A arte que se coloca na rua, em geral, faz do transeunte um
apreciador de obras. No caso do teatro, os artistas que se colocam nesse espaço
precisam apreender seus códigos, sob pena de serem devorados, engolidos, como costuma
falar seus praticantes. Nesse sentido, o aquecimento de público ou aquecimento
da roda é um dos pontos mais importantes. Dessa forma, os momentos que
antecedem o espetáculo é primordial, sobretudo aqueles em que a participação do
público se faz necessária.
Nesse quesito o coletivo Circo Teatro Rosa dos Ventos, de
Presidente Prudente, são muito experientes. Dentro de um esquema do morde e
assopra, isto é, um palhaço rebaixa e outro desfaz a brincadeira com o público
e entre si. Fazem da rua o quintal de casa ou mesmo a sala de estar, na qual o
público vai ficando mais que a vontade, vai se sentindo pertencente àquele
universo. A saber: ao mundo do circo.
Osasco, calçadão, em frente ao shopping center, na região
central. Fim de tarde, pouco mais de cinco horas. Intenso movimento de pessoas
em um ir e vir constante, seja na direção das compras ou retornando às suas
casas após o trabalho e se deparam com o circo montado. Na verdade, uma simples
empanada, uma pequena lona no chão em forma de picadeiro, o espaço da banda.
Pronto. O circo está montado.
Calcado em reprises e esquetes cômicas o espetáculo agrada
adultos e crianças. A diferença entre reprise e esquete, é que a reprise,
tradicionalmente faz piada de um número sério apresentado no circo. Foram duas as
reprises apresentadas pelo Rosas dos Ventos: a do número de facas, que encerra
o espetáculo, no qual público e artistas se cumpliciam na realização do mesmo,
e da levitação com bancos. As reprises/entradas são as também tradicionais do
cumprimento e do malabarismo.
Cabe ainda dois destaques do espetáculo: o multi-instrumentista
Nicochina (Robson Toma) que impressiona pelo trabalho, ao criar e executar toda
a música e os sons incidentais ao vivo. O artista cria, arranja e executa, tocando
bateria, guitarra, teclado e outros instrumentos (alguns inventados por ele).
Sem dúvida o espetáculo tem um grande ganho com sua presença.
Outro destaque é a utilização da estética do grotesco
presente no corpo dos palhaços (baixo corporal) e na utilização de duplos
sentidos. O grotesco é fundamental na comicidade popular e, apesar de ter sido
o primeiro espetáculo criado pelo grupo (2001), o coletivo de palhaços aplica muito
bem essa estética. Não se sabe se foram aperfeiçoando ou já nasceu com essa
força grotesca. A verborragia, tão comum no palhaço brasileiro, também está
presente, sobretudo nos sentidos dúbios.
A apresentação de Hoje
tem espetáculo!!! ocorreu em Osasco dia 02 de abril, dentro do Projeto Rosa
dos Ventos 15 Anos, contemplado pelo ProAC, da Secretaria de Cultura do Estado
e contou com a parceria local do Teatro dos Ventos e da Secretaria Municipal de
Cultura de Osasco. O projeto contemplará ao todo, com a circulação do espetáculo, 10 cidades do estado de São Paulo. As próximas apresentações ocorrerão no
dia 10 (Santos) e 12 de abril (Ribeirão Preto). Quem tiver a oportunidade,
acompanhe, pois a gargalhada estará garantida. Afinal, mais de 400 pessoas se divertiram na tarde do dia 02 de abril na cidade de Osasco.
Por fim, cabe registrar que o espetáculo é uma criação coletiva dos artistas Fernando
Ávila, Gabriel Mungo, Luís Valente, Robson Toma e Tiago Munhoz, todos integrantes do Circo Teatro Rosa dos Ventos.
[1]
Mestre em Artes pelo IA/UNESP; professor de teatro da Universidade Federal de
Rondônia; ator, diretor e pesquisador de teatro de rua.
2 comentários:
MUITO BOM GRANDE LUÍS E EQUIPE PARABÉNS PELO SUCESSO, ESTAMOS ESPERANDO VOCÊS AQUI NO PARANÁ!!!!!!!!!
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