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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Artes Pública no Rio de Janeiro AMIR HADDAD

Este projeto de lei traz em si o reconhecimento que existe  um sentimento publico de produção artística, que é anterior ao conceito de arte privada conforme nós  a conhecemos, e que novamente se manifesta.

A este  movimento podemos chamar de "Arte Pública", um conceito ainda muito novo e ao mesmo tempo muito antigo. Uma arte que se faz e se produz para todos, sem distinção de classe ou nenhuma outra forma de discriminação, podendo ocupar todo e qualquer espaço, e com plena função social de organizar o mundo, ainda que por instantes, fazendo renascer na população a esperança. Um direito de todo e qualquer cidadão.

 Toda arte e todo artista traz dentro de si o sonho da Utopia, mesmo que sua proposta seja "distopica",  negue a Utopia e adquira um sentido cínico diante do mundo e da vida.

No momento em que a civilização cristã ocidental, através da burguesia capitalista protestante estabelece que tudo tem valor e pode valer dinheiro. E  tudo que é dado também pode e deve  ser vendido, há  uma mudança violenta no sentido e na função da arte. No momento em que eu vou vender a minha arte, ao produzi-la, meu sentimento do mundo mudou. Apesar de acreditar em meus sonhos, tenho de me adaptar a realidade. Meus sentimentos,  que ontem eram os sentimentos do mundo, agora passam a ser absolutamente privatizados  e de interesse restrito, dependendo da fatia do  mercado que quero atingir.

Van Gogh jamais conseguiu vender suas obras, morreu pobre. Não pintava para vender, mas para se  conhecer  e organizar o mundo a sua volta. Depois de sua morte seus quadros chegam a valer 100 Milhões de dólares!!.

Michelangelo fez suas pinturas e esculturas para que todos delas tirassem proveito.  Toda a cristandade!!, Não o artista.

Nós não podemos vender o que de melhor temos para dar. Apesar disso, vendemos, mas apesar disso permanece intacta a natureza pública da arte. Sofrem os artistas.

O livre exercício da atividade artística como Arte Pública, tem seus reflexos e conseqüências imediatas na vida pública, independente de teatros fechados, galeria, exposições e mesmo museus, que são espaços públicos para a contemplação e fruição de obras de artes. Seu lugar é o espaço aberto, as ruas e as praças, conforme  reconhece o projeto.

A arte pública se realiza no contato direto do artista ou de sua obra com a população, sem distinção de nenhuma espécie. Neste sentido o teatro de Rua é a modalidade  que  mais se aproxima de um conceito antigo e moderno  do que pode ser a Arte Pública.
Ancestralidade e contemporaneidade.


Se dirige a todos, não escolhe nem seleciona  seu público e traz benefícios imediatos para a vida social e o convívio urbano.

Apesar disso é considerado a mais pobre, mais incipiente e a menos   "artística" das atividades culturais, pois é vista e julgada pelos olhos  das artes privadas e seu conjunto de conquistas.

Na escala de produção artística, segundo o olhar privatizado das elites e do poder público (Estado privado), o  Teatro de Rua vem em último lugar, e até depois do último. Às vezes, sua existência  é até contestada pela "alta cultura" da burguesia privatizadora.

E será assim, sempre que for comparado com a manifestação das artes privadas. Fica o Teatro de Rua maltratado por todos, por ter os pés feios, como o cisne que se confundia com os patos. 

Restabelecer o conceito de Arte Pública e enxergar o  Teatro de Rua como uma de suas formas mais instigantes é devolver a esta forma de expressão artística e social sua condição de cisne reinante nas águas da vida pública.


Reconhecer a existência de uma Arte Pública, em oposição a uma Arte Privada, que com ela convive,  é sair na frente na construção do futuro no momento mesmo em que o presente se apresenta sem esperanças...

 "O futuro só acontece no presente" diziam os gregos. 

Contemplando as Artes públicas e estabelecendo Políticas Públicas para o seu desenvolvimento estaremos  confirmando o futuro no presente.

A Utopia se constrói. 

Interferindo na questão com Políticas Públicas para as Artes Públicas o Estado estará colaborando com o anseio humano de equilíbrio nas relações que se estabelecem entre o público e o privado.  E novas possibilidades artísticas poderão nascer desta nova relação.

A Arte Pública não é  e não pode ser produção do Poder Público. Não é! Mas, cabe ao Poder Público reconhecer sua existência e importância. E,   como faz com as Artes Privadas,   criar para elas Políticas Publicas de estimulo e amparo.


A aprovação do projeto, sendo um reconhecimento do conceito de Arte Pública nele contido, fará com que todo  o país que atua em espaços públicos,  possa pensar sua atividade de maneira diferente, com auto-estima e cidadania. O Rio de Janeiro sai na frente. O Rio de Janeiro é uma cidade pronta para isto. E tudo de acordo com a lei, com  o desejo dos homens e da Constituição. Que é disto que se trata. Direito e responsabilidades.

Amir Haddad 

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