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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Protocolo 1: encontros mensais da UNESP

Grupo de Extensão – Teatro de Rua
Protocolo – Dia 29 de março de 2011

Apresentação dos integrantes e do cronograma
Começamos a noite com uma apresentação de todos os participantes do grupo. Estavam presentes integrantes de diversos coletivos, entre eles: TUOV, Nativos Terra Rasgada (Sorocaba), Estável, Como Lá em Casa, Olho da Rua (Santos), NPT Santa Víscera, Cia do Outro Eu, Arruacirco, Pombas  Urbanas, Teatro dos Ventos, Parlendas, Forte Casa Teatro, Manjericão (Porto Alegre-RS), Núcleo Pavanelli, Quarteto Trio Los Dos (Santos), Buraco d`Oráculo, ALMA Ambiental, Populacho (Guarulhos) e alunos da Unesp.
Adailton, do Buraco d`Oráculo, começou apresentando a programação do grupo para o ano de 2011. Alexandre Mate chegou mais tarde, pois estava numa banca de seleção de professores.
Alexandre Mate deixou impresso um cronograma das leituras que serão feitas ao longo do ano. Cada grupo/coletivo ficou com uma cópia do cronograma. Começamos pelo "Pequeno Organon para o teatro", de Bertolt Brecht. O texto "Pequeno Organon" está no livro "Bertolt Brecht – Estudos sobre teatro", da Editora Nova Fronteira. O livro está esgotado, mas a versão digitalizada está disponível na internet.

Pequeno Organon
Fizemos uma leitura coletiva do texto para levantar as palavras e conceitos cujos significados nós não tivéssemos tanta certeza.
Lemos coletivamente até o capítulo 40, e destacamos várias palavras. Ao final do encontro dividimos grupos de palavras por coletivos, para que os coletivos pesquisassem o significado e enviassem por e-mail para o grupo. A seguir, apresentamos as palavras já divididas pelos grupos:
Palavras (capítulo em parênteses)
Grupo responsável pela pesquisa
Organon
Prólogo
Estética
Estupefaciente
Burguês
Pavanelli
Brava
Sensaborão
Estetas
Thaeter
Apodar
Divertir
Estável
Ablução
Demos
Palaciano
Elisabetano
Olho da Rua
Verossimilhança
Ciência x arte
Pomicultores
Imagens (23)
Realidade (23)
Pombas Urbanas
Nova ciência social
Moral (25)
Espectadores x público
Onírico
Quarteto Trio Los Dos
Linguagem
Contradição
Apóstatas
Frenesi
Arruacirco e Cia do Outro Eu
derrocada
Quimera (34)
Luta de concorrência (34)
Milieu
Nativos Terra Rasgada
Condições históricas
Ficção (40)
Teatro dos Ventos/ Parlendas

Próximo encontro
Para o próximo encontro a orientação é que acabemos de ler o Pequeno Organon.
Além do Pequeno Organon, a indicação é para lermos "A Vida de Galileu", também do Brecht.  Esse texto está disponível em espanhol na internet: http://www.4shared.com/get/gPKj1F36/Bertold_Brecht_-_Galileo_Galil.html

Informes
Evento na Unesp: 4 a 8 de julho – "As formas fora da forma: teatro de feira, circo-teatro de revista e teatro de rua". Manhãs: seminários. Tardes: apresentação de excertos estéticos dessas formas.
Encontros de Dramaturgia - O Centro de Pesquisa de Teatro de Rua Rubens Brito (Núcleo Pavanelli) está realizando oficinas permanentes com objetivo de formação e de aprofundar o estudo das formas dramatúrgicas adaptadas às circunstâncias do Teatro de Rua. Os Encontros de Dramaturgia tiveram início dia 29/01/2011 e acontecerão aos sábados das 10h as 13h na sede do grupo: R. Salvador Bicudo, 30 – Tucuruvi (próximo ao metrô).

Protocolo redigido por Alexandre Falcão 

domingo, 26 de junho de 2011

Parábola

A Preço de Sangue
Delze dos Santos Laureano
www.delzesantoslaureano.blogspot.com

Parte do que foi a paixão e ressurreição de Jesus Cristo está no Evangelho de Mateus, capítulo 27. Conta o evangelista que, desde a manhã, todos os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo convocaram o Sinédrio contra Jesus a fim de o condenarem à morte. Depois de amarrarem Jesus entregaram-no ao governador Pilatos.
Detenho-me especialmente nos versículos de 3 a 7.  Judas, chamado no texto de traidor, ao ver que Jesus fora condenado, sentiu remorso, e foi devolver as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes e anciãos dizendo: "Pequei, entregando à morte sangue inocente." Eles responderam: "E o que nós temos com isso?  O problema é seu." Judas jogou as moedas no Templo e saiu, indo enforcar-se. Recolhendo as moedas, os chefes dos sacerdotes disseram: "É contra a Lei colocá-las no tesouro do Templo, porque é preço de sangue." Então discutiram em conselho e com o dinheiro compraram o Campo do Oleiro, para aí fazer o cemitério dos estrangeiros.
O texto é da década de 80 do primeiro século da era cristã. Lá se vão quase 2.000 anos. Fico aqui pensando com os meus botões. Sangue inocente ainda mancha as moedas recolhidas pelos chefes do poder. O uso do dinheiro sujo é amenizado, na Bíblia, para a compra da terra de cemitério para estrangeiros, hoje, para projetos socioculturais e de educação ambiental. Contudo, são os que detêm o poder os responsáveis pelo sangue nas moedas e os mesmos que decidem acerca do seu uso.
Michel Chossudovsky, pesquisador canadense, no livro "A Globalização da Pobreza", demonstrou com clareza como a riqueza mundial é canalizada para os mesmos grupos econômicos internacionais – Clube de Londres e Clube de Paris -, protegidos pelas políticas do FMI - Fundo Monetário Internacional – e do BIRD – Banco Mundial. Os recursos originários dos países pobres, mesmo quando vêm da exploração sexual, do comércio ilegal de entorpecentes, da exploração criminosa dos recursos naturais nos territórios das comunidades tradicionais servem para honrar os contratos internacionais, mesmo causando tanto sofrimento e a morte do planeta.
Não é diferente com a nossa riqueza interna no Brasil. O capitalismo hegemônico tornou-se mais forte (dogmático) que uma religião. Tudo pode ser debatido politicamente, menos as velhas receitas da teoria econômica conservadora. O Estado prioriza ações para o crescimento econômico – PAC - e para a realização dos megaeventos como a Copa de 2014, transferindo para as entidades da sociedade civil – especialmente as ONGs – grande parte da responsabilidade dos serviços sociais que precisam amortecer os efeitos perversos do sistema econômico. E assim, por detrás dos recursos que financiam os projetos sociais estão as mesmas empresas multinacionais causadoras dos danos: mineradoras, grandes construtoras, bancos, empresas do agronegócio. Elas que estão presentes no mundo inteiro, elegem nos países os seus representantes e mantêm suas sedes nas economias centrais do planeta. Toda grande empresa tem um braço social: instituto, ONG, fundação. Afinal, empresa que não mantém uma fachada de responsabilidade social e de sustentabilidade ambiental fica feia no retrato, perde clientes e faturamento nos países desenvolvidos.
Mas as moedas de sangue não vêm somente da iniciativa privada, vêm também do Estado. Originam-se dos orçamentos públicos, moeda de troca nas reeleições. Quem pode incluir obras no orçamento, quem pode aprovar renúncias fiscais (em nome da geração de empregos e renda), ou dar destinação legal (como é exemplo a Lei Rouanet) às receitas públicas, acaba se beneficiando desse lugar privilegiado, impedindo a renovação da representação política democrática pela via eleitoral. Manipulando os recursos públicos, subtraídos da população pobre (espoliada com a maior carga tributária do mundo e servida com os piores meios de transporte, com educação pública de fazer vergonha, com moradia  inapropriada) favorecem as mesmas elites que se regozijam com as benesses do poder, deliberando com exclusividade acerca das riquezas nacionais que deveriam ser bens de uso comum  do povo, como terra, água, florestas, biodiversidade.
Nós, meras peças dessa engrenagem, individualmente tentamos superar limites. Às vezes acreditamos no sucesso pessoal. Fazemos um esforço hercúleo para entender as tramas do mercado que tanto exige de nós. Outras vezes caímos na armadilha do moralismo, do arrependimento, talvez resquício de uma tradição judaico/cristã. Imaginamos que as nossas ações pessoais (como fechar torneiras, tomar banhos frios e rápidos, ou transformar lixo em artesanato) são as saídas para se resolver as mazelas provocadas por esse sistema que ignora a vida, visando somente ao lucro.
Em meio ao cansaço ou ao arrependimento ouvimos a voz dos senhores do Sinédrio dizendo. "O que nós temos com isso? Não reclamem das tarifas altas, do alto custo dos pedágios, dos serviços públicos de água, de energia ou de comunicação. Não lamentem as mazelas sociais e a violência." Como Pilatos, lavam as mãos dizendo: "Apenas aprovamos os projetos que vocês apresentam. O Estado não dispõe de recursos. Precisamos fazer parcerias com o setor empresarial para sermos eficientes." Outros senhores, os juízes, quando reclamamos que somente os pobres ficam nas cadeias, repetem em coro: "O que nós temos com isso?  O problema é de vocês. Não são os seus representantes que fazem as leis? Estamos apenas cumprindo o que a sociedade manda." Assim, condenam impiedosamente à prisão os acusados dos pequenos delitos (contra o patrimônio), retirando das famílias pobres a melhor força de trabalho, perpetuando o círculo da marginalidade. Já os governadores dizem: "Nós não condenamos ninguém. São os juízes que condenam. Para cumprir as ordens judiciais e a lei precisamos construir mais penitenciárias, precisamos comprar mais viaturas de polícia. Precisamos por mais policiais nas ruas."
Judas, segundo o relato bíblico, iludido pelos donos do poder, trai os companheiros e se sente culpado. Arrependido, devolve ao Templo as moedas sujas de sangue e, envergonhado, suicida-se.  Já os donos do poder político, ontem e hoje, não se arrependem nunca. Arrogantes, determinam os fatos que mancham de sangue as moedas, para depois decidir "moralmente" o que fazer com elas.
Na nossa cultura ocidental,  imprescindível interpretar de forma libertadora a Bíblia para compreender a lógica do sistema político. Somente assim nos damos conta de que vivemos e legitimamos o mesmo sistema de sempre. A história apenas se repete, como magistralmente ensinou Marx: "a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa".  Quem não tem as mãos sujas de sangue que atire a primeira pedra. Quem tem ouvidos, ouça!
Nova Lima (MG)  Brasil, 19 de junho de 2011.
Delze dos Santos Laureano é advogada, professora universitária de Direito Agrário, mestre em Direito Constitucional pela Faculdade de Direito da UFMG, doutoranda em Direito Público Internacional pela PUC/Minas.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Conteúdo e forma

Conteúdo e Forma[1]
Adailtom Alves[2]
Conteúdo e forma em artes estão interligados, são inseparáveis e atuam dialeticamente um sobre o outro. Forma e conteúdo são palavras latinas, que pouco modificou seu significado ao longo da história, já que a primeira diz respeito ao modo sob a qual uma coisa existe ou se manifesta, apresentando um feitio, uma configuração, uma feição exterior; já a segunda, é aquilo que se contém nalguma coisa (CUNHA, 2010). Esses significados aparecem também no Dicionário Aurélio (1994: 304), mas desse cabe destacar o décimo significado referente a forma: "O modo de expressão que o artista plástico adota na criação de uma obra, utilizando os elementos específicos da pintura, da escultura, da gravura etc." Essa significação destacada não deixa de ser um ponto de vista idealista ou que em outros períodos chamaríamos de platônicos, escolásticos, formalistas, pois parece ser o primado da forma, pois se é a forma que dita as regras, o conteúdo não tem muito valor.
Para Patrice Pavis no Dicionário de Teatro (2003: 172-3), a forma teatral está em diversos níveis: no plano concreto, isto é, no lugar cênico e na expressão corporal; no nível abstrato, dramaturgia e fábula; e nas ações e nos elementos discursivos, como as palavras, sons, ritmos etc. Assim, a forma teatral para Pavis, é complexa, no entanto, ela só existe se há algo para ser enformado, posto na forma: "Uma forma teatral não existe em si; ela só faz sentido dentro de um projeto cênico global, isto é, quando se associa a um conteúdo transmitido ou a transmitir." Diante do exposto, fica claro que o conteúdo, se não determina, é responsável ao menos por parte da estruturação da forma, isto é, novos conteúdos necessitam de novas formas. E aqui é possível lembrarmos o rompimento do drama burguês e o surgimento do épico como já foi discutido por Peter Szondi e Anatol Rosenfeld, para citarmos apenas dois. Estaríamos vivenciando a necessidade de novas formas, ou os conteúdos ainda são os mesmos daqueles do fim do século XIX e do século passado? Ou mesmo não sendo os mesmos conteúdos daquela época, a forma épica, que surgiu naquele período, ainda daria conta de nossos conteúdos?
Ernst Fischer no livro A necessidade da arte (1973: 143) define a forma como algo que quer perdurar no tempo, enquanto o conteúdo quer sempre avançar:
O que chamamos forma é o relativo estado de equilíbrio de uma determinada organização, numa determinada disposição da matéria; é a expressão da tendência fundamental conservadora, da estabilização temporária de condições materiais. O conteúdo necessariamente se transforma: às vezes imperceptivelmente, às vezes em ação violenta. O conteúdo entra em conflito com a forma, fá-la explodir, e cria novas formas nas quais o conteúdo transformado encontra, por sua vez, nova e temporária expressão estável.
Para Fischer a forma é equilíbrio, enquanto o conteúdo é transformação, por isso a forma é conservadora, enquanto o conteúdo é revolucionário. Desse ponto de vista nos deparamos com o seguinte: se a história é o eterno devir, se tivermos uma arte que se pauta nesse devir, estará sempre se transformando, logo, necessitando de novas formas. Mas, do ponto de vista teatral, nos parece que a forma épica ainda cabe qualquer conteúdo. Em tempos de globalização, com o capitalismo em constante mutação faz-se necessário atentarmos sempre ao conteúdo do que produzimos. Quanto ao espaço cênico que ocupamos, a rua, é épica por definição, no entanto, ela é também forma/conteúdo e está contida na cidade que é também forma/conteúdo. Como aliar nossos conteúdos numa forma adequada, sendo que a mesma entrará em contato com outras formas/conteúdos que, por sua vez, modificará forma e até mesmo nosso conteúdo? Pois se vamos abertos para a rua, visando uma troca de experiência, o contato com o público nesse espaço pode até mesmo criar uma outra obra.
Nas últimas décadas temos vividos sob o primado da forma e o esvaziamento do conteúdo, ao mesmo tempo muitos foram os conceitos criados sob o signo do pós-modernismo: teatro pós-dramático (para Iná Camargo Costa uma usurpação do conceito do épico); processo colaboracionista em oposição ao teatro coletivo, ainda que seja difícil entender suas diferenças; work in progress etc. Estamos apenas criando novos conceitos ou nos encaminhando para novas formas? E as novas tecnologias, as ditas novas mídias? Estas vêm, aos poucos, apagando a ideia de artistas (no sentido da divisão social do trabalho, isto é, de um especialista) e público, já que com essas ferramentas todos podem criar e ao mesmo tempo compartilhar com todos em tempo real. A tecnologia, em sendo suporte, em que medida influencia no conteúdo e não apenas na forma de nosso fazer teatral? Por fim, cabe ressaltar que a própria materialidade das obras tem desaparecido, ocupam cada vez mais a rede mundial de computadores, por exemplo. Assim, tanto sua forma, quanto seu conteúdo, bem como sua fruição são virtuais. Desse ponto de vista, a relação direta entre o artista e o público, entre o fruidor e a obra estaria desaparecendo?
Muitas são as questões e poucas são as respostas. Mas, de certa forma, o que deve orientar o nosso conteúdo são sempre as questões que nos pauta: de onde falamos e com quem dialogamos? De que lado estamos na luta travada na sociedade capitalista?





[1]Texto provocação, criado para a abertura do Café Teatral ocorrido em 14/06/11.
[2]Ator e diretor teatral, mestrando em artes e integrante do Núcleo de Pesquisadores de Teatro de Rua.

domingo, 19 de junho de 2011

Qual é mesmo a da Marcha da Liberdade?


Qual é mesmo a da Marcha da Liberdade?

Muitos já devem ter feito essa pergunta, certamente. Antes de tentar responder, cabe uma breve consideração sobre rótulos.

Os supostos formadores de opinião transitam entre o desdém, a descrença, o jocoso e a incredulidade. Rotular é uma forma de desqualificar a nossa ação. O estigma – estratégia tão utilizada pelos interessados em manter o status quo – torna qualquer ação alvo fácil ao obscurantismo, à desinformação e à perpetuação de uma lógica excludente.

A quem interessa o rótulo, então?

Entendemos que há sempre o temor pelo que desconhecemos. Principalmente quando não cabe nas caixinhas compartimentadas e talhadas por anos e anos de obediência servil.

Com efeito, entendemos aqueles que não nos entendem. Afinal é de causar estranheza um movimento radicalmente horizontal, sem líderes, onde não há hierarquia e que fala de política e de amor com a mesma facilidade, posto que vivenciamos ambos.

Lançamos questionamentos. Não temos a prepotência da verdade absoluta. Estamos muito longe disso. Passamos a bola, abrimos o diálogo público. Expomos nossas opiniões, mas exigimos direitos de todos.

Se você se indigna, você somos nós.

Sabemos muito bem o que queremos. E queremos até o que ainda nem sabemos. Mas sabemos bem mais do que não queremos e o que nos indigna. Por isso nos manifestamos. A Marcha é a indignação em movimento. É ato.
O que tem em comum esses indignados que não se resignam?

São os que usam a internet como maior fonte de informação e defendem o conhecimento livre, a universalização da banda larga. O direito à comunicação e à informação. Estamos em plena guerra de comunicação e já escolhemos nosso lado.

São livres para pensar. Não se deixam aprisionar pela mídia tradicional. São receptores, produtores e difusores de conteúdo. O papel de espectador é uma roupa que não cabe mais. São brancos, pretos, índigenas, pobres, ricos, mulheres, homens, trans, heterossexuais, gays, maconheiros, caretas, religiosos, agnósticos, ateus, vindos de todos os lados da cidade, de diversas idades, cores e etnias.
Estamos abertos ao diálogo amplo. Queremos não mais ficar calados diante de tantas mazelas sociais e políticas. A dor do outro é a nossa dor, uma incapacidade de distribuirmos nossos potenciais, riquezas e proteção.

Liberdade para nós é o maior ideal humano, cujo espelho é o outro. Liberdade é a soma do eu, do tu e do nós. A liberdade é uma felicidade coletiva.

A Marcha é um caleidoscópio, uma intervenção na cidade. É festa da diversidade política-cultural-filosófica-lúdica-afirmativa e amorosa. Vamos ocupar nossa cidade. Sentirmo-nos parte dela. Irmanarmo-nos.

Não temos vergonha de falar de política. O destino do nosso país nos interessa.
E teremos grandes pautas pela frente. Precisamos de uma reforma ampla, e irrestrita da mudança da cultura política brasileira, cuja representatividade política morreu de inanição da credibilidade e legitimidade.

Defendemos banda larga para todos, veto à reforma do código florestal e a transparência pública. A aprovação da PEC 122, 10% do PIB para a Educação; o fim da criminalização da pobreza e do racismo; queremos que o direito à moradia digna das pessoas atingidas por obras da Copa valha mais do que o evento em si; queremos ciclovias, queremos mobilidade humana; queremos que as mulheres tenham o direito de decidir o que fazer com seu corpo, queremos o fim do machismo, da homofobia, da descriminação por cor e religião. E respeitamos profundamente a religião, mas queremos o estado laico. Queremos 1% para a cultura. Queremos não fazer de nossas manifestações artísticas um mero produto do capitalismo. Queremos o direito à saúde, e o direito de poder escolher nossos alimentos. Que o fruto do nosso trabalho, a verba pública, alimentem o bem comum e não o Mercado…

Queremos justiça para os que tombaram em defesa da natureza, da nossa terra e das futuras gerações.

Queremos liberdade de escolha e participação. Queremos democracia. Queremos paz.
Queremos liberdade de ser. Queremos uma vida digna.

Queremos dignidade. É por isso que marchamos. 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Criminalização dos mascarados de Pirenópolis

Para os que tem acompanhado a saga dos mascarados de Pirenópolis que estão sendo obrigados a se cadastrar e numerar durante o centenário Festejo das Cavalhadas, parte da Festa do Divino Espírito Santo da cidade que recebeu, em 2010, o título de "Patrimônio Imaterial Cultural Brasileiro" pela originalidade de sua festa, título que provavelmente perderá com os ocorridos recentes, relato o mais recente ato ocorrido ontem, dia 10 de junho de 2011.

Para que seja bem compreendida a situação, atento para o fato de que o mascarado é um dos personagens, que juntamente com os Cavaleiros mouros e cristãos, representam as Cavalhadas, a derradeira batalha entre estes dois povos e que pôs fim à longa estadia dos mouros na Península Ibérica, deixando como herança todo seu legado artístico e cultural. O mascarado é portanto e antes de mais nada um artista popular, um "bufo", aquela figura irreverente que critica a sociedade e seus costumes, incluindo as autoridades, evidentemente. Na cidade de Pirenópolis, apesar deste número a cada ano vir diminuindo mais e mais em decorrência de medidas repressivas à sua atuação, ainda é muito expressiva a quantidade de mascarados que saem às ruas durantes os festejos, pessoas de todos os gêneros, idades e classes sociais.

Desde o ano passado ouve-se ruídos da adoção de uma medida de cadastramento e numeração destes mascarados, a exemplo do que já acontece em outras cidades como a vizinha Corumbá, por exemplo, que segundo todos que conhecem a festa, não tem o brilho, originalidade e quantidade de mascarados que tem em Pirenópolis, o que justifica o registro da festa ter sido em Pirenópolis e não em outras cidades que já a descaracterizaram com medidas como esta.

 A proposta de cadastrar os mascarados partiu do Ministério Público, em desfavor da Prefeitura (a Prefeitura deverá pagar 10 mil reais de multa a cada ocorrência), alegando que seria uma medida de segurança para a cidade, uma vez que na última festa (2010) foram registradas aproximadamente 50 ocorrências de pequenos delitos, roubos e coisas assim. A medida foi acatada pelo Juiz. Ok, se a questão é de segurança, quem deveria ser acionada? A Secretaria de Segurança Pública, certo?

Errado! Em Pirenópolis o mascarado foi considerado culpado e condenado a se cadastrar e receber uma numeração bem grande  e visível que o identifique publicamente e à distância.  Para se cadastrar, o mascarado deve ir até a Delegacia, onde um funcionário da Prefeitura efetivará seu cadastramento mediante apresentação de documentação (RG e CPF) e descrição detalhada de sua roupa e máscara em cada dia da festa (são 4, se contarmos o sábado do Divino quando alguns mascarados já circulam pela cidade). Os menores de idade devem ir acompanhados dos pais ou responsáveis. No ato do cadastramento ele sai com o seu "número" de registro (identificação impressa pela Prefeitura e com assinatura de uma autoridade) que deve ser costurado de forma bem visível em sua roupa.

Ora, em Pirenópolis a tradição dos mascarados é passada de geração em geração e um de seus traços principais é o anonimato! Nem os próprios familiares sabem como seus mascarados estão trajados. Essa é a brincadeira: eles disfarçam a voz, fazem brincadeiras, mexem com as pessoas, pedem um real. Saem mascarados exuberantes que gastam aproximadamente R$ 500,00 em sua indumentária, assim como saem mascarados pra festar e brincar com a roupa da mãe, da irmã ou um paletó velho do pai e é isso que mantém viva essa tradição, a possibilidade do improviso e da criatividade de cada mascarado. Há os que se excedem? Sim, há, como em todos os lugares e todas as situações, com máscara ou sem ela.

Aqui reforçamos mais uma vez a necessidade de que se crie e discuta com a comunidade uma medida de segurança mais efetiva e eficiente durante os festejos, programas educativos durante o ano que ampliem essa reflexão e que formem agentes culturais que colaborem na orientação da festa, de uma capacitação aos policias no modo de abordar os mascarados, pois o que se vê normalmente é uma abordagem bruta e sem diálogo. Sim, temos que buscar juntos uma ação que traga avanços e não simplesmente penalizar os mascarados. O mascarado não é um marginal e não deve ser tratado dessa maneira. O mascarado não é um inimigo público que deve ser combatido e controlado. Ele é um artista popular, um brincante, um ser criativo e divertido.

Ontem, sexta-feira, a situação chegou a um extremo. Desde terça feira os mascarados vem fazendo manifestação pública: pediram reunião com o Promotor e foram recebidos, fizeram manifestação em frente à Prefeitura e como o Prefeito estava ausente da cidade nãos os recebeu e tem saído às ruas para esta manifestação de desagravo à medida, com "escolta" policial, inclusive. Sem agressividade, sem provocação, apenas manifestando seu descontentamento e dor por não poder brincar nos festejos deste ano. Volto a tocar neste ponto: para o mascarado de tradição, a festa é o evento mais importante do ano e para isso ele se prepara durante todos os 365 dias que antecedem a festa. Ele vive intensamente o seu personagem, ele mantém viva essa arte aprendida com os pais, avós, tios, toda sua ancestralidade.

Ainda ontem, alguns mascarados, considerados "lideranças" em seus grupos ou comunidades, foram convidados pelo CONSEG - Conselho Comunitário de Segurança e Defesa Social de Pirenópolis a participar de uma reunião com autoridades policias no Batalhão da PM. Vale aqui uma ressalva de que não há lideranças constituídas entre os mascarados, pois quando saem em grupos, como há vários na cidade, sua organização é totalmente horizontal, não há um líder que manda e outros que obedecem. O mascarado é anarquista em sua concepção, eles dialogam entre si e rapidamente a cena artística se constrói. Muitas vezes ele é solitário, a exemplo dos "Zé Pereiras" ou "Fofões" dos carnavais brasileiros.

Desde o início da reunião percebemos que o teor do conteúdo caminhava no sentido de convencer os mascarados a entenderem que não haveria outra medida possível a ser tomada e que deveriam todos pacificamente aceitar a decisão judicial e fazer seu cadastramento; que a medida serviria de proteção aos mascarados pois o Serviço de Inteligência da Polícia já havia sido informada que mal elementos de outras localidades do entorno de Brasília estariam preparando assaltos e outros delitos e que a ação coibiria essa turma; e por fim, que aqueles que insistissem em desobedecer a sentença seriam penalizados, autuados e processados. Chegou-se a perguntar aos mascarados se seria necessário chamar o Batalhão de Choque da PM para atuar na Festa.

Um dos mascarados perguntou se hoje eles poderiam seguir com a manifestação já que a Festa teria início apenas hoje, Sábado do Divino, como é conhecido aqui em Pirenópolis. A resposta foi afirmativa: SIM, mas a partir de hoje, sábado, eles seriam autuados. Esse mascarado um pouco mais tarde pediu licença então da reunião, pois disse que seus companheiros mascarados o aguardavam para a manifestação e saiu. Uma hora mais tarde, aproximadamente, todo o grupo dos 11 mascarados (7 adolescentes e 4 adultos), foram detidos e levados algemados para a Delegacia para serem autuados. Há registros do momento da prisão, da chegada de todos algemados à Delegacia e da declaração de um policial e um dos jovens que em nenhum momento lhes foi solicitada documentação. Nenhum deles ofereceu resistência e mesmo assim foram todos revistados e algemados como marginais.

Até o momento, o IPHAN - Instituto do Patrimônio e Artístico Nacional, não se manifestou oficialmente a respeito do assunto. A Comissão Goiana do Folclore já manifestou apoio aos mascarados em carta, assim como a Câmara dos Vereadores de Pirenópolis em sessão realizada no último dia 8 de junho. A Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Legislação Participativa, na pessoa do Deputado Estadual Mauro Rubem também manifestou seu apoio e nos parece que a partir deste momento a questão assume proporções de desrespeito aos Direitos Humanos.

Além da interferência gravíssima a um patrimônio cultural imaterial, nos preocupa agora a segurança desses mascarados que aceitaram "mostrar sua cara" em prol da garantia da continuidade da manifestação artística popular de seus antepassados.

Daraína Pregnolatto
simpatizante da causa e pesquisadora das culturas populares brasileiras

Diretora Geral /Guaimbê - Espaço e Movimento CriAtivo
Ponto e Pontinho de Cultura, Leitura, Estória, Valor, Mídia Livre e Cultura Digital Quintal da Aldeia /Pirenópolis GO
Pontão Ação Griô Guaimbê das Nascentes & Veredas
Tuxaua de brincadeiras, ritos e redes populares
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Vejam o link abaixo:




domingo, 12 de junho de 2011

Um grito contra a barbárie ou a adaga apontada pro algoz de nós!


Em tempos de indicações teatrais, e momentos amargos e sombrios nas politicas para cultura brasileira, vou fazer uma através do texto que escrevi sobre um espetáculo que recomendo. Breve na sua cidade, mas por enquanto só em Porto Alegre.
    Na noite de 04 Junho de 2011, de um sábado extremamente frio no paralelo 30 deste país, fui no Clube de Cultura, na Ramiro Barcelos, 1853, rente ao bairro Bom Fim de Porto Alegre assistir o novo trabalho e primeiro de vivência do grupo/bando/povo/guerrilheiros, etc, da Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta Favela... com "Margem Abandonada Medeamaterial Paisagem com Argonautas"  
    O Clube de Cultura já teve seus anos dourados, de resistência e efervescencia teatral, fora nos anos 70 e 80 referencia no RS e Brasil. Na entrada vê-se os antigos cartazes de teatro e cinema destas referidas décadas. Um saudosismo toma conta de quem chega e diante deste ambiente encontramos Paula e Gildo na bilheteria oferecendo uma cachaça com cauda de figo, com um sorriso acolhedor. São os amigos de longa luta pelas ruas com seu teatro que no ano passado teve sérios problemas com a ditadura policial da capital gaúcha que gerou uma mobilização nacional pela liberdade de expressão do artista de rua brasileiro "A Arte não vai Parar!" folheto que entregam junto com o folder do espetáculo da noite.
    Voltando a Medea Material. O espetáculo de vivência é somente para no máximo 40 pessoas, logo se vê que será em deslocamento por ambientes com atores e público juntos, próximos. No inicio o impacto da cena mostra a que vieram na ocupação de um espaço salão com palco ao fundo, onde a cada função é preciso tirar e colocar as cadeiras. O público sempre convidado a mudar de ambiente, cada local uma atmosfera tensa e nervosa. Corpos seminus, nus, e nunca gratuitos sem função, são situações críveis dentro da proposta do coletivo para um texto combativo do alemão Heiner Muller. A dramaturgia misturada/colada a outros textos e provavelmente palavras e falas vindas do grupo nos mostra a atualidade de Muller e o quanto foram felizes nesta opção.
    Medea representada por Daniele Rosa está um primor, atriz/mulher/negra de força sobrenatural incorpora uma Medea brasileira, ou seria uma Medea mundi?, representando tudo que um povo oprimido passa nestes séculos de humanidade deshumana.
    Antes de matar os dois filhos por vingança a Jasão, representante de toda opressão possível de nossa história, vemos Dani/Medea apontar a adaga contra o algoz de nós, um público hipnotizado e indignado, com repulsa e desejo de sangue. Sangue coagulando por todo corpo da atriz! Adaga mirando Jasão, interpretado por Sandro Marques num de seus melhores trabalhos como ator de entrega e decisão. É o grito contra a barbárie da natureza humana. Logo na sequencia em clima fortíssimo, entre um terreiro de santo e o quarto das crianças, tudo velado pela ama interpretada por Ana Eberhardt, surge a deusa Hécate, interpretada por Karitha Soares (a Kakau). Dilacerando em cantos e gargalhadas a deusa impulsiona Medea a realizar o desejo de vingança, a volta da barbárie. Numa de suas falas, ou próximo ao que disse, nota-se uma das sinteses do trabalho: a violência é muito antiga na natureza humana, mesmo antes da humanidade!
    Medea se vinga e com isso sofre/morre/se perde pra sempre na insanidade violenta dos atos humanos. Jasão condenado a navegar entre seus infernos divide um dos últimos ambientes com Sísifo. Robson Reinoso interpreta Sísifo com firmeza e competência, seja na repetição técnica dos movimentos ou na voz angustiante para compor o personagem do mito que nos deixa no desassossego. Não é tarefa fácil, como diz o autor: "Fazer rolar a pedra, sempre a mesma para cima do monte sempre o mesmo. O peso da pedra aumentando, a força de trabalho diminuindo com a subida" 
    Jasão jaz ali na banheira de sangue e placenta, no âmago de sua existência delira com banhos de cerveja. Medea lamenta junto a cordões umbilicais da humanidade deshumana.
    Se Corinto estava em chamas, Medea provoca/conclama as chamas nas cidades de hoje. Nosso contexto atual, de conflitos multiplos, reverbera na destreza incapaz de reagirmos com eficiência. Nos falta raiva, ira, força de reação. A necessidade latente de um levante esta aí, fermentando, pois motivos não faltam. O primitivo destes tempos medievais, a ditadura descarada que volta com força, matanças de grandes lideres na amazônia, o povo das ruas impedidos de se expressar, a falta de um diálogo real sem engodos e promessas miseráveis, nos impulsionam para o embate, para guerra que se avoluma!
    Parabéns ao Cambada..., mais conhecido como Grupo Levanta Favela, por este petardo (explosivo, portátil, para destruir obstáculos). Vocês nos alimentam na indignação em prol dos direitos humanos e da liberdade de expressão, que ninguém pode nos tirar.
 Evoé Cambada! Vida longa!
Márcio Silveira dos Santos

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dor e indignação



"Viver é lutar."
Gonçalves Dias(1).

"Todos sabemos que a nossa época é profundamente bárbara, embora se trate de uma barbárie ligada ao máximo de civilização. (...) [Hoje] já
não é admissível a um general vitorioso mandar fazer inscrições
dizendo que construiu uma pirâmide com as cabeças dos inimigos mortos, ou que mandou cobrir as muralhas de Nínive com as suas peles
escorchadas. Fazem-se coisas parecidas e até piores, mas elas não
constituem motivo de celebração."
Antonio Candido(2).

Com profunda tristeza e indignação, nós, trabalhadores da educação,
estudantes, pesquisadores e pessoas comprometidas com a formação
humana emancipadora, justa e igualitária, homens e mulheres que
reconhecem e questionam o mundo, considerando o conhecimento produzido pela humanidade em busca de uma ação transformadora no sentido da afirmação da vida, não podemos aceitar em hipótese alguma e tampouco nos calar diante da morte e da barbárie que se manifesta contra os lutadores do povo no campo brasileiro. Os cinco assassinatos ocorridos em sequência nas últimas semanas no Pará e em Rondônia, que evocam aqueles que também morreram por defenderem a vida e a justiça no país, atestam que o inadmissível continua acontecendo no Brasil, e com requintes de crueldade típicos de tempos em que atos bárbaros estavam na esfera da legalidade.

Diante dos mortos que tiveram as orelhas decepadas, como assinatura
perversa do desmando e do arbítrio ainda latente no interior da
sociedade brasileira, aflora o sentimento de indignação e angústia,
porque fica evidente o caráter regressivo da vida social que mostra
sua face de atraso e desagregação como avesso do progresso civilizatório, apregoado contraditoriamente por setores tradicionalmente retrógados e conservadores da vida nacional desde suas origens: latifundiários e ruralistas, travestidos em empreendedores da modernidade no setor agrário do país que utilizam "a pistolagem como estratégia empresarial" e fazem andar de mãos dadas a alta tecnologia do agronegócio e os métodos mais primitivos e truculentos dos senhores de engenho e coronéis.

Entre os cinco mortos, estão pessoas que conheciam profundamente a
vida da floresta, assentados que compartilhavam seus conhecimentos e
sua produção sustentável com a comunidade universitária, representada
pela Universidade Federal do Pará (em especial as ações do Campus
Universitário de Marabá e do Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural), com a qual desenvolviam projetos nacionais e
internacionais de cooperação científica na construção de alternativas
sustentáveis e do combate ao desmatamento na Amazônia. Maria do
Espírito Santo da Silva, que se graduou no início de 2011 em Pedagogia
do Campo pela UFPA, e o marido, José Cláudio Ribeiro da Silva, eram
lideranças importantes do PAE (Projeto Agroextrativista de Praia Alta
Piranheira), em Nova Ipixuna, PA, modelo de assentamento sustentável
da reforma agrária, adotado pelo INCRA na Amazônia, do qual fazia
parte também Herenilton Pereira dos Santos, testemunha da execução do casal em 24 de maio, assassinado no dia 28 do mesmo mês. Adelino
Ramos, assassinado em Rondônia no dia 26 de maio, era presidente do
Movimento de Camponeses Corumbiara, e uma das lideranças do projeto no Assentamento Agroflorestal Curuquetê, lutava pela preservação ambiental e pela reforma agrária, e foi um dos sobreviventes do Massacre de Corumbiara, ocorrido em 1995, que resultou na morte de 11 camponeses e 1 criança. Marcos Gomes da Silva foi assassinado no dia 02 de junho e era acampado, juntamente com 20 famílias, em Sapucaia, na região de Eldorado dos Carajás, onde ocorreu, em 1996, o massacre de 19 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra pela polícia do estado.

Maria do Espírito Santo da Silva, José Cláudio Ribeiro da Silva e
Adelino Ramos sofriam constantes ameaças de morte em razão de sua luta por projetos ambientais e pela reforma agrária, projetos que
constituíam um obstáculo significativo ao desmatamento feito pelos
madeireiros e latifundiários do Pará, Rondônia e Acre. Essas ameaças
se cumpriram exatamente no momento da aprovação do Novo Código
Florestal na Câmara dos Deputados em 24 de maio. O novo Código propõe a transferência do controle do desmatamento para estados e municípios; a anistia das multas aplicadas a crimes de degradação ambiental; a retirada da referência à Lei de crimes ambientais (Lei nº 9.605/98); a isenção de manter a reserva legal nos limites da lei em propriedades de até quatro módulos fiscais, o que abre as portas ao desmatamento de 69.245.404 hectares de florestas nativas. A luta desses companheiros, que estava ligada à vocação da pesquisa universitária em favor da vida, não pode ser desvinculada da crítica profunda, responsável e séria ao Novo Código Florestal.

Assim, aqui, manifestamos, em nome desses companheiros que já não
podem intervir diretamente, nossa discordância veemente em relação à
forma do Novo Código Florestal, afim de que seja reformulado no Senado Federal, onde se faça ouvir, dessa vez, não as vaias dos ruralistas à luta e morte dos assentados pela preservação da floresta e pela justa e imperiosa reforma agrária no país, mas a voz daqueles que
corajosamente morreram defendendo que um mundo outro deve ser
possível, se construído por nós. A verdade dessa luta é mais forte que
a imagem deformada e nociva que parte da mídia brasileira passa à
sociedade acerca dos que lutam por reforma agrária e preservação
ambiental.

Esses assassinatos, a despeito de toda sua força e crueldade, fazem
reviver a memória de todos aqueles que morreram pela construção da
justiça no campo. Como educadores, não podemos deixar de nos
posicionar ao lado daqueles que lutam por vida digna, educação e
terra, aqueles que morreram, aqueles que sofreram ameaças, humilhações e mutilações, como o professor e graduado em Licenciatura em Educação do Campo da UnB, Paulo César da Costa, que foi ameaçado de morte e teve sua orelha cortada por fazendeiros em 2005, em área sob a jurisdição do INCRA, que hoje constitui o Assentamento Pátria Livre, em Santa Catarina. O crime cometido contra esse egresso da Universidade de Brasília está em julgamento e aguarda decisão judicial em primeira instância ainda este ano. Em nome de nossos estudantes e pesquisadores da Educação do Campo, terminamos este manifesto com as palavras de uma das educandas, hoje graduada da primeira turma do curso de Licenciatura em Educação do Campo da UnB, em parceira com o Instituto Técnico de Pesquisa e Capacitação da Reforma Agrária (ITERRA), Carina Adriana Waskievicz:
José Cláudio Ribeiro da Silva "Zé Castanha"
Maria do Espírito Santo da Silva
Adelino Ramos "Dinho"
Herenilton Pereira
Marcos Gomes da Silva
"Pelos nossos mortos nenhum minuto de silêncio, mas uma vida inteira de luta".

De um lado, muitos Josés, Marias, Adelinos, Hereniltons, Marcos,
lutando para preservar o que ainda resta das nossas matas, contra o
contrabando de madeira, a produção ilegal de carvão, a concentração de
terras. São indígenas, quilombolas, pomeranos, Sem Terra, ribeirinhos,
pescadores, que muitas vezes precisam expor suas vidas, já que o que
defendem não corresponde aos interesses econômicos e hegemônicos do país. Interesses esses que são defendidos pelos ruralistas, pela
direita, pelo capital, sujeitos capazes de destruir não só a floresta,
mas a vida humana.

Choramos quando vemos árvores atrás de árvores sendo derrubadas. Mas é difícil dizer o que sentimos quando pessoas são mortas por defenderem a vida. Atos bárbaros como esse despertam forte indignação. Jamais poderíamos permitir que acontecessem, e jamais podemos achar natural e nos calar.

Se contra nossas palavras, nossas denúncias, nossos gritos que
reclamam justiça; se contra nossas ações, que, por defenderem a vida,
dizem – chega a destruição do planeta – gerada pelo desmatamento, pela poluição, pela destruição das nossas riquezas, e causado pela ambição do homem; se contra tudo isso não há argumentos racionais, eles tentam nos calar roubando a nossa vida.

Mas nós somos povo, somos muitos, temos força, continuaremos
levantando as nossas bandeiras, e não deixaremos passar em vão a morte de cada trabalhador e de cada trabalhadora que lutar contra esse
sistema que nos maltrata de tantas formas, de todas as formas
possíveis.

Não ficaremos em silêncio, nossa vida é luta.

ASSINATURAS:
1.Ana Laura dos Reis Corrêa (professora – UnB)
2.Bernard Herman Hess (professor – UnB)
3.Rafael Litvin Villas Bôas (professor – UnB)
4. João Batista Pereira de Queiroz (Professor – UnB)
5. Wanessa de Castro (Professora – SEEDF – UnB)
6.Jair Reck (Prof. LEDOC- NESCUBA- UnB)
7. Cynara Caroline Kern Barreto (Professora - UnB)
8.Luis Antonio Pasquetti (professor – UnB)
9. Mônica Castagna Molina (professora – UnB)
10.Lais Mourao Sa (professora – UnB)
11. Márcio José Brum ( Professor voluntário- LEDOC)
12. Juarez Martins Rodrigues (Prof. LEDOC- NESCUBA- UnB)

Notas:
(1) "Canção do Tamoio".
(2) "O direito à literatura". In: Vários escritos. São Paulo/Rio de
Janeiro: Duas Cidades/Ouro sobre Azul, 2008, p.170-171.

Carta do Colegiado de Teatro ao CNPC/MinC


 
Ao tomar conhecimento do conteúdo do relatório elaborado pelo Grupo de Trabalho sobre a Nova Lei Rouanet – ProCultura do Conselho Nacional de Política Cultural/MinC, o Colegiado Setorial de Teatro redigiu a carta abaixo endereçada à Plenária do CNPC do MinC, que se reúne amanhã e quarta-feira (dias 7 e 8 de junho) em Brasília. O documento será lido pelo representante do Colegiado de Teatro, Márcio Silveira (RS) após a apresentação do referido relatório.
Atualmente o ProCultura tramita na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara Federal, que tem como relator o deputado Pedro Eugênio (PT-PE) e as contribuições do CNPC ao projeto de Lei serão encaminhadas à ele.
06 de junho de 2011
À Plenária do Conselho Nacional de Política Cultural – CNPC/MinC
Prezados Senhores,
    Nós, membros do Colegiado Setorial de Teatro, eleitos por delegados de todos os estados da federação durante a pré-conferência setorial que antecedeu a II Conferência Nacional de Cultura, portanto, legítimos interlocutores entre os profissionais do Teatro Brasileiro e o MinC, manifestamos nosso total repúdio à proposta de retorno da isenção fiscal de 100% para projetos incentivados pelo ProCultura integrante do relatório elaborado pelo GT ProCultura a ser apresentado na 14ª reunião ordinária desta Plenária.
    Consideramos essa tentativa de alteração no substitutivo da Deputada Alice Portugal, aprovado por unanimidade pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara e aplaudido por esse CNPC através de moção sem nenhum voto contrário em sua 13ª Reunião Ordinária; não só um grande retrocesso, mas uma afronta a todo o debate realizado nacionalmente, que estabeleceu um novo modelo para o financiamento público à Cultura no país. Os princípios de fortalecimento do Fundo Nacional como principal mecanismo de fomento à Cultura brasileira e a exigência de contrapartida percentual em recursos próprios da iniciativa privada para projetos aprovados no mecanismo da renúncia fiscal, são as bases conceituais da nova lei e qualquer alteração nesses pontos fere a construção democrática que culminou com a elaboração do projeto de lei ProCultura e sua apresentação ao Congresso Nacional.
    Com os nossos cumprimentos e os votos de um bom trabalho,
Colegiado Setorial de Teatro do CNPC/MinC

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Links Importantes

Links importantes
Abaixo colei alguns links nos quais alguns pesquisadores importantes discorrem sobre a contemporaneidade, o mundo capitalista, o Brasil, sempre de forma dialética. O melhor é o contato com suas obras, mas os vídeos não deixam de ser uma pequena introdução as ideias desses pensadores.
Alguns desses links são apenas para a primeira parte, por causa da limitação do próprio you tube (limite de 10 minutos), por isso não esqueçam de vê em quantas partes estão divididos os vídeos.
Ao mesmo tempo, é importante dizer, que existem contradições em cada um deles e em todos juntos, solicitando que realizemos nossas sínteses, bem como nossas críticas e, é claro, a fundamentação com outros materiais.

O primeiro link (acrescido depois) é um texto sobre a onda conservadora no Brasil de Mauro Iasi.

Mauro Iasi - De onde vem o conservadorismo

https://blogdaboitempo.com.br/2015/04/15/de-onde-vem-o-conservadorismo/

Curso Livre Lukács

https://www.youtube.com/watch?v=jWCjQVptv7w


Milton Santos – Geógrafo brasileiro
Documentário dividido em nove partes.


David Harvey – Geógrafo inglês

István Mészáros – Filósofo húngaro
Vídeo em nove partes. A sexta parte ele fala do que é um governo com um programa socialista assumir o poder dentro de uma sociedade capitalista, referindo-se a pré-eleição do Lula. Na nona parte aborda a precarização do trabalho.
Noam Chomsky – Línguista e filósofo estadunidense
Vídeo em nove partes. Atenção ao oitavo bloco, no qual discute os problemas da dívida brasileira e FHC.
Slavoz Zizek – Filósofo sloveno

Terry Eagleton – Crítico literário inglês

Edgar Morin – Pensador francês

Antonio Negri

Paulo Freire – Pedagogo brasileiro

Darcy Ribeiro – Antropólogo brasileiro
Florestan Fernandes – Sociólogo

Leandro Konder – Filósofo brasileiro
Documentário dividido em quatro partes.

Marilena Chauí – Filósofa brasileira

Jacob Gorender – Historiador brasileiro

Documentários
Zona Crítica

Outros

terça-feira, 7 de junho de 2011

Nota da FIST sobre Invasão Policial e Tentativas de Despejo


NOTA DA FRENTE INTERNACIONALISTA DOS SEM TETO (FIST) SOBRE INVASÃO POLICIAL E TENTATIVAS DE DESPEJO
 
No dia 25 de maio de 2011, a Ocupação Alípio de Freitas, localizada na Rua da Relação, 55, no Centro do Rio de Janeiro, foi invadida por policiais militares. A invasão policial foi ilegal, usando extrema violência e cães ferozes. Os policiais invadiram de maneira truculenta os apartamentos dos moradores, além de não haver nenhum tipo de ordem judicial. Esse ato ilegal foi realizado com o pretexto de busca por drogas, porém nada foi encontrado.
A invasão policial tem como o objetivo assustar, vigiar e mapear a Ocupação, para um despejo violento no futuro. Sabemos que a Prefeitura do Rio de Janeiro quer valorizar o projeto "Corredor Cultural", com o intuito de conservar os prédios antigos do centro do Rio - em vez de manter e proteger mais de 40 (quarenta) famílias pobres e necessitadas de moradia e quer, na verdade, despejá-los para longe (lembramos que é dever do Estado prover uma moradia digna para todos).  
A Prefeitura do Rio de Janeiro age de maneira sórdida a serviço do Grande Capital aliados ao governo estadual e federal, em uma clara especulação imobiliária, valorizando a área do centro para os imóveis de mega-empresários ou mega-corporações (por exemplo, centros culturais para Bancos expropriarem os trabalhadores, incluindo aí boates raves). Age assim também por saber que a ocupação Alípio de Freitas tem uma grande chance de vitória na Justiça, porém quer o despejo para a Copa do Mundo e Olimpíadas.
VITÓRIA DA FIST NA JUSTIÇA
A FIST acaba de ganhar definitivamente na Justiça a posse da ocupação Anita Garibaldi, rua General Caldwell, 200, centro do Rio. E em primeira instância, a Ocupação Caldeirão, localizada na rua Presidente Domiciano, 98, São Domingos, Niterói.
TENTATIVA DE DESPEJO E FESTA NA OCUPAÇÃO VITORIOSA
No próximo dia 11 de junho, às 20hs, a Ocupação Anita Garibaldi estará comemorando a vitória definitiva na Justiça da posse dos moradores e aproveita para denunciar a tentativa da Prefeitura de despejá-los através da restauração das fachadas – o que é caríssimo, o preço é muito maior do que o imóvel, já que o prédio é tombado. A restauração deveria ser feita pela própria Prefeitura e não pelos moradores.