Por Márcio Silveira – Ator, diretor, professor, mestrando em teatro pela UFRGS
Dentre os gêneros de teatro o mais popular é o teatro de rua. Desde os tempos remotos da Grécia antiga o teatro perambula pelas ruas, antes mesmo de tornar-se nome dos prédios onde são apresentadas peças de teatro. O estilo teatral que mais utilizou a rua como espaço cênico foi a commedia dell'arte, trupes em carroções mambembeavam por toda Europa no período da idade média. As intervenções eram realizadas em feiras populares e em frente a igrejas e instituições que representavam o poder vigente. Com o passar dos séculos o teatro entrou nos castelos, igrejas e pousadas. Foi se aprisionando em função da subsistência dos artistas e da manutenção do repertório.
No Brasil nos últimos trinta anos o teatro de rua voltou com força total, muito se deve principalmente ao fato de ser um período pós-ditadura. Os anos de chumbo, ironicamente, foram a catapulta que faltava para o teatro de rua brasileiro germinasse. Através de passeatas e manifestações contra o regime militar se realizavam encenações na multidão que protestava. A efervescência do teatro de rua contaminou mais e mais grupos e nos dias de hoje são realizados muitos eventos pelo país e no mundo. Segundo o sociólogo francês Jean Duvignaud em Sociologia do Teatro, há vínculos muito fortes entre o fenômeno teatral e os fenômenos sociais, o teatro não é mero reflexo da realidade social, existe uma complexa relação entre os fenômenos sociais e a arte teatral, se observam múltiplas interferências em ambas as direções.
No Rio Grande do Sul os anos noventa viram o teatro de rua tomar conta das cidades. Grupos como o Oi Nóis Aqui Traveiz, Espalha-Fatos, Perna de Pau, Alcatéia, Falos & Stercus e Bumba Meu Bobo revolucionaram o teatro. Realizaram mostras, circuitos e oficinas de teatro por todo Estado, decolaram para o resto do país participando dos principais festivais. Foi neste momento histórico que o Rio Grande do Sul virou exemplo, modelo e celeiro de teatro de rua no Brasil. Mas nem tudo são flores, grupos encerraram as atividades em função da falta de uma política cultural.
Na presente década surgem novos grupos e cias que investem na encenação ao ar livre, como o Grupo Teatral Manjericão, Oigalê, Povo da Rua, Usina do Trabalho do Ator, Cia Stravaganza. Algumas instituições como o SESC e Prefeituras estão repensando a situação e começam a esboçar novas ações para uma política cultural efetiva como o 4º Festival Palco Giratório/RS, em maio, que contemplam o teatro feito para o povo que não tem acesso as salas em que parte do teatro está ainda aprisionada. Que o libertem de vez e abram caminho, pois ele pede passagem.
Publicado originalmente no Jornal Vale dos Sinos em 22 de Maio de 2009.
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