PROJETO CHAPÉU DE PALHA: A INTERIORIZAÇÃO DO TEATRO POPULAR NA BAHIA
(por Marcos Cristiano - 2011)
Idealizado pela atriz Jurema Penna e mantido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, no período de 1983 a 2006, considerado pioneiro na interiorização da cultura no estado e que utilizava como estratégia de ação o teatro popular como instrumento para, além de resgatar culturas populares em vias de desaparecimento, reciclar e fortalecer as manifestações vigentes, também estimular o surgimento de multiplicadores e grupos de teatro, esses eram os objetivos do PROJETO CHAPÉU DE PALHA, que foi desarticulado no ano de 2007, sob a gestão de Márcio Meirelles, que também tentou matar o nosso grandioso Ballet do Teatro Castro Alves, que atualmente está em turnê pela Bélgica, muito bem, obrigado...
Corria o ano de 1986, e, no interior, tivemos a oportunidade de ter, pela primeira vez, o contato direto com uma profusão de técnicas cênicas, através das 10 oficinas oferecidas pelo Projeto Chapéu de Palha, no transcurso do III SEMINÁRIO REGIONAL, realizado em Itabuna, sul da Bahia. A nossa vontade era participar das dez oficinas disponibilizadas, afinal tudo era novidade para os interioranos, pois nomes como do Professor Ewald Hackler, Jurema Penna, Jesus Vivas, Nilson Mendes, Lúcia Mascarenhas, Haydil Linhares e tantos outros ícones do teatro baiano faziam parte do elenco de facilitadores, oportunidade única para beber conhecimentos e ter um contato mais profundo com as técnicas cênicas. Por isso que consideramos o marco inicial da nossa trajetória profissional, a partir daquele evento, pois foram aquelas três oficinas (Cenografia, Produção de Textos e Produção Cultural) que tomou corpo a nossa decisão de estudar o teatro de uma maneira científica.
Importante registrar que a realização do III Seminário na cidade de Itabuna foi patrocinada pela prefeitura municipal como parte das ações culturais implementadas, assim como a contratação de Mário Gusmão, como Dinamizador Cultural, que desencadeou uma efervescência cultural na cidade provocando o surgimento de vários grupos culturais, entre eles o Grupo Em Cena (do qual fazíamos parte e cujos integrantes - Jackson Costa, Carlos Betão, Alba Cristina e Mark Wilson - foram aglutinados durante as oficinas do III Seminário Regional do Projeto Chapéu de Palha).
Talvez a importância que se atribui a uma proposta de ação cultural como a desencadeada pelo Projeto Chapéu de Palha, deve-se ao seu caráter "fomentador", pois ao analisarmos o surgimento de grupos ou artistas de teatro popular de rua, observamos que a problemática é sempre a mesma, ou seja, a falta de espaço adequado para realizar ensaios ou apresentações e também a carência de recursos operacionais para viabilizarem as suas produções, notadamente nas cidades do interior, as pessoas não dispõem da mínima infra-estrutura para o feitio do teatro, como também não encontram fontes teóricas que atendam às suas necessidades técnicas, mesmo assim, de maneira intuitiva, realizam montagens em escolas, igrejas, clubes e praças, por isso a relevância de um projeto como o chapéu de palha, principalmente pelo embasamento teórico dos facilitadores, que ofereciam aos participantes a oportunidade do contato com uma práxis teatral diferenciada de tudo que já tínhamos até então, o que tornava a vivência muito rica e, em alguns casos, o acionador da trajetória acadêmica, como foi o nosso caso, em particular.
Isto posto, não poderíamos seguir adiante sem reportarmo-nos ao nosso caminho profissional, vez que foi justamente a nossa participação, primeiro como aluno, depois como técnico do projeto chapéu de palha, que possibilitou o processo de observação das deficiências dos elementos constitutivos do teatro em cada um daqueles municípios onde ministramos oficinas de teatro e constatamos "in loco"que a principal dificuldade da clientela (notadamente os diretores teatrais) era justamente horizontes teóricos, levando-se em conta que na maioria dos municípios baianos na há bibliotecas, o que aumenta a problemática. Por isso no ano de 1994 o lançamento da cartilha "Teatro de Rua – Técnicas e Estratégias"de nossa autoria (edição esgotada), apesar de abordar os elementos constitutivos do teatro de rua de maneira superficial já contemplava parte das carências do interior, no entanto, após concluirmos a graduação na Escola de Teatro da UFBA, ampliamos aquela cartilha, através de compilação de conteúdos adquiridos ao longo do nosso curso de teatro, o que redundou na edição, no ano de 2005, publicado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, do "Manual Básico para o Teatro de Rua" (edição esgotada), que tem apresentação da Dra. Eliene Benício, foi pensado de maneira a coligir num único volume o repertório de técnicas e estratégias para o teatro de rua, voltadas para atender aos anseios de quem quer fazer teatro, mas não sabe por onde começar. Existem tantas cidades nessas condições, onde a maior problemática é o entendimento de que cultura é o melhor remédio para a cidadania e contra a violência contemporânea.
O Projeto Chapéu de Palha com a sua filosofia popular proporcionavam-nos situações que exigiam soluções imediatas para problemas práticos, afinal essa dinâmica determinava que os técnicos (facilitadores) do "Chapéu de Palha" sempre resolvessem a mais complexa equação teatral, afinal foi por esse viés que Jurema Penna idealizou as linhas gerais daquela ação cultural pioneira no processo de interiorização da cultura no estado da Bahia.
Talvez por isso, ao longo das suas três décadas de existência, o Projeto Chapéu de Palha conseguiu disseminar a semente do teatro popular pelas cinco regiões do estado da Bahia, atingido cerca de 120 cidades (25% dos municípios baianos), fortalecendo a cultura local, cujo processo acontecia num período de 22 dias distribuídos em aulas de expressão corporal e vocal, pesquisa e construção do texto (de forma coletiva), ensaios e, no vigésimo segundo (e último) dia acontecia uma aula pública em forma de espetáculo.
Salvador-BA., 25 de Novembro de 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário