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domingo, 2 de agosto de 2009

São Paulo em três tempos - 3ª parte

CONCLUSÃO – SÃO PAULO HOJE 

As decisões políticas de seus governantes, aliado aos projetos da elite, fizeram de São Paulo o que ela é hoje. Aliás, elite e governantes, ao longo da história da cidade, confundem-se, sendo praticamente impossível distinguir um do outro. Por isso mesmo, a população mais carente sempre esteve à margem das decisões, entrando no reino da política apenas através dos favores e do clientelismo, como ocorreu com as Sociedades Amigos de Bairro e mesmo depois, quando os movimentos sociais puderam falar, logo as lideranças dos bairros juntaram-se aos políticos.

Tudo isso gerou uma cidade despedaçadas, com grandes e enormes pedaços destinados aos pobres, sem infra-estrutura, distante do trabalho, sem áreas de lazer, praticamente sem nada. Do outro lado, uma pequena área, destinada aos mais abastados com toda infra-estrutura, sempre privilegiados pelos investimentos públicos. Hoje, no entanto, essas duas zonas se encontram, pois a cidade não tem mais para onde crescer e por mais que os ricos se fechem em seus banquers, não podem mais ignorar a pobreza que bate a sua porta.

Mas São Paulo continua tendo sua pujança, hoje é uma cidade global, por onde transitam os ricos do mundo. Tem serviços de ponta, é sede de grandes bancos brasileiros e mundiais. Tem uma infra-estrutura invejável, por isso continua atraindo grandes riquezas. Mesmo assim, São Paulo não é uma, são duas: “é uma cidade partida entre incluídos e excluídos, conectados e soltos, marcada em sua própria estrutura básica de funcionamento pela apartação socioterritorial” (ROLNIK, 2002, p. 75). É uma cidade despedaçada como afirmou Aldaíza Sposati no seu livro Cidade em Pedaços (2001).

Por fim, São Paulo é fruto do desenvolvimento desigual na sociedade brasileira, que em alguns momentos privilegiou-se todo o investimento em poucos pontos, atraindo para cá mão-de-obra barata. É uma primate cities, da qual fala Manuel Castells (Cf. 1983), provocando desequilíbrio, pois aqueles que moram onde o desenvolvimento não chegou, correram para cá. Castells afirma que essa é uma característica de toda América Latina: “A urbanização latino-americana caracteriza-se então pelos traços seguintes: população urbana sem medida comum com o nível produtivo do sistema; ausência de relação direta entre emprego industrial e crescimento urbano; grande desequilíbrio na rede urbana em benefício de um aglomerado preponderante; aceleração crescente do processo de urbanização; falta de empregos e de serviços para as novas massas urbanas e, conseqüentemente, reforço da segregação ecológica das classes sociais e polarização do sistema de estratificação no que diz respeito ao consumo” (1983, p. 99).

São Paulo foi e é vendida como a terra das oportunidades, se há verdade nessa afirmação, não podemos esquecer que é também o reino da exclusão e pelos caminhos que tem seguido, tendo a elite que tem, continuará sendo. Por isso a periferia – local dos pobres – cresceu tanto nas últimas duas décadas e continuará crescendo, pois esse é o reduto dos excluídos. “O anel periférico foi responsável por 43% do incremento populacional nos anos 60, por 55% desse incremento nos anos 70, por 94% entre 1980 e 1991 e por 262% entre 1991 e 1996” (TASCHNER; BÓGUS, 2000, p. 254).

Para complicar ainda mais a situação a Região Metropolitana de São Paulo conurbou-se em 2008 com a Região Metropolitana de Campinas, formando a maior mancha urbana do hemisfério sul. É urgente pensar as cidades de forma integrada. São Paulo, por sua dimensão e complexidade não pode mais ser pensada apenas por quatro anos, como querem os políticos, é urgente também uma reforma urbana. Os problemas enfrentados hoje pelos paulistanos é resultado de decisões políticas do passado e só serão resolvidos se pensados a longo prazo e em conjunto com os demais municípios do seu entorno.

O jornal O Estado de São Paulo, no encarte “Grandes Reportagens” trouxe na capa, no mês de agosto de 2008, o tema das megacidades, isso porque a população mundial já superou a do campo e estima-se que em 2025 sejamos 61% da população vivendo em cidades. Nesse encarte há um especial sobre São Paulo e de seus principais problemas como a poluição, o trânsito, a pobreza, abastecimento de água, lixo, entre outros. As decisões erradas do passado nos levaram ao caos urbano em São Paulo, as mesmas devem ser repensadas conjuntamente entre sociedade e governantes, daí a importância de mecanismos para a sua reforma como os orçamentos participativos e a economia popular, precisamos fazer da cidade uma ambiente melhor. Nas cidades estão “os tesouros da criação intelectual das várias sociedades”, como bem afirmou Marcelo Lopes de Souza, deixando claro ainda que “A vida em espaços urbanos já é, hoje, um fato para a maioria dos seres humanos. Quer se queira ou não, quer se aprecie a vida nas cidades ou não, teremos de aprender a viver da melhor maneira possível nesses espaços, cuja predominância muito provavelmente é irreversível” (2003, p. 154). 

BIBLIOGRAFIA
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