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quarta-feira, 17 de março de 2010

Você já foi a uma COHAB?

Por Edson Paulo – Ator do Buraco d`Oráculo

Foto: Arquivo do Buraco d`Oráculo - Espetáculo A Bela Adormecida, na Cohab Santa Etelvina - Cidade Tiradentes - São Paulo/SP

Você já foi ao Jardim Palanque? Sabe onde fica a Praça do 65? Ou ainda ao conjunto Stª Etelvina VII–G?

Pois bem, esses lugares existem e são parte do território da cidade de São Paulo que foram visitados pelo circuito de Teatro de Rua do Buraco d`Oráculo no Projeto Circular Cohab´s. Projeto que vem sendo desenvolvido desde março de 2006, e já contemplou doze Conjuntos Habitacionais da região leste de São Paulo.

Os conjuntos Jardim Palanque, 65, Santa Etelvina VII-G juntamente com os Conjuntos Juscelino Kubistchek , Inácio Monteiro e Cidade Tiradentes, fizeram parte da programação desta segunda fase do projeto que iniciou-se em setembro de 2006. Todos esses conjuntos habitacionais fazem parte do distrito de Cidade Tiradentes o maior da América Latina com cerca de 600 mil habitantes.

O Buraco d`Oráculo desbravou alguns desses locais, como foi o caso do Jardim Palanque onde a maioria de seus moradores são oriundos do desalojamento provocado por um incêndio na favela de Vila Prudente e de outras áreas de risco. Sem nenhuma sobra de dúvida o local nunca havia recebido qualquer tipo de manifestação artística, e está distante de qualquer programação municipal ou de outro tipo, "por aqui não tem nem show de comício" relatou um de seus moradores.

Nosso encontro com esse local deu-se por meio de dois jovens (Rosário e Jones) lideres comunitário, que na força de seus 19 anos, sonham, lutam pela implantação de uma biblioteca comunitária e por atividades que tragam, entretenimento, lazer e educação para os habitantes do bairro.Vimos nesses jovens e também em nossas apresentações o quanto é necessário estar fazendo ações, mesmo que pequenas, mas que quando somadas resultam em grandes transformações, se não para um mundo mais justo, serve para a transformação do cidadão comum.

Apesar de algumas dificuldades e do curto período de aproximação com este público, foi notável a transformação nos fins de semana que estivermos juntos compartilhando os sonhos de desejo e mudança com esses jovens.

Como sempre contamos com grupos convidados para compartilhar nossas ações, estiveram conosco: Manjarra, Teatro da Pateticidade, Cia dos Manicômicos, Cia dos Inventivos, Cia do Miolo e Pombas Urbanas. O Pombas Urbanas foi o grande parceiro nesta etapa, abrigando o Projeto no seu "Centro Cultural Arte em Construção", que serviu de espaço para a realização das oficinas do II Núcleo de Teatro de Rua, o resultado é o grupo Teatristas Periféricos, formado por jovens que estão tendo seu primeiro contato com o fazer teatral.

Procuramos instrumentalizar esses jovens não só por meio das oficinas, mas também pela discussão sobre a formação de grupo e do processo do ator. Para isso realizamos dois "Café Teatral" na região,com Teatro da Pateticidade e Antonio Rogério Toscano respectivamente.

Descobrimos locais de grande afluência de público, dos seis conjuntos percorridos três tiveram um público acima da média, o que nos fez refletir sobre a necessidade de um trabalho continuo sempre. Alguns espectadores assistiram ao primeiro espetáculo da janela de seus apartamentos, o segundo do outro lado da rua, o terceiro como parte da grande roda e no quarto faziam parte daquele acontecimento. Agora querem mais.

A região de Cidade Tiradentes fica a 45 km do marco zero da cidade, seu acesso dura, em média, duas horas de ônibus, parte de sua população não vai até o centro e muito menos freqüenta os equipamentos culturais. Mas durante seis meses pudemos realizar o encontro desse público com o teatro de rua por meio do "Circular Cohab´s".

Portanto nego, você já foi a uma Cohab? Não. Então vá!!

Publicado originalmente em A Gargalhada nº 7, março/abril de 2007, p. 7.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O teatro que se assiste da/na rua

Alexandre Mate (Dr. em História e professor do Instituto de Artes da UNESP)

 A tendência de todo discurso radical é conduzir ao desastre: a dialética nos ensina a empregar vantajosamente o conflito dinâmico dos opostos. Experimentar a emoção e conservar ao mesmo tempo o senso crítico não é impossível na prática, ao contrário do que pensa Diderot. Tudo depende do quanto se está treinado para conter certos estímulos, da sabedoria na administração do emocional e do racional, de um equilíbrio capaz de se traduzir em efeito propulsor... e não estático. Em resumo, enquanto Diderot opta pela estrutura coluna-viga, que permanece ali, parada, travada, os cômicos dell’arte adotam o arco, com todos os estímulos e contra-estímulos dele derivados. Sabemos muito bem que, ao primeiro tremor de terra, a estrutura coluna-viga desaba e o arco resiste maravilhosamente. Dario FO. Manual mínimo do ator.

É seguro que ao longo da história do ocidente - e sem contar os procedimentos religioso-ritualísticos, bastante comuns até hoje: principalmente em cortejos processionais -, a rua tem se caracterizado no lugar mais utilizado pelos artistas, e não somente por aqueles denominados artistas populares. Isto é, em princípio, o que caracterizaria o popular nessa escolha, para além do conteúdo temático de que se tratará na seqüência, seria a transformação de um simples lugar de passagem da população em um espaço de expressão e de intervenção entre dois grupos distintos de indivíduos, cujos interesses podem confluir, pelo assunto articulado à forma utilizada. O artista que escolhe a rua, refuncionaliza o lugar escolhido, criando um novo espaço, tanto para si como para os transeuntes, que param ou não para assistir ao espetáculo apresentado. Aliás, e sem entrar em questões semânticas: teatro de rua, na rua, para rua... muitos são os equívocos que cercam o conceito compreendido pelo popular e pelo teatro cujo palco encontra-se na via pública. Mesmo sem caracterizar propriamente um paradoxo, a produção teatral apresentada na rua, sobretudo por artistas populares, é aquela que menos registro tem e a que menos se conhece.

Diante desse quadro vale avisar, desde já, aos leitores que a reflexão que tento desenvolver aqui não pretende vencer ou fechar nenhuma questão sobre o conceito – posto ser quase impossível fazê-lo em espaço tão limitado –, mas, antes, trazê-lo à tona buscar aparar uma imensa gama de preconceitos e de desqualificações por que tem passado essa forma popular, e estabelecer alguns nexos mais essenciais pelos quais se possa entender, digamos, sua natureza específica.

A palavra popular, sobretudo em teatro, tem sido usada, recorrentemente nos documentos escritos dos mais antagônicos modos, compreendendo, invariavelmente: espontaneismo; falta de complexidade e de elaboração formais; reprodutivismo, fundamentado em oralidade; maniqueísmo infenso à novidade; aclimatação antropofágica e desrespeitosa a modelos consagrados etc. Tente ser objetivo, simples, direto, aproximar-se de indivíduos de todas as idades, tocar de modo emocional, cômico, poético.... O popular, aquele que aqui se toma como referência, tem uma sofisticação que poucos conseguem ou conquistam. Altimar Pimentel, Ariano Suassuna, Carlos Alberto Soffredini, Luís Alberto de Abreu. Grande Otelo, Oscarito, Chaplin e tantos outros. No excelente ensaio de BRECHT, e de leitura necessária: Para o senhor Puntilla e seu criado Matti. Notas sobre teatro popular,[1] o autor aponta alguns dos motivos pelos quais a cultura erudita, acobertando principalmente as questões de classe, tem destratado e ignorado as formas populares de cultura.

Muitos são os eruditos, premidos pelos mais diversos interesses, ao desqualificar as manifestações populares, fazem-no defendendo e atendo-se à relativíssima (e sempre tendenciosa) ‘qualidade estética’. Ora, qualidade estética a partir de que modelos e parâmetros eles defendem? Omitindo e veiculado que interesses e pontos de vista que não dizem respeito propriamente à arte? Muitas são as questões, mas como precisamos deixar de ser bobos, é preciso conscientizar-se de que analisar uma obra, tomando como referência outra, antagônica ou não, caracteriza-se, quase sempre, num exercício de colocação de um rótulo. Rotular é fácil, normalmente porque já vêm prontos para serem aplicados... Eles são plantados dentro de nós, para serem usados indiscriminadamente. Repetir uma classificação feita não se sabe por quem e a partir de que gama de interesses pode congelar o conhecimento do objeto, afastando-nos dele e dispensando seu conhecimento e mesmo discussão! Essa espécie de ‘oceano de coisificação’ tem pautado muito a ‘apreciação’ de espetáculos ultimamente e afogado muito e todos, ao mesmo tempo. Os ‘tipo assim’: GOSTEI e NÃO GOSTEI, sem outro esforço na apreciação das obras significa um rótulo facilitador... Então, buscando um exemplo aproximativo, dizer que ‘a Globo tem padrão de qualidade e as outras emissoras não’, significa apenas repetir aquilo que o dono da emissora quer que se fale da sua emissora, não é? Quem fala desse modo, sem pensar, pode estar sendo manobrado por espécies de perigosos cordões invisíveis.

Mas, voltando a Brecht, o teatro popular costuma transitar, feito na rua ou não, mas sempre por uma relação de natureza estética partilhada, e de modo irreverente-crítico[2]: com o ingênuo, não com o primitivo; com o poético, não com o romântico; aproximando-se da realidade, sem contaminar-se ou reproduzir acriticamente as politiquices corriqueiras e ligadas estritamente à vida privada. Adotando as alegorias - que permitem o reconhecimento, mas não a identificação -, que tem uma dimensão social mais significativa àquela dos símbolos em suas múltiplas possibilidades de interpretação e de individualidade, o popular, normalmente acompanhado dos expedientes do épico, questiona, de saída, o ‘natural e o naturalizado’. Transitando entre o entretenimento e a diversão, o popular, tende a denunciar pelo riso as mazelas e injustiças sociais, através do exagero ou de processos de reversão do comportamento[3], mas lembrando permanentemente, e sem proselitismos que o natural na vida social não existe.[4]

Hoje a indústria cultural – no sentido de escoar uma infindável catarata de produtos, padronizar comportamentos, desejos, criar massas e rebanhos de seres muito parecidos e (ir)reconhecíveis – descobriu que a palavra-rótulo popular aproxima os consumidores, então, a partir desse engodo, vende uma profusão de obras-mercadoria como se fossem populares. Nessa generalizada venda de gato por lebre são produzidas em ‘lotes prontos para o uso’: as emoções baratas; os passos de dança fácil; a música chorosa e de fácil decoração, falando de amores perdidos; de revistas e programas de (que nos livrem desse mal!) falação de vida alheia ... o objetivo é o lucro fácil-rápido e estupidificador. Cultura fast food, delivery, prêt-à-porter a repetição do ‘consagrado’ pela televisão: de bordões a comportamentos, o preconceito risível e esvaziante, a moda que reconforta e faz o indivíduo se sentir fazendo parte de algum tipo de aldeia (ou rebanho?) têm se caracterizado, principalmente, em mecanismos alienadores e de docilização. Como se pode perceber, apesar de muitas dessas obras serem apresentadas como produto popular, o que se tem são obras popularescas. No mínimo, elas enchem o bolso dos artistas ou dos detentores dos passes destes. Obras popularescas não alertam, não dignificam, não esclarecem, não emocionam socialmente, não libertam, e daí vai. Drummond, com quem muito se pode aprender, finaliza um de seus poemas afirmando: “chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação.” Não é à toa que tanta campanha ‘meia boca’ tem enganado e levado tanta gente às ruas!!! A gente não quer só comida - que existe para restrita parcela da população mundial – a gente quer comida diversão e arte! Antes de pedir paz, por que não somos estimulados a pedir justiça!?

Voltando ao popular em teatro, e sem purismos de qualquer espécie, é preciso, minimamente, ter clareza, conhecer e articular os seguintes aspectos ao usar não o rótulo, mas a relação pressuposta pelo popular: origem, objetivos, função, natureza.[5] Originado e divulgado, sobretudo, pela oralidade, sem dispensar outras formas de registro, ao longo da história, o teatro popular, originado na Antigüidade clássica grega, foi desenvolvido à excelência pelos romanos, tomando como ‘combustível essencial’ o jogo e a ludicidade: rivalidade saborosa entre público e atores. Relacionar-se de modo partilhado e direto, repleto de inserções épico-narrativo, tem caracterizado, também, todas as formas que buscam a rua como palco. Assim, é função e natureza do popular, principalmente quando apresentado na rua, facilitar o acesso à arte, transformando um lugar (que é materialidade) em um espaço (prenhe de instabilidade e de contradição, que tem circunstância, tempo) comunicacional. Nessa transformação, há um processo de intervenção de sujeitos históricos que reinventam e atribuem uma nova função ao espaço, em que os indivíduos relacionam-se e reiventam-se em processo. Nesse processo facilitador, fundem-se: acessibilidade físico-geográfica, donde a escolha pelos espaços abertos, públicos e itinerantes; acessibilidade temática, em que tanto os conteúdos como o seu modo de exposição possam ter relevância social e ser significativos e de interesse àqueles a quem a obra fundamentalmente se destina; acessibilidade na criação e apresentação das personagens, sem subestimar ou superestimar o público, mas estabelecer uma relação de parceria e cumplicidade. Finalmente, e de modo redutor (porque muitas outras coisas haveriam a ser ditas), o teatro popular que pode enfatizar o entretenimento, a diversão, o digestivo, a provocador, o problematizador, a identificação emocional tem no teatro popular, por seu caráter épico e suas características de acessibilidade, uma forma híbrida, cujo olho ‘pregado e despregado no público’ improvisa, porque a vida é urgente e o trancetê da rua também. Muitos são aqueles que têm tentado contar a história do teatro de rua brasileiro: através de livros, revistas, encontros - artísticos e de reflexão. Então, e porque são muitos os Quixotes-macunaímicos-Severinos as perspectivas confluem para o registro, a memória e o conhecimento desses paladinos. Já se pode sonhar!

  Publicado originalmente em A Gargalhada, nº 4, setembro/outubro de 2006, p. 4 e 5.

[1] Este ensaio pode ser encontrado no livro organizado por Fiama de Pais BRANDÃO. Estudos sobre teatro – Bertolt Brecht, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2005, pp.113-120.
[2] Irreverente muitas vezes pelo modo de desenvolvimento de uma temática ou com relação aos tipos sociais: notadamente repressores, mas sempre irreverente por enfrentar uma multidão de transeuntes que tem seu lugar invadido. O ator que vai para a rua precisa redimensionar-se em tamanho; reprojetar-se, em voz, expressão facial, movimentos; estufar o peito, como um lutador prestes a enfrentar um adversário; transbordar alegrias, choros... Enfim, sobretudo o ‘artista de rua’, sabe que precisa ser um titã!
[3] Das excelentes obras à disposição, e que fazem uma análise desse caráter de reversão, consultar, principalmente o primeiro capítulo, de Mikhail BAKHTIN. A cultura popular na Idade Média e no renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo, HUCITEC; Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 1993.
[4] Inúmeros exemplos de produções do teatro brasileiro poderiam ser aqui evocados, mas, e partindo do que há de melhor, um dos maiores e mais premiados autores de teatro brasileiro, Luís Alberto de Abreu, e sobretudo a partir da década de 90, produz comédias, da mais significativa e sofisticada qualidade, enfeixando as características aqui apresentadas.
[5] Algumas das características aqui apresentadas prestam-se também ao teatro praticado em espaços fechados, entretanto, é a conjunção e articulação entre elas que caracteriza a prática do popular.

terça-feira, 2 de março de 2010

TUOV: mais de quatro décadas de teatro popular

Teatro Popular União E Olho Vivo
Comemora seus 40 anos de Resistência

Com 40 anos de resistência, surgiu no Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, o Teatro Popular União e Olho Vivo, tendo como objetivo a troca permanente de experiências culturais dedicado-se à arte popular e à produção de espetáculos para circuito de periferia, agregando inúmeros participantes originários das classes populares. Percorre, na sua longa existência de vida 3.500 espetáculos teatrais gratuitos para um publico de locais na periferia de São Paulo e em municípios próximos. Está localizado no bairro do Bom Retiro na Rua Newton Prado, 766, entre a Escola de Samba Gaviões da Fiel e o Parque do Gato.
Apresenta-se em locais como salões paroquiais, quadras de escola de samba, praças e ruas, casas culturais, teatros e outros. Reconhecido nacionalmente e no exterior com participações em festivais e vários prêmios ganhos. Tem criação própria de texto e produção coletiva visando como estrutura para as montagens o folclore brasileiro como o circo, o bumba, cirandas, marujadas, folia de reis, a capoeira, literatura de cordel e o futebol. O Tuov teve participação na luta pela anistia e colaboração com entidades de Direitos Humanos, sempre visando um país melhor. Tem como seus fundadores César Vieira (Idibal Pivetta) e Neriney Moreira, ambos advogados e defensores da arte popular brasileira.


Tática Robin Hood

Para se manterem em atividade o grupo adotou o que chama de tática Robin Hood. "Como os nossos espetáculos também são bem recebidos pelo público que pode pagar, vendemos a um bom preço o espetáculo para prefeituras, secretarias de culturas e clubes, e com esse dinheiro realizamos diversos espetáculos nos bairros periféricos gratuitos. Pegamos o dinheiro de quem pode pagar para aplicar em teatro naquele que as vezes nunca viu teatro na vida", comenta Cícero Almeida ,ator, funcionário público e estudante de direito.
O União e Olho Vivo faz suas apresentações aos finais de semanas, isso porque a maior parte do elenco desenvolve outras atividades. "Lá, temos funileiro, empregada domestica, advogados, professores, bancários e outros. Todos têm duas ou mais funções e, além disso, alguns ainda estudam. Enfim, o nosso elenco não vive de teatro. Não dá para sobreviver do trabalho do Olho Vivo, porque fazemos uma cultura que não é comercial, não é a nossa intenção. Temos uma ajuda de custo quando o espetáculo é vendido. Acredito que é uma das grandes virtudes do grupo sobreviver esses 40 anos", afirma Almeida.


Trabalho e Criação Coletivo

O trabalho e a criação coletiva é outra das grandes virtudes do TUOV. Buscando exercitar esse trabalho coletivo, o grupo vai definindo o tema escolhido para um espetáculo, as pesquisas a serem buscadas, a dramaturgia, figurinos, musicas e cenários. Em todas as suas peças já montadas o grupo adotou a idéia central a ser narrada, num fio condutor assentado numa estrutura popular para desfiar a história:

"É nesses trabalhos coletivos que você percebe o quanto a democracia é fundamental para construção de qualquer trabalho em sociedade, também, aquela pessoa vai com a dinâmica do grupo, aprendendo a manusear coisas e funções como por exemplo, manusear um refletor, aprender a tocar percussão, criar cenários, etc"., explica Cícero.
Atualmente o grupo participa da lei do Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo, com o projeto: Um Sonho de Liberdade, em que o TUOV coordena os trabalhos de desenvolvimento do grupo de teatro popular: Fonteatro Olho Vivo do Jaraguá, com alunos da Escola Municipal Brigadeiro Henrique Fontenelli e moradores da vizinhança do bairro do Jaraguá, atualmente com o espetáculo Barbosinha Futebó Crubi.

Os Negros Marujos de João Candido

O TUOV está a quatro anos percorrendo o Brasil com o espetáculo: João Candido do Brasil – A Revolta da Chibata, com a direção de César Vieira. O grupo já recebeu diversos prêmios com este espetáculo, entre eles, o Prêmio Santos Dias de Direitos Humanos na Assembléia Legislativa de São Paulo.
Ocorrida em 1910, no Rio de Janeiro, este fato da nossa história foi uma revolta justa dos marinheiros de maioria negros, contra o uso da chibata como medida disciplinar na Marinha Brasileira. Liderada por João Candido, a revolta foi violentamente reprimida, seus participantes presos, e tudo foi feito para apagar da nossa memória a luta justa dos revoltosos.
Ao Almirante Negro e seus marujos, agora se junta os integrantes do Teatro Popular União e Olho Vivo, que apresentam a façanha de 1910, na empenhada arte popular. Brincando com a imaginação e a fantasia, que permite realçar os traços da verdade. É o que vemos neste espetáculo por meio da música, da cor, da indignação de atores populares defensores da cultura brasileira e dos direitos humanos. 

Publicado originalmente em "A Gargalhada" nº 02, maio/junho de 2006, p. 6.