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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ação cultural sim, fabricação não!

Por Adailtom Alves

No Brasil não temos ações culturais verdadeiras em nenhuma instância governamental, isso porque cultura não é prioritário no nosso país. Existem uns poucos programas públicos espalhados por algumas unidades federativas e alguns municípios, conquistados graças à organização e a luta da classe artística. Temos também ações educativas e fabricações de cultura. Tentarei ilustrar, do meu ponto de vista, o que são ações culturais ações educativas e cultura estatal ou fabricação de cultura.

Ação cultural é quando o estado fomenta, dar possibilidades para o artista criar, não sabendo e nem interferindo no processo. O estado confia ao artista o seu verdadeiro papel: o de criador. Os fazedores decidirão os meios artísticos e técnicos, não financeiros, de conduzir o processo, visando um fim. Neste processo também não cabe ao estado determinar qual e como será o fim. Cabe ao artista criador demarcar o seu trajeto, sempre com olhar crítico sobre o seu trabalho e a sociedade. O foco em uma ação cultural é o indivíduo, não um “produto”, mesmo que dessa ação sejam gerados “produtos”, como obras de arte. O indivíduo, o cidadão, o ser humano e, enfim, a sociedade é que será beneficiada com a ação cultural, sendo os programas públicos os meios, os artistas canais e os cidadãos o fim.

Na fabricação de cultura, o estado muitas vezes oferece condições materiais para a realização da arte, entretanto, dita as regras, interferindo no processo e dizendo o que espera de resultados. E mesmo quando não determina, só cria condições àqueles que os representa em suas obras. Ou seja, quem está na máquina estatal cria condições mais diz o que é e como deve ser a cultura.

Na ação educativa, o estado não fomenta, não cria condições e passa a dizer o que entende por cultura sob a égide de que “é preciso capacitar” ou do falso discurso de “é preciso que todos tenham acesso”, inventa-se um monte de oficinas e os professores das artes em geral, passam a representar a estrutura estatal e os que estão no poder e, em nome dos mesmos, passam a dizer o que é cultura. O acesso é falso, pois o artista não tem as reais condições de criar sua arte e desenvolver sua poética e fica a mercê do estado não podendo produzir e ainda joga centenas no mercado – que não existe – com o discurso da inclusão. A ação educativa PODE e DEVE fazer parte da ação cultural, mas não pode ser um fim em si.

Concluindo é preciso tratar a cultura como algo sério e criar políticas de estado sérias que darão condições para o verdadeiro desenvolvimento cultural; sabendo que o retorno de uma ação cultural será lento, mas muito vantajoso para qualquer sociedade.


Publicado originalmente em 09/01/2006 no blog: http://adailtonalves.zip.net 

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