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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

CURIOSIDADES DO EVENTO ARTE PÚBLICA UMA POLÍTICA EM CONSTRUÇÃO

A Mala do Palhaço

Quem me narrou este fato foi o palhaço Café da Silva Pequeno, que neste dia estava usando sua identidade secreta de Richard Riguetti e que aconteceu no Largo do Machado, onde a curadoria está sendo exercida pelo Grupo Off-Sina.
É bom sempre esclarecer que o palhaço não é um personagem, mas sim uma entidade que quando se manifesta revela as contradições da vida humana e urbana de onde convive, com humor, amor e poesia.
Um bom palhaço que se preze não dispensa sua caixa de ferramentas preferidas: a sua mala. A mala de um palhaço é sagrada, um relicário, o seu baú do tesouro onde se encontram seus truques não escondidos.
A mala do palhaço traz toda sua bagagem de vida, histórias e pesquisas. Pesquisa sim, pois ao contrário do que se pensa, para ganhar o seu nariz e se tornar um palhaço, tem que estudar e se dedicar muito.
Por isso a importância da mala do palhaço na sua vida. Pois bem: o café pequeno contou que o Palhaço Tok Tok, que está de passagem pelo Rio, se encantou com a riqueza poética de uma Boneca nossa muito conhecida. A nossa querida Boneca de Piche Lilica. Assistir a apresentação da Boneca e da sua inseparável parceira Fernanda (uma não se apresenta sem a outra, nessa hora não se desgrudam), mexeu com o lado mais humano do palhaço... sua criança, seu erê. Sabendo que no dia 29 de Janeiro, a Boneca Lilica, que já é uma verdadeira estrela pública dos espaços abertos, iria aniversariar dez anos de vida, não titubeou: queria dar um presente para a Lilica.
Tinha mais: não poderia ser um presente qualquer, não! Tinha que ser especial! Mas qual? Qual seria o presente ideal para uma artista pública e de rua como a Lilica.
Tok Tok pensou, pensou... Torrava sua cabeça: Perfume? Não! Chaveiro? Não! Flores? Não, todo mundo dá flores em aniversário. Um retrato seu autografado e moldurado? Também não. Foi ai que uma lâmpada acendeu sobre sua cabeça: a sua mala, a mala do palhaço.
Mas... A mala do palhaço é seu instrumento de trabalho, seu ganha pão. Será? Será que ele conseguiria se desfazer do seu bem mais precioso, seu companheiro de histórias e estradas?
Angustiado, sem dormir, o palhaço Tok Tok ligou para sua esposa. Peço permissão para poetizar esse momento, dando uma certa dramaticidade no texto.
Tok Tok, sem dormir, liga para sua esposa, que se encontrava dormindo. Sonolenta, a paciente mulher escutou toda a narrativa do seu inquieto marido. A mulher de um palhaço é uma santa, pois conhece cada sentimento do seu marido e sabe como ninguém como falar com ele.
Disse ela: "Meu filho, acompanhe o seu coração, peça conselhos a ele. Com certeza ele saberá responder suas angustias. E dá próxima vez, dá para esperar amanhecer?" E desligou!
Tok Tok ficou com o fone na mão, pensativo.
Largo do machado, dia 29, Lilica comemora seus 10 anos de rua, com bolo, velinhas e parabéns. Tok Tok estava elegantemente vestido como Tok Tok e foi cumprimentar a aniversariante:
- Lilica, tenho um presente para você!
- É? E o que é?
- Aqui... – e Lilica recebeu das mãos do palhaço sua mala.
Lilica não se conteve de tão contente. Uma mala, uma mala de palhaço. Ela agora podia criar mais coisas para enriquecer o seu trabalho.
Tok Tok podia até achar que ficaria triste, mas não, o seu peito se encheu de alegria, pois sua mala agora iria compartilhar novos sentimentos, se encher de novas memórias e gastar sola de sapato por outras estradas, acompanhando uma companheira andarilha das ruas.

Herculano Dias

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