Mais uma sexta, mais um dia em que a
Praça se movimenta, se ilumina. O som que sai das caixas ecoa devagar pelo ar,
anunciando que estamos chegando, no tempo do amor, amor esse anunciado pelo
brincante que dança, embalado pelo som das quatro estações de Vivaldi, vestido
com seu maio azul, calça vermelha e mascara de palhaço, passeia pela praça,
dança com os moradores, com a menina que ele ergue no ar, que abre os braços
para o mundo e se sente uma bailarina do mundo, livre, bailarina livre sem
sapatilha, sem a prisão das sapatilhas, assim como o senhor que dá a mão e pede
“me guia na dança, sou muito cego, mas estou adorando dançar...”, e o brincante
o guia para se soltar no meio da praça. O brincante dança e abre o espaço para
a chegada de Karol e Vilson, desbravadores do subúrbio, guias que resgatam a
memória e conversam com as pessoas para valorizarem o seu bairro, escutar sua
história, conhecer suas ruas e sua arquitetura.
Guiadas Urbanas para entender o
urbano subúrbio, de tradição, de cultura, de personalidades que ali nasceram,
cresceram e se aventuraram pelo universo do país.
Trabalho bonito, dedicado,
apaixonado, que só pode ser realizado por quem tem paixão pelo que faz, acredita.
E eles chegaram puxando uma comitiva de moradores, de gente que viu a
possibilidade e a beleza do bairro de Marechal Hermes. Com o microfone aberto,
Dona Ana, filha de portugueses, pega o microfone e solta a voz “ pois
precisamos muito disso. O bairro precisa de mais ações como essa. Sou moradora
do bairro há mais de 45 anos e é muito bom conhecer jovens, pessoas dispostas a
mudar o bucólico do praça. Estão de parabéns!”.
Estas palavras fortes foram o
suficiente para arrastar para o centro Ligeiro, que com seus tambores e seus
parceiros para fazer uma roda, uma roda de samba de raiz da raiz, um resgate
dos sons primeiros do terreiro das senzalas, dos primeiros ocupantes dos
morros.
Ele conta a história e teoriza na prática, no
canto e no tambor. E não é Ligeiro no nome a toa, é ligeiro no passo, na
harmonia, na ginga do malandro que corteja a dama, dama que entra e entra no
gingado da dança de roda, do samba primordial de roda.
Cada um que entra passa pelo tambor e
pede sua licença para entrar e dançar. E entram com vontade, com graça. A roda
vai enchendo, as pessoas se encantam e entram, quem queria entrar e é bem
recebido, orientado, libertado, pois a dança liberta mente e corpo. E foi com
essa alegria, começando com o clássico público dos grandes compositores e
terminando com os grandes tambores e compositores públicos das rodas de raiz.
Um bom dia com uma boa noite!
Herculano Dias
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