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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Diário de Bordo do Vivarte


20/12/09
Renasce o dia.
Renascem os pensamentos.
Tucanos, socós, manguaris, são os mensageiros do tempo.
Renasce o tom.
Renasce a luz do dia, enquanto todos dormiam.
Às cinco da manhã seguiram com as fotografias.
Os encantos dessa manhã já dizia o que iríamos encontrar.
Os povos Kaxinawa, com tamanha força e expressão no olhar, crianças, mulheres, pousavam para fotografar.
Juliano com seu tipi na mão, peça chave do rapé, leva a proposta do Vivarte á apresentação.
Rita na rede do pajé tomava kaissuma.
Marilua em volta das meninas um retrato de solidariedade, presenteou uma delas com uma argola, que seu brinco tornou em uma amizade.
Junto com Rodolfo, Vanessa e Miguel resolveram tocar com ela, em uma das ocas. Daquele povo levamos amendoim, artesanato, expressão e muita energia conosco a caminho. Em seguida Duti, o barqueiro mostrou uma mangueira que seus frutos davam para a beira do rio, resolvemos parar, Juliano subiu no pé, como si toma rapé, rápido como o sopro do pajé, as mangas que caíram dentro do rio, num ritual sagrado, era a purificação das águas do Purus.
Elenilson Soares (kuru)- PE.
O barco corta as águas do Rio Purus. São 13h24min. Hoje acordei com o Juliano falando que tinha pegado um peixe grande. Não sei o que aconteceu. O peixe não apareceu. Fizemos café já em viagem, preparei para o café da manhã, tapioca com cenoura, o Juliano já tinha preparado cuscuz e café. Logo após o café da manhã chegamos na Aldeia Runi-kuí, ou Kaxinawa, nome dado pelo homem branco, no período do Contato com esse povo.Como não tinha peixe pescado pelo Juliano e Miguel, comemos, baião de dois, que sobrou do jantar da noite passada, com sardinha. Chegando à Aldeia tomamos kaissuma preparada com milho, estava uma delícia, o morador da Aldeia, Senhor Bristo, pediu que eu deitasse, na rede, que quando chegamos o mesmo estava deitado. mi deitei e fiquei muito a vontade, senti-me em casa,com tamanha hospitalidade. Enquanto saboreava aquela deliciosa kaissuma, Juliano, Rodolfo, Vanessa, Miguel, Kuru, tomavam rapé, junto com Bristo. Logo as mulheres da aldeia se aproximaram de mim, e começaram a pega no meu vestido. Uma das mulheres a de mais idade pediu que eu desse o meu vestido pra ela. Eu fiquei sem jeito, disse-lhe que eu tinha trazido somente aquele, e que em outra oportunidade eu traria um vestido pra ela. Outra adolescente de olhos negros, rosto lindo, cabelos liso, caindo sobre os ombros, pediu-me a presilha que estava segurando os meus cabelos. Há olhei nos olhos, comecei a arrumar os cabelos dela, e coloquei a presilha que estava nos meus cabelos.
Bristo colocou uma espécie do koka na minha cabeça, fazendo mi sente bem mais a vontade. Perguntei-lhe se ele vendia o koka, ele disse que venderia por vinte reais. Durante essa vivência, ele disse que poderíamos trocar por algum alimento que tivéssemos a bordo do barco, oferecemos-lhes, bolachas depois eles pediram mais mantimentos, desci no barranco, para pegar juntamente com as duas índias, e as crianças nos acompanharam até o barco. Como tinha um saco de bombos que Rodolfo teria trazido na bagagem para consumirmos em viagem, comecei a distribuir bombons pras crianças, mais elas juntamente com as mulheres adultas também avançaram sobre o pacote de bombons retirando das minhas mãos. Fiquei imaginando como foi à questão do escambo com o contato com várias nações no período da Colonização no Brasil e no resto da Amazônia.
Ao retornarmos ao barco, decidimos toma banho de Rio, ali mesmo onde o barco estava ancorado. E seguimos viagem, durante o percurso o Grupo passou um ensaio do Espetáculo O Casamento da Filha de Mapinguari.
O Capitão do Barco, senhor Duti ancorou o barco que nos conduziríamos à casa de um ribeirinho. Não descemos do barco. Juliano, Miguel, Vanessa e Lua começaram a pescar na esperança que algum peixe mordesse a isca de carne de veado adquirido na aldeia. Logo eles pegaram três, mandi e três pintados e um peixe cachorro pulou no barco.
Durante a pesca, o mungunzá de milho com leite de coco e leite condensado ficou pronto. Era à hora do jantar.
As lamparinas improvisadas por mi com uma lata de leite vazia e o vidro de leite de coco consumido no jantar, se transformaram na iluminação desta noite. Observamos que com as lamparinas as carapanãs, que é o tormento de que viaja de barco nos rios da Amazônia, não nos perturbaram tanto.
Juliano faz mais uma rodada de rapé e prepara para tomarmos o chá de cipó preparado pelo Claudio e o Caniço na mata. De resto não da mais pra falar. Só vivenciando esses momentos. Com certeza todos os integrantes do Grupo Experimental de Teatro Vivarte, que participam dessa turnê que estavam presente nessa noite tem sua história particular para contar.
Eu fico por aqui.
Maria Rita
21/12/09
Acordamos 6h da manha e partimos as 6:30h, o capitão Duti e seu timoneiro José ligaram os motores e lá vamos nós . Quarto dia viajando o Rio Purus, com uma paisagem e cultura que muito nos fascina. Eu e Juliano cuidamos do café da manha enquanto a galera dormia. Cardápio do café, cuscuz e tapioca. Depois de todos acordando trocamos vivencias artísticas, e criamos, aproveitando a fonte de inspiração, que é a natureza, mata para os dois lados do rio, e quando chega a noite um céu de estrelas tão lindo que se reflete no rio.
Todo seguia viajem dentro de um barquinho que mede 1metro e 80 de largura, com 10 passageiros, todos juntos aprendendo uns com os outros a conviver com as diferenças. Passamos por diversas aldeias Kaxinawas, mas não paramos devido o tempo que temos para a realização do projeto, e na volta iremos apresentar em duas aldeias uma dos Kaxinawas e outra dos Kulinas.
E no entardecer passamos o espetáculo O Casamento da filha de Mapinguari, mas apenas musicas e falas do espetáculo. Depois cada um voltou para seus afazeres artísticos, ansiosos pela chegada em Santa Rosa do Purus, lembrando que o acesso a essa cidade é apenas pelo rio ou de avião teco-teco.
Chegado à noite um espetáculo da natureza em nossa frente, botos atrás de peixes, peixes pulando pelo rio, a dança de andorinhas que dançam no vento ao rebojo da água. E sons da mata, corujas.
E Miguel fez uma macarrão para o jantar e Juliano e Lua foram pescar. Lua conseguiu pescar um pintado grande, mas com medo de colocar para dentro do barco o peixe pegou a isca dela e voltou para o rio. Os dois conseguiram pescar 2 pintados e 2 mandis.
Quando mais navegamos mais vimos a necessidade de acesso a arte para esses povos afastados, valorizando a beleza que tem a cultura deles .
Bem e foi isso, Boa noite!
Assinado: Mirini
Fotos: Elenilson (mais fotos: http://www.blogdovivarte.blogspot.com/)
22/12/09
Depois do susto que todos nós levamos ao perceber o barco solto no rio, terminou tudo bem. Graças a Deus o barco só havia voltado uns 300 metros e após 10 minutos navegando avistamos o lugar onde atracamos pela 1° vez e descobrimos o motivo. O rio havia subido e o ferro firmado na areia onde o barco foi amarrado não agüentou o rebojo e soltou, assim a correnteza levou o barco.
Seguimos subindo o rio e após algumas horas paramos em uma praia para tomarmos banho, já na próxima curva do rio chegamos ao porto de Santa Rosa. Logo Rita foi encontrar o prefeito, enquanto nós ficamos esperando no barco. Quando ela voltou ficamos sabendo que iríamos ficar no hotel do Roque, então levamos nossas bagagens. Fomos levados para almoçar, voltamos para o hotel e ficamos a descansar o resto da tarde. Reencontramos-nos para jantar e ara levar a janta do Duti, que preferiu ficar no barco.
Passamos o texto com as marcações e as músicas na varandinha do hotel, onde também fizemos o cronograma das atividades para a oficina do dia seguinte.
Tudo pronto, tudo acertado, cada um foi se agasalhar em seus aposentos. Confesso que demorei a dormir, pois com cinco dias de barco, eu ainda balançava.
Vanessa Oliveira
Conversando com diversos indígenas, principalmente Runi-kuin (Gente verdadeira), percebemos os problemas relacionados à política, um deles falou que a maioria da população de Santa Rosa é indígena, mas por não terem conhecimento da política do "branco" sempre ficaram nas mãos dos governantes "brancos "ou Nawas como chamam, que por eles pouco fazem, quando começaram a se organizar na política os "brancos" corrompiam os parentes com dinheiro, gasolina ou cargos que dava apenas nome, mas na hora do orçamento desviavam os recursos para outros fins.
Hoje, eles estão em busca de uma união para conseguir espaço na política, já que são maioria, não sei até que ponto isso é bom, mas bom mesmo foi conhecer jovens Runi-kuin em busca de conhecimento e com sua simplicidade abrirem portas e fortalecer seu povo. Os evangélicos fizeram um estrago cultural em uma parte das aldeias, mas tem jovens e velhos dispostos a resistir em seus costumes e cultura, tomando rapé, cipó, mantendo seu ritual e suas brincadeiras, espiritualidade e quando eles encontram Nawas que gostam da cultura isso os anima e fortalece.
Esta viagem tem sido também um laço enorme que faz com que além de um grupo de teatro apresentando nas cidades e aldeias, nós nos transformamos em um grupo com metas fortes junto a esses povos (Runi-kuin e Madeha), para juntos aprendermos, respeitando uns aos outros, em nossas diferenças e nos fortalecendo em nossa cultura, sabendo o valor de cada um para lutarmos juntos pelos nossos direitos e raízes, pois estamos no mesmo cipó, seguindo as guias e desatando os nós, mesmo voltando para Rio Branco, vamos ter no coração a força guerreira destes povos e juntos lutaremos construindo um novo viver.
Juliano Espinhos
Fotos Elenilson Soares (Kuru) – PE
23/12/09
Acordamos com o objetivo de mandar todos os relatórios pendentes, principalmente para pessoal da RBTR, que está firme nos acompanhando nessa jornada. Valeu pessoal!
Tomamos café da manhã e fomos realizar nossas obrigações, ver alguns emails pessoais e matar um pouco a saudade que nos aperta.
Voltamos para nossos quartos para nos organizarmos, almoçamos no restaurante Frigideira, onde fiquei de cara, pois em plena Amazônia, desde Manoel Urbano, os restaurantes e qualquer lugar que chegamos não têm suco de fruta, ou é artificial ou uma Coca-Cola bem geladinha.
Seguir para dar a oficina no Centro de Cultura e Florestania. Chamamos quatro índios residentes de Santa Rosa que estavam na frente do hotel onde estamos hospedados pra nos acompanhar na oficina que não deu muito certo, pois a divulgação que a prefeitura deveria fazer furou conosco, não apareceu ninguém, não desistimos, fomos para uma escola que tinha um pátio grande logo em frente de onde tínhamos marcado. Demos a oficina para os quatro que estavam lá. Foi super bacana, exercício de foco, de concentração, brincadeiras com músicas, uma roda de ciranda, coco e maracatu.
Passamos um cortejo e logo saímos na rua, os indiozinhos tinham ido embora pros seus afazeres, divulgamos o espetáculo até o centro, essa foi muito boa, muita gente na rua, uns com sorrisos, alguns espantados, outros desconfiados, as crianças correndo, outras chorando, enfim, são varias as emoções quando nos deparamos o desconhecido.
O espetáculo será amanhã dia 24 às 17h, na praça se não chover, se chover, num galpão no centro ou na escola onde demos a oficina.
Agora descansamos cada um no seu quartinho, hibernando, até nossa hora de jantar, passar o tempo com um dominó ou até mesmo exportar o vem em nossas cabeças.
Marilua Azevedo
Fotografias Elenilson Soares (Kuru) – PE
24/12/09
Iniciamos o dias as 8:00 da manha, distribuímos as funções. Lua foi enviar os relatórios enquanto Dani e Rita foram na secretaria de educação de Santa Rosa, e Juliano, Rodolfo e Kuru foram na radio cipó da cidade.
Na secretaria de educação ouvimos as dificuldade do ensino da Arte nas comunidades rurais de Santa Rosa e como é a educação para as aldeias indígenas já que 80% da população é indígena, como se da o processo da educação nestas aldeias, respeitando a cultura indígena.
Depois percorremos um pouco a cidade em busca dos ingredientes para ceia de natal, já a cidade não dispunha de legumes e verduras, apenas o que encontramos foi tomate o Kilo era R$ 4,00 reais.
As 14h horas reunimos fomos verificar o espaço da rua onde iríamos apresentar, em que lugar da praça, e de onde iríamos iniciar o cortejo. Depois de analisado o espaço, fomos nos concentrar e repassarmos o texto, e novas marcações para o espetáculo.
A apresentação estava marcada para iniciar as 17 h mais devido o tempo ter fechado atrasamos 30 minutos O tempo começou a abrir com dois lindos arco-íris , começamos a organizar o material , instrumentos e adereços tudo no seu lugar.Vestido o figurino pegamos os instrumentos e saímos em cortejo pelas ruas de Santa Rosa.
"Eis , que o apito faz figura.
Mais alto que um realejo.
Seu som alcança lonjura ressoa como um festejo.
Povo responde a altura.
Começa assim o cortejo."
Fechamos a roda e começamos o espetáculo. Erramos, improvisamos e acertamos. O espetáculo foi bem dinâmico, os bichos fizeram sucesso, Tucano com sua frescura, Bicho Folharal com sua paz e amor, Jaraguá com sua irreverência, macaco com o seu popular, Tamanduá com sua malandragem, Lua Nova a filha do mito e Mapinguari o Protetor da floresta.
Encerramos o espetáculo, muitas fotos com as crianças, muitos abraços e muitos olhos brilhantes de felicidade, quem via teatro pela primeira vez. Maria Rosa Kaxinawa veio nos cumprimentar falando de sua emoção ao assistir, teatro pela primeira vez.
Véspera de Natal, fomos convidados pelo secretario de educação para ceia de Natal junto a sua família as 21h, aceitamos. Mais mesmo assim preparamos a nossa ceia de Natal, Miguel o Italiano fez a macarronada e Kuru, Dani e Vanessa preparamos o bolo de chocolate. Comemos e bebemos e depois da meia-noite cada um foi se retirando para dormir, pois o dia seguinte vai ser corrido, carregar o barco com o material e novamente partirmos para apresentarmos ainda em duas aldeias.

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