Em 1980
surgiu um grupo formado por atores e atrizes que se lançaram nos espaços
abertos em busca de uma linguagem teatral popular e horizontal. Não estavam
satisfeitos com os caminhos tomados pelo Teatro até ali convencional. Romperam
com a caixa fechada e se lançaram nas ruas com sua trouxa, seu tambor e sua
bandeira, cortejando pelas avenidas como uma nova proposta para a população
ainda prisioneira da Ditadura. Assim nasceu o Tá Na Rua. Foram anos pesquisando
para então poderem dizer que eram uma família, onde cada membro tinha sua
identidade.
Uma dos
membros da família era Lucy Mafra, a mulher que rodopia, grita e cai. Quando ela
se apresentava o mestre de cerimônias perguntava: Porque ela grita? Porque ela
rodopia? Porque ela cai? A sua forma explosiva, sua rodada violenta
impressionava a platéia, que impactada, respondia e revelava as questões e
dificuldades do povo naqueles anos de ferro. Ela grita e cai por causa do
aumento do leite? Por causado desemprego? Ou porque ela está doente e não
consegue ser atendida? O número apresentado por Lucy era um entre outros
apresentados pela Família Tá Na Rua, que revelava toda uma situação vivenciada
pela sociedade e uma atuação com a qual a platéia se identificava, pois tinha a
ver com seus cotidianos.
O Tá Na Rua
completou este ano 34 anos de existência e tudo teve seu inicio com estes
atores que não tiveram medo de se despir das suas ideologias e vestir os trapos
da fantasia. A linguagem que a atual geração do grupo herdou deve muito aos
seus fundadores, entre eles, Lucy Mafra. Nós os chamamos de dinossauros, um
apelido carinhoso e que de certo modo tem a haver com os primórdios do grupo,
onde cada um, quando se manifestava, ficava do tamanho dos repteis colossais.
No dia 04 de
Dezembro, a mulher não rodopiou, não gritou, mais caiu. Sua saia não mais vai
girar... Não nesta dimensão. Nesse
momento imagino que seu espírito esteja dormindo e sendo cuidado pelos médicos
do plano astral. Assim que acordar e estiver melhor, vai vestir a melhor saia e
se encaminhar para o Circo Etéreo, onde, segundo se fala, os artistas que
partiram desse mundo se encontram e se apresentam. Sua energia pura irradia
esperança e paz para tranqüilizar as almas errantes e inquietas e amenizar as
energias violentas da terra. Lá, será recebida por membros do grupo que também
já partiram e então o Tá Na Rua, que leva esperança e alegria, também estará se
manifestando no Circo Etéreo, pois conta com um time poderoso.
Mais uma vez
Lucy poderá representar a mulher que rodopia, grita e cai, desta vez tendo a
companhia de Serginho Luz, o rapaz que salta, salta alto, salta por cima da
trouxa, solta entre as nuvens; de Marcele, que estará dançando como nunca – “Ana Maria Entrou na Roda” – e tendo
como parceiro Antônio Firmino, o negro
de sorriso fácil e força nos pés. Todos embalados pelo som do DJ das Emoções
Baratas, Roberto Black.
Tá Na Rua, Tá Na Praça,
Tá No Etéreo.
Evoê, Atótó, Ogunhê,
Namasté, Amén
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