Os tempos atuais são chamados por muitos de pós-moderno, hipermodernidade ou supermodernidade, como afirmou o antropólogo Marc Augé. Para este autor vivemos um excesso de ego, "o indivíduo quer um mundo para ser um mundo", isso nos distancia da coletividade. Entendo que o teatro tem um pouco esse papel: ligar-nos ao coletivo, para tanto é preciso irmos em busca do público, experimentar novos ou velhos espaços, como a rua, como disse o poeta "é preciso ir onde o povo está", é preciso dialogar.
Desde 2002 o Buraco d`Oráculo atua em São Miguel Paulista e vem buscando ampliar o seu raio de ação, sempre querendo dialogar com mais e mais pessoas. De 2005 a 2007 realizamos o projeto Circular Cohab`s, passando por dezoito comunidades e atingimos um público de mais de trinta mil pessoas, nos anos seguintes voltamos a algumas dessas comunidades, mas, por contingências da vida, não conseguimos mais voltar a todas elas. Ao término de cada espetáculo sempre nos perguntavam quando retornaríamos e nunca sabíamos responder. Por isso mesmo temos diminuído o nosso raio de ação, para que possamos atender parte desse público que estão tão distantes dos equipamentos e dos bens culturais.
Em 2008 retornamos a seis dessas comunidades para coletarmos histórias de vida e saber como esses cidadãos chegaram até ali, queríamos saber também como foi o desenvolvimento do lugar. Ouvimos os moradores mais velhos, sempre em volta de uma mesa com um café da tarde. Histórias de luta, de alegria e de sofrimento de um povo aguerrido, que resultou em nosso último espetáculo "Ser Tão Ser – narrativas da outra margem", que apresentamos primeiramente nessas mesmas comunidades.
Quando fomos para estes lugares, sentimos, por parte de "colegas" da área, um certo preconceito. Mas queríamos e continuamos querendo apenas dialogar de igual para igual com o público e a rua revelou-se o melhor lugar para isso, pois o ator está no mesmo nível que seu público. O direito de ambos se manifestarem é igual.
Quando li o primeiro número de No Trecho percebemos que enfrentaram também problemas dessa ordem, nos identificamos e nos solidarizamos. O que mais importa é que, errando ou acertando, ambos os grupos continuam a realizarem seus trabalhos, buscando criar ilhas de comunicação em tempos de diálogos truncados.
Por Adailtom Alves – licenciado em história e ator do Buraco d`Oráculo
Texto escrito originalmente para a Revista No Trecho, do grupo Teatro do Trecho de São Paulo.
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