Adailtom Alves Teixeira[2]
O filme Queimada (1969), do diretor italiano
Gillo Pontercorvo (1919-2006), continua sendo significativo para aqueles que têm
um olhar classista, até porque as sociedades contemporâneas continuam divididas
em classes. Se o mundo todo é capitalista, trabalho e capital continuam
inconciliáveis. A abordagem principal no filme em tela é sobre a questão do
colonialismo e os problemas daí gerados, mas se pode discutir por outros pontos
de vistas, como, por exemplo, as dificuldades dos processos emancipatórios,
revoluções no terceiro mundo, cinema engajado e sobre golpe de Estado. É claro
que no filme nada disso é dissociado ou estanque, estão unidos pela discussão
principal que é o processo de desenvolvimento capitalista. A abordagem que
realizei após sua exibição no Grupo de Psicologia Analítica, em 28 de junho,
foi pautada em Golpe de Estado, pois tinha como objetivo fazer uma ponte/diálogo
com a realidade brasileira de 2016.
O filme Queimada é de 1969, auge da Guerra Fria,
mas também da Guerra do Vietnã e da ressaca da rebeldia estudantil na França,
do movimento de afirmação dos negros nos Estados Unidos, portanto, momento bastante
favorável à discussão do colonialismo. No Brasil, como vivíamos sob o signo da
ditadura civil-militar, o filme foi censurado e só liberado em 1980. Em relação
à discussão proposta, ao longo da história vemos ocorrer dois golpes de Estado,
daí a possibilidade de discussão por essa ótica.
Vamos à sinopse do
filme:
Com vaga inspiração na guerra de
independência do Haiti, o filme Queimada se inicia com a chegada do explorador
britânico Walker (Marlon Brando) a uma ilha
imaginária, nas Caraíbas, dominada por Portugal. Sua missão é estimular uma
insurreição de escravizados para expulsar os portugueses e abrir caminho para a
Inglaterra apossar-se da ilha e de suas plantations,
fazendas produtoras de cana-de-açúcar. O líder local, Santiago, é preso e
executado. Há então que se criar uma nova liderança. José Dolores (Evaristo Márquez), que vive de biscates, tem vários predicados
para isso. A estratégia é prepará-lo, fazê-lo liderar a revolta e, depois,
desmoralizá-lo, acusando-o de traição, para que os capitalistas ingleses possam
“garantir a paz” em troca da riqueza da produção de açúcar.[3] (Mais aqui.)
O diretor Gillo Pontercorvo,
reconhecido por sua abordagem anticolonialista também em outros filmes, afirmou
em entrevista de 2003: “A
dominação colonial mudou muito em sua forma exterior, mas não em sua essência.
Sua forma moderna é a democracia imperial americana”. E nesse sentido nossa discussão foi acerca dos
interesses por trás de um golpe de Estado. Se a análise do diretor estiver
correta, e pensando nossa realidade atual, o quê ou quais seriam os interesses
dos grandes capitalistas ou do império nos dias de hoje? Por que um golpe branco
e não mais com armas, como o que ocorreu em maio desse ano?
Marx, em O 18 Brumário, afirma que os grandes
fatos são encenados duas vezes, “a primeira vez como tragédia, a segunda como
farsa” (2012, p. 25). É também esse autor que nos apresentou a ideia de que
todas as lutas são lutas entre as classes sociais, condicionadas pelo
desenvolvimento econômico, pelo modo de produção e pelo intercâmbio (troca) desse
modo de produção. Herbert Marcuse, no prólogo da citada obra, afirma que direitos
como liberdade e igualdade, conquistados pela burguesia, juntamente com os
trabalhadores, contra o feudalismo e discutida no parlamento tornou-se passado
e esse lugar (parlamento) focou no interesse apenas da burguesia e não da
sociedade em geral. Sem discutir ainda qualquer problema relacionado à
representatividade, aqui já podemos apresentar um primeiro vínculo com nossa
realidade, afinal quem tem uma bancada BBB (Boi, Bala, Bíblia), não pode
esperar muito daí. Mas é o próprio Marx que também afirma que os homens [e
mulheres] fazem a própria história, mas de acordo com as circunstâncias na qual
estão inseridos. Que o parlamento não representa ou pouco representa os
interesses dos trabalhadores está claro, por isso mesmo não devemos nos enganar
com relação aos interesses em pauta na interrupção democrática burguesa.
Voltando ao filme. A
personagem de Willie Walker vai à ilha a serviço de sua majestade com objetivo
de preparar um líder, pois a ideia de escravidão já não serve a nova etapa do
capitalismo. É necessário mão de obra livre, assalariada e, claro, novos mercados.
A ilha, que é de domínio Português, é a possibilidade de vermos as disputas
imperiais. O líder que seria preparado ou ajudado por Walker é morto no início
do filme, ele acha que pode ter perdido a viagem. Ele precisa de alguém que não
tenha nada a perder, mas, sobretudo, que tenha coragem. Ali, entre os escravos,
ninguém tem nada a perder, mas e coragem? A personagem de José Dolores é
apresentada como a mais serviçal: um carregador de malas, mas ao ser testado
revela sua coragem ao enfrentamento de um branco. Eis o homem que procurava
Walker.
Aqui vemos a mudança de
um capitalismo primitivo para um capitalismo concorrencial, mas para tanto é
necessário realizar um golpe de Estado. José Dolores, é preparado como líder de
seu povo; em paralelo são costurados os acordos com a elite branca. Em um
diálogo magistral a mudança do capitalismo nos é apresentado: afinal o que
custa mais uma esposa ou uma “mulatinha” (prostituta)? Sendo que Walker coloca
a esposa como o escravo – mercadoria que precisa ser cuidado – e a “mulatinha”
(mão-de-obra livre) como o novo trabalhador. Não entremos na discussão sobre os
males da escravidão, mas tão somente apreendemos a questão das diferenças entre
um trabalhador compulsório (que requer um proprietário e cuidados) e outro em
que se contrata apenas sua força de trabalho por algumas horas, sem
responsabilidade sobre suas vidas.
O líder popular
acredita que vai tomar o poder; já a elite (burguesia) entra em disputa entre
aqueles que querem mudanças por ser mais vantajoso e aqueles que precisam ser
derrotados por quererem manter seus privilégios. Assim vem o primeiro golpe de
Estado. No carnaval o golpe chega travestido de emancipação para os negros, que
em seguida se dão conta que não poderão governar, que foram usados para
interesses que não são os seus. Claro que a porteira da luta emancipatória
também foi aberta, afinal é um filme dialético que mostra as contradições da
ação: não se pode fazer um líder impunemente e depois descartá-lo. A
consciência de que a liberdade ninguém lhe dá, mas se conquista, foi percebida
por José Dolores. Esse líder do povo negro da ilha percebe que a civilização
pertence ao homem branco e por isso se ver impedido de governar. Um diálogo com
o presente e os ministros de Michel Temer? Ainda não é caso.
Walker cumpriu sua
missão e retorna à Inglaterra. Dez anos se passa e ele é chamado novamente para
resolver os conflitos na ilha, causados por José Dolores, que agora é um líder revolucionário.
Dessa vez não mais representa sua majestade, mas sim a companhia de açúcar que
tem os direitos de exploração daquele lugar por cem anos. Existe aqui, no
entender da personagem Walker, o fim de um período histórico. Em fala afirma
que 10 anos, ao representar um período histórico, muitas são as contradições
que podem aparecer. Contradições que podem representar um século inteiro. Bem,
dialogando com o hoje poderíamos afirmar que a era PT ou Lula/Dilma, se
esgotou, bateu no teto. Ou como afirmou Bresser Pereira: O PT inventou um capitalismo sem lucro. Logo algo precisou ser feito. Mudanças devem ocorrer. Os empresários, parceiros
na chegada ao poder, caíram fora e querem mudanças.
No filme um novo golpe
é dado, pois aqueles que chegaram ao poder não resolveram os problemas, assim o
presidente Sanchez – que havia chegado ao poder com ajuda de Willie Walker no
primeiro golpe – é retirado do poder para que não atrapalhe a companhia de açúcar.
Nada está acima dos interesses econômicos. A ilha será queimada, inclusive toda
a plantação de açúcar, para que o líder que se rebela sobre as condições dos
negros seja pego. O objetivo é tentar desmoralizar o líder, pois sua morte o
tornará um mito, muito mais perigoso do que vivo. Se será morto ou não, não
direi, para não estragar a surpresa daqueles que ainda não assistiram.
A Ilha de Queimada,
esse pequeno Estado, passa por dois golpes. E aqui cabe uma pequena discussão
sobre o Estado moderno, que é essencialmente capitalista, ou seja, em
organizações anteriores isso não ocorreu. Alysson Leandro Mascaro explica: “Se
alguém chamar por Estado o domínio antigo, estará tratando do mando político
direto das classes econômicas exploradoras. No capitalismo, no entanto, abre-se
a separação entre o domínio econômico e o domínio político. O burguês não é
necessariamente o agente estatal” (2014, p. 17).
Se lembrarmos do
diálogo sobre a esposa e a amante/prostituta citado acima, isto é, sobre
mão-de-obra escrava e livre, pode-se entender melhor que antes do capitalismo o
controle da vida social é direto e mais simplificado, existe unidade entre o
político e o econômico; já no capitalismo, a instância estatal ao se apartar,
facilita a reprodução do sistema. O Estado vai garantir a mercadoria, a
propriedade privada e os vínculos jurídicos entre capital e trabalho. Daí o
sujeito de direito, por exemplo. Em outros termos:
No capitalismo, a apreensão do
produto da força de trabalho e dos trabalhadores não é mais feita a partir de
uma posse bruta ou da violência física. Há uma intermediação universal das
mercadorias, garantida não por cada burguês, mas por uma instância apartada de
todos eles. O Estado, assim, se revela como um aparato necessário à reprodução
capitalista, assegurando a troca das mercadorias e a própria exploração da
força de trabalho sob forma assalariada” (MASCARO, 2014, p. 18).
Os
sujeitos de direitos (burgueses e trabalhadores) ligados por vínculos
jurídicos, ditas na forma de “vontades”, em um mesmo regime político e mesmo
território, uma comunidade imaginária: a pátria nação. Mas as interações não
são mais diretas, ainda que tudo (mercadorias) e todos (trabalhadores) entrem
no processo de troca por meio de vínculos contratuais. É aí que a mercadoria
equivalente, o dinheiro, ganha força: “Para que o dinheiro assuma a
universalidade de equivalência nas generalizações é preciso que se constitua um
espaço de garantia de tal universalidade para além dos específicos produtores e
possuidores de mercadorias. Tal espaço [...] é o Estado” (MASCARO, 2014, p.
23).
A
soberania de um Estado, por exemplo, é uma espécie de protocolo jurídico de
reconhecimento de uma autonomia política por outros Estados. Se lembrarmos do
filme, a constatação por parte de José Dolores de que a civilização é branca ou
se pensarmos em nossa realidade, o apoio à Presidenta Dilma por parte de algumas
instituições de uns poucos Estados governados por forças progressistas, fica a
constatação. O que assegura a autonomia, de fato, é o poder econômico e militar.
E dentro dessa perspectiva não há um modelo padrão de Estado.
Não há um conjunto institucional “padrão”
para a forma política estatal. É um engano, por exemplo, associar
estruturalmente capitalismo a Estado democrático de direito. Se a
forma-mercadoria demanda uma forma política estatal, esta pode se consolidar em
instituições estatais democráticas, conforme um tipo específico de arranjo das
classes no capitalismo. Mas também pode haver graves crises na reprodução do
capital, exigindo, contra a democracia, arranjos políticos ditatoriais ou mesmo
fascistas” (MASCARO, 2014, p. 32-3).
Nada
está acima dos interesses econômicos e se houve o fim de um período histórico,
ou se abre um período revolucionário ou há rearranjo por parte do capitalismo.
Se, no caso brasileiro houve um esgotamento e a classe trabalhadora não acumulou
forças suficientes para o enfrentamento, o que veio foi o golpe. O Estado é
disputável, mas sua estrutura, como deixa claro Mascaro (2014), é capitalista.
Por isso que, do ponto de vista da classe trabalhadora, sua estrutura em uma
revolução é tão somente para evitar que a classe derrotada retome o poder.
Claro que a ideia está simplificada, mas serve ao nosso objetivo em demonstrar
que o Estado por si mesmo não serve a todos, como a ideologia dominante dissemina.
Isso
posto, fica claro que o momento que vivemos foi uma resposta a um esgotamento
de um projeto político: o Projeto Democrático Popular, representado aqui pela
era PT (Lula/Dilma). Esse projeto ou essa
era se encaixa também no que Francisco de Oliveira chamou de “Hegemonia às
avessas” (2007). Em dois textos curtos, o citado e “O avesso do avesso” (2009),
o autor faz uma análise do governo Lula no Brasil e de Nelson Mandela na África
do Sul. Passemos a eles.
No
primeiro texto Oliveira afirma que a política partidária se tornou irrelevante,
a prova é a sopa de letrinhas que se juntam em coligações e coalizões nos
momentos eleitorais e após as eleições. Já em 2007 o autor apresentava um
ceticismo em relação ao segundo mandato de Lula, já que este não tem “inimigos
de classe”. A população também parecia sentir o mesmo, já que somando aqueles
que não compareceram às urnas, brancos e nulos somaram 31% dos eleitores. Dessa
forma, o autor entende que “a política não passa pelo conflito de classes”. Por
isso ele vai discutir a ideia de uma hegemonia às avessas, típica da
globalização e anunciada na África do Sul de Mandela. A ideia é que a classe
dominada assuma a “direção moral”, enquanto a dominação burguesa segue
descarada e impiedosa.
As classes dominadas [...]
derrotaram o apartheid [...]. E, no
entanto, o governo sul-africano oriundo da queda do apartheid rendeu-se ao neoliberalismo. As favelas de Johannesburgo
não deixam lugar a dúvida. Assim, a liquidação do apartheid mantém o mito da capacidade popular para vencer seu
temível adversário, enquanto legitima a desenfreada exploração pelo capitalismo
mais impiedoso” (OLIVEIRA, 2011, p. 24).
Oliveira
ver algo parecido no Brasil com Lula. Após chegar ao poder foi criado o Bolsa
Família, uma espécie de derrota do apartheid.
Além disso, eleger Lula foi como se tivéssemos vencido o preconceito de classe e
destruído as barreiras da desigualdade. Mas, no seu entender, Lula despolitizou
a questão da pobreza e da desigualdade. Já no primeiro mandado houve uma grande
cooptação das lideranças dos movimentos sociais e dos sindicalistas e toda
crítica passou a ser vista como uma crítica de direita, mas o autor deixa claro
que quem se aliou com Sarney, Jarder Barbalho e outros não foram os críticos,
mas a gestão de Lula. Para o segundo
mandato, o autor previa que se houvesse aumento no Bolsa Família (e teve), a
hegemonia às avessas se completaria, estando à testa do Estado os dominados:
Nos termos de Marx e Engels, da
equação “força + consentimento” que forma a hegemonia desaparece o elemento “força.
E o consentimento se transforma em seu averso: não são mais os dominados que
consentem em sua própria exploração; são os dominantes – os capitalistas e o
capital, explicite-se – que consentem em ser politicamente conduzidos pelos dominados,
com a condição de que a “direção moral” não questione a forma da exploração
capitalista (OLIVEIRA, 2011, p.27).
Assim,
hegemonia às avessas são todos os regimes políticos com intenção de
participação popular, mas que praticam o avesso do voto recebido nas urnas.
Aliás, diga-se de passagem que a participação popular foi uma marca da era PT,
mas, assim como o botão do elevador que é programado e está lá para funcionar à
sua maneira e a seu tempo, com o tempo, o mesmo ocorreu com os espaços de
participação popular nas gestões Lula/Dilma. (Cf. MARICATO, 2012 – Para discussão no âmbito da cultura
ver aqui.).
Para deixar claro de como a
exploração correu solta mesmo nos momentos de maior crescimento, numa espécie
de vanguarda do atraso, Oliveira demonstra com alguns dados. O crescimento foi
feito à base de exportação de commodities
e ao retorno do Brasil à sua vocação agrícola. Assim, mesmo em um país de
famintos, no tornamos o maior exportador mundial de carne bovina, bem como de
minérios de ferro. O autor não deixa dúvida de que o que diminuiu foi a pobreza
absoluta, mas não a desigualdade:
[...]
o simples dado do pagamento do serviço da dívida interna, em torno de 200
bilhões de reais por ano, contra os modestíssimos 10 bilhões a 15 bilhões do
Bolsa Família, não necessita de muita especulação teórica para a conclusão de
que a desigualdade vem aumentando” (OLIVEIRA, 2011, p. 374).
Além disso, não passa de 15 mil
contribuintes aqueles que se beneficiam dos serviços da dívida. Por isso, mesmo
tendo votado em Lula, Oliveira não poupa críticas a essas gestões: “Se FHC
destruiu os músculos do Estado para implementar o projeto privatista, Lula
destrói os músculos da sociedade, que já não se opõe às medidas de
desregulamentação” (2011, p. 375). Para o autor a classe dominante se tornou uma
gangue, as notícias diárias comprovam e o peso do assalto é suavizado quando
chega ao Supremo Tribunal de Justiça. “O capitalismo globalitário avassala
todas as instituições, rompe todos os limites, dispensa a democracia” (2001, p.
376) e o pior é que não temos nem forças para enfrentar, porque a classe
trabalhadora foi fragmentada, lideranças cooptadas.
Como no filme, estamos vivendo o fim de um período histórico,
necessitamos de um novo projeto classista, precisamos reavaliar e aprender com
os erros e não podemos ter ilusão com relação ao Estado e suas instituições,
que servem, como sempre serviram à classe dominante, se ele pode e deve ser
disputado, não cabe ter ilusões sobre sua estrutura. Por fim, mais uma vez fica
claro que alianças de classes só impedem de ver o inimigo com clareza, nunca
deu certo em nenhum lugar do mundo e não daria por aqui, isso porque os
interesses são antagônicos e inconciliáveis. Se no filme Queimada vemos golpes serem aplicados para o continuo processo de
desenvolvimento capitalista, no Brasil de 2016 o mesmo ocorre por esgotamento
de um projeto político, que apostou na governabilidade, mas que já não consegue
agradar mais à classe dominante devido a queda dos lucros. O PT não morreu, mas
seu projeto se esgotou; talvez a classe trabalhadora desperte para a construção
de um novo projeto, de um novo ou outros partidos, ou padecerá sob o jugo de
uma gangue sem escrúpulos; e claro, a classe trabalhadora está organizada
também em outros partidos, mas sobretudo, está desorganizada e a esquerda ainda
não deu a devida importância à disputa da subjetividade e com a mídia que temos
fica muito mais difícil e filmes como o de Pontecorvo são cada vez mais raros.
O horizonte é tenebroso, mas é preciso continuar o caminhar e seguir aprendendo
com os tombos, como no poema de Iasi, Pedagogia
das quedas:
Há
aqueles que caem e não se levantam,
passam
a fazer parte da terra
deitam-se,
minerais, entre pedras e raízes
e
dormem o sono dos ausentes.
Mas
há aqueles que quando caem
buscam
no solo fértil energias,
buscam
as raízes, reencontram as sementes,
abraçam
o planeta e bebem dos rios.
Nunca
estão sós,
nem
mesmo no vazio da noite e da espera,
pois
lhe encontram multidões de mãos companheiras
de
todos os sonhos aprisionados
de
toda fome não saciada
de
toda terra não repartida
de
toda fúria contida
de
todo futuro adiado
Há
aqueles que quando caem não se levantam,
mas
há aqueles que se levantam ainda mais fortes,
mais
forte que as derrotas,
mais
forte que as vitórias vazias,
mas
forte que toda a força
que
a aurora em vão adia (2011, p. 183).
Bibliografia citada
IASI,
Mauro Luis. Meta amor fases: coletânea
de poemas. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
MARICATO,
Ermínia. O impasse da política urbana no
Brasil. 2ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
MARX,
Karl. O 18 Brumário de Luis Bonaparte.
Trad.: Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2012.
MASCARO,
Alysson Leandro. Estado e forma política.
São Paulo: Boitempo, 2014.
OLIVEIRA,
Francisco. Hegemonia às Avessas. In: OLIVEIRA, Francisco; BRAGA, Ruy; RIZEK,
Cibele (Orgs.). Hegemonia às avessas: economia,
política e cultura na era da servidão financeira. São Paulo: Boitempo, 2011.
(Col. Estado de Sítio)
_____.
O avesso do avesso. In: OLIVEIRA, Francisco; BRAGA, Ruy; RIZEK, Cibele (Orgs.).
Hegemonia às avessas: economia,
política e cultura na era da servidão financeira. São Paulo: Boitempo, 2011.
(Col. Estado de Sítio)
[1]
Texto escrito a partir do debate realizado no Grupo de Psicologia Analítica
(GPA) no auditório dos Correios em Porto Velho/RO no dia 28/06/16, após a
exibição do filme Queimada.
[2]
Professor do Curso Licenciatura em Teatro/UNIR; graduado em História e mestre
em Artes pela UNESP.
[3] Disponível
em: http://racabrasil.uol.com.br/colunistas/sinopse-do-filme-queimada-com-marlon-brando/2760/.
Consultado em: 10/07/2016.
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