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sábado, 28 de março de 2009

O Riso Bergsoniano*

Por Adailtom Alves Teixeira - Mestre em Artes e Historiador; ator e diretor teatral

Antes risos que prantos descrever, Sendo certo que rir é próprio do homem. 
François Rabelais 

Bérgson no seu tratado sobre o riso, investiga os processos da comicidade, tendo como objeto de estudo a comédia, a farsa e a arte do bufão. O autor deixa claro que o homem é um animal que ri e que faz rir ao apresentar-se como espetáculo ao outro. Portanto, “não há comicidade fora do que é propriamente humano.” Sendo que o processo do riso dar-se pela mecanização.

O riso é cruel e “destina-se à inteligência pura.” Sendo assim, “o maior inimigo do riso é a emoção.” Para se rir, deve haver distanciamento, não pode haver envolvimento emocional. Ao mesmo tempo, o riso necessita de eco, isto é, necessita de grupo, quanto maior a quantidade de pessoas, maior o riso. A comicidade será desencadeada pela insociabilidade (mecanização) do personagem e a insensibilidade do espectador. Estão dadas as condições de produção do riso.

Mas, por que rimos? Como se produz o riso? Para Bérgson o risível advém de “certa rigidez mecânica onde deveria haver maleabilidade atenta e a flexibilidade viva de uma pessoa.” Essa rigidez pode manifestar-se através de atitudes, gestos e movimentos ou através de uma falha de caráter, um vício etc., ou seja, “sempre que uma pessoa nos dê a impressão de ser uma coisa,” (o mecânico calcado no vivo), sempre que houver um desvio, haverá comicidade. “O personagem cômico é um tipo” e os efeitos que levam ao riso são atingidos de diversas maneiras: a) bola de neve – os acontecimentos vão numa crescente; b) repetição – um mesmo acontecimento pode ocorrer diversas vezes, seja com o mesmo personagem ou com outros; c) inversão – consiste em uma armadilha preparada para outro e o próprio autor da armadilha acaba por cair nela; d) a interferência das séries ou o qüiproquó – “uma situação que apresenta ao mesmo tempo dois sentidos diferentes, um simplesmente possível: o que os atores lhe atribuem, e o outro real: o que o público lhe dá.”

E para que nos serve o riso? Segundo Bérgson o riso tem uma função, uma significação social, que é castigar os costumes. O riso “obriga-nos a cuidar imediatamente de parecer o que deveríamos ser, o que um dia acabaremos por ser verdadeiramente. O riso tem por função precisamente reprimir as tendências separatistas. O seu papel é corrigir a rigidez convertendo-a em maleabilidade, reajustar cada um a todos, enfim, abrandar as angulosidades.” Sendo assim, “nada desarma como o riso” – por isso mesmo é tão perseguido nos períodos ditatoriais. Por fim, fica claro que é através do riso que nos revelamos e demonstramos quão humano somos.

FONTE E CITAÇÕES:
BERGSON, Henri. O Riso: ensaio sobre a significação do cômico. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983.

 *Publicado originalmente em A Gargalhada, nº 02, Maio/Junho de 2006, p. 02 e revisado em 28/03/2009, para publicação nesse blog.

Um comentário:

Adilson Barbosa disse...

Parabéns pelo ensaio. Gostaria de dizer que li sua obra e "Le rire" de Bergson, pois estou calcando minha dissertação de Mestrado sobre o riso e seus desencadeadores, tanto na vida quanto na arte, posto que esta imita a primeira.