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sábado, 21 de dezembro de 2013

A quase morte de Zé Malandro - Crítica

Registro da apresentação do Grupo de Teatro Drão - PE com o espetáculo A quase morte de Zé Malandro durante do X Festival de Teatro de Rua do Recife.

O Grupo de Teatro Drão - Pe, apresentou na Praça do Diário "A quase morte de Zé Malandro, sujeito imaginário e real contraditoriamente, seria ele da linhagem dos malasartes, chicos, bastiões, entre outros.

É também um homem desses comuns que encontramos nas vielas e esquinas das cidades, com seus baralhos, rinhas ou dominós, ele joga sua sorte ou infortúnio, pobreza, falta de perspectiva, educação, trabalho e mais e mais... Por isso torcemos pelo Zé, quisera ser ele e ter poderes místicos para burla e subjugar a morte-miséria que vem com o diabo-capital. Sistema que como no espetáculo vem enfeitada, cheirosa, atraente nos chamando para bailar a dança da mentira e exploração; levando-nos em seus braços para mais infortúnios...

Por isso torcemos pelo Zé, quisera todos nós ter a mesma astucia marginal que se aprende nas ruas, que se aprende da vida calejada de não ter trabalho, comida, casa, escola, mais e mais...

O Drão tenta reunir e aproximar o cavalo marinho da encenação, no inicio do espetáculo os atores fazem a dança dos arcos, como uma espécie de chamada ou chegança. Todavia a brincadeira do cavalo marinho pode invadir mais a brincadeira Drao, Zé malandro pode ser um fragmento do universo teatral popular presente na brincadeira, onde ele possa realizar um mergulhão corpóreo espacial nos bastiões e mateus. Assim, captando mais instabilidade, malandragem, desordem, inconstância e festividade, elementos próprios dessas figuras; vindo a ser a força matriz da corporeidade social de Zé Malandro, mesmo velho e de bengala. O grupo tem repertório e pesquisa suficiente nesse campo, para executar essa dança de encontro mais visceral com a brincadeira.

Assim como no cavalo Marinho, os personagens também passeiam entre o místico e o real; Zé malandro, a velha, o diabo, a morte, o santo, são figuras do imaginário nordestino. E como também tem o cantador no cavalo marinho, que costura a entrada dos brincadores; no espetáculo o grupo utiliza uma narradora, que é uma interlocutora com o público, conta a saga do Zé, canta a entrada nos personagens.
Nesse sentido, penso que todos os atores devam buscar seu brincante interior, e assim construir seu trupé pessoal, dançando, cantando, girando, brincando. Zé malandro e a narradora, já dão seus passos nessa construção. Até porque, a apresentação do espetáculo contou com a riqueza musical do mestre Ulisses Cangaia, brincante de cavalo marinho, que encheu de mais vida as peripécias de Zé Malandro, ressoando no som sertanejo e en-cantador da sua rabeca.

O Público da Praça do Diário, assistia torcendo, vibrando, rindo e brincando com a zombaria, enganação, malandragem e esperteza de Zé. Premiado com poderes místicos porque no seu caminho passou a sorte, sorte de malandro; uma velha bruxa, feiticeira, andarilha de estradas, que dotou Zé de encantos mágicos para ludibriar inimigos.

É um sujeito desses tão "malacubaco", "malassombro", sagaz, que por não ter nada foi lhe ensinado tudo. Quisera todos nós, sendo dessa natureza quem nem o diabo quer... Pois mesmo com todas as tentativas para não morrer, lutando, resistindo e existindo na vida de batalha que todos vivemos, o malandro cai, tomba, no entanto, em sua (des)indetidade ele não é bem vindo em lugar algum, e teimosamente habita todos os lugares. Zé malando nosso anti- herói, brincador de façanhas imaginárias, ganhador de todas as batalhas que nós desejosamente queríamos ganhar ao menos uma vez no cotidiano.

Olinda, 19 de dezembro de 2013.
Raquel Franco, Atriz e Palhaçada na Trupe Circuluz Cia de Artes. 

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