, discutem permanentemente de forma virtual e reúnem-se presencialmente duas vezes por ano. São nos encontros presenciais que as principais decisões são tomadas e os documentos são escritos.

Mas, por que uma organização de teatro de rua? Afinal, tudo não é teatro? Muitas poderiam ser as respostas, o fato é que a prática tem demonstrado o caráter marginal do teatro de rua, revelando um pensamento e uma forma de produção diferenciada dos espaços fechados, ainda que todos padeçam da ausência de políticas públicas de cultura. E foi justamente a relação diferenciada de produção e o não reconhecimento, inclusive entre seus “pares”, além da negligência do poder público, que levou seus fazedores a se unirem politicamente, tendo como objetivo discutir as especificidades já apontadas e a cobrar do poder público o dever que lhe cabe: fomentar a arte e a cultura. É importante ressaltar que a luta pela diferença, foi e é, na verdade, uma luta por direitos, para igualar-se nas conquistas, para que o teatro de rua seja visto como as demais artes. Os fazedores não querem privilégios, querem igualdade de tratamento, principalmente por parte do Estado. O alerta é importante porque sabemos que
“no campo da direita, a diferença sempre emerge como afirmação do privilégio e portanto como defesa da desigualdade. No campo da esquerda, no campo da cidadania, a diferença emerge enquanto reivindicação precisamente na medida em que ela determina desigualdade. A afirmação da diferença está sempre ligada à reivindicação de que ela possa simplesmente existir como tal, o direito de que ela possa ser vivida sem que isso signifique, sem que tenha como conseqüência, o tratamento desigual, a discriminação. Não fora a desigualdade construída enquanto discriminação à diferença, ela não existiria como reivindicação de direito. Concebido nessa perspectiva, me parece que o direito à diferença, especifica, aprofunda e amplia o direito à igualdade” (DAGNINO, 1994, p. 114).

Foi pela busca da igualdade e de direitos que os fazedores de teatro de rua se uniram e tem se unido pelo Brasil, com o objetivo maior de construir políticas públicas de cultura com investimentos direto do Estado, para que, assim, esta arte chegue a todos os cidadãos de forma indistinta. Cabe ao Estado cumprir o seu papel, já que o teatro de rua não se enquadra – e nem quer – nos mecanismos mercadológicos, pelo contrário, é uma arte que se contrapõe a hegemonia, enquanto organiza o espaço cênico, desorganiza o espaço da rua que, de escoadouro de mercadorias e local de passagem, transforma-se em local de fruição, ao mesmo tempo em que a vida acontece. Assim, é uma arte que organiza enquanto desorganiza.

Bibliografia citada
DAGNINO, Evelina. “Os movimentos sociais e a emergência de uma nova noção de cidadania.” In: ______. (Org.) Os anos 90: política e sociedade no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1994.

Notas
[1] Historiador, ator, diretor teatral e um dos fundadores do Movimento de Teatro de Rua de São Paulo.
[2] Esta foi mais ou menos o sentido da fala de Celso Frateschi, então diretor do Departamento de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura, aos fazedores de teatro de rua em reunião na Cooperativa Paulista de Teatro em 2001.

Este texto é parte de um artigo publicado originalmente na Revista Camarim nº 43, 1º semestre de 2009, p.50-53. Foi revisto para esta publicação em 16/08/09.

domingo, 9 de agosto de 2009

Possíveis definições para o teatro de rua

Por Adailtom Alves Teixeira[1]

Este artigo tem por objetivo abordar algumas definições dadas por pesquisadores ao teatro de rua, sem, no entanto, aprofundá-las devido ao pouco espaço.

O teatro de rua tem fortes vínculos com a cultura popular, no entanto, isso não quer dizer que todo teatro de rua é popular. Daí o risco de qualquer definição fechada. Para além dos fortes vínculos com as culturas tradicionais, o teatro de rua também recebeu influências do Agit-Prop (Centro de Cultura Popular nos anos 60) e do circo, principalmente o chamado “circo novo”.

Para Fabrizio Cruciani e Clelia Falletti o teatro de rua estaria ligado ao rito, a arte e a festa; por isso abarca “coisas bastante diversificadas” (1999, p. 19). Já Fernando Peixoto identifica-o às “raízes das mais autênticas manifestações da identidade cultural nacional” (1999, p. 143). O autor utiliza em sua definição termos delicados, já que toda identidade é uma construção (Cf. Renato Ortiz, 1994), e o termo “nacional” é controverso e já serviu em momentos autoritários para nortear políticas de culturas que buscaram forjar uma única identidade para todos os brasileiros. Alberto Miralles, em Novos Rumos do Teatro, ao abordar o fazer teatral dos anos 60 e 70 do século passado, afirma que o teatro de rua é uma “arte produzida à sombra, marginalizada” (1979, p. 84) e que se coloca contra o estabelecido. Cabe lembrar que o autor refere-se a um teatro produzido na Europa e nos Estados Unidos da América, distinto de nossa realidade. Patrice Pavis em seu Dicionário do Teatro, diz que o teatro de rua é “uma volta às fontes”, sendo produzido “em locais exteriores às construções tradicionais” e que por muito tempo “se confundiu com o Agit-Prop” (2005, p. 385). Por fim, André Carreira diz que “o teatro de rua abarca todos os espetáculos ao ar livre que optam por ficar fora dos teatros convencionais e utilizam espaços urbanos apropriados temporariamente para o fenômeno teatral, permeáveis ao público acidental” (2007, p. 54).

Levando em conta a realidade brasileira e as diferenças de produção em território tão extenso, fica claro que todas as definições podem servir mais ou menos, dependendo de quem está produzindo. Claro está que é um teatro que se opõe a arte oficialmente estabelecida: a arte burguesa. Para nós, teatro de rua é uma manifestação marginal que utiliza o corpo e o discurso no espaço aberto a serviço do estético, apropriando-se ou não da paisagem como cenário, de maneira a permitir a fruição a um público passante.

Nossa definição vai ao encontro de um teatro que busca relacionar-se com o ambiente e o cidadão, seja ele urbano ou não. Ao colocar-se no espaço aberto – um local, em tese, de todos –, o teatro de rua não seleciona seu público, sendo eminentemente democrático desse ponto de vista, já que a única coisa que prende o espectador é o interesse que o espetáculo desperta.

Rubéns Brito em sua tese sobre o grupo Mambembe afirmou que “a condição espacial é a essência do próprio teatro de rua” (2004, p. 17). Não há dúvida que uma das maiores especificidades do teatro de rua é o espaço em que ele se coloca. Sendo possível utilizar, no caso urbano, a própria cidade como cenografia, isto é, prédios e monumentos podem vir a ser elementos cênicos. Por isso mesmo, não podemos esquecer que “o espaço está carregado de sentido” (CASTELLS, 1983, p. 249), a fachada de um banco não tem o mesmo significado que uma igreja e isso é preciso ser pensado na criação dos espetáculos teatrais que utilizam a paisagem urbana em seus espetáculos. Assim, a rua por ser polimorfa, do ponto de vista de sua ocupação teatral cria possibilidades cênicas também polimorfas. Por estar em um local que pertence a todos, outro aspecto importante é a interferência que o espetáculo de rua recebe, pois, enquanto os atores jogam com o público, estes, por estarem no mesmo nível, em pé de igualdade, jogam para os atores, em um jogo dialético que faz o espetáculo avançar. Não podemos esquecer também que o espetáculo, ele próprio, é uma interferência no espaço e ao interferir re-significa o ambiente, tornando-o propicio a fruição. Nesse momento, o passante adquire a condição de espectador. Para André Carreira todo grupo que se coloca na rua transgride-a, resignificando-a, daí o conflito “com as instituições burguesas” (2007, p. 37), que devem regular e fiscalizar para que as ruas tenham usos ‘apropriados’ dentro do sistema vigente, dito de outra forma, querem que as ruas sejam apenas escoadouro do capital.

O teatro ao colocar-se na rua se contrapõe a arte hegemônica, organizando seu espaço cênico e desorganizando o espaço da rua em seu uso cotidiano, isto é, de escoadouro de mercadorias e local de passagem, a rua transforma-se em local de fruição. E tudo isso acontece ao mesmo tempo em que a vida acontece. Assim, o teatro de rua é uma arte que organiza enquanto desorganiza: se apossa dos espaços públicos abertos para organizar-se cenicamente, criando novas possibilidades para quem faz e para aqueles que presenciam os espetáculos, ao mesmo tempo, desorganiza o cotidiano dos espaços ocupados, na medida em que estes não são pensados para a fruição das artes.

Bibliografia citada
BRITO, Rubéns José Souza. Teatro de Rua. Princípios, Elementos e Procedimentos: a contribuição do Grupo de Teatro Mambembe (SP). 2004. 226 f. Dissertação (Livre Docente) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP.
CARREIRA, André. “Reflexões sobre o Conceito de Teatro de Rua.” In: TELLES, Narciso; CARNEIRO, ANA. (org.) Teatro de Rua: olhares e perspectivas. Rio de Janeiro: E-Papers, 2005.
______. Teatro de Rua: (Brasil e Argentina nos anos 1980): uma paixão no asfalto. São Paulo: Aderaldo & Rothschild Editores, 2007.
CASTELLS, Manuel. A Questão Urbana. Trad.: Arlene Caetano. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
CRUCIANI, Fabrizio; FALLETTI, Clelia. Teatro de Rua. Trad.: Roberta Baarni. São Paulo: Hucitec, 1999.
MIRALLES, Alberto. Novos Rumos do Teatro. Rio de Janeiro: Salvat, 1979. ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e Identidade Nacional. 5ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. Trad.: J. Guinsburg e Maria Lucia Pereira. São Paulo: Perspectiva, 1999.
PEIXOTO, Fernando. “Teatro de Rua no Brasil.” In CRUCIANI, Fabrizio; FALLETTI, Clelia. Teatro de Rua. Trad.: Roberta Baarni. São Paulo: Hucitec, 1999.

[1] Historiador e um dos fundadores do Movimento de Teatro de Rua de São Paulo.

Este texto é parte de um artigo maior, publicado originalmente na Revista Camarim nº 43, 1º semestre de 2009, p. 50-53. Foi revisto para esta publicação em 09/08/09.

domingo, 2 de agosto de 2009

São Paulo em três tempos - 1ª parte

Por Adailtom Alves Teixeira - Historiador

INTRODUÇÃO 

O que primeiro vem à cabeça quando se pensa em São Paulo? Trepidante, tentacular, vertiginosa, obstinada, perturbadora. Há nela um gigantismo, uma onipresente sensação de urgência, a inquietante consciência de se estar num labirinto urbano que se prolonga ao infinito. É ao mesmo tempo intrigante e sedutora.

Mas não foi sempre assim, na verdade, no início era um vilarejo insignificante, condição que permaneceu mesmo depois quando promovida à vila e depois cidade, cabeça de capitania. Estava distante do litoral e tinha a Serra do Mar como barreira, além disso, nada produzia que interessasse a Metrópole.

Este texto tem como objetivo contar parte da história da formação de São Paulo e de como permaneceu como província secundária durante todo o tempo que esteve na condição de colônia de Portugal, passando a se desenvolver apenas no período imperial, mais significativamente a partir da segunda metade do século XIX, já na República Velha.

Também se propõe a refletir como a ferrovia associada a grande produção do café e a mão-de-obra representada pelo imigrante, foram fundamentais para a configuração do que é a cidade hoje, ou melhor, a metrópole, além de apontar as conseqüências dessa configuração traduzidas em problemas.
Por fim, veremos como em pouco mais de cem anos expandiu-se vertiginosamente, passando a ser cidade mais importante do Brasil e a quinta maior cidade do mundo, uma cidade global.

DAS TRILHAS AOS TRILHOS 
O inicio 
A cidade de São Paulo teve um desenvolvimento lento, durante séculos foi apenas um pequeno aglomerado. Fundada pelos jesuítas no século XVI, não se esperava que tivesse o destino que teve: a maior metrópole da América Latina. O local escolhido foi uma acrópole, tornando-se estratégico para seus ocupantes em termos de defesa. Situada no planalto, o maior obstáculo era a Serra do Mar, segundo relatos deixados por Anchieta era "mui áspero e, segundo creio, o pior que há no mundo" (TOLEDO, 2003, p.17).

Este primeiro núcleo desenvolveu-se de forma espontânea. Eudes Campos – que ao longo de vinte e cinco anos estuda o núcleo central da cidade (centro histórico) –, afirma que as primeiras ruas surgiram a partir das trilhas indígenas já existentes. Futuramente essas trilhas deram origem não só as ruas e avenidas, mas também as grandes estradas. “Essas veredas poriam os irmãos da Companhia [de Jesus] em comunicação direta com o litoral vicentino, com as aldeias planaltinas dos índios aliados e com o distante Paraguai” (2006, p.13).

Pouco tempo depois, Santo André da Borda do Campo, mais velha que São Paulo de Piratininga, teve problemas e pede transferência do foral de vila para São Paulo, por ser mais seguro, isso foi em abril de 1560. Assim São Paulo tornou-se vila em 1560: a Vila de São Paulo de Piratininga.

O núcleo onde surgiu São Paulo, protegido por muros, era bem pequeno, um pouco maior do que seria hoje o Pátio do Colégio. Tinha duas portas, a mais importante em direção ao sertão, tinha uma guarita, pois, poderiam vir daí os ataques de índios inimigos.

Em 1575 foi construída a primeira Casa de Câmara, que funcionava também como cadeia pública e tinha um único cômodo, assim “quando havia alguém encarcerado nela eram os vereadores obrigados a se reunir alhures, em geral na casa do vereador mais velho” (CAMPOS, 2006, p. 23).

Quanto a população, em 1589, São Paulo de Piratininga contava com 150 moradores e as construções iam crescendo muito mais por conta dos religiosos, já que no final do século XVI, além dos jesuítas tinha mais duas ordens: frades carmelitas (1592) e monges beneditinos (1598), os franciscanos chegaram em 1639, onde hoje é a Praça do Patriarca. Foi nesse período que abriram a rua São Bento, formando o triângulo com a Rua Direita e 15 de Novembro. O triângulo do centro histórico. Márcio Pochmann, no seu livro A Metrópole do Trabalho, chama a atenção para o fato dos religiosos serem os integradores dessa população inicial. Tudo girava em torno das ordens religiosas. Lembrando que a população nesse período era majoritariamente composta de índios e portugueses (Cf. POCHMANN, 2001). O que fica claro nesse inicio de história, é que não houve planejamento urbano, tudo ocorreu espontaneamente, já que se deu a partir das trilhas indígenas.

São Paulo ficou como vila por quase dois séculos, tornando-se cidade por decreto imperial em 11 de julho de 1711. Naquela época “as povoações territoriais eram classificadas como arraial, vila e cidade, de acordo com sua prosperidade populacional” (SPOSATI, 2001, p. 22).

Mesmo assim, segundo o economista Marcio Pochmann, “até 1850, São Paulo mal conseguia caminhar com suas próprias pernas, pouco se diferenciando de cidades como Campinas e Itu” (2001, p. 11). São Paulo era apenas um entreposto comercial. Foi nessas terras que surgiu “o bandeirismo e o aventureirismo como características do homem paulistano” (2001, p.29). Já em 1560 surge o movimento das bandeiras, que no inicio buscava o ouro e visava pacificar os índios, depois “a pacificação converteu-se também na captura de indígenas e na imposição de trabalho forçado nos engenhos e lavouras do litoral” (2001, p. 33). Na segunda metade do século XVIII, decaiu o aprisionamento de indígenas, já que havia negros em grande quantidade.

Muito provavelmente por causa dessa violência provocada pelos bandeirantes, é que o termo paulista inicialmente era negativo, não era um designativo de morador de São Paulo, mas sim, “sinônimo de rudeza, brutalidade, ferocidade” (AMBIRES, s.d., p. 57).

É importante observar que desde o início as principais estradas da capitania afluíam para o centro, de maneira que as mercadorias para exportação, vindas do interior passava por São Paulo antes de se dirigir ao porto de Santos. Como este transporte era feito por animais e a viagem era muito demorada, havia necessidade de interrupções de viagem. Os pousos de tropa foram a função de vários aglomerados formados no "cinturão caipira". "(...) Comércio e aluguel de animais de carga ou de montaria, hospedagem de viajantes, compreendendo pernoite, alimentação e fornecimento de víveres, engajamento de população urbana como tropeiros, são as principais atividades correlatas à circulação, que constituem um dos meios de subsistência e, às vezes, a razão de ser de uma série de aglomerados" (LANGENBUCH, 1971, p.52).

Já os pousos que existiam no "cinturão das chácaras" propiciaram um deslocamento da função de hospedagem da cidade para essa vizinhança mais próxima.

Nota-se a cidade de São Paulo da época, ou seja, o triângulo histórico, circundado pelo "Cinturão das chácaras", que tinham a função de residência, de produção frutífera e também outros elementos ligados à cidade, como cemitério hospitais, pouso etc. Esta porção será mais afetada pela expansão urbana da capital.

E para além desse, o "cinturão caipira" que se caracterizava pela agricultura de subsistência e pela produção agrícola extrativa e artesanal, tinham, portanto, a função de abastecer São Paulo e é onde se dará a expansão suburbana no crescimento metropolitano.

O inicio de uma atitude de urbanização em São Paulo começou em 1742, com a Câmara determinando o calçamento de ruas, por causa dos estragos provocados pela passagem do gado. Só mais tarde, “no final do século XIX e no inicio do século XX se definem procedimentos legais a serem utilizados na vida pública, como os estabelecidos pelo Código de Posturas de 1886, pelo Código Sanitário de 1894 ou pelo Código Saboya de 1929, que dividiu a cidade em zonas. O uso de regras coletivas vai confirmando o caráter urbano de São Paulo” (SPOSATI, 2001, p. 24).


A cidade começa a crescer 
Na primeira metade do século XIX São Paulo já dava sinais de crescimento e, contrariamente ao que pensa Márcio Pochmann, a professora da UNESP Denise Soares de Moura, que estudou o comércio na primeira metade do século XIX, afirma que “a cidade era um núcleo urbano em efervescência socioeconômica” (s.d., p. 52). A cidade e seu centro comercial tinham fortes ligações com Santos. Na época, todo o comércio se dava na rua, a ponto de incomodar as autoridades, já que suas ruas eram estreitas, guardando ainda, seu aspecto colonial. E, justamente por isso os quitandeiros sofriam repressão. “A história da repressão ao comércio de comida nas ruas de São Paulo, denunciada explícita ou implicitamente por documentos mantidos pelo Arquivo do Estado, possibilita a reescrita da história da cidade. Antes do advento do café, o cenário urbano paulista já vivia um quadro tumultuário, em virtude do comércio, que os fiscais da Câmara e autoridades policiais teriam muito trabalho para controlar” (MOURA, s.d., p. 55).

Os fatos supracitados nos lembram a atualidade, através da repressão aos camelôs por parte da policia, a diferença é que muitos dos quitandeiros do século XIX eram negros, hoje são nordestinos.
O desdobramento do espaço urbano se deu em bairros e loteamentos isolados onde antes era o "cinturão das chácaras" e no antigo "cinturão caipira", várias atividades econômicas se formaram em benefício da capital.

Mas não há dúvida que foi na segunda metade do século XIX que São Paulo deu seu salto para o desenvolvimento urbano, isso graças ao crescimento da produção de café no Oeste Paulista. A diferença entre núcleo urbano e área rural torna-se claro nesse período. E, por conta do café, organizam-se as primeiras reformas urbanas, o centro se expande com as reformas realizadas onde hoje é o Vale do Anhangabaú. Lá estava situada a Chácara do Chá pertencente a Joaquim José dos Santos Silva, o Barão de Itapetininga. A chácara foi palco de disputa entre o proprietário e o poder público, com a vitória do último, temos a ampliação do centro da cidade, sendo essa região denominada de centro novo. “Inaugurava-se assim um novo projeto urbanístico na cidade de São Paulo. As ruas largas e retas contrastavam fortemente com as mais antigas, existentes no núcleo colonial (centro velho)” (CAMARGO, s.d., p. 17).

Até essa primeira reforma, São Paulo estava entre dois rios: o Tamanduateí e o Anhangabaú. Esses rios recebiam as sujeiras da cidade e mesmo os dejetos de um matadouro, havia, portanto, muita sujeira, um imenso fedor e era foco de epidemias, sendo a reforma uma necessidade. Ao mesmo tempo, vemos aqui uma característica do poder público paulistano, apenas tomam as medidas cabíveis, os problemas só se tornam público quando passam a incomodar a elite, os mesmos que detém o poder. Nesse caso como a epidemia poderia chegar a todos, foi necessário tomar providências. Como bem adverte Aldaíza Sposati “São Paulo sempre foi marcadamente uma cidade de cultura higienista, que por contraponto traz a discriminação e a apartação do que não é considerado ‘higiênico’ aos olhos de suas elites” (2001, p. 25).

Veremos essa política higienista ao longo da história. Pois se São Paulo começou a desenvolver-se economicamente a partir do café, essa prática vai tornando-se clara desde esse período. Com o café são criadas as linhas de trens que ligam o porto de Santos a Jundiá. O trem é importante para escoar a produção de café, mas também facilita o transporte, permitindo a vinda dos fazendeiros para a cidade de São Paulo. Ainda na segunda metade do século XIX, dois alemães, Glete e Nothman, criam os primeiros bairros nobres: Campos Elíseos (1879), Higienópolis (1890). Depois surgiu a Avenida Paulista (1891), que abrigaria os barões do café. Esses bairros nobres eram dotados de infra-estrutura com redes de água e esgoto, iluminação e piso macadamizado, diferentemente das áreas dos trabalhadores. Essa política de estruturar as áreas nobres e esquecer as regiões ocupadas pelos pobres e trabalhadores perdura até nossos dias.

Mas a apartação não está só nos bairros, mas também na mão-de-obra, já que com a libertação dos escravos, a elite paulista preferiu importar mão-de-obra branca da Europa, principalmente da Itália, em detrimento da mão-de-obra especializada dos negros. Assim, na virada do século, a cidade “já contava com uma população de 250 mil habitantes, dos quais mais de 150 mil eram estrangeiros” (ROLNIK, 2002, p. 16).

E os estrangeiros continuariam a chegar. Quando São Paulo começou a sua industrialização, nas áreas têxteis e alimentícias, também foram os estrangeiros que foram absorvidos como mão-de-obra. “(...) pelo menos até 1929, os postos de trabalho urbanos ocupados pertenciam ao trabalhador imigrante. Dessa forma, os empregadores urbanos e rurais privilegiaram a disciplina e a cultura do trabalhador assalariado do europeu, ao mesmo tempo em que induziam o branqueamento da população no país” (POCHMANN, 2001, p. 40).

O certo é que, depois do café, São Paulo não pararia mais de crescer economicamente e em termos urbanos, isto é, sua área ocupada se estenderia até o seu limite, tudo isso em pouco mais de cem anos. Em seguida vem o surto industrial que desencadeia um surto urbanístico, com a implantação de serviços de água encanada, transporte de bondes elétricos, iluminação pública e pavimentação das vias. Desta maneira São Paulo ia crescendo, sendo que entre os anos de 1875 e 1900 se observava um espetacular crescimento demográfico e um modesto crescimento dos municípios vizinhos. Após esse período há uma inversão, começa diminuir o ritmo de crescimento demográfico da Capital enquanto aumentam os outros. O quadro abaixo dá uma idéia do crescimento populacional de São Paulo.


Tabela 1: 
População de São Paulo – 1872/1996 
Anos   População
1872          31.385
1890          64.934
1900        239.820
1920        579.033
1940     1.326.261
1950     2.198.096
1960     3.666.701
1970     5.924.615
1980     8.493.226
1991     9.646.185
1996     9.839.436
Fonte: IBGE – Censos Demográficos / Sempla/Deinfo in: SPOSATI, 2001, p.27. 

Inicio do século XX – até os anos 20 
Se o café trouxe o desenvolvimento urbano para São Paulo, criando os primeiros bairros nobres. Foi também o café o responsável pela industrialização, fazendo surgir os bairros populares, onde residiam muitos imigrantes. Por sua vez, com o surto industrial São Paulo passa a receber outra leva de pessoas de fora, dessa vez não de outro país, mas sim do nordeste brasileiro e de Minas Gerais. Quando São Paulo parou de receber os imigrantes em massa, começou a receber as primeiras levas de migrantes, esse movimento interno começou a partir da década de 1920.

Os primeiros bairros populares seguiam o símbolo do desenvolvimento, isto é, a linha férrea. A ferrovia funcionou como instrumento de reorganização, primeiro porque provocou o colapso do antigo sistema de transporte (feito por animais), segundo porque não seguiu as mesmas vias de modo que os aglomerados que se beneficiavam desta atividade foram desvalorizados, enquanto que ao redor da linha férrea foi surgindo os chamados povoado-estação que cresciam em detrimento dos antigos aglomerados. Foi assim que cresceram os primeiros bairros populares como Lapa, Bom Retiro, Brás, Pari, Belém, Mooca e Ipiranga. Os trabalhadores residiam nas vilas, em sobrados de aluguel, pensões e cortiços. Havia também o pequeno comércio local com algumas oficinas, barbearias, entre outros. Se os bairros nobres se caracterizam por suas ruas largas e mansões, “nos bairros populares, a paisagem misturava as chaminés de fábrica à alta densidade das vilas e cortiços, e a infra-estrutura urbana se resumia praticamente ao bonde” (ROLNIK, 2002, p. 17). Essa é outra lógica que impera até os dias de hoje, já que os ricos ainda continuam ou tentam ficar separados dos pobres.

As reformas urbanas operadas nas duas primeiras décadas do século XX, fez do Anhangabaú o cartão de visitas da cidade, era um marco para a elite, “o espaço de maior representação simbólica dos valores daquela classe governante do início do período republicano, daqueles que haviam se enriquecido com o café e se instruído com os valores da cultura européia” (BESEN, s.d., p. 45). Ao mesmo tempo, uma forma de retirar do centro aqueles que consideravam marginais, isto é, todos “aqueles que não se adaptavam a nova ordem” (BESEN, s.d., p. 45).

Ainda naquele período, na virada do século e nas duas primeiras décadas, o transporte, a energia e telefones eram monopólio da Light, empresa anglo-canadense, que, para manter-se como única, corrompia a todos. Assim, em 1909, quando o prefeito Antônio Prado quis cancelar o monopólio, não assinando o parecer de renovação do contrato, então, a câmara dos vereadores derrubou o veto. Como os serviços já não conseguiam atender a todos, principalmente os populares, houve motim.

Nesse período o povo ficava de mãos amarradas, já que quem votava era apenas a elite: homens maiores de 21 anos, alfabetizados. Portanto não havia relação de exercício político com os populares; quem estava no poder não estava interessado em ouvir as demandas populares, estava a serviço de uma elite que detinha o poder econômico. Por isso surgem as primeiras medidas para que não se desvalorize o centro: a proibição de construção de cortiços no centro da cidade. Os pobres viam-se obrigados a se distanciarem cada vez mais. “Dessa maneira se demarcava uma área ‘regulada’ da cidade, onde a habitação popular não poderia acontecer, ao mesmo tempo que se configurava, fora do perímetro urbano, uma zona de obscuridade, sobre a qual o olhar do poder municipal não vigorava” (ROLNIK, 2002, p. 23).

Vemos aqui outra característica que também perdurou: se expulsa, através de leis, os pobres para longe dos ricos, mas não se resolve a situação dos mesmos. Assim, se vimos na virada do milênio, as reformas do parque da luz, expulsando os habitantes da cracolândia, sem resolver o problema dos mesmos, essa atitude era antiga, já que Washigton Luís, que governou de 1914 a 1919, fez o mesmo com a Várzea do Carmo, hoje parque Dom Pedro II. Os argumentos para a reforma eram claros: “O novo parque não pode ser adiado porque o que hoje ainda se vê, na adiantada capital do Estado, a separar brutalmente do centro comercial da cidade os seus populosos bairros industriais, é uma vasta superfície chagosa, mal cicatrizada em alguns pontos e ainda escalavrada, feia e suja, repugnante e perigosa, em quase toda a sua extensão (...). é aí que, protegida pela ausência de iluminação se reúne e dorme, à noite, a vasa da cidade, numa promiscuidade nojosa, composta de negros vagabundos, de negras emanciadas pela embriaguez habitual, de uma mestiçagem viciosa, de restos inomináveis e vencidos de todas as nacionalidades, em todas as idades, todos perigosos (...). Tudo isso pode desaparecer sendo substituído por um parque seguro, saudável e belo. Denunciado o mal e indicado o remédio, não há lugar para hesitações, porque a isso se opõem a beleza, a higiene, a moral, a segurança, enfim, a civilização e o espírito de iniciativa de São Paulo” (apud BESEN, s.d., p. 46).

A citação é longa, mas nos mostra todo o pensamento e o preconceito da elite paulistana, e mostra claramente a atitude que tinham (e têm) em relação aos pobres. Portanto, as atitudes de reformas são, em geral, visando expulsar os pobres da proximidade da elite ou visando valorizar o seu patrimônio, foi assim desde sempre.

O saneamento e a urbanização da Várzea do Carmo ocorreu na década de 1920, época do auge da expansão cafeeira e do primeiro surto industrial. Por causa da Primeira Guerra Mundial, os barões do café viram-se obrigados a investir na indústria. A cidade entra nos circuitos culturais internacionais, a riqueza está a vista e seu poder político aflora, afinal a política do café com leite elegeu muitos presidentes brasileiros.

Mas é na década de 1920 também que temos a primeira crise desse sistema, pois com o crescimento demográfico, há também a demanda por habitação. Surgem os sindicatos nos bairros populares. Também começa a surgir a primeira classe média paulistana, composta por comerciantes, funcionários públicos, entre outros, mas sem poder de voz na política. A The São Paulo Tramway Light and Power Co., não pode mais segurar o seu monopólio e em 1924 surgem os primeiros ônibus clandestinos e seu contrato deixará de ser renovado.

Mas a grita dos populares já vinha desde o fim da primeira década. Gigi Damiani, um anarquista italiano, já denunciava essa estranha urbanização que contemplava os ricos e marginalizava ainda mais os pobres. Seus artigos em La Battaglia são raivosos e denunciam que o bando que pede as reformas, são os mesmos que votam, os mesmos que pedem indenizações e pior, os mesmos proprietários que aumentaram os aluguéis em 200% (Cf. BESEN, s.d.).

Ainda naquela década, tivemos em São Paulo a revolta dos militares, desencadeando a chamada Revolução de 1924. Esta teve amplo apóio dos operários, principalmente estrangeiros ou filhos destes. Seus bairros foram bombardeados deixando mais de mil mortos e quatro mil feridos, a maioria civis. Carlo Romani afirma que foi uma das maiores matanças urbanas, dizendo que “a matança indiscriminada de civis pobres foi praticamente ignorada, quase esquecida em todo o país, principalmente pelos próprios historiadores paulistanos” (s.d., p. 20). Embora essa revolta tenha desestabilizado a Velha República, segundo o autor, a elite paulista só considera Revolução a de 1932, por ter sido protagonizada por eles. O fato é que o bombardeio causou grandes estragos na arquitetura dos bairros populares, piorando ainda mais a situação dos moradores.

Ainda nessa década houve o aumento de carros nas ruas, destinados a uma pequena parte da população, os ônibus também começaram a surgir a crescer em quantidade, havia uma grande demanda por novas habitações, a cidade precisava ganhar novos rumos. “Ao findar a segunda década do século 20, o quadro na cidade era de escassez, especulação, inflação. Sobreveio ainda a epidemia de gripe espanhola, que matou milhares de paulistanos, aumentando a aflição e o descontentamento na cidade. Nesse contexto, acirravam-se todos os tipos de tensão e conflito: social, étnico, cultural, político e econômico” (ROLNIK, 2002, p. 27).

É nesse período que foi planejada a cidade dos anéis, embora tenha sido levada a termo na década de 1940 por Prestes Maia, seu principal pensador.

Como já vimos, os bairros se formaram ao longo da ferrovia a partir das estações, paralelamente as instalações das indústrias provocando um acentuado desenvolvimento suburbano. O que antes era 'povoado-estação', nesta época passava a ser, na mais das vezes, 'subúrbios-estação'. Nos subúrbios industriais como é o caso de São Caetano, Utinga, Santo André, São Miguel e em menor escala Osasco, os operários eram atraídos devido a proximidade da fábrica e também pelos baixos custos dos terrenos. Algumas fábricas contribuíram para este processo com a construção de vilas operárias, por exemplo: " em São Miguel, onde a Nitro Química construiu entre outras a 'Vila Americana', que hoje constitui uma das porções mais centrais do populoso subúrbio" (LANGENBUCH, 1971, p. 147). Esta tendência provoca um aumento de contingente demográfico regional onde antes não existia. "Assim os subúrbios industriais passam paulatinamente a acumular a função, secundária ainda mas expressiva, de subúrbio-dormitório" (1971, p. 147), uma vez que estes subúrbios se transformavam em fornecedores de mão-de-obra também para as indústrias mais centrais.

"Nos subúrbios-estação (...) tende a se esboçar um zoneamento funcional muito simples: junto à estação concentram-se o comércio e a prestação de serviços, na maior parte dos casos apresentando um desenvolvimento modesto e limitado. Em torno estende-se a área residencial" (LANGENBUCH, 1971, p. 151).

Embora algumas regiões mais afastadas tenham se desenvolvido muito pouco até 1940, esta característica de desdobramento em forma de colar mostra que a "ferrovia estruturara as linhas mestras do desenvolvimento suburbano" (LANGENBUCH, 1971, p. 152), o que será importante no processo de metropolitanização.

Assim, fica claro que São Paulo desenvolveu-se bem pouco no período da colônia, ganhando força com o café já na segunda metade do século XIX, começando depois o investimento na industrialização, o que acarreta um grande crescimento demográfico, primeiro com a importação de mão-de-obra da Europa, tornando-se depois um pólo atrativo interno, isto é, começam a chegar pessoas de todo o Brasil para esta cidade.

São Paulo em três tempos - 2ª parte

DOS TRILHOS AO MODELO RODOVIARISTA

A cidade pensada em anéis 
Na década de 1930, São Paulo atraía capital e pessoas de todo o país e já nesse período ultrapassou um milhão de habitantes. Na década anterior, 1924, um projeto havia sido criado para modificar de vez a cidade de São Paulo: trata-se do plano de avenidas criado por Francisco Prestes Maia. O projeto só seria realizado quando esse fosse prefeito na década de 40 e São Paulo entraria no modelo rodoviarista, deixava-se de investir nos trilhos para investir nas avenidas e no transporte sobre pneus. “Nove de Julho, 23 de Maio, Radial Leste: todas fazem parte do plano que acabou por definir, até os dias de hoje, a estrutura urbana básica da cidade” (ROLNIK, 2002, p. 33).

O plano ainda previa a canalização de córregos e avenidas ao lado dos rios, surgindo as marginais, avenidas como a do Estado e Aricanduva. A cidade agora podia crescer horizontalmente de forma ilimitada. Este crescimento desordenado deu-se até os anos 70, quando a cidade se espalhou vorazmente, “engolindo morros e várzeas e conurbando-se com municípios vizinhos, quase sempre por meio de loteamentos irregulares e casas autoconstruídas, sem aprovação da prefeitura” (ROLNIK, 2002, p. 35).

Até os anos 30 a indústria tentara suprir a questão da habitação por meio das vilas operárias, mas o crescimento demográfico e da própria indústria, fez com que não dessem conta, passando a questão ao Estado. Por sua vez, o Estado “liberou” a expansão horizontal ao não tomar medidas cabíveis, teve, assim, um acréscimo das moradias populares, construídas nos momentos de folga em áreas não legalizadas. Vemos, portanto, a dupla exploração do trabalhador como bem adverte Lúcio Kowarick, em seu livro A Espoliação Urbana. “Assim, a autoconstrução, enquanto uma alquimia que serve para reproduzir a força de trabalho a baixos custos para o capital, constitui-se num elemento que acirra ainda mais a dilapidação daqueles que só têm energia física para oferecer a um sistema econômico que de per si já apresenta características marcadamente selvagens. Por outro lado, esse longo processo redunda, no mais das vezes, numa moradia que, além de ser desprovida de infra-estrutura básica e de se situar em áreas distantes dos locais de emprego, apresenta padrões bastante baixos de habitabilidades” (1993, p. 65). Mas se em um primeiro momento as autoridades fecharam os olhos para esse crescimento, mais tarde teriam que reconhecer essas moradias. Que estatuto jurídico-urbanístico se embasaria este reconhecimento? O fato é que não dava para negar, já que muitas das áreas começavam a se valorizar. Quanto as autoridades, outro problema era que de 1930 a 1953, São Paulo não elegia seus prefeitos, tinha-se nessa época os interventores.

Nos anos 40 entra em jogo as Sociedades Amigos dos Bairros (SAB), visando legalizar o que havia sido deixado para trás, mas esse modelo era extremamente clientelista, pois vivia-se sob o populismo. Ou seja, as melhorias nos bairros e o reconhecimento legal davam-se em troca de votos, já que quem intervinham eram os vereadores junto aos presidentes das SABs. Mesmo no período de redemocratização, quando o prefeito era Jânio Quadros, essa prática perdurou. Na época, “as reivindicações das ‘vilas’ por asfalto, água, esgoto e outras melhorias penetram no gabinete do prefeito, intermediadas por lideranças conectadas a gabinetes de vereadores” (ROLNIK, 2002, p. 38). E não é assim até hoje? As lideranças de bairros não continuam ligando-se a vereadores para conseguirem melhorias para os bairros?

O homem que re-inventou São Paulo 
Prestes Maia foi prefeito de 1938 a 1945, quando implantou o seu plano de avenidas desenhado ainda em 1924, uma idéia inicial dele e de Ulhôa Cintra. Depois retornou a prefeitura de 1961 a 1965. Apesar de não gostar da literatura moderna que se afirmara em sua época, “foi um modernizador da cidade” (PONTES, 1996, p. 4).

Francisco Prestes Maia nasceu em Amparo, interior de São Paulo, em 19 de março de 1896. Foi engenheiro civil, arquiteto e político. Formou-se em 1917 pela Escola Politécnica de São Paulo, onde depois lecionou. Atuou por anos no DOP (Departamento de Obras Públicas). Além de São Paulo, elaborou planos urbanísticos para Santos, Campinas, Campos do Jordão e Recife.

Foi nomeado prefeito pelo interventor Adhemar de Barros em maio de 1938, governando até novembro de 1945. Foi na sua gestão que Mário de Andrade foi demitido. “Prestes Maia considerava o orçamento do Departamento de Cultura alto demais para as possibilidades do município” (PONTES, 1996, p. 7).

Como urbanista elaborou o plano circular de avenidas e o sistema Y. Era o homem das obras públicas, das grandes construções. Para se ter uma idéia, quando retornou a prefeitura em 1961, encontrou as finanças defasadas, recuperou-as e começou a realizar suas obras, entre as quais estão as pontes do Piqueri, Cruzeiro do Sul, o viaduto de Vila Matilde, entre tantas outras desse porte.

Além de homem público, Prestes Maia sempre manteve seus “negócios particulares, seja como engenheiro e arquiteto, seja como empreendedor imobiliário” (PONTES, 1996, p. 5). Podemos deduzir, daí que tinha interesses na cidade que iam além do cargo público.

Prestes Maia ao executar seu plano de avenidas entre 1938 a 1945, optou por não investir no Metrô, uma realidade já em outros países. Além disso, ao alargar as avenidas, teve que cortar muitas e muitas árvores e mesmo o historiador José Alfredo Pontes sendo seu entusiasta não pôde poupar-lhe: “Inevitavelmente, foi um grande erradicador de árvores quando alargou ruas e rasgou quarteirões e certamente cometeu exageros, como no caso do Parque Anhangabaú, também conhecido como Parque Bouvard, literalmente retalhado por pistas de tráfego apenas 30 anos depois de sua inauguração (1914-1944. No entanto, comparado a Faria Lima, pode-se dizer que Prestes Maia foi um preservacionista, pois, de modo geral procurava amenizar ao máximo a eliminação da vegetação como no caso do alargamento das ruas Vieira de Carvalho, Ipiranga e São Luís, onde conseguiu preservar parte da vegetação de pomares e jardins” (1996, p. 9).

Mesmo assim, tudo indica que Prestes Maia era um político honesto, a julgar pelos artigos a seu respeito, mesmo assim não parece ter governado para os pobres. Como urbanista e político modificou a cara de São Paulo, foi em sua gestão que São Paulo cresceu horizontalmente, nascendo os bairros populares distantes do centro, ligados por suas avenidas e por um transporte coletivo sobre rodas. Mais tarde enfrentaríamos os problemas dessa decisão: muita poluição e grandes engarrafamentos.

São Paulo torna-se o maior pólo industrial do país – 1930-1950 
A elite paulista foi derrotada na revolução de 1930, começava um processo de desmonte das velhas estruturas da Primeira República e da política do café com leite. Até 1934 São Paulo passou por instabilidades tendo sido governada por doze prefeitos de 1930 até aquele ano. Mas a elite paulista se reorganiza para fazer frente ao governo federal e em 1932, tivemos a Revolução Constitucionalista. Mais uma vez São Paulo sofre derrota e o governo federal aumenta o controle, criando inclusive um Departamento de Municipalidades, para poder controlar mais de perto os municípios. Os prefeitos eram nomeados pelos interventores, foi assim que governaram Fábio Prado e Prestes Maia, que fizeram “uma ampla redefinição, não apenas urbanística, mas também política e administrativa, da vida na cidade” (O PODER EM SÃO PAULO, 1992, p. 61).

Com Fábio Prado a cidade ganha o Departamento de Cultura a cargo de Mário de Andrade, quando são criados os primeiros parques infantis, rede de bibliotecas e o inicio da construção do Estádio Pacaembu. Na seqüência Prestes Maia pode finalmente executar seu plano de avenidas e o sistema Y, formado pela Avenida 9 de julho, Avenida 23 de Maio e Anhangabaú (hoje Avenida Prestes Maia). O prefeito realizou obras nas avenidas Ipiranga, São João, Paulista, Pacaembu e encurtou o Tietê para construir as marginais.

O trânsito já era um problema e foi Prestes Maia quem começou a negociar com a Light a municipalização dos transportes coletivos, assim nasce a Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), efetivada em 1945, quando Prestes Maia já não estava mais na prefeitura. Todos os autores são unânimes em colocar Prestes Maia como a pessoa que modificou e redefiniu a feição moderna de São Paulo.

Após sair da ditadura do Estado Novo, temos um ponto fundamental desse período, trata-se da forte industrialização que atravessa o estado e a cidade de São Paulo. Esse impacto trouxe muitas mudanças sobre a vida urbana e fez com que a periferia começasse a crescer, já que começou um crescente fluxo de migrantes para a cidade. Criam-se as vilas populares, mas a principal moradia da população pobre era o cortiço.

Como já foi dito, inicialmente as indústrias, por receberem benefícios construíam as vilas operárias, mas a medida que a população crescia essa responsabilidade foi passada ao Estado. “Desse momento em diante as vilas operárias tendem a desaparecer e a questão da moradia passa a ser resolvida pelas relações econômicas no mercado imobiliário” (KOWARICK, 1993, p. 35). É assim que se expande a periferia paulistana. “Como acumulação e especulação andam juntas, (...) a ação governamental restringiu-se, tanto agora como no passado, a seguir os núcleos de ocupação criados pelo setor privado, e os investimentos públicos vieram colocar-se a serviço da dinâmica de valorização-especulação do sistema imobiliário-construtor” (KOWARICK, 1993, p. 35).

Nos anos 40, dentro do surto rodoviarista, isto é, a opção feita pelo transporte sobre pneus, surge a Dutra e a Anchieta, que, por sua vez, atrai indústrias metalúrgicas próximas a essa vias, é o momento de crescimento do ABC Paulista. Nos anos 50 esse movimento se intensifica. São Paulo cresce horizontalmente, através dos loteamentos mais distantes do centro, nem sempre reconhecidos pela prefeitura. A legalização se dá através do clientelismo e do populismo, numa negociação entre as lideranças das SABs e os políticos. Jânio Quadros foi uma das pessoas que soube aproveitar bem esse momento, tornando-se o ‘homem que dialogava com os pobres’ e canalizando para si todos os dividendos políticos, primeiro como vereador, depois como primeiro prefeito eleito após o intervencionismo, com a redemocratização em 1953.

Após a redemocratização, os populares voltaram a se manifestar, houve muitas greves pelo Brasil, mas principalmente em São Paulo, o carro-chefe da economia nacional. Na política paulistana duas forças dominaram os anos 50: Adhemar de Barros e Jânio Quadros, que investiram pouco nos serviços sociais. Mesmo assim, em 1953 haviam sido criadas as Agências Distritais, visando agilizar as obras nos bairros populares. Em 1956 o prefeito Toledo Piza havia solicitado um estudo sobre São Paulo, o estudo destacava a importância da regionalização na administração, por isso esse prefeito criou por decreto 19 subprefeituras, que vigorou apenas por dois dias.

Em 1953, quando o primeiro prefeito eleito pelo povo assumiu, após anos de intervenção, São Paulo já era a maior metrópole brasileira. Sua população tinha crescido rapidamente, se 1940 havia 1,3 milhão de pessoas, em 1950 eram 2.155.000 habitantes e no quarto centenário da cidade, em 1954 já tinha 2,5 milhões de pessoas (Cf. O PODER EM SÃO PAULO, 1992). Foi nos anos 50 que São Paulo suplantou o Rio de Janeiro, em termos populacionais, em termos industriais e econômicos.

Anos 60 e 70 – o autoritarismo 
Nessas duas décadas São Paulo teve o auge de seu crescimento horizontal, embalados por novo surto industrial, pelo crescimento e pela forte repressão. “Durante a expansão urbana dos anos 60 e 70, ocorre a conurbação com os municípios da atual região metropolitana, sobretudo Osasco e Taboão da Serra (a oeste), Guarulhos (a leste) e o ABC (a sudoeste)” ROLNIK, 2002, p. 43). É o auge da migração, que tem como destino a periferia, por sua vez a elite muda o seu centro de consumo: sai do centro histórico e vai para a região da Paulista e dos Jardins.

Em 1961 Prestes Maia voltou a governar São Paulo, tendo como prioridade os serviços urbanos, ele “representava os interesses de uma burguesia que buscava imprimir à prefeitura uma estrutura mais racional, indispensável para atender às demandas da expansão industrial da cidade” (O PODER EM SÃO PAULO, 1992, p. 81). A periferia e os serviços sociais não eram prioridades, mas uma vez o prefeito, em consonância com a indústria automobilística, investiu na expansão da rede viária. Prestes Maia conseguiu um feito, aumentou os gastos com serviços urbanos de maneira extraordinária, em 1961 foram 29,15% do orçamento, chegando a 45,6% em 1965. Enquanto isso os gastos com os serviços sociais foram praticamente nulos, realizando nessa área a criação do Centro Educacional e Esportivo do Ibirapuera, entregue em seu último dia de gestão. Outro “feito” na área social foram as remoções das favelas instaladas nas áreas por onde passariam as avenidas abertas por ele e ao lado das marginais. Para o prefeito as favelas eram “manchas da cidade” e sacos “sem fundos em matéria de despesas” (Apud O PODER EM SÃO PAULO, 1992, p. 83).

O sucessor de Prestes Maia, Faria Lima (1965-1969), prometeu inverter a ordem dos investimentos, mas já estávamos na ditadura militar. O Brasil viveria um intenso controle social. A máquina se burocratizou ainda mais. A repressão contra aqueles que lutavam por seus direitos imperava, enquanto se viveria depois a fantasia do milagre econômico (1968-1973). Mesmo assim, foi Faria Lima quem criou a Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab), que visava construir apartamentos e casas populares. São Paulo vivia intenso crescimento populacional, em 1965 já eram cinco milhões de pessoas. Objetivando uma melhor comunicação com as comunidades, foram criadas as Administrações Regionais.

Em 1968, através do Ato Institucional nº 5, a ditadura exercia um controle sem limites sobre os municípios, podendo fechar câmaras de vereadores, cassar mandatos, entre outras arbitrariedades. Finalmente, em 1969, com o Ato Institucional nº 7, suspendeu as eleições para cargos executivos ou legislativos, na União, nos estados e municípios. São Paulo passou por novo surto industrial, sendo responsável por 28% do valor de transformação industrial do país. Com esse crescimento, chegam à capital novas correntes migratórias, são os pobres do Brasil buscando melhores meios de subsistência. Quando vem a crise da segunda metade dos anos 70, São Paulo vai deixando de ser uma cidade industrial para transformar-se em grande cidade de serviços.

No período de repressão São Paulo teve como prefeitos Paulo Maluf (1969-1971), Figueiredo Ferraz (1971-1973), Miguel Colasuono (1973-1975) e Olavo Setúbal (1975-1979). Maluf era completamente ligado ao autoritarismo vigente e vai entrar para a história como o homem das grandes obras, dentre as quais o Minhocão. Era adepto da política do pão e circo, por isso incentivou as grandes festas e suas obras eram inauguradas com grande alarde, mas as obras sociais foram esquecidas e os problemas se avolumaram.

Figueiredo Ferraz foi o primeiro prefeito a alertar sobre os problemas sociais e a precariedade das condições de vida da maioria da população. Passou a combater enchentes e a poluição, investiu no transporte coletivo através do Metrô, quando ainda era municipal. Mas o Metrô trazia em si um paradoxo: para ser construído necessitava de mão-de-obra barata, provocando assim o aumento da migração. Foi esse prefeito o primeiro a criar um plano diretor, o PPDI (Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado) de 1971, que “foi muito mais de ordenação e disciplina do desenvolvimento do espaço físico da cidade do que de instrumentação da expansão da rede de serviços público” (O PODER EM SÃO PAULO, 1992, p. 101).

São Paulo crescia demograficamente em ritmo constante e multiplicava seus problemas. Quando Olavo Setúbal assumiu o poder a classe trabalhadora já demonstrava sinais de organização e a pressão começava aumentar. Este, viu-se obrigado a investir na periferia, se não resolveu todos os problemas, tentou amenizar, criando o Cadastro Geral da Cidade, a Comissão de Loteamentos Clandestinos, além de investir no transporte coletivo. Os investimentos em serviços urbanos e sociais ficaram balanceados em seu governo, ainda que pendesse mais para o primeiro. Foi esse prefeito que inaugurou a linha norte-sul do Metrô e iniciou a leste-oeste, mas foi também o responsável pela transferência do mesmo ao governo estadual. Na periferia criou os parques do Carmo, Anhangüera, construiu a avenida Aricanduva, palco de muitas enchentes. Em 1978, através da Cohab, entregou 12 mil apartamentos populares, mas nada fez pelos favelados.

Nesse período a cidade vai se re-configurar. Os investimentos nas indústrias automobilísticas favoreceram apenas àqueles com grande poder aquisitivo, já o transporte popular é precário. Mesmo quando se investe no Metrô, têm-se a construção dos grandes terminais de ônibus na região central. O centro se populariza e a elite abandona essa região sistematicamente. Verticaliza-se a região sudoeste da cidade, construindo prédios residenciais e comerciais para a elite em bairros como Higienópolis, Santa Cecília, Consolação, Pinheiros e Cerqueira César. “A ocupação cultural da Paulista-Augusta foi a vanguarda de um movimento que, nos anos 70, ali plantou, em estilo internacional, os poderosos do milagre econômico: grandes empresas, bancos e sindicatos patronais. A lei de zoneamento da cidade, aprovada em 1972, já conferia esse destino para a avenida” (ROLNIK, 2002, p. 47).

Essa re-configuração, expansão horizontal em direção a periferia, o abandono do centro e a verticalização na zona oeste, faz com que os pobres piorem ainda mais suas condições de vida, já que ficaram mais distantes do trabalho, residindo em habitações precárias. Em 1975 a capital tinha 615 mil moradores de cortiços, 1,8 milhão de pessoas moravam na periferia em casas com péssimas condições de moradia, feitas na base da autoconstrução (Cf. KOWARICK, 1993). Essa espoliação é fruto da especulação imobiliária com apóio do Estado, já que o mesmo oferece infra-estrutura para os industriários, além de crédito, favorece também a especulação imobiliária, pois qualquer benfeitoria em determinada região da cidade supervaloriza os terrenos, expulsando para mais longe aqueles que não podem arcar com a valorização.

A opção pelo transporte sobre pneus trouxe outros problemas para a cidade, como a poluição e o trânsito. “Em 1968 havia 7 milhões de deslocamentos diários, cifra que em 1974 passa para 13,9 milhões” (KOWARICK, 1993, p. 38). Esse inchaço, fez com que nos horários de pico os ônibus andassem com 130 passageiros, quando sua capacidade era de apenas metade. Um verdadeiro massacre ao trabalhador. Como havia vasta mão-de-obra e uma desorganização por parte dos trabalhadores, os salários eram diminutos. Nessa dinâmica da exploração da classe trabalhadora, cabe ainda ressaltar que desde 1965 o salário mínimo começou a cair em termos reais. Em 1973, 35% dos trabalhadores urbanos ganhavam até um salário e 67% até dois. “(...) é conveniente frisar que o ciclo de expansão recente da economia brasileira processou-se através de acentuada potenciação de produtividade do trabalho no setor industrial, que subiu, entre 1968-73, 32%, ao mesmo tempo em que o salário mediano dos trabalhadores urbanos, também em padrões reais, decresceu em 15% no período considerado” (KOWARICK, 1993, p. 66).

Quanto a moradia, o Banco Nacional da Habitação (BNH), investiu 135 bilhões de cruzeiros, para financiar 1,739 milhão de imóveis, destinados a famílias que ganham mais de doze salários mínimos. Diante disso resta ao pobre a favela, que cresceu muito durante a década de 70. O desemprego também aumentou, pois a criação de vagas foi inferior ao crescimento da população de 1950 até 1970.


Tabela 2: São Paulo – evolução da pressão demográfica, 1940/1970
Período      Vegetativa      Migratória      Total
1940/50      1,49               4,1                  5,2
1950/60      2,5                 3,8                  5,6
1960/70      2,1                 2,9                  4,5
Fonte: Cebrap, 1971 apud POCHMANN, 2001, p. 92.


Essa é a realidade enfrentada pelos migrantes em São Paulo, nordestinos e mineiros em sua maioria, que na busca de uma vida melhor encontram uma cidade que aparta, segrega e divide. Eles saem de suas regiões por falta de alternativa, como afirma Milton Santos, “a migração, em última instância, é, sem paradoxo, conseqüência também da imobilidade. Quem pode (...) vai consumir e volta ao lugar de origem. Quem não pode locomover-se periodicamente, vai e fica” (2008, p. 63). Esse deslocamento é fruto do desenvolvimento desigual do Brasil, assim as regiões pobres enviam mão-de-obra barata para as regiões mais desenvolvidas.

Ainda na década de 70, em 1973, foi criada por decreto a Região Metropolitana de São Paulo, com 37 municípios (hoje 39), onde moravam 8,5 milhões de habitantes, isto representava 10% da população brasileira em apenas 0,5% do território. Sua criação foi uma maneira do governo federal controlar melhor a região mais influente do país. A Região possui um órgão de planejamento, a Emplasa (Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo S.A.), além de uma empresa de transporte público, a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), que são geridas pelo governo estadual. Mesmo tendo existência legal jamais constituiu-se em uma unidade política, o que dificulta a resolução dos problemas conjuntos.

Décadas de 80 e 90 – redemocratização, desemprego e aumento da periferia
Na década de 80, em seu inicio, o Brasil já vivia uma grave crise econômica. Na cidade de São Paulo, o orçamento decresceu em termos reais. O prefeito daquele período foi Reynaldo de Barros, sobrinho de Adhemar de Barros. O prefeito, diante de inúmeras reclamações e protestos foi obrigado a investir na periferia, mas apenas em obras baratas, eram assim criados os projetos Pró-morar, Pró-água, Pró-luz, e Pró-favela. No entanto, a população se queixava que as habitações eram de má qualidade. E no governo do estado o governador Paulo Maluf não estava feliz com o prefeito que nomeara, pois queria ver realizadas as grandes obras. Faz-se necessário reconhecermos que o prefeito começou a realizar obras na área social, que no geral eram esquecidas, por outro lado, os problemas eram tão graves que representou muito pouco diante dos problemas acumulados. Na área de habitação o prefeito viabilizou 2.000 casas, mas seu plano inicial era de 50.000 casas.

Depois de desentendimento com o governador, Reynaldo de Barros foi substituído por Antônio Salim Curiati. Em sua gestão procurou acelerar a regularização dos loteamentos clandestinos, intensificou programas habitacionais, investiu nos trólebus e pavimentou ruas. Sua gestão também foi muito rejeitada.

Em 1983 os governadores voltaram a ser eleitos, mas os prefeitos não. Franco Montoro foi o primeiro governador eleito desse período, nomeando para prefeito Mário Covas. “A efervescência social já havia sacudido a cidade com uma série de manifestações e saques logo no começo do governo de Montoro. E Covas teve de enfrentar, já nos primeiros dias de sua administração, a implantação de um acampamento de desempregados no Parque Ibirapuera, nas vizinhanças de seu gabinete. Ao longo de sua gestão, enfrentou também quatro greves dos servidores municipais. As demandas sociais, duramente reprimidas durante tantos anos, transbordavam e batiam na porta da prefeitura” (O PODER EM SÃO PAULO, 1992, p. 121).

Covas priorizou o combate as enchentes, regularizou loteamentos clandestinos reduziu déficits educacionais e melhorou o transporte coletivo. A criação do passe do idoso é de sua gestão. Em seu governo realizou obras na região central apenas de manutenção dos equipamentos e serviços essenciais.

Mas o sucessor de Covas, Jânio Quadros, primeiro prefeito eleito por voto popular após a redemocratização, voltou-se para o centro novamente. Sua prioridade eram as obras e serviços e não o social, retomando o modelo rodoviarista da década de 40: re-urbanizou o Vale do Anhangabaú, fez os túneis por baixo do Ibirapuera e do rio Pinheiros. E viajou muito pela Europa.

Foi ainda na década de oitenta que a periferia se expandiu totalmente, chegando aos limites da cidade. Em 1981, o modelo de zoneamento adotou um dispositivo que destinou uma franja rural, Z8-100/1, “como área para construção de conjuntos habitacionais populares” (ROLNIK, 2002, p. 49). O objetivo era baratear os custos dos terrenos para a COHAB. Assim surgiram as Cohab`s Itaquera 1, 2, 3, 4 e Cidade Tiradentes, criada em 1984 e 20 anos depois, já congrega em suas habitações populares quase trezentos mil habitantes. Esses conjuntos habitacionais, conforme Raquel Rolnik, criaram “guetos habitacionais sem variedade social” (2002, p. 50). Muitos dos terrenos utilizados eram impróprios, sem contar a falta de infra-estrutura.

Para a construção dos conjuntos foram devastadas imensas áreas verdes que ainda existiam na cidade. O solo, em boa parte desses terrenos, são arenosos, em épocas de chuvas são arrastados para os córregos, provocando enchentes e trazendo mais problemas para estes habitantes. Por isso nunca se pára de tirar terra e areia do rio Tietê desde 1960.

Mas o pior impacto desse projeto, conforme alerta Raquel Rolnik, é “a radical exclusão territorial a que foram condenados os moradores da extrema periferia guetos de baixa renda, educação precária, desemprego alto, serviços urbanos deficientes, radicalmente fora dos locais onde circulam as oportunidades” (1992, p. 51).

Por fim, é bom lembrar que na década de 80 o Brasil atravessava um esgotamento de sua industrialização, a economia estava estagnando. Foi o inicio de grave desemprego que iria se agravar ainda mais na década seguinte. “Nas últimas décadas do século XX, somente o setor terciário manteve seu crescimento em alta, com maior participação relativa no total das ocupações na cidade de São Paulo. Em 1998, quase 71% das ocupações localizavam-se nas atividades de serviços e comércio” (POCHMANN, 2001, p. 112).

Na década de 90, São Paulo tornou-se a capital dos serviços. Em termos de ocupação do solo, a periferia não consegue mais se expandir horizontalmente, no entanto, continua a crescer em termos populacionais. Enquanto os bairros mais estruturados têm diminuído sua população, a periferia continua a crescer: “Distritos como Anhangüera, no noroeste, e Cidade Tiradentes, no extremo leste, cresceram mais de 3% ao ano” (ROLNIK, 2002, p. 66). A máquina da exclusão ainda está a todo vapor, São Paulo já tem dois milhões de pessoas morando em favelas, isso representa quase 20% da população, enquanto no inicio da década de 70 representava pouco mais de 1%. A tabela abaixo mostra o crescimento demográfico da população, a mesma foi pensada a cidade dividida em cinco círculos, a partir do centro.

Tabela 3: Município de São Paulo: taxas geométricas de crescimento populacional por anel, 1960 a 1996. 
Anel                 60-70  70-80   80-91   91-96
Central             0,72    2,23      0,91      2,79
Interior             0,08    1,26      1,14      2,43
Intermediário   2,79    1,28      0,68      1,44
Exterior            5,52    3,13      0,86      0,51
Periférico        12,9     7,42      3,09       2,48
Total                 4,79   3,67      1,16       0,40
Fonte: Censos Demográficos de 1960, 1970, 1980, 1991 e Contagem Populacional de 1996. Apud TASCHNER; BÓGUS, 2000, p. 253.

A cidade não pode mais ser pensada e continuar a ser dividida em pedaços, faz-se necessário um projeto amplo, de maneira a atender a todos os paulistanos indistintamente, independentemente de onde eles vivam.

São Paulo em três tempos - 3ª parte

CONCLUSÃO – SÃO PAULO HOJE 

As decisões políticas de seus governantes, aliado aos projetos da elite, fizeram de São Paulo o que ela é hoje. Aliás, elite e governantes, ao longo da história da cidade, confundem-se, sendo praticamente impossível distinguir um do outro. Por isso mesmo, a população mais carente sempre esteve à margem das decisões, entrando no reino da política apenas através dos favores e do clientelismo, como ocorreu com as Sociedades Amigos de Bairro e mesmo depois, quando os movimentos sociais puderam falar, logo as lideranças dos bairros juntaram-se aos políticos.

Tudo isso gerou uma cidade despedaçadas, com grandes e enormes pedaços destinados aos pobres, sem infra-estrutura, distante do trabalho, sem áreas de lazer, praticamente sem nada. Do outro lado, uma pequena área, destinada aos mais abastados com toda infra-estrutura, sempre privilegiados pelos investimentos públicos. Hoje, no entanto, essas duas zonas se encontram, pois a cidade não tem mais para onde crescer e por mais que os ricos se fechem em seus banquers, não podem mais ignorar a pobreza que bate a sua porta.

Mas São Paulo continua tendo sua pujança, hoje é uma cidade global, por onde transitam os ricos do mundo. Tem serviços de ponta, é sede de grandes bancos brasileiros e mundiais. Tem uma infra-estrutura invejável, por isso continua atraindo grandes riquezas. Mesmo assim, São Paulo não é uma, são duas: “é uma cidade partida entre incluídos e excluídos, conectados e soltos, marcada em sua própria estrutura básica de funcionamento pela apartação socioterritorial” (ROLNIK, 2002, p. 75). É uma cidade despedaçada como afirmou Aldaíza Sposati no seu livro Cidade em Pedaços (2001).

Por fim, São Paulo é fruto do desenvolvimento desigual na sociedade brasileira, que em alguns momentos privilegiou-se todo o investimento em poucos pontos, atraindo para cá mão-de-obra barata. É uma primate cities, da qual fala Manuel Castells (Cf. 1983), provocando desequilíbrio, pois aqueles que moram onde o desenvolvimento não chegou, correram para cá. Castells afirma que essa é uma característica de toda América Latina: “A urbanização latino-americana caracteriza-se então pelos traços seguintes: população urbana sem medida comum com o nível produtivo do sistema; ausência de relação direta entre emprego industrial e crescimento urbano; grande desequilíbrio na rede urbana em benefício de um aglomerado preponderante; aceleração crescente do processo de urbanização; falta de empregos e de serviços para as novas massas urbanas e, conseqüentemente, reforço da segregação ecológica das classes sociais e polarização do sistema de estratificação no que diz respeito ao consumo” (1983, p. 99).

São Paulo foi e é vendida como a terra das oportunidades, se há verdade nessa afirmação, não podemos esquecer que é também o reino da exclusão e pelos caminhos que tem seguido, tendo a elite que tem, continuará sendo. Por isso a periferia – local dos pobres – cresceu tanto nas últimas duas décadas e continuará crescendo, pois esse é o reduto dos excluídos. “O anel periférico foi responsável por 43% do incremento populacional nos anos 60, por 55% desse incremento nos anos 70, por 94% entre 1980 e 1991 e por 262% entre 1991 e 1996” (TASCHNER; BÓGUS, 2000, p. 254).

Para complicar ainda mais a situação a Região Metropolitana de São Paulo conurbou-se em 2008 com a Região Metropolitana de Campinas, formando a maior mancha urbana do hemisfério sul. É urgente pensar as cidades de forma integrada. São Paulo, por sua dimensão e complexidade não pode mais ser pensada apenas por quatro anos, como querem os políticos, é urgente também uma reforma urbana. Os problemas enfrentados hoje pelos paulistanos é resultado de decisões políticas do passado e só serão resolvidos se pensados a longo prazo e em conjunto com os demais municípios do seu entorno.

O jornal O Estado de São Paulo, no encarte “Grandes Reportagens” trouxe na capa, no mês de agosto de 2008, o tema das megacidades, isso porque a população mundial já superou a do campo e estima-se que em 2025 sejamos 61% da população vivendo em cidades. Nesse encarte há um especial sobre São Paulo e de seus principais problemas como a poluição, o trânsito, a pobreza, abastecimento de água, lixo, entre outros. As decisões erradas do passado nos levaram ao caos urbano em São Paulo, as mesmas devem ser repensadas conjuntamente entre sociedade e governantes, daí a importância de mecanismos para a sua reforma como os orçamentos participativos e a economia popular, precisamos fazer da cidade uma ambiente melhor. Nas cidades estão “os tesouros da criação intelectual das várias sociedades”, como bem afirmou Marcelo Lopes de Souza, deixando claro ainda que “A vida em espaços urbanos já é, hoje, um fato para a maioria dos seres humanos. Quer se queira ou não, quer se aprecie a vida nas cidades ou não, teremos de aprender a viver da melhor maneira possível nesses espaços, cuja predominância muito provavelmente é irreversível” (2003, p. 154). 

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