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sexta-feira, 7 de abril de 2017

Agitprop: cultura política

ESTEVAM, Douglas; COSTA, Iná Camargo; BÔAS, Rafael Villas (Orgs.). Agitprop: cultura política.
Adailtom Alves Teixeira[1]

São Paulo: Expressão Popular, 2015, 197 p.
Palavras-chave: Agitprop; teatro; história; trabalhadores
Keywords: agitprop; theater; history; workers

O livro Agitprop: cultura política, organizado por Douglas Estevam, Iná Camargo Costa e Rafael Villas Bôas, lançado em dezembro de 2015 pela editora Expressão Popular, é um alento e uma oportunidade para conhecermos um pouco mais sobre o teatro criado pelos trabalhadores da Alemanha e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) na primeira metade do século XX.
Fruto de pesquisa e traduções de uma equipe de militantes, o livro é dividido em quatro partes, tomando como base o livro francês Le Théâtre d`agit-prop de 1917 à 1932, este dividido em diversos tomos. Como o acesso ao francês é restrito, o trabalho vem suprir uma lacuna importante, afinal, com sua leitura, fica claro que desconhecemos por completo a produção do teatro classista, isto é, o teatro que se engajou na luta de classe alemã e na Revolução Russa.
Três textos de pesquisadores franceses dão conta dos aspectos teóricos da produção agitpropista, cobrindo as fases históricas pelas quais passou essa produção –   caso do capítulo de Jean-Pierre Morel, que aborda desde o início, durante a guerra civil, até o desmonte dessa forma teatral sob domínio stalinista. Além disso, apresenta ainda a relação dos vanguardistas, como Maiakovsky, Meyerhold, entre outros, com os trabalhadores da agitação e propaganda. O segundo texto, de Christine Hamon, aborda as formas dramatúrgicas e cênicas do teatro de agitprop na Rússia; já o terceiro, de Bernard Lupi, foca na produção alemã, tanto em seus aspectos históricos, seu desenvolvimento, bem como sua construção cênica e dramatúrgica.
Outra parte do livro foca na experiência de um dos principais coletivos de agitação da URSS, o Blusa Azul. O coletivo, que atuava principalmente em Moscou, mas tinha braços por toda Rússia, com apenas cinco anos de existência já tinha atingido mais sete milhões de espectadores. O grupo surgiu como jornal vivo, atravessou toda a década de 1920 e foi modificando seu repertório ao longo do tempo. Além dos espetáculos, produziu também um periódico em que publicava os melhores esquetes e as indicações para futuras encenações.
Na última parte do livro são apresentados justamente quatro esquetes do coletivo Blusa Azul, fruto da publicação de seu periódico. Os esquetes abordam questões do imperialismo internacional do período, aspectos relacionados à saúde dos trabalhadores e o problema do trabalho doméstico, isto é, da importância da igualdade entre homens e mulheres. Além das indicações para encenação, os esquetes vem enriquecidos com notas de pé de página, situando o leitor historicamente em relação às personagens reais abordadas.
Na primeira parte do livro, a produção agitpropista brasileira é discutida. Iná Camargo Costa apresenta os antecedentes teóricos e a rápida experiência do Centro Popular de Cultura, que durou de 1962 a 1º de abril de 1964, quando a sede da União Nacional dos Estudantes foi metralhada pela ditadura civil-militar. Muitos dos envolvidos na criação e produção do CPC abandonaram aquela forma de produção, alguns, inclusive a negaram. Por isso, Costa destaca o nome de Augusto Boal, como um dos poucos que persistiram e ampliaram sua pesquisa, sendo hoje reconhecido internacionalmente. Em certa medida, é justamente com o apoio de Boal que a produção agitpropista vai renascer no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, já na virada do milênio. A experiência é narrada por Miguel Enrique Stédile e Rafael Villas Bôas no capitulo “Agitação e propaganda no MST”.
Para completar um pouco dessa nossa história sobre o teatro de agitação e propaganda, pode ser lido também o livro organizado pro Fernando Peixoto O melhor teatro do CPC da UNE, publicado pela Global (1989) e o livro de Miliandre Garcia Do teatro militante à música engajada, da Fundação Perseu Abramo (2007).
A pouca produção acerca do assunto por si só, já demonstra a importância do livro Agitprop: cultura política, desejando que a equipe continue a traduzir para que novos volumes venham a público e possamos conhecer um pouco mais da história cultural dos trabalhadores, pois só assim poderemos ensinar ou repicar essas experiências, seja em nível acadêmico, seja pelas lutas diárias que travamos.




[1] Professor do Curso Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Rondônia; mestre em Artes pela Universidade Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (2012); membro do grupo de pesquisa PAKY`OP – Laboratório de Pesquisa em Teatro e Transculturalidade.

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