PRIMEIRO FÓRUM DE TEATRO DE RUA DO NÚCLEO REGIONAL DE PESQUISADORES (SP) - 29, 30 E 31 DE JULHO DE 2010
ALGUMAS DELIBERAÇÕES E SUGESTÕES PARA DISCUSSÃO COM OUTROS SEGMENTOS PARA ENCAMINHAMENTOS.
Durante três dias, o estar junto e a reflexão tiveram um significativo e prazeroso significado. Encontro com iguais e curiosos, o Primeiro Fórum de Teatro de Rua, organizado pelo Movimento de Teatro de Rua de São Paulo e pelo Núcleo Regional de Pesquisadores de Teatro de Rua (SP) conseguiu tentos absolutamente significativos. Com número de participação variando entre 50 e 100 pessoas, por período (e foram 6 períodos - excetuando-se a noite de sexta-feira, em que houve o lançamento do segundo número da revista Arte e Resistência na Rua), o evento passou por questões importantes e resolveu encaminhá-las para discussão, organização dos sujeitos inseridos e interessados no processo e encaminhamentos necessários.
De modo geral, tendo em vista a programação do evento - dividindo reflexão principalmente dialógica (muitos dos fazedores de teatro de rua participaram das cinco mesas) e outras atividades (intervenções artísticas, coletas de relatos,[1] lançamento de revista, ida a espetáculos) - a crítica ao evento foi bastante positiva.
Em 29/07, fruto das discussões, foram destacados os seguintes pontos:
- dificuldade muito maior para o grupo existir do que para produzir seus espetáculos. A dificuldade decorre, sobretudo, das distintas e sempre presentes formas de repressão.
Ação I. A primeira ação coletiva proposta a todos foi: montar uma espécie de dossiê, construído coletivamente a partir de relatos de experiências dos companheiros que já passaram por problemas com as autoridades cerceadoras. Nesses relatos, a ideia é apresentar os estratagemas de que se lançou mão para socialização das táticas de conquista àqueles que passam pelos mesmos problemas. Esta ação será centralizada por Simone Pavanelli. Alexandre Mate, conforme compromisso público fará a redação final.
- denúncia quanto às proibições de passar o chapéu ao fim do espetáculo (em São Paulo: SESCs e projeto Teatro nos Parques). No sentido de criar uma carta-documento (de protesto contra este tipo de arbítrio), o companheiro Antônio Sobreira, do grupo Rosa dos Ventos (Presidente Prudente), escreveu a carta abaixo que, em curto espaço de tempo, deverá receber acréscimos para encaminhamento às instituições que se arrogam ao direito de impor "seus pontos de vista" triturando uma significativa tradição e história. Apresenta a carta:
O Chapéu e a arte de rua
O teatro e os artistas que fazem arte de rua têm seu reconhecimento em projetos governamentais, empresas que investem em cultura. Com esse reconhecimento é comum que o teatro de rua seja recebido por instituições que antes davam mais atenção ao teatro de palco.
O teatro de rua, entretanto, tem uma importante tradição com seu público que é o "passar o chapéu" ao final da apresentação. Esta prática tradicional, cuja documentação histórica remonta ao período medieval, tem sido proibida, coibida ou evitada em alguns desses novos locais de apresentação.
O artista de rua não depende apenas dos projetos e das instituições que os contratam, mas sim da população que é o berço e companheiro de seu trabalho. Nesse sentido, ser coibida a passagem do chapéu tem uma função negativa para a educação do público no que concerne à valorizar a arte apresentada na rua.
Não é apenas uma questão de manter uma tradição por seu charme medieval, mas sim de garantir a auto sustentação da arte e manter uma relação com o público que é fundamental para o reconhecimento desses artistas de rua.
Esse ato tem caráter de defesa de um posicionamento segundo o qual a arte de rua deve viver da rua. Tomada essa posição, significa dizer que esse movimento não pretende migrar para as salas e ambientes tradicionais para as artes cênicas, mas sim, manter seus pilares em sua origem que é chegar sempre em locais que a arte dificilmente consegue chegar.
Esta carta tem o objetivo de orientar artistas e interessados em compreender que "passar o chapéu" é um ato de preservação do teatro e da arte de rua que tem como prioridade as trocas de experiência nos espaços públicos por princípios estéticos, de conteúdo artístico, político e baseados nos direitos humanos universais sobre o acesso aos bens culturais.
Diante do exposto, solicitamos o reconhecimento da legitimidade, do princípio ético e pedagógico contido no ato de passar o chapéu ou outro procedimento que peça de forma espontânea que as pessoas contribuam com a arte de rua, independente da política e de normas institucionais que restrinjam essa prática inerente ao artista de rua.
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Ação III. Criação de comissão de representação do Núcleo Regional de Pesquisadores de Teatro de Rua (SP) para administrar, encaminhar gestões, socializar informações acerca dos fazedores de teatro de rua. Nas decisões sugeridas de sábado, 31/07, no primeiro andar do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, com mais de 30 pessoas presentes, deliberou-se:
- comissão jurídica, centralizada em Romualdo Bacco e Cícero Almeida (ambos do Teatro Popular União e Olho Vivo) para gerir, sugerir, delegar e socializar encaminhamentos de natureza legal. Cabe à esta comissão a análise e divulgação de procedimentos jurídicos indicando normas, leis, pareceres, indicativos para resolução de problemas ligados aos corpus jurídicos constitucionais.
Fundamental que esta comissão possa estar afinada à OAB, ao departamento jurídico da Cooperativa Paulista de Teatro e outras instituições afins.
- comissão de imprensa, formada por Áurea Karpor (Bazar), Natália Siufi (Parlendas), Luciano Santiago (Artemanha).
- comissão de representação nacional e internacional, formada por Marcos Pavanelli (Núcleo Pavanelli), Oswaldo Pinheiro (Cia. Estável) para promover gestões junto aos poderes constituídos: audiências públicas, ida e organização de comissão para discutir com instâncias do poder municipal, estadual e federal.
- comissão de produção de vídeo, constituída pelo sempre presente Fernando Mastrocola e Rogério Ramos (Trupe Olho da Rua). Dentre as principais incumbências, foi tirada uma proposta de coleta de imagens para criação de um vídeo-denúncia de atos arbitrários contra os criadores.
Ação IV. Escrever uma carta conclamando e estimulando, nas cidades onde houver alguma articulação e artistas militantes, a criação de núcleos regionais de pesquisadores em teatro de rua.
Desse modo, a carta abaixo, escrita pela sempre presente companheira do Tá na Rua, Jussara Trindade, caracteriza-se em uma primeira proposta de conclamação. Assim, em prazo relativamente curto, algumas sugestões podem ser acrescentadas à carta para que possamos colocá-la em diferentes fontes documentais como blogs, jornais e boletins de grupos, jornais locais: cidades, universidades etc.
Para organizar as sugestões, enviar propostas para a comissão de imprensa.
Caros companheiros do Núcleo,
Nos dias 29, 30 e 31/07 tive o prazer de participar das atividades do 1º Fórum do Núcleo Regional de Pesquisadores de Teatro de Rua (SP), evento articulado à 5ª Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas, em São Paulo. Foram três dias de debates sobre vários temas de interesse para a nossa prática artística que finalizou com a constatação de que o Núcleo de Nacional de Pesquisadores torna-se, cada vez mais, um espaço de reflexão fundamental para a construção de um novo pensamento teatral no País, processo no qual o teatro de rua adquire hoje extrema importância.
Nesse sentido, somente com o esforço de pesquisadores de todos os Estados alcançaremos o patamar que almejamos - dar visibilidade e legitimidade aos saberes que sustentam o nosso fazer teatral.
Por isso, faz-se necessária a criação de Núcleos Regionais, no sentido estrito de buscarmos a união entre os pesquisadores que se encontram espalhados pelo País, a fim de fortalecermos nacionalmente as nossas convicções. Ainda que a tarefa seja difícil - em função do número reduzido de pesquisadores, em alguns Estados da Federação - talvez já seja possível congregar alguns integrantes que, a exemplo de São Paulo, estejam interessados em trocar experiências, formar grupos de estudo ou realizar outro tipo de compartilhamento permanente, não necessariamente atrelado a um evento maior.
Enfim, a experiência da criação do Núcleo Regional de Pesquisadores de Teatro de Rua (SP) mostra que esse é um caminho possível para o crescimento coletivo, onde todos podem aprender e ensinar simultaneamente.
A proposta que trago do Fórum é esta: vamos trocar ideias a respeito?
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Ação V. Criação de comissão para levantamento, organização e socialização de textos escritos para teatro de rua: tanto textos teatrais prontos como roteiros. Estão nesta comissão: Alexandre Mate (Núcleos Nacional e Regional), Aurea Karpor (Bazar), Marcelo Palmares (Pombas Urbanas), Natália Siufi (Parlendas), Patrícia Caetano (Bando La Trupe), Renata Lemes (Cia. do Miolo), Romualdo Bacco (União e Olho Vivo). Aventou-se, também, a hipótese de manter alguma gestão com entidades internacionais, a exemplo do Centro Latinoamericano de Criación e Investigación Teatral, nascido em Caracas, mas sediado atualmente em Buenos Aires e que tem um excelente banco de textos de toda a América Latina. Para quem ainda não conhece, o endereço eletrônico é www.celcit.org.ar
Ação VI. continuar o processo de estudos de grupo de pesquisas que vem se desenvolvendo desde fevereiro de 2010; criar novo grupo de pesquisa sobre o trabalho de análise crítica dos espetáculos de rua. Caso a ação se efetive ainda este ano, com os colaboradores dos espetáculos apresentados na Mostra Lino Rojas, as reflexões daí decorrentes devem ser espalhadas para o MTR.
Intervenções dos palestrantes
Como aspectos citados pelos diversos palestrantes e convidados, tivemos:
- teatro de rua precisa apropriar-se das experiências postas na/pela rua. A história do Brasil pode e deve fazer parte de sua dramaturgia, sempre em perspectiva aproximada da contemporaneidade. Clareza quanto ao que se quer falar: a rua é um espaço por excelência político. Destas considerações, é fundamental (seminal): não é possível ir para as ruas sem alguma consciência política.
- teatro de rua, muitas vezes, caracteriza-se em projeto de vida. Então, como os commedianti dell'arte devem treinar permanentemente. Nesse particular, o treinamento se caracteriza também como clarificador do conteúdo.
- prestar atenção às teses de Mikhail Bakhtin e à dramaturgia de Luís Alberto de Abreu.
- os artistas de rua devem observar os tipos características da rua: camelôs, feirantes, vendedores ambulantes, os pregadores... A transformação do lugar indistinto, que é o logradouro público, precisa transformar-se em um espaço de troca, conciliando o físico e o metafórico. Na rua, os artistas precisam assumir a rua: geográfico e poeticamente. Os espaços públicos, abandonados ou desfavoráveis à população, precisam ser retomados e ocupados com ajuda da comunidade.
- as experiências dos grupos de rua precisam pautar-se e aprimorar as relações horizontais do coletivo criador. Nesse particular, é preciso considerar os gostares e quereres de cada um.
- grupos de teatro, independentemente de serem de rua ou de outras naturezas, precisam considerar e levar em consideração a crítica. A escuta é fundamental nesse processo. Depois de o resultado estar pronto (o espetáculo) o público da rua é aliado significativo.
Relatos de participantes
Durante os três dias, em meio às discussões ou nos intervalos delas, um grupo de aproximadamente 10 belas atrizes colheram relatos dos participantes do fórum acerca de suas primeiras experiências, como espectadores de teatro de rua. Esse material será revisado pela dramaturga Daniela Rosa e por Alexandre Mate. Posteriormente, e dando continuidade ao processo de coleta de relatos, pretende-se publicar um Diário de espectadores (à semelhança dos diários dos viajantes estrangeiros).
Alexandre Mate
05/08/2010: frio de derreter os ossos!
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