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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tá Na Rua em Ribeirão Preto na Mostra de Teatro de Rua do SESC SP

 

Car@s amig@s ,

Segue o que rola por aqui na mostra SESC-SP de Teatro de Rua.

DIA 16 - "Tertúlia, Engasga o Gato e Fora do Sério" foram os grupos de Ribeirão Preto que, juntos com a Brava Companhia de São Paulo e estudantes de teatro da Faculdade Barão do Amazonas, nos aguardavam no auditório do SESC local. Chegamos lá às 14h55min, vindos de Taubaté, de onde saímos às 07h22min. No trajeto, ficamos engarrafados na Rodovia Presidente Dutra, tendo à esquerda à fábrica de aviões e à direita à indústria química de São José dos Campos. Levamos 50 minutos até entrar na Rodovia Dom Pedro, sentido Campinas. Seguimos nela por uma hora. Quebramos à direita, para o oeste paulista. As placas iam se modificando aos nossos olhos, trocando as letras, os números. Entramos na Anhagüera, sentido Uberaba. Uberaba a 230km, a 210km, a 180km. Pensei é quase Minas...  Diferente das placas convidativas,  Limeira, Sertãozinho, Piracicaba, Pirassununga... a paisagem insistia em se manter monotonamente a mesma: mar verde de cana, terra vermelha, laranjais, eucalipto, caminhão, calor, mar verde de cana, terra vermelha, laranjais, eucalipto, caminhão, mar verde de cana... Amir Haddad estava sentado na poltrona ao lado fazendo palavras cruzadas e fez o seguinte comentário para mim: "Licko, eu faço isto porque me ajuda a pensar o mundo, as coisas, o teatro. Antes, eu fazia com caneta azul, agora, faço com lápis! Quando fazia com a caneta, se errasse, já era! Não tinha a chance de corrigir, de aprender, de voltar atrás. Estava setenciado! Com o lápis, não! Se errar, eu apago, recupero, tenho esperança de acertar!" Recolocou os óculos para perto sobre o nariz e continuou a sua tarefa. A placa mandou a gente virar à direita e entrar no Ribeirão Preto. Chegamos lá, no SESC, às 14h55min, vindos de Taubaté, de onde saímos às 07h22min, dizia eu. Encontramos logo com a Míriam, do Fora do Sério que, em 1992, ajudou a organizar o primeiro encontro do Movimento Brasileiro de Teatro de Grupo.

O papo rolou solto com as colocações do Amir sobre 'arte pública' versus 'arte privada'. A Míriam queria saber notícias das proibições e perseguições que a atual administração carioca vinha imputando sobre o teatro de rua na cidade maravilhosa. Amir, imediatamente, ampliou: "Em todo o Brasil! Estão privatizando os espaços públicos em todo o Brasil! Tem lugar que cobram 9 mil, outros alugam por metro quadrado! As praças, no Rio, foram todas cercadas! Tem grades! É o capital, a ordem, o controle... Eu não quero liberdade consentida! Eu não quero liberdade condicional!". Depois ele passou a bola para mim. Falei da Rede Brasileira de Teatro de Rua, da ABRACE, do curso que o Alexandre Mate conquistou na UNESP, da disciplina na UDESC, do Narciso na UFU e do Carreira na UDESC, dos editais. Lancei o livro Teatro de Rua no Brasil – A primeira década do Terceiro Milênio. Afinal fui convidado pela Mostra SESC-SP de Teatro de Rua para isto. Dali fui para a praça Carlos Gomes, bonita, tem o chopp do Pingüim, bom, gelado. O pessoal da Usina do Trabalho do Ator, de Porto Alegre, RS, apresentou lá A Mulher que Comeu o Mundo. Assisti junto com o pessoal da Brava. Era um grupo desconhecido para nós, vimos pela primeira vez. Fizemos nossos comentários, rápidos, entrecortados por olhares e expressões...

DIA 17 – Sexta-feira, demos uma oficina O Ator no Espaço Aberto. Apareceu um monte de gente de teatro da cidade. Cheio, mesmo! Todos se divertiram e disseram que era completamente diferente do que sabiam. Unânimes, disseram que esperavam alguma orientação, ordem, técnica... e veio a liberdade! Conversamos muito, depois corri para a Castro Alves outra vez. O Imbuaça já estava pronto para começar o seu espetáculo "O Mundo Tá Virado, Tá No Vai e Não Vai. Uma banda Pendurada. A outra, em Breve Cai". O Imbuaça tem 33 anos de trabalho ininterrupto. Deu tempo de conversar com o Lindolfo, com a Isabel, a Rita e o Iradilson entre uma maquiagem e outra. O Imbuaça tem gente nova à beça... está renovando... Rosi, Talita, Kessia, Carlos... mas, mantém a sua liguagem dramatúrgica na literatura de cordel, como forma de resistência e divulgação dos grandes mestres e autores do nordeste. Poético, irônico, humor, música cantada, música mecanizada, equilibrado. O povo gostou! Dali subi sete quadras e fui para a praça Sete de Setembro.

De longe, se um ônibus azul no meio da praça. Chegando mais perto reconheci o CIRCOLAR TEATRO das meninas, d'As Graças, de Sampa! Tudo pronto. Pipoqueiro, sorvete, estudante, calor, 29 graus às 21h. O circo teatro delas apresentou o melodrama Nas Rodas do Coração, uma homenagem emocionante a Adoniran Barbosa. Quando o espetáculo terminou eu aprendi mais sobre as músicas do sambista do Brás e da cultura paulista do que as minhas centenas de viagens à capital. Os homens e as mulheres de Adoniram desfilaram suas fraquezas, malandragens, gostos e a ingenuidade brejeira em gestos poéticos e leves na minha frente. No final cantamos juntos "cais, cais, cais, cais, cais, cais..." Jantei com o meu grupo e falamos sobre o espetáculo das moças. Todos disseram que haviam gostado. Também! Durmi.

SÁBADO – A praça Sete de Setembro tem uma feirinha de artesanato aos sábados. No centro um coreto grande e bonito com escadas, rampas de acesso e uma espécie de procênio Começou com o Marcos da Legião de Palhaços, SC, com o seu "Cirquinho de Pulgas", uma tradição secular que existe em todo o mundo, sendo ele um dos seus mantenedores no Brasil. A técnica mistura teatro e ilusionismo e encanta a todos, principalmente aos pequenos. Em seguida, entramos na praça com "A Alegria do Palhaço é Ver o Circo Pegar Fogo!", um mapa-roteiro para uma dramaturgia aberta, que mistura revista, rádio, TV em um programa. Os números musicais do grupo acertaram em cheio o coração da platéia: O Ébrio, Ivete Zagalo entre outros. O espetáculo é sempre interrompido pelo HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO do Tá Na Rua que apresenta os seus 'candidatos': Darcy Ribeiro, Glauber Rocha, Chiquinha Gonzaga, Jango. Pensamentos e história das histórias do Brasil.

PS. Devo confessar que para despedir de Ribeirão, estamos saindo agora para o Pingüim, uma chopperia para turista. Depois, jantar na churrascaria Ribeirão porque dizem que a carne do agrobusiness é muito boa! Porra, ninguém é de ferro! Vou no bonde! Amanhã, sairemos às sete para São Carlos e apresentamos às 15h.

Abs,

Licko Turle

 

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O teatro de rua e o chapeu


O chapéu no teatro de rua é uma tradição milenar

Desde os tempos dos Gregos o teatro prima por um contato mais direto e necessário com a platéia, para isto sempre esteve, nos mais de dois mil e quinhentos anos da história do teatro ocidental, presente nas ruas e espaços abertos da Polis. Nos dias de hoje no Brasil, há um número inestimável de grupos que se voltam para o espetáculo a céu aberto, cercado por um público movediço e transeunte, ávido por arte, que forma rodas propícias a nossa prática teatral.

Vivemos num país livre e democrático e não há melhor lugar do que estar nas praças, ruas e parques para exercitar a democracia da arte do teatro. O Brasil possui uma diversidade gigantesca de estilos, costumes, tradições, conhecimentos e saberes. Portanto, estes são os elementos constitutivos na nossa Nação.

Nem sempre, no entanto, encontramos o respeito as tradições, aos costumes, as culturas, como podemos observar no comprimento do nosso oficio do Teatro de Rua. Temos a nosso favor uma notável capacidade de acolhimento e transformação enriquecedora daquilo que nós e inicialmente alheio. Entretanto, os desequilíbrios entre regiões e as desigualdades sócias – realimentadas por discriminações étnicas, raciais e de gênero – também fazem parte da história do País. E por muitas vezes encontramos dentro das Secretarias de Cultura pensamentos e praticas que desconsideram o verdadeiro sentido republicano.

A gestão da Política Oficial de Cultura do Município de ....., através da Fundação ......., cidade situada no Estado do Rio de Janeiro, desconsidera a tradição dos artistas e grupos de Teatro de Rua passar o chapéu em suas apresentações. Na programação do Circuito Estadual de Artes, o grupo Off-Sina foi orientado, pela atual gestão, a não passar o chapéu. Está visão contrária os avanços conquistados por todos os artistas e grupos pertencentes a Rede Brasileira de Teatro de Rua, reconhecidas até pelo Ministro da Cultura Juca Ferreira, como atesta a matéria publica no Jornal o Globo, do dia 30 de julho de 2009, relativa ao lançamento do Vale Cultura, onde institucionaliza o Chapéu Eletrônico ( leia em anexo).

            A participação do Teatro de Rua na II Edição do Circuito Estadual de Artes é um avanço importante na luta pela igualdade e pela plena oferta de condições para a expressão cultural sendo reconhecida, aqui no Estado do Rio de Janeiro e em outros estados, como parte de uma nova maneira de lutar pelos direitos fundamentais.

            Na I Edição do Circuito Estadual de Artes, realizado em 2008, a Rede Estadual de Teatro de Rua trabalhou em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura e com o SESC Rio na realização de 26 espetáculos de Teatro de Rua e passou o chapéu em todos os municípios. Segundo declaração da Superintendente de Artes da Secretaria de Cultura do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Eva Doris, em publicado na revista "A Rua",  - A gente não vai largar a rede nunca, mesmo que vocês queiram.

A proibição da passagem do chapéu fere uma tradição milenar e ofende aos grupos e artistas trabalhadores de teatro de rua.

Cordialmente,
Rede Brasileira de Teatro de Rua

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sobre o Fórum da 5ª Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas



por Marcos Pavanelli

Em primeiro lugar gostaria de parabenizar todos os grupos e pessoas que colaboraram para a realização deste evento importantíssimo para o teatro de São Paulo e do Brasil, que foi pensado e organizado por um coletivo de fazedores e pensadores de teatro de rua chamado Movimento de Teatro de Rua de São Paulo,  que desde 2001 vem promovendo ações que apontem a importância do teatro feito nas ruas e praças deste Brasil.

Neste Fórum tivemos a oportunidade de convidar algumas pessoas de outras regiões do Brasil (Jussara Trindade-RJ, Junio Santos-CE, Patrícia Caetano-RN,  Fillipo Rodrigo-RN, Giancarlo Carlo Magno-RS e outros convidados de última hora trazidos pelo Pombas Urbanas da Colômbia e Taiwan)  que colaboraram muito para o debate nos dias 29, 30 e 31 de Julho de 2010, em Sampa o que, no meu entender, deu um novo fôlego ao movimento local.


Acredito que este tipo de participação dos articuladores de outras localidades nos encontros regionais, dão um tom diferente aos debates e ajudam muito no intercâmbio e troca de ideias em âmbito nacional, funcionando como uma prévia dos debates que acontecem nos nossos encontros da Rede Brasileira de Teatro de Rua (RBTR), que neste semestre será na região Centro-Oeste, dando continuidade ao desejo dos articuladores da RBTR de descentralizar as discussões sobre teatro e políticas publicas para a Cultura. Espero podermos tornar isto como prática constante em todas as outras mostras de teatro de rua realizadas pelo Brasil, fortalecendo, dessa forma, os movimentos regionais. É importante ressalatar que não estou dizendo que isto é uma novidade, pois já participei de outros encontros – que não os oficiais da RBTR – que também tinham articuladores de outras regiões, mas estou sugerindo que isto se torne um hábito.

Foram muitos os temas debatidos aqui no Fórum da 5ª Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas, vou citar alguns que acredito serem os mais importantes:
- Passar ou não o chapéu quando somos contratados ou pagos para fazer uma apresentação;
- A falta de liberdade para apresentações e manifestações artísticas nas ruas e praças de algumas cidades do Brasil;
- A critica sobre o teatro feito fora dos palcos, quais os critérios a serem levados em conta? Ou usamos os mesmos critérios utilizados para as apresentações convencionais? Neste caso algumas pessoas defenderam a tese de que nós, os fazedores de teatro de rua, temos que educar os críticos sobre os aspectos que achamos necessários e interessantes e que precisam ser levados em conta sobre o nosso modo de fazer e organizar nosso trabalho;
- Qual o tipo de organização estamos buscando dentro dos nossos grupos, associações e movimentos? Quais relações estão sendo estabelecidas e que de alguma forma se contrapõe a ordem vigente no país e no mundo, e de que forma isto se reflete no nosso trabalho?


Fizemos tambem o lançamento da 2
ª edição da revista do MTR/SP,  Arte e Resistência na Rua que traz um panorama sobre o que está sendo feito e produzido pelos grupos de teatro de rua do estado de São Paulo e do Brasil e que pela primeira vez tiveram o direito de resposta sobre as criticas feitas sobre seus espetáculos,  o que, no meu entender, é uma forma de construir uma critica especializada sobre nosso fazer e contribui para a reflexão e elaboração de um pensamento acerca do nosso TEATRO DE RUA.


Gostaria de registrar aqui o alto índice de participação de grupos, estudantes e pessoas interessadas no assunto, refletindo o bom momento que passa o teatro de rua do Brasil. Por fim, lembrar que uma parte deste Fórum foi realizado dentro da UNESP (Universidade do Estado de São Paulo), fazendo com que o teatro de rua e seus fazedores tenham voz dentro das entidades de ensino.


Estamos caminhando, estamos nos encontrando, estamos nos organizando, estamos nos reconhecendo e crescendo juntos!

O combinado e o improvisado

 

(ou "quando o não-lugar vira lugar")

Acabo de chegar de uma apresentação-surpresa: nem eu sabia que aconteceria.
No encerramento do Festivale esgotaram-se os ingressos para a peça "da Lucélia Santos", e muita gente ficou de fora.
Tanto artista pelejando pra juntar público, e tanto público ali sem poder ver o artista!
Não dava pra ficar daquele jeito, pensei.

Conversei com algumas pessoas que não tinham conseguido ingressos, pra saber se teriam interesse em ouvir cordéis. O pessoal topou - animadamente, pra minha alegria.
Esclareço que em nenhum momento houve a ideia de fazer um protesto. O que bateu forte foi a vontade de garantir que as pessoas que foram buscar arte na noite de domingo, naquele espaço, tivessem acesso à arte de alguma forma. 

- Pessoal, já aviso que não tenho nada a ver com a Lucélia Santos, ok? 
(risos). 
Aí perguntei pro povo:
- Pessoal, vamos para a praça ou ficamos aqui mesmo, do lado de fora do Teatro Municipal?
(que fica no último piso de 1 shopping, pra quem não conhece São José dos Campos)
Como o pessoal estava na maioria com carro estacionado no shopping, e como estava frio pra ficar na praça, foi consenso geral ficar por ali.
Então espalhei os cordéis no chão e fui falando um pouco sobre cada um.

A ideia era fazer um self-service, com o próprio público escolhendo o que queria ouvir, mas eu queria tanto "estrear" o cordel mais recente que o pessoal -gentilmente- topou.
Foi uma estreia bem especial. Um público especial, generoso, que foi ver uma coisa mas estava ali, de coração aberto pra arte, pra outras artes.
A apresentação foi breve: parece que a vedação acústica do teatro não era perfeita e os aplausos do lado de fora atrapalharam a apresentação oficial, de dentro do teatro.
Breves momentos de tensão, logo contornados.
O segurança Souza (abraço, meu amigo!) foi muito gentil e tudo se acalmou.

Daí pra frente, continuou uma conversa em roda menor, de pessoas que acreditam no fazer artístico, gente séria, de diferentes idades, envolvida com literatura. Gente apaixonada - bom conversar com gente assim. É desses momentos de encontro apaixonado que nascem ideias, projetos, novos encontros.
Obrigado a todos vocês ali presentes.
Antes de artistas, somos cidadãos.
Antes de cidadãos, parceiros.
Antes de parceiros, irmãos no mundo.

Acho que o episódio de hoje traz uma conclusão muito importante:
ainda que uma grande parte do público seja realmente motivada a sair de casa para ver apresentações com "artistas famosos, globais", esse mesmo público é bastante receptivo para novidades, para apresentações de arte que para eles é nova, desconhecida.
Não se deve, em hipótese alguma, subestimar a cabeça das pessoas. 
Temos, todos nós, muitas fomes.  Fome de Arte, por exemplo. Artes.
E pra quem tem fome, o mais importante não é o local. É o alimento.

"A gente não quer só comida...", como diz a canção dos Titãs.

Só pra finalizar a história, um adendo: depois de tudo isso, enquanto rolava a cerveja numa padaria de bairro (Santana), o atendente -que não nos conhecia- perguntou se a gente morava por ali. Respondi que não: a padaria dele "aconteceu" pra gente, sem nada combinado. Ele então disse uma frase que me arrepiou na hora por resumir a noite, com aquela sabedoria popular genial:
"Ah, o improvisado é quase sempre sempre melhor que o combinado!"
Ah, esse povo sabe das coisas!


Fonte: http://www.cordeisjoseenses.blogspot.com/

sábado, 11 de setembro de 2010

REDESATANDO-NOS

Por Paulo Barja
(Refletindo Sobre Arte em Espaços Públicos)

Como cidadão apaixonado por cultura popular, tenho interesse em acompanhar discussões sobre a rua como espaço de atuação (não apenas no sentido artístico). O texto de Adalton Alves (1) recentemente publicado traz à mente questões pertinentes.
Sébastian Charles (2) tem observações bastante interessantes, que se aplicam como diagnóstico ("como as coisas estão"). Aliás, o conceito de modernidade como "racionalização técnica do mundo" a meu ver engloba perfeitamente o que se tem visto nas artes também (há um bom tempo), com o predomínio dos efeitos visuais, a espetacularização sobrepondo-se às idéias etc.
Há também a exacerbação da própria mídia em si, com o gosto pelos "making of", os "erros de gravação", as "cenas excluídas" e por aí afora.
Como conseqüência do hiper-individualismo, também é fato que, hoje, dentro e fora das artes, "os indivíduos ligam-se a diversos grupos, criando novas formas de pertencimento conforme seu interesse".
No entanto, se a "racionalização técnica" (das artes, do mundo) e o hiper-individualismo são diagnósticos, resta responder à pergunta: o que fazer?
Aí é que entra Marc Augé (3), a meu ver. Desde a leitura do livro dele ("Não-lugares"), frequentemente me questiono sobre a transformação (pós-moderna?) de lugares em não-lugares.
Exemplifico: no corre-corre do mundo atual, a rua também é um "espaço do viajante", certo? Assim, num certo sentido poderíamos incluir "a rua" na lista de "não lugares" propostos por Augé (até mesmo com taxas associadas, se pensarmos em IPTU e IPVA, por exemplo).
Por outro lado, não dá pra generalizar: basta andar em certos bairros de cidade grande ou em ruas/praças de cidades pequenas pra ver que aí a lógica é oposta, e muitas vezes a rua é sim um lugar (até privilegiado) de encontro.
Uma proposta: atuar como cidadão (mais que como artista) não apenas nos "lugares estabelecidos", mas também (e principalmente) nos não-lugares. Buscar aí as identidades coletivas, trabalhar a noção de pertencimento, o senso crítico – há muito trabalho pela frente, e me parece claro que esta deve ser uma tarefa de muitos, e não "apenas para indicados"!
Enfim, essa é uma discussão que acho que precisa ser levada à sociedade como um todo - como aliás muitas discussões importantes nos dias de hoje. Acho que é chegado o momento de tentar conversar de um modo mais global, misturando mesmo trabalhadores de todas as áreas ou, melhor dizendo, "de todas as artes" - cozinhar e fazer jardinagem, por exemplo, são artes, certo?
A conversa sobre uma definição inclusiva de Arte é uma necessidade urgente para todos nós, creio. Fica a ideia para um diálogo. Aliás, um não: muitos!

Paulo Barja - paulobarja@ig.com.br

REFERÊNCIAS
1) ALVES, Adailton. HIPER, SUPER, PÓS: metáforas da contemporaneidade. Disponível em: http://teatroderuaeacidade.blogspot.com/ (consulta em 09/set/2010)
2) CHARLES, Sébastien. Cartas sobre a hipermodernidade ou O hipermoderno explicado às crianças. Trad.: Xerxes Gusmão. São Paulo: Barcarolla, 2009.
3) AUGÉ, Marc. Não-lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Trad.: Maria Lúcia Pereira. 7ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2008. (Coleção Travessia do Século)

Fonte: http://paulobarja.blogspot.com/

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

HIPER, SUPER, PÓS: metáforas da contemporaneidade

HIPER, SUPER, PÓS: metáforas da contemporaneidade[1]

Por Adailtom Alves Teixeira[2]

INTRODUÇÃO[3]


A contemporaneidade tem recebido muitas denominações: pós-modernidade, hipermodernidade, supermodernidade, modernidade liquida, entre outros. No campo das artes vivemos sob o domínio do pós-modernismo. Mas, mais que assumir o termo pós-modernidade, o melhor é entendermos as mudanças e quando começaram, bem como saber de onde vem a idéia de pós-modernidade e o que representaria isso nas expressões artísticas.

É importante deixar claro desde já que pós-modernidade refere-se a um período histórico e pós-modernismo estaria ligado aos "movimentos" artísticos. Coloco movimento entre aspas, pois uma das premissas do pós-modernismo é não assumir-se como movimento, escola ou corrente artística. Ambos, pós-modernidade e pós-modernismo, serão tratados em conjunto de forma a tentarmos dar conta do que vem ocorrendo contemporaneamente, afinal estão imbricados e é bom sabermos desde já que qualquer arte e qualquer artista estão inseridos em seu tempo, e a história presente tem reflexos no seu fazer.

De onde vem o termo pós-modernismo? Segundo Perry Anderson (1999), tanto a idéia como o termo surgiram na América Latina ainda na década de 1930. O pós-modernismo tornou-se um fenômeno mundial, mas ganhou força e imensa difusão apenas nos anos 1970. Esse período é também estabelecido por David Harvey (1994), em seu livro Condição Pós-Moderna, para ele o marco é o ano de 1972 quando foi lançado Fronteira 2 (Boundary 2), que tinha como subtítulo, Revista de Literatura e Cultura Pós-Modernas.

Perry Anderson analisa em sua obra, as Origens da Pós-Modernidade, obras de autores como I. Hassan, F. Jamenson, J. Harbermas e T. Eagleton, para traçar um panorama histórico da pós-modernidade e do fenômeno pós-moderno. Ao comentar Hassan, Anderson afirma que este esbarrou em um problema ao se perguntar se o pós-modernismo era "apenas uma tendência artística ou também um fenômeno social." Hassan foi um dos primeiros teóricos do pós-modernismo, mas abandonou-o quando entendeu que havia se tornado "uma espécie de pilhéria eclética, refinada lascívia de nossos prazeres roubados e descrenças fúteis" (HASSAN apud ANDERSON, 1999, p. 26-8).

Os autores que analisam a pós-modernidade são unânimes em colocar a obra de Jean-François Lyotard, A condição pós-moderna, como outro marco. A obra aborda "uma mudança geral na condição humana" (ANDERSON, 1999, p. 33). Para Lyotard, a razão estava no poder e ao lado do capital. O saber passou a ser uma mercadoria como outra qualquer e o pós-modernismo, no seu entender, um apanágio da direita.

Se o campo das artes vinha rompendo barreiras estéticas com Marcel Duchamp, com a pop arte, a nouvele vaugue, entre outras, no campo político a grande mudança histórica deu-se nos anos 1980 com Ronald Reagan e Margareth Thatcher e suas políticas neoliberais. Assim, ao invés de termos o fim das grandes narrativas, "parecia que pela primeira vez na história o mundo caía sob o domínio da mais grandiosa de todas – uma história única e absoluta de liberdade e prosperidade, a vitória global do mercado" (ANDERSON, 1999, p. 39). No mundo todo viu-se uma onda de privatizações, os trabalhadores perdendo as garantias que haviam conquistado em lutas históricas. O desfecho disso tudo foi o aumento massivo do desemprego. Anderson comentando Harbermas, afirma que este entende a pós-modernidade ou o pós-modernismo, como um neo-conservadorismo, pois a cultura tornou-se "coextensiva à própria economia (...), uma vez que todo objeto material ou serviço imaterial vira, de forma inseparável, uma marca trabalhável ou produto vendável" (1999 p. 67). 

No Brasil a onda neo-conservadora foi sentida fortemente. Iniciada com Fernando Collor de Melo, que ao criar a "imagem" de político avançado, nos apresentou um novo marketing político nas campanhas eleitorais. Já não se tratava de ter um plano de governo, mas de forjar e vender uma imagem. Sua política neoliberal foi continuada por Fernando Henrique Cardoso nos anos 1990. Este realizou diversas privatizações, submeteu o país ao Fundo Monetário Internacional, numa década de muito desemprego e pouco crescimento. E muito dessas políticas foram continuadas também por Luis Inácio Lula da Silva, afinal, na contemporaneidade ficou difícil discernir a esquerda da direita, se é que existe ainda algum partido de esquerda, visto que ficou "fora de moda" assumir-se como socialista ou comunista após 1989.

O mundo mudou, não há dúvida, e uma revolução contribuiu muito para isso: a revolução tecnológica. O planeta ficou menor. Hoje, em minutos ou até instantaneamente, é possível saber o que ocorre do outro lado do planeta. Por sua vez, houve um aumento do ego, que transparece na competição cotidiana. Os indivíduos só olham para si mesmo. Ainda que tenha exceções, perdeu-se a noção de coletivo e mesmo quando há, esses coletivos são fragmentados, é um movimento ecológico aqui, um movimento étnico acolá etc., mas juntarem-se todos em uma luta única é sempre difícil. Entretanto, não podemos esquecer que o capitalismo continua a existir e a sociedade ainda está dividida em classes, ainda que tudo tenha se tornado mais complexo.

Nesse trabalho veremos, de forma esquemática, três grandes mudanças da contemporaneidade: o tempo, o espaço e o indivíduo, tomando um antropólogo (Augé) e um filósofo (Charles) nessa trajetória. Se Fredric Jamenson identificou o pós-modernismo como "um novo estágio do capitalismo", se quisermos criticá-lo, não podemos negá-lo ou devemos, ao menos, tentar compreender o que está ocorrendo do mundo contemporâneo. De qualquer forma, "é mais seguro entender o conceito de pós-moderno como uma tentativa de pensar o presente historicamente numa época que, para inicio de conversa, esqueceu de pensar historicamente" (F. Jamenson apud ANDERSON, 1999, p. 87).


O PROJETO DE MODERNIDADE ACABOU?


            Para responder a essa questão apresentaremos dois pontos de vistas divergentes da maioria dos autores contemporâneos, inclusive de críticos radicais como Terry Eagleton e Fredric Jamenson, que assumem o termo pós-modernismo, ainda que entendam como fundamental revermos o projeto da modernidade. Mas afinal saímos ou não da modernidade?

Os autores aqui apresentados são franceses, vindos de áreas distintas: filosofia e antropologia, pela ordem de apresentação. Sébastien Charles vai tomar de empréstimo de Gilles Lipovetsky o conceito de hipermodernidade, para travar um diálogo com Jean-François Lyotard. Já o antropólogo Marc Augé, nomina a contemporaneidade de supermodernidade, propondo mudanças na maneira como os antropólogos veem a contemporaneidade.

      Suas obras são de datas distintas. Charles teve seu livro – uma reunião de vários artigos – publicado em 2009. Já Marc Augé – que começou estudando africanidade, antes de mudar seu foco – teve seu livro traduzido em 1994. Ambos elegem três categorias para explicarem suas ideias, entretanto, em apenas uma delas coincidem: o indivíduo, que na contemporaneidade é egocêntrico e consumista.


A hipermodenidade de Sébastien Charles


Contrapondo-se a tese de que vivemos uma era pós-moderna, o filósofo Sébastien Charles, em seu livro Cartas sobre a hipermodernidade ou O hipermoderno explicado às crianças, entende que estamos vivendo em tempos "hiper", uma radicalização da modernidade. O mesmo entende modernidade como uma racionalização técnica do mundo, tendo uma economia de mercado e uma lógica individualista. Assim, o que estamos vivendo é um excesso dessas categorias, traduzidas em hipercomplexidade, hiperconsumismo e hiper-individualismo.

A hipercomplexidade, torna-se clara pela maior racionalização técnica do mundo, expandindo-se para a vida de maneira geral. Daí o mundo viver sob uma lógica paradoxal,

"na qual coexistem, por um lado, a crispação, a reação, o conservadorismo, o recuo comunitário, o retorno à tradição (...) e, por outro lado, o movimento, a fluidez, a flexibilidade, o desapego com relação aos grandes princípios estruturantes da modernidade (a nação, o Estado, a religião, a família, os partidos políticos, os sindicatos), (...)" (2009, p. 127-8).

Isso faz com que os indivíduos tenham, ao mesmo tempo, características progressistas e conservadoras, prega a liberação sexual enquanto vai contra ao casamento homossexual, como exemplifica o autor. Mas a complexidade diz respeito sobretudo a exacerbação da racionalidade técnica, isto é, nossa vida está rodeado por um aparato tecnológico, que intermedeia tudo o que fazemos. A vida e as relações estão mais burocráticas.

Diante de tanta complexidade, o autor entende como urgente repensar a ligação entre indivíduos e a comunidade nacional, pois a "lógica do consumo tende a desfazer os vínculos coletivos e a conduzir os indivíduos a privilegiar a esfera privada" (CHARLES, 2009, p. 130), eis aí sua segunda categoria do hiper ou do excesso: o consumismo. Assim, todas as relações sociais têm se dado sob relações mercantis.

A segunda categoria está intimamente ligada a terceira, ao hiper-individualismo, em que os indivíduos consomem cada vez mais para se dá prazer, dentro de uma lógica "emotiva e hedonista".

"O hiperconsumismo produz, portanto, uma forma de hiper-individualismo pois, ao propor produtos cada vez menos padronizados e cada vez mais personalizados, ele alarga a gama de opções pessoais ao extremo, liberando as condutas individuais dos enquadramentos coletivos" (CHARLES, 2009, p.131-2).


Agora não estamos mais sob a lógica Iluminista de indivíduo, isso fez com que partidos e sindicatos tenham perdido influência, bem como o significado de família. Não existe mais o padrão de família burguesa ou operária, por exemplo.

Ainda segundo Sébastien Charles, esse hiper-individualismo está associado a quatro elementos, isto é, sua transformação está associado a perda das grandes ideologias, ou a crise das metanarrativas, como chamou Jean-François Lyotard. Essa grande desilusão política levou os indivíduos ao recuo da "esfera do privado", sendo associado a lógica mercantil, jogando os indivíduos uns contra os outros e este é o segundo ponto: a desestruturação do mercado tradicional. O terceiro elemento é "a celebração de autonomia individual", dessa forma, os indivíduos ligam-se a diversos grupos, criando novas formas de pertencimento conforme seu interesse. Esse "pertencimento pode tanto ser lúdico quanto reivindicatório" (2009, p. 135). O quarto elemento é a própria transformação do individuo na sociedade contemporânea. No entender do autor, trata-se de assumir as responsabilidades, seja para se dar prazer, seja para assumir as responsabilidades que o Estado não cumpre mais, como aposentadoria, saúde, entre outros. O indivíduo deve responsabilizar-se por si em todos os aspectos. Por causa dessa transformação o corpo eleva-se a um novo status:

"trata-se tanto de se dar prazer quanto de recusar o sofrimento, de melhorar a sua aparência e de apagar as marcas que o tempo inscreve, de se manter saudável e em forma de se sentir prazeres sensoriais sempre renovados" (2009, p. 137).

Para suprir essa lógica individual, mas principalmente mercadológica, temos as indústrias dos esportes, do turismo, da alimentação e da saúde. Mas o culto de si é enaltecido principalmente pela mídia, tudo é filmado e televisionado. É por meio da imagem filmada que se vivencia e se dar o máximo de prazer, tudo vivido no aqui e agora, numa lógica paradoxal, em que a mídia massifica e individualiza comportamentos.

Charles vê riscos nesse individualismo extremado:

"Os perigos que espiam as nossas sociedades surgirão em parte da desestruturação dos indivíduos e da sua falta de reconhecimento social, que poderá conduzi-los a se reorganizar em pequenos grupos ativos, tendo como objetivo acabar com essa forma de civilização que não lhes convém mais" (2009, p. 141).


Mas, segundo o autor, para além desse "self-service generalizado", existe "a vontade real dos átomos individuais de restabelecer os vínculos e de valorizar o coletivo" (2009, p. 144-5). Não se trata de uma crise política, mas dos políticos, estes sim, estão em crise ética e moral. Charles vê possibilidades políticas nos indivíduos, citando os exemplos de mobilização em relação a guerra do Iraque e as grandes doações em momentos de catástrofes: "O hiper-individualismo não leva, portanto, nem ao desaparecimento dos ideais nem à corrupção da moral" (2009, p. 146).

Percebe-se nesse rápido esquema das ideias de Sébastien Charles, que ele é bem pessimista com relação ao momento histórico que atravessamos, fazendo duras críticas. Mas o autor também as merece em relação a alguns pontos defendidos em seu livro. Para ele as classes sociais foram dissolvidas. Assim, perguntamos, onde estaria o caminho para a transformação se a sociedade não é mais dividida em classes? Como identificar nossos adversários? Quem impulsionaria a mudança? Seria possível criar uma mudança social radical, baseado apenas no individuo, sem uma identificação de classe? Se a classe trabalhadora – dentro de uma perspectiva à esquerda, única classe revolucionária, mas que ainda não fez a revolução – não realizar as reais mudanças, permanecerá sob o eterno jugo da classe dominante, portanto, tudo permanecendo como está, afinal quem está no poder não busca mudanças.

Outro ponto polêmico é quando escreve sobre a economia de mercado, julgando que "nenhum modelo econômico alternativo nos parece legítimo para substituir o mercado" (p. 24), entendendo que basta uma melhor distribuição de renda e que a globalização, apesar de ruim, é um fenômeno que deve ser apenas melhor regulado. Ora, isso é o mesmo que dizer amém ao mercado. Quanto aos modelos alternativos a uma economia de mercado, apesar de nunca ter sido praticada de forma efetiva, eles existem desde o século XIX. Ou será que o autor nunca leu nada sobre socialismo e comunismo? Talvez o pessimismo de Charles faça com que ele não acredite mais em mudanças. No entanto, quando a sociedade francesa vivia sob o jugo da nobreza, não se imaginava que a burguesia viesse realizar a revolução e não podemos acreditar que essa seja a única classe social capaz de realizar uma revolução na história.


A supermodernidade de Marc Augé


O antropólogo francês Marc Augé também entende que não vivemos na pós-modernidade, mas sim numa "supermodernidade", ou seja, também entende que vivemos em um período de radicalização da modernidade, caracterizado por três excessos: de tempo, espaço e de ego. Seu livro Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade, direcionado aos antropólogos, propõe uma mudança de foco. Para entendermos a contemporaneidade, não se trata de método, mas de nos voltarmos para o objeto, daí as três categorias de excesso propostas por ele. O excesso multiplica os fatores e dificulta a análise.

O excesso de tempo, caracterizado por um excesso factual do mundo high tech, faz com que percebamos o mundo de forma diferente. No seu dizer, "estamos com a história em nossos calcanhares" (2008, p. 29), tudo envelhece rapidamente por causa do volume de informações, criando uma necessidade em dar sentido a tudo em tempo real. Essa abundância factual cria uma dificuldade para o historiador "contemporaneísta" que tente traduzir nosso tempo aos demais. Afinal, nossa própria história, "pertence à história" (2008, p. 29): podemos compreender o presente, graças a abundância de fatos, porém temos dificuldade de compreender a história que se distância de nós no tempo; não conseguimos lhe dar sentido. O excesso de tempo cria uma crise de sentido. Se a história ocorre no tempo e no espaço, os dois são cada vez mais fugidios. Assim chegamos a segunda categoria.

A categoria de espaço e seu excesso, se traduz em um encolhimento. A sensação é a de que o mundo encolheu. As grandes concentrações urbanas radicalizam essa sensação, cada vez mais pessoas moram em grandes aglomerados urbanos. Outra sensação de encolhimento, vivemos, hoje, como se pudéssemos está em diversos lugares ao mesmo tempo, seja por meio de transportes supervelozes ou pela informação que recebemos de todo o planeta, favorecendo a criação dos não-luagres, que iremos abordar na sequência.

A terceira categoria proposta por Augé, é o excesso de ego, de individualidade, em que os indivíduos perdem as referências coletivas e as identidades. O indivíduo passa a ser o centro do mundo. Nas suas palavras, "o indivíduo quer o mundo para ser o mundo" (2008, p. 38). Por isso mesmo as histórias individuais tem sido valorizadas, mesmo necessária, afinal "o social começa com o indivíduo" (2008, p. 24). O que o autor está propondo é que ao olharmos os indivíduos entenderíamos melhor nosso tempo.

Por isso Marc Augé entende que ainda não aprendemos a olhar a supermodernidade. Para ele é fundamental reaprendermos "a pensar o espaço", isso porque é nele que se criam os não-lugares. Se, de certa forma, são as três categorias as responsáveis pela criação do não-lugar, ele se dá no espaço, sendo essa uma categoria muito importante para entendermos o nosso tempo.

E o que seriam os não-lugares para o antropólogo francês:

"Os não-lugares são tanto as instalações necessárias à circulação acelerada das pessoas bens (vias expressas, trevos rodoviários, aeroportos) quanto os próprios meios de transporte ou os grandes centros comerciais, ou ainda os campos de trânsito prolongado onde são alojados os refugiados do planeta" (2008, p. 36).


Assim, os não-lugares, são, por definição, os espaços dos viajantes. Por isso mesmo nos dar a sensação de estarmos inseridos em todos os lugares, mesmo nos mais longínquos da Terra. Se o lugar, no sentido sociológico, é histórico, relacional e cria identidade. O não-lugar é o seu oposto.

"Vê-se bem que por 'não-lugar' designamos duas realidades complementares, porém, distintas: espaços constituídos em relação a certos fins (transporte, trânsito, comércio, lazer) e a relação que os indivíduos mantêm com esses espaços. (...) assim como os lugares antropológicos criam um social orgânico, os não lugares criam tensão solitária" (AUGÉ, 2008, p. 87).


As relações nos não-lugares são contratuais, ocorrendo por meio de bilhetes, tickets etc., exigindo, em muitos casos, apresentação de documentos, para se provar "sua inocência", isto é, que você é você mesmo, só assim se está apto a usufruir do não-lugar.

Por todas essas mudanças, as relações na supermodernidade são cada vez mais superficiais e efêmeras, principalmente nas grandes cidades. E é importante saber que, hoje, mais da metade da população mundial já vivem em grandes centros urbanos e estima-se que em 2025, sejam 75% da população mundial. E é justamente nas grandes cidades onde abundam os não-lugares, isto é, espaços criados para uma relação contratual, sem a possibilidade de criar vínculos, pois o não-lugar, em oposição ao lugar, é não identitário. Dessa forma, nos distanciamos cada vez mais da noção de coletivo, de coletividade.


CONCLUSÃO


Para concluir podemos pensar a contemporaneidade, juntamente com Terry Eagleton, tanto no sentido histórico quanto artístico, nessas linhas:

"Pós-modernidade é uma linha de pensamento que questiona as noções clássicas de verdade, razão, identidade e objetividade, a idéia de progresso ou emancipação universal, os sistemas únicos, as grandes narrativas ou os fundamentos definitivos de explicação. (...) Pós-modernismo é um estilo de cultura que reflete um pouco essa mudança memorável por meio de uma arte superficial, descentrada, infundada, auto-reflexiva, divertida, caudatária, eclética e pluralista, que obscurece as fronteiras entre a cultura 'elitista' e a cultura 'popular', bem como entre a arte e a experiência cotidiana" (1998, p. 7).



Já Sébastien Charles apresenta sua hipermodernidade "como uma espécie de vácuo no plano intelectual, acompanhado em parte de uma perda das referências e de uma rejeição dos textos difíceis" (2009, p. 9).

Enfim, aceitando ou não os termos pós-modernidade e pós-modernismo, é fato que vem ocorrendo mudanças, transformações, e precisamos saber identificar quais foram e quais são e como nos colocamos em relação a elas. Não há dúvida que, com relação as categorias de tempo, espaço e sujeito, houve imensas mudanças embaladas pela tecnologia. Não podemos nos fechar a isso, de forma a podermos usufruir ou nos contrapormos as mesmas dentro da contemporaneidade.

Por outro lado, não podemos esquecer que o mercado fincou suas garras não só sobre as artes, mas sobre a própria vida. Como bem afirmou Harbermas: "Atualmente, a língua do mercado infiltra-se por todos os poros e pressiona todas as relações inter-humanas para o esquema da orientação pelas próprias preferências de cada um" (2004, p. 147).

Assim, como propõe Ianni ao analisar a globalização, se criamos termos-metáforas são na tentativa de dar conta de uma realidade ainda fugidia, pois as metáforas combinam "imaginação e reflexão" visando desvendar a realidade de forma poética. Daí tantos termos para explicar esse período conturbado em que vivemos.

O fato é que, apesar das grandes mudanças, vivemos ainda na modernidade, mesmo que transformada, radicalizada, isto é, o projeto moderno ainda não foi concluído e é preciso retomá-lo com as reais críticas que merece. Se pós-modernidade, como alerta Sébastien Charles, implica rompimento com a modernidade, temos mais um motivo para entendermos que vivemos uma continuidade desse período histórico, o que foi deixado de lado são seus ideais de justiça, igualdade e de emancipação dos sujeitos. Faz-se necessário retomar o projeto moderno, não como foi realizado pela burguesia, mas dentro de outra ótica e de novos procedimentos.

Para tanto, a arte contemporânea, seja ela pós-modernista ou qualquer outro termo que venha ter, deve ser uma arte preocupada com esse projeto de mudança. Se as ideias dominantes de uma época, são sempre as ideias da classe dominante, a arte deve cumprir o papel de desvelamento dessa realidade opressora na qual estamos inseridos, engajando-se numa relação entre cidade e cidadão, para criar e afirmar os lugares, isto é, revelando novas possibilidades ao criar laços identitários, afinal é a cultura, sobretudo por meio das artes, que geram a ideia de nação – tão esfacelada com o mercado global. Não é possível acreditarmos que nos resta apenas o mercado e a exploração capitalista. Nesse sentido, as artes devem travar uma disputa simbólica com os meios de comunicação e a arte hegemônica, utilizando-se, de todos os recursos – como já vem fazendo –, mas atendo-se ao conteúdo, muito mais que a forma. Afinal, o formalismo exacerbou-se nessas poucas décadas de mudanças, ditas pós-modernas.

Por fim, é importante deixar claro que não estou propondo que as artes sejam a panacéia à todos os problemas contemporâneos, afinal, uma arte, seja ela qual for, por mais que seja comprometida com a revolução, não é capaz de fazer a revolução por si mesma. Mas pode lançar luzes aos atores revolucionários – a classe trabalhadora –, ao desopacizar, desobumbrar a realidade no qual estamos todos inseridos.


BIBLIOGRAFIA

ANDERSOR, Perry. As Origens da Pós-modernidade. Trad.: Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

AUGÉ, Marc. Não-lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Trad.: Maria Lúcia Pereira. 7ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2008. (Coleção Travessia do Século)

CHARLES, Sébastien. Cartas sobre a hipermodernidade ou O hipermoderno explicado às crianças. Trad.: Xerxes Gusmão. São Paulo: Barcarolla, 2009.

EAGLETON, Terry. As ilusões do pós-modernismo. Trad.: Elisabeth Barbosa. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

HABERMAS, Jürgen. O futuro da natureza humana: a caminho de uma eugenia liberal? Trad.: Karina Janini. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

HARVEY, David. Condição Pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 4ª ed. São Paulo: Loyola, 1994.

IANNI, Octávio. Teorias da Globalização. 11ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.



[1]Trabalho realizado na pós-graduação do Instituto de Artes da Unesp, na disciplina Narrativas Pós-Dramáticas, professor Dr. José Manuel Ortecho Ramirez.
[2]Mestrando do Instituto de Artes da UNESP, com pesquisa sobre teatro de rua, identidade e território.
[3]Inicialmente o trabalho pretendia apresentar as mudanças aqui tratadas e como o teatro de rua se insere nessas mudanças, entretanto não foi possível realizar essa segunda parte. Fica a dica àqueles que queiram encampar essa pesquisa.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

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Diversidade na adversidade

Amazônia Encena na Rua: diversidade na adversidade



A terceira edição do festival Amazônia Encena na Rua, realizado pelo grupo O Imaginário, possibilitou-me o contato com a produção teatral e a realidade do norte do país. Dificuldades imensas, como em outras partes do Brasil, entretanto, o festival fez da praça a ágora do agora, inundando-a com poesia.

Quanto a realidade da região, Chicão Santos, membro do grupo realizador do evento, vem chamando a atenção para o custo amazônico. Citarei dois exemplos para ilustrar do que se trata: um grupo do Estado vizinho estava indo para apresentar-se no festival, apesar da pouca distância de Rondônia, teve que viajar até o sudeste para poder chegar ao festival, demorando nove horas. Se houvesse vôos locais chegaria em uma hora no máximo. Um dos atores presentes no evento relatou que precisou enviar uma correspondência, um simples documento, uma folha de sulfite, desembolsou R$ 40,00, em seu Estado costuma pagar a metade desse valor.

Todas essas dificuldades não é impedimento apenas para os moradores da região Norte, mas para todo o Brasil, já que, assim como os cidadãos locais, os demais brasileiros se vêem impedidos de se deslocarem e conhecerem melhor aquela região que representa mais da metade do território brasileiro. É isso mesmo, a Amazônia legal, devido seus altos custos, tem impedido que muitos brasileiros usufruam mais das delicias e da cultura produzida naquela região.

Para além das dificuldades relatadas, o Amazônia Encena na Rua se consolida como evento de grande relevância não apenas para a região, mas para todo o Brasil. Além de reunir artistas de todos os Estados da Amazônia legal, estavam presentes fazedores de teatro de rua de outras regiões do Brasil. O festival reuniu ainda pesquisadores em um seminário que discutiu estética, pesquisa, organização política e ensino de teatro. Esse ano, o evento teve mais uma novidade: a realização de um festival de dança, também ocorrido na praça.

O Seminário, do qual tive a felicidade de participar, proporcionou aos presentes um debate de alto nível, levantando assuntos diversos que não se esgotaram naquele encontro, mas que, com certeza, abalou algumas verdades. Constatou-se a precariedade material dos fazedores de teatro de rua, bem como a força da rede como organização política, a multiplicidade de problemas em todo o Brasil, nas suas múltiplas realidades. Quem ainda desconhecia tomou contato com a Rede de Teatro da Floresta, que visa organizar, discutir e apresentar o teatro que é feito na região amazônica. Questionou-se qual seria o teatro de rua que se faz por ali, já que adentram tribos, comunidades ribeirinhas, onde as ruas são trilhas, crateras etc. Numa tentativa de resposta que não seja definitiva ou absoluta, mas sim aberta, ao mesmo tempo buscando unificar em um conceito essas multirrealidades, penso que é isso o teatro de rua: um teatro que está nos espaços abertos, seja uma praça, a beira de um rio, uma trilha ou uma rua propriamente dita, é isso que o faz marginal (à margem do que é oficial e oficializante), pois ocupa os espaços que não foram pensados para a fruição teatral. Entretanto, o artista, teimosamente, cria um espaço de magia e troca de experiências. Ao ocupar esses espaços com teatro, os artistas o re-funcionalizam, impulsionando e instigando quem faz e quem vê a novas possibilidades.

Novas possibilidades criativas, de troca e de magia, é para isso que o teatro de rua nos aponta. Daí sua marginalidade, pois desorganiza organizando, isto é, ao re-funcionalizar o espaço para o qual não foi pensado ele está desorganizando a função primeira, ao mesmo tempo em que organiza uma nova ordem dentro do espetáculo. Como bem afirma Amir Haddad, "não é o mundo que nos organiza, mas é o espetáculo que organiza o mundo."

Acompanhei apenas dois dias de espetáculos, pois tinha outros compromissos, mas pude constatar essas possibilidades na diversidade dos espetáculos apresentados. Desde o diálogo do palhaço/mestre de cerimônias do evento (Léo Carnevale) que a todos encantava com suas tiradas, ora ácidas, ora picantes; a poesia que invadiu a praça em uma linda noite de luar. Poesia presente não só na Colombina do grupo Será o Benedito?! (RJ) que bailava no ar com sua lira, mas na poesia que começou tímida, retirada de uma caixinha posta em cena, à poesia que brotou das pessoas que lá assistiam e passaram a ser protagonistas do espetáculo. Ou ainda do bêbado/poeta que ocupou a cena do espetáculo  d`Os Tawera criando naquele instante um cordel, que tornou-se poesia pura quando ao finalizar o ator convidou-o a dançar juntamente com o público, naquele momento ocorreu a verdadeira troca de experiências, segundo o conceito Benjaminiano, ou, para citar o mestre Amir Haddad novamente, naquele momento fez-se uma bolha em torno de todos nós, marcando-nos com aquela experiência. Aquele momento apontou-nos novas possibilidades humanas. Certamente aquele cidadão, o ator e todo o público presente, jamais esquecerão aquele instante de magia. Magia essa proporcionada pelo Amazônia Encena na Rua.

Aprendi muito nesses poucos dias que estive em Porto Velho, capital de Rondônia. Aprendi que existe um ritmo chamado capoê-boi-congo; que amarelo não é apenas personagem de Ariano Suassuna, mas boneco do Tocantins; que se forma ao se discutir formação, principalmente se discutirmos na praça, cotejando o saber teórico e o empírico, sem hierarquizá-los; aprendi nas rodas de conversas e trocas de saberes até como se fundam as tradições. Aprendi.

Que venham as próximas edições.



Adailtom Alves – Mestrando em Artes, ator e diretor teatral



PUBLICADO ORIGINALMENTE EM A GARGALHADA 17, AGOSTO/SETEMBRO DE 2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Relato de Ana Rosa Tezza

Primeira Reunião com muita gente para falar de Teatro de Rua em Curitiba – PR
 Por Ana Rosa Tezza

Há aproximadamente dois anos, O colega Cleber Braga, fazedor de teatro me telefonou e me disse que havia se integrado numa rede de teatreiros de rua e que sabendo que o grupo Arte da Comédia estava envolvido com a Rua, ele gostaria de conversar conosco para contar sobre os feitos da Rede Brasileira de Teatro de Rua, a agora tão falada e ativa RBTR. Desde então, começamos timidamente a busca por rueiros, primeiro em Curitiba, depois por meio de colegas da secretaria do estado, em todo o Paraná. Marcamos uma primeira reunião, que resultou em um encontro minguadinho entre dois atores do Arte Da Comédia, Alaor de Carvalho, eu e mais três do Grupo Elenco de Ouro, Cleber, Jessica e mais uma senhorita que anotava nossa conversa na tentativa de fazer uma ata.
Depois desse encontro, veio Arcozelo. Fomos Jessica e eu. Voltamos de lá com muitas vontades, compartilhar, encontrar parceiros para o trabalho, articular enfim... Fazer política. Foi então que resolvemos marcar outro encontro. O resultado foi ainda mais frustrante. Estávamos nós (os do primeiro encontro) e um Colega que também trabalha com intervenções urbanas, Henrique Saidel. Começamos a reunião e Henrique toma a palavra para nos dizer que tinha vindo para avisar pessoalmente que não tinha interesse em participar da Rede Brasileira de Teatro de Rua por que não entendia a Rua em seu trabalho como uma escolha definitiva e sim como uma escolha que estava relacionada à aquela obra específica. Interessava-lhe o cenário da Rua para aquela experiência teatral e ponto. Acho que foi mais ou menos isso que ele falou e partiu. Nós entramos numa espécie de crise. E nós? Fazemos rua definitivamente?, para todo o sempre?, que teatro é esse que fazemos?  Depois de um tempo o Cleber também resolveu se afastar da Rede por que achava que ele também não sabia se era rueiro ou não e bom, o fato é que...
Como diz o cangaceiro ao delegado que lhe perguntou o que havia acontecido no forró da noite passada para ter morrido tanta gente. _ Ói seu delegado, taha eu, taha Raimundo, taja as fia da cumade Chiquinha e mais um bucado di genti, nois taha tudo dançando quandu chego Serafin e se ingraço pro lado a menina mais nova da Chiquinha, aquela que taha prometida pro fio do Coroné Lourindo... Aí o Senhô já imagina. Foi um intrevero só. O fio do coroné rancô a pechera, o Serafim tentô se defende e nessa sem querê encostô com força no capixaba que puxô o arma e foi aquele rebuliço... Nois fumo matando e nois fumo morrendo, nois fumo matando e nois fumo morrendo, nois fumo matando e nois fumo morrendo, inté  que restemos eu.
Pois então... Restemo eu. Eu e o grupo Arte da Comédia, que nessa altura do campeonato, já sabia que não dava mais para voltar atrás.
Daí a coisa ficou sendo fortemente aquecida pelos encontros que a RBTR e o Núcleo de Pesquisadores de teatro de Rua proporcionou com os parceiros do Brasil todo. Primeiro resultado concreto dessa intensa articulação nacional, no Paraná, foi o Debate que fizemos em Março de 2010. Esse debate, já relatado por mim e divulgado na rede, já nos rendou dois grandes passos:
O Edital lançado pela Fundação Cultural de Curitiba, que já prevê logradouros públicos como aparelho cultural; e agora mais recentemente, uma reunião com os Rueiros, que começam a aparecer suavemente para falarmos da RBTR, do Núcleo de pesquisadores e das muitas questões que o fazer do teatro de rua nos instiga a pensar.
Chegamos finalmente no encontro. Éramos dessa vez 24 pessoas, reunidas na Universidade Federal do Paraná, prédio histórico, às nove horas da manhã do dia 26/08/2010. Como somos treatreiros e ainda mais Brasileiro do pé rachado, não poderia faltar um café preto e um pão com manteiga.
A Reunião não tinha uma pauta definitiva, não queríamos assustar ninguém. A Idéia era conhecer, saber um do outro, nos indagarmos mutuamente.
Foi isso mesmo que aconteceu. Os grupos e pessoas falaram aleatoriamente sobre questões variadas. Falou-se da dificuldade das liberações para apresentar na rua. Falou-se da pouca compreensão que se tem sobre o fazer do teatro no espaço público. Lembramos do Laerte Ortega, grande teatrólogo e rueiro que trabalhou intensamente nas ruas de Curitiba durante os anos 80 e a importância que ele teve na cena cultural da cidade. Questionou-se o "porquê" dessa parte importante da história ter ficado perdida, ainda que exista um belíssimo livro sobre a obra de Laerte. Falou-se muito ainda sobre o descaso do Festival de Teatro de Curitiba para com os artistas em geral, e principalmente com os de Rua.
A maioria dos grupos que se apresentou eram jovens, recém formados. Vamos melhorar essa estatística na próxima reunião.
Concretamente, cadastramos os nossos e-mails telefones e já solicitamos a inclusão dessa turma na RBTR.
Deliberamos que teremos um encontro por mês, que se dará sempre na última quinta feira. O próximo encontro já está marcado para ser nas Ruínas do São Francisco no Largo da Ordem, lugar emblemático para os AINDA poucos rueiros de Curitiba.
E finalmente e principalmente, nos encontramos, nos olhamos e nos vimos. Primeiro passo para sentirmo-nos acompanhados nessa grande empreitada que será fazer grande o teatro de Rua na minha linda (e em processo de coloração) cidade bege.

Ana Rosa Genari Tezza