“A arte não pode ser calada”
Se
quem cala consente
Quem
fala? Quem sente?
Se
cala quem consente
E consente
porque cala.
Somos
calad@s sem consentimento
Mas
sentimento não se cala,
É
sentido
Não
falar não faz sentido.
Não
consentimos que nos calem à força.
Não
estamos sós, somos voz!
A
fala que controla
Amordaça
quem não fala,
Mente
à gente. Cala mentes;
Controla
o que se fala.
É
preciso calar quem sempre
dominou
o poder da fala,
Pois
só falam os que têm poder.
Nosso
poder está em deixar gritar quem nunca pôde falar.
Falas
de Poder.
Poder
falar
E
falar não:
Poder
falar de calar o poder.
Quem
sempre falou, agora tem que escutar!
Pelo
fim da censura e da perseguição de povos indígenas, negr@s, LGBTTs, mulheres, religiões de matrizes africanas, d@s
artistas de rua e trabalhador@s da Cultura, população em situação de rua,
campones@s e sem terras, refugiad@s, ambulantes, periféric@s e tod@s @s oprimid@s.
Que
as Margens não se calem e não se deixem ser caladas.
O
XXI encontro da RBTR foi realizado em Parelheiros do dia 08 a 11 de Dezembro,
na resistência e solidariedade. A princípio deveria acontecer em Osasco com
apoio da Secretaria de Cultura local, mas por
conta do processo de censura e perseguição aos movimentos culturais de Osasco e
demissão do Secretário de Cultura, foi preciso mudar o local do encontro às
pressas. Mesmo em meio ao projeto de desmonte das políticas públicas,
resistindo ao governo golpista e à atual conjuntura dessa Dita Democracia,
realizamos a XII Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas, cortejos, debates e o XXI
encontro da RBTR com plenárias, rodas de mulheres e espaços de troca e
formação.
Resistir,
reexistir, resistência
Persistir,
permitir, experiência!
Resistimos
Não
por justiça, por sobrevivência.
Ansiedade,
a ânsia e o anseio pelo novo tempo.
pelo
mundo sem dono, sem patrão.
Temos
urgência, mas haja paciência!
Em
meio a tanta confusão e dúvidas
Resistimos
como no movimento das águas que nos fortalece, mas também desestabiliza
São
as forças da tradição e d@ nov@
Dificuldade
de comunicar com afeto,
Tolerar
é pacto ou compreensão?
Experiência
prática, erros, confusão.
Aprendizado
na ação.
É o
nosso Ritual da Resistência.
Fortalecemos
para desestabilizar, confundimos para desconfundir.
Lutar
cuidando de nossa saúde mental.
Quanta
ansiedade, quanto mais se pensa é louco e louco fica se pensa pouco.
Não
somos histéricas, resistimos....
Pois
a sua boa educação me faz mal, mal educada.
Feminino,
amor, diversidade, queremos liberdade!
Roda
de mulheres, linda roda, lindas belas trans mulheres.
O
tempo, a têmpera, amada presença.
Tempera
Negraluz,
as águas, mãe.
Se
tentam nos tirar a potência, com a potência criativa atacaremos.
Okuparemos
- Denunciamos
e repudiamos o desmonte das políticas públicas de cultura em âmbito federal,
como os editais da Funarte, entre eles o Myriam Muniz (teatro), Klaus Viana
(Dança) e Artes na Rua (circo, dança e teatro) e o programa Pontos de Cultura,
que não tiveram continuidade em 2017.
- Denunciamos
e repudiamos o fim das reuniões do colegiado setorial de teatro, ligado ao
Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), cujas reuniões deixaram de
acontecer no ano de 2017.
- Repudiamos
a reintegração do policial militar Marcelo Coelho, julgado pela Justiça Militar
pelo assassinato da artista de rua Lua Barbosa, à Polícia Militar do Estado de
São Paulo. A RBTR reitera “A impunidade é mais dolorosa que a morte!”.
- Não
nos calaremos frente às práticas de censura contra a Mostra Cena Vermelha de
Osasco e todas as violências contra @s trabalhador@s e ocupantes das ruas.
Construímos uma carta-modelo da RBTR, de apoio aos grupos que fazem arte de
rua, pela liberdade de expressão, contra a censura, com base no artigo 5º da
Constituição Federal.
-Repudiamos o desmonte de políticas culturais já consolidadas
na cidade de São Paulo: cortes
nas oficinas culturais nos CEUS e
outros equipamentos (Programas Piá e Vocacional), o desmonte
da Escola Municipal de Iniciação Artística (EMIA), a diminuição em 30% dos recursos destinados ao Programa VAI
(política que busca incentivar a autonomia da juventude periférica), a
suspensão do Programa Aldeias (que fortalece aldeias indígenas existentes na
cidade), os cortes nos programas de fomento a grupos culturais (teatro, dança,
circo, cultura digital, periferia), os atrasos de pagamento e abandono aos
agentes comunitários de cultura, e a precarização do trabalho nas Fábricas de
cultura no estado de São Paulo;
-Parelheiros
foi sede para nosso encontro, região imensa ao extremo sul da cidade de São
Paulo, na qual situam-se as duas maiores Áreas de Proteção Ambiental do
município, além das aldeias Guarani Krukutu e Tenondé-Porã, da Nação Guarany,
área rural de difícil acesso, que conta com 50 mil habitantes e índices
altíssimos de violência. O único equipamento que o poder público destina à
cultura é o CEU Parelheiros, que, à revelia do projeto inicial, foi construído
sem teatro. Apoiamos o Fórum de Cultura de Parelheiros na luta pela implantação
da Casa
de Cultura, que apesar
de ter sido construída em 2009, por motivo desconhecido, o edifício nunca foi
usado para os devidos fins – ao contrário: até 2015, a comunidade cultural
local nunca soube de sua existência, uma parede dividiu o edifício, metade foi
entregue ao Conselho Tutelar e a outra metade permanece abandonada até hoje,
com janelas quebradas e fios elétricos subtraídos. Exigimos o encaminhamento
adequado e atenção merecida à Cultura da Região.
São Paulo à Venda. Há Venda São Paulo.
Liberdade
Cidade
à Venda
Diversidade
Cidade
com Venda
Comicidade
Cidade
sem renda
Cidade
linda pra quem?
Pra
quê?
Pra
comer ração humana?
Pra
derrubar prédio com pessoas dentro?
Come
Cidade
Devora
o que te engole,
Vomita
as migalhas destinadas à Cultura
Não
pedimos esmolas, trabalhamos!
E
exigimos que os frutos da luta do nosso trabalho sejam cumpridos; nutridos,
acolhidos.
Se
querem nos calar a força, com força diremos não: A Nossa arte não vai se calar.
Nossa arte é o grito d@s oprimid@s/ d@s que estão à margem, não iremos nos
calar!
Carta-manifesto construída coletivamente
com muitas mãos. Comum às mãos.
Dezembro
de 2017 – Parelheiros – São Paulo
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