Não nos peçam respostas pros nós que vocês criaram. Estamos aqui, em assembleia, com
perguntas, com questões. Estamos em assembleia. O que está aí não serve. O que estava não
servia. O que está pra vir é assustador. Não temos medo. Estamos em assembleia. Temos
nossa luta e nossos trabalhos em resistência. Temos trabalho de base. Temos formação de
quadro. Temos criação de linguagem. Organizamos nossas comunidades. Organizamos
mostras, festivais, encontros. Fazemos cortejos, atos, ações, manifestações, ocupações.
Estamos em assembleia. Sabemos qual é nosso lado e ele é o da classe trabalhadora que já
nem se reconhece mais. Mas estamos na história e a história é cruel, é crua, ela não tem
vácuo. A classe existe e é explorada. Golpe. Golpe. Golpe. Golpe. Golpe. Como falar de UM
golpe para os que são golpeados há séculos, todos os dias. Lutaremos contra cada um deles.
Teatro de rua. Presente. Cultura popular. Presente. Indígenas. Presente. Movimentos sociais.
Presente. Trabalhadores. Presente. Mulheres. Presente. Negros. Presente. Somos tantas.
Somos enormes. E já criamos nosso formigueiro. Pode parecer invisível mas nós já medimos
as forças e somos mais fortes porque as nossas(os) não lutam por dinheiro. Porque nós
somos golpeados juntos e resistimos juntos. Que bom ouvir berros, ouvir brados, ouvir
nãos! Ouvir não mais. Não mais em nosso nome. Se não pode se vestir com nossos sonhos,
não fale em nosso nome. Não mais fazer casas pra que os ricos morem. Não mais fazer o pão
que o explorador come. Não mais em nosso nome. É hora de dar nome aos bois. Levantar a
cabeça acima da boiada. Porque são tempos de tudo ou nada. ESTUDAR. REFLETIR.
CRÍTICA. CRÍTICA DIALÉTICA. PRÁTICA. Silêncios. Pausas. Engasgos. Choros. Ressaca.
Enjoo. Lama. Sangue. Assassinatos. Prisões. Repressão. Cortes. Mortes. Estamos tão
pessimistas que ficamos otimistas. Tempos diferentes se erguem. E queremos estar do lado
dos nossos. Perdendo, errando, tentando, existindo na alegria de ainda de querer-ser-humano.
Voltamos pras nossas aldeias, cheios. Preenchidas de nós! Salve quebrada nossa.
Salve periferia. Salve marginais. Salve Rede Brasileira de Teatro de Rua. Assembleia. Reunir.
Ouvir todas. Assembleia reunir. Ouvir todos. Senhoras e Senhores. Prestem bem atenção!
Enquanto não nos deixarem sonhar, não deixaremos vocês dormirem em paz.
CAMPO GRANDE. MATO GROSSO DO SUL. JUNHO DE 2016.
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