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terça-feira, 6 de abril de 2010

3º Encontro do Núcleo de Pesquisadores de Teatro de Rua

Grupo de Estudos São Paulo

Por Simone Pavanelli

Movimento de Teatro de Rua de São Paulo
Núcleo de Pesquisadores da Rede Brasileira de Teatro de Rua
Data: 26/02/2010
Coordenação: Alexandre Mate
Convidado: Calixto de Inhamuns
Tema: A Trajetória do Teatro Mambembe
Local: Espaço Pyndorama (Cia Antropofágica)
Presentes: Trupe Olho da Rua, Cia Antropofágica, Núcleo Pavanelli, Brava Companhia, Populacho e Pic nic Classe C, Cia do Miolo, Pombas Urbanas, Cia Ocamorana, José Cetra.
Total: 32 pessoas

Informes dados por Alexandre Mate:

- Da natureza dos encontros: Um grupo de estudos cujo conteúdo é basicamente o teatro de rua;
- Enviou um projeto para UNESP solicitando o desenvolvimento de um curso de extensão com esse conteúdo.
- Conceito de teatro de grupo
Segundo alguns teóricos os grupos surgem somente depois de 1980.
Aponta para a existência de grupos de teatro desde os mimos, atores que iam pra rua sem autorização do Estado para realizar cenas farsescas cujo tema predominante era a classe dominante. Os primeiros agrupamentos teatrais eram de populares, os mimos, mas não se tem registro disso nos documentos gregos. Sabe-se dos mimos pelos romanos que dominaram a Grécia e deixaram que o teatro seguisse seu curso. Como não estava sobre o controle do Estado, como na Grécia, o teatro popular se impôs e foi registrado pela história.
Sempre existiram grupos que trabalharam com as três características essenciais do teatro: a existência de atores, do público e do texto. Na tradição popular o texto era desenvolvido pelo coletivo, como os canovaccios da commedia dell'arte. Os atores possuíam um roteiro com algumas lacunas que eram preenchidas por eles mesmos com os improvisos e pelo conhecimento que a platéia tinha do que ia acontecer.
O teatro popular tem uma natureza improvisacional. A palavra dramaturgia significa trabalho com ações. Na cultura erudita a dramaturgia é desenvolvida por um indivíduo na popular pelos artistas que compõem um coletivo.

Calixto de Inhamuns

Inicia seu relato apontado o fato de que pertenceu a uma época em que se lia muito, que o teatro tinha outras condições e que, devido as melhores condições financeiras dos prestadores de mão de obra, se podia viver de bilheteria.
Conta que na época em que estudava, década 60, se tinha uma formação muito melhor do que a que se tem hoje. Estudava em colégio público/ estadual, os melhores colégios na época, e conta que tinham uma boa formação política devido a politização da sociedade, principalmente do meio estudantil, onde se discutia a sociedade brasileira.
No Colégio João Ramalho, escola estadual em São Bernardo do Campo, estudou com Ednaldo Freire, Luiz Alberto de Abreu, Mário Cezar Camargo, Roberto Barbosa e o Primo Gerbelli. O Ednaldo e o Mario pertenciam ao mesmo ano, os outros eram mais novos, mas todos estavam juntos, envolvidos com teatro.
Cita como fatores importantes no estímulo e na formação artística a peça Zumbi, do Grupo de Teatro Arena. Aponta como principal característica desse espetáculo a capacidade do Arena falar em cenas coisas que o povo intuía, sentia, mas não sabia expressar poeticamente. O teatro como antena e propagador dos anseios do povo.
Outra grande influência na sua formação brechtiana foi Antônio Abujamra. Foi através dele que conheceram Brecht, seus sistemas e suas teorias que marcaram o início da carreira deles.
Calixto, com Ednaldo, Mário Cezar, Robertão, Guta (que seria a primeira esposa do Abreu) e outros alunos do João Ramalho formam um grupo no colégio e resolvem montar Eles não usam black-tie, de Guarnieri. Eles chamam Antonino Assumpção, que dirigia um tradicional grupo da cidade, o Regina Paccis, para orientá-los, e este, convida Calixto e Glacy, uma menina do grupo para participarem de uma montagem do grupo, O Veredicto, de Mirian S. Juan.
No Regina Paccis, Calixto, começa a trazer seus amigos para o grupo e participam de uma montagem do Zumbi, dirigida por Antonino Assumpção e Sérgio Rossetti e, de um trabalho criado coletivamente a partir do Evangelho de São Mateus, dirigido e roteirizado por Sérgio Rossetti, O Verbo, o homem, depois o caos...
Ficou no Regina Paccis até 1969 e depois de uma tentativa frustrada de viajar para o Chile, foi para Manaus atraído por um Seminário de Cultura que descobriu na Revista Veja.
Em Manaus, nos fins de 71 entrou no grupo TESC, Teatro Experimental do SESC, e participou do espetáculo Funeral do Grande Morto, direção de Nielson Menão. O Funeral era um espetáculo sobre a repressão e ele considera um dos melhores espetáculos que fez. Criou um projeto para montar Dança Lenta no Local do Crime, do americano William Hanley, para viajar pelo Brasil todo, mas que não conseguiu realizar. Viajou para o rio onde viveu três anos.
No Rio de Janeiro, não se interessou por teatro, mas assistiu aos primeiros trabalhos do Astrubal Trouxe o Trombone. Em 1974, O Inspetor Geral, de Nikolai Gogol, e em 1975, Ubu Rei, de Alfred Jarry, que ele considerou algo novo e muito interessante.
Em 1976, volta pra São Paulo e reencontra seus amigos Ednaldo Freire, Roberto Barbosa e Luiz Alberto de Abreu que, junto com Cláudio Campana, um ator que ele não conhecia, estavam desenvolvendo um trabalho chamado Itaquaquecetuba Km 18, uma criação coletiva, sobre a expulsão dos posseiros para a construção da Rodovia dos Imigrantes. Integra-se ao trabalho e traz novas idéias que não foram aceitas pelo coletivo e é mandado embora do trabalho.
Nessa época Noemi Gerbelli, uma atriz de São Bernado, estava trabalhando no projeto Mambembe, patrocinado pelo SESC e coordenado por Carlos Alberto Soffredini e o convida para trabalhar no mesmo. O objetivo desse projeto era montar um espetáculo e viajar pelo interior de São Paulo estimulando a formação de grupos entre os sócios do SESC e mostrando como era possível fazer teatro de baixo custo.
A proposta era, também, montar um espetáculo na rua. A partir do texto A Vida do Grande Don Quixote de La Mancha e do Gordo Sancho Pança, de Antônio Jose da Silva, o Judeu, o elenco improvisava e Soffredini escrevia as cenas e entregava para os atores. Nunca o texto foi escrito com todas as cenas, cada ator ficava com a sua, e não existe uma gravação desse espetáculo na íntegra.
Para o espetáculo que precisava ser feito pra censura naquela época, mandaram o texto do Antonio José. A censora, que amiga de alguém do SESC, assistiu, como não entendeu nada e queria mostrar serviço, cortou um telão, criação de Irineu Chamiso, que era o figurinista e cenógrafo, alegando que uma imagem do mesmo era o mapa do Brasil.
Calixto fala que em sua opinião "Dom Quixote" era um espetáculo feito na rua e não teatro de rua. Que a idéia inicial de se fazer um espetáculo simples, e exemplar dessa simplicidade, se transformou em um trabalho com 18 pessoas em cena, um palco com 12 de largura por 9 de profundidade, que era camarim em embaixo, com caixa que comportava telões de 6 metros por 3 de largura, que precisava de duas carretas para o transporte e 11 pessoas para montar.
Conta que na década de 70 se discutia muito sobre o que é um grupo, o que caracteriza um grupo de teatro. Um grupo tem uma estrutura, o trabalho que esta estrutura desenvolve e os trabalhadores que realizam esse trabalho.
A estrutura é como o grupo se organiza para sua gestão com sua hierarquia, definição das funções, as normas disciplinares, a administração financeira, enfim, a burocracia. O trabalho é definido pelos objetivos do grupo (religioso, engajado, entretenimento, etc), sua ideologia e as especificidades do seu fazer (cômico, teatro de rua, vanguarda etc.). Os trabalhadores são as pessoas que formam o coletivo e estão implícitas as suas origens, a formação especifica de cada um, a experiência e os objetivos pessoais.
Em cima dessa estrutura se desenvolveu o trabalho do Mambembe que era inspirada na organização de alguns partidos políticos da época.
A primeira fase do Mambembe tinha o Soffredini como liderança estética e o objetivo era desenvolver uma pesquisa de trabalho popular segundo a ótica dele e de algumas pessoas que já tinham trabalhado com ele. Irineu Chamiso, o cenógrafo e figurinista, era muito importante na criação do visual dos espetáculos. O projeto Mambembe, criado pelo SESC, foi em torno das propostas dessas pessoas.
Nessa época faziam parte do grupo: Calixto de Inhamuns, Flavio Dias, Julio Vicente, Rubens Brito, Douglas Salgado, Ednaldo Freire, Suzana Lakatos, Noemi Gerbelli, Simone Miranda, Eunice Mendes, Eurico Sampaio, Mário Cezar Camargo, Sergio Rossetti... Eram 18 atores, todos registrados pelo SESC com todos os direitos garantidos.
Por causa da rejeição das unidades do SESC no interior, a grande dificuldade de deslocamento, a montagem e desmontagem complicadas, o SESC cortou o projeto depois de seis meses.
Devido ao atraso de uma produção, o SESC ofereceu toda a produção do espetáculo para o grupo se apresentar no Teatro Anchieta, na época um dos melhores teatros de São Paulo, durante um mês.
O espetáculo não foi visto por toda crítica especializada. Apenas Alberto Guzik escreveu uma crítica razoável, mas assistiu o espetáculo em um galpão no SESC Pompéia totalmente deslocado dos seus objetivos. Quem assistiu o espetáculo na Praça da Republica foi Robson Camargo, crítico de uma publicação alternativa, que escreveu Muito circo e pouco pão, onde elogiou o grupo pela pesquisa e criticou pelo falta de "engajamento". Fazer cultura popular, trazer ao público as raízes da nossa cultura, o circo e a revista, enfim, as manifestações populares com uma estética e linguagem acessível, mas sem fazer concessões, não tinha uma importância política.
Durante a temporada no Anchieta, onde entrou a atriz Rosi Campos, alguns atores decidem formar um grupo e continuar com o trabalho: nasce o Grupo de Teatro Mambembe. As propostas e preocupações do grupo era continuar com a pesquisa do teatro popular e a sobrevivência – como fazer arte e viver do seu trabalho.
Eles queriam montar adaptações do Soffredini dos textos circenses Vem buscar-me que ainda sou teu e O Céu uniu dois corações. Para o grupo sobreviver criaram um projeto: O Teatro Aplicado a Educação, em que seriam montadas peças que fizessem parte do currículo escolar. O Soffredini escreveu um prólogo para o Diletante, de Martins Pena, que era a história do teatro até Martins Pena e que foi um sucesso. Depois montaram A farsa de Inês Pereira, do Gil Vicente, o texto original, mas com uma encenação baseada no Teatro de Revista.
O grupo continuava conformado por um pessoal de Santos, Soffredini e Irineu; o pessoal do ABC, o Calixto, o Ednaldo e a Noemi; a turma da EAD, Flávio e Suzana Lakatos, que saiu na Farsa; Rosi e Rubens Brito, que eram da Eca; Eurico era companheiro do Soffredini e Carmo que entrou depois do Don Quixote.
Os grupos mais expressivos daquela época "O Pessoal do Vitor", "Pod de Minoga", Os Farsantes", "Asdrúbal Trouxe o Trombone", "Mambembe" e outros com uma vertente mais política como o "Engenho Teatral", "TUOV", o grupo do Frateschi, da Dulce Muniz, e o "Grupo Expressão", de Osasco. A década de 70 foi influenciada pelas idéias do Artaud e de movimentos teatrais europeus como o Teatro Pobre do Grotowisk e o trabalho do Peter Brook. O Artaud entrou principalmente através do trabalho do Celso Nunes que manteve contato com o Living Theater, que inclusive passou um tempo aqui no início da década. Celso Nunes e Emilio de Biasi foram, através de um trabalho desenvolvido na EAD, que introduziram as teorias européias.
Naquela época os teatros da prefeitura, com exceção do João Caetano, eram usados mais pra festas de formatura. O Mambembe conseguiu pauta em todos eles e desenvolveu um trabalho de divulgação nos bairros. Quando entrou no Martins Pena só tinha entulho! Para chamar as pessoas do bairro foram de casa em casa convidando, falando da peça e do grupo. Nas escolas públicas a diretora parava tudo pra receber quem ia ao teatro vender os ingressos. As professoras vendiam e repassavam o dinheiro pro grupo. A escola não ficava com nada. Teatro era cultura e recebido com dignidade e, algumas vezes, com pompas.
A característica principal do grupo era possuir o domínio artístico direção, atuação, texto, cenografia e música, tudo era criado por alguém do grupo. As coisas do grupo eram distribuídas pelas casas das pessoas.
Depois de Dom Quixote a proposta do grupo era fazer coisas simples. O Diletante, que foi apresentado apenas nos teatros da Prefeitura e na escola, foi um sucesso financeiro, mas A Farsa de Inês Pereira, já era um espetáculo maior, alugaram um teatro no centro fora de período escolar e começaram a ter problemas financeiros.
Nesse período, Soffredini, que ainda não havia escrito o Vem buscar-me que ainda sou teu, viaja para Bahia com o Eurico, Irineu se afasta do grupo, este se esfacela e acaba, o que Calixto chama, a 1ª fase do Mambembe.
Quase todos atores saem e ficam Calixto, Rosy e Maria do Carmo. Ednaldo estava trabalhando em Ribeirão Pires, mas continuava ligado ao grupo. Surge a necessidade de um trabalho que possibilitasse um exercício de interpretação e que se inserisse na discussão sobre a sociedade. Por sugestão de Douglas Salgado, um ator que participou do Dom Quixote e que trabalhava no SESI, montam A Noite dos Assassinos, de José Triana, um autor cubano. Convidam Myriam Muniz pra dirigir e ela os convence a fazer um trabalho deles, coletivo. E foi mudando. Sem eles saberem, ela convida Flávio Império, um dos grandes cenógrafos brasileiros, pra fazer o cenário. Todo dia que eles chegavam tinha mais uma pessoa envolvida no processo. Ficou tão grande o projeto que não era mais o projeto do Mambembe. Eles saíram e, provavelmente, ninguém percebeu.
Eles convidam, por indicação do Ednaldo que havia trabalhado com ele, Roberto Vignati para dirigir o espetáculo. O grupo montou o espetáculo julgando que era intelectual, político e freudiano e que só os estudados compreenderiam. Um espetáculo para o público universitário. Contra a vontade deles, por sugestão de Tercio Nelli, diretor de Cultura de São Bernardo do Campo, apresentaram para os estudantes do Mobral, na maioria trabalhadores, e tiveram uma surpresa: A Noite dos Assassinos era um espetáculo que falava dos malefícios da falta de dinheiro em uma família. Eles que não tinham entendido. Por sugestão de um professor, César Nami, que levou seus alunos pra assistirem O Diletante e A Farsa de Inês Pereira, concordaram em correr o risco de apresentar para pré-adolescentes e foi um sucesso. O texto abordava as questões dos jovens em processo de crescimento e os conflitos com os pais.
Nessa época o valor do ingresso era correspondente a mais ou menos 20 maços de cigarro da marca Continental e nas escolas cobravam 80% desse valor. Era uma época que as pessoas tinham dinheiro pra ir ao teatro, os pais tinham dinheiro pra pagar pros filhos. A mão de obra não era tão desvalorizada.
A Noite dos Assassinos foi o espetáculo que mais rendeu financeiramente para o grupo. Com as vendas de espetáculos conseguiram dinheiro pra montar o Vem buscar-me que ainda sou teu e, depois de sair de cartaz, ainda tinha um resto para montar o Foi bom, meu bem?.
Retomando, na primeira fase do Mambembe a liderança era do Soffredini, com sua pesquisa estética e sobre a cultura popular; na segunda, tinha um núcleo, o pessoal do ABC, Calixto, Ednaldo e depois o Alberto de Abreu, e o objetivo era um trabalho político e de pesquisa.
Enquanto apresentavam A Noite dos Assassinos foi criado um projeto chamado "Pra Seu Governo" onde a partir de uma pesquisa sobre a situação do Brasil na época. Foram feitas entrevistas com Mario Schemberg, Beluzo, Almino Afonso, que acabava de voltar do exílio, um estudioso da Amazonas, ligado ao Partido Comunista, que Calixto não lembra o nome, e outros. Foram chamados outros que já tinham participado do Mambembe como Genésio de Barros, Ednaldo Freire e Wanderley Martins.
Luis Alberto de Abreu foi convidado para escrever o texto. Ele apresentou uma cena, O Elefante Branco, muito engraçada sobre a compra da Light pelo Governo Federal, mas o grupo achou que tinha de politizar mais, ser engraçada, mas aprofundar a discussão.
Eles estavam pesquisando e já se preparando para a montagem, faziam corpo, música e interpretação, quando Soffredini voltou da Bahia com o texto do Vem buscar-me que ainda sou teu pronto, mas sua proposta foi recusada porque a produção seria de outra pessoa, Miriam Muniz faria a personagem principal e Carlos Alberto Ricelli e Bruna Lombardi foram convidados para dois personagens, o Campônio e a Cancionina Song.
Calixto diz que não lembra, ou não entendeu até hoje, o que aconteceu, mas Soffredini ficou encarregado, ou se encarregou, de escrever o texto e o Abreu saiu. O Grupo ainda tinha uma ligação muito grande com o Soffredini, um grande dramaturgo e diretor, que era admirado por todos.
Nas mãos do Soffredini ficou várias horas de gravações, recortes de jornais, livros e outras matérias sobre a pesquisa. Ele não tinha participado da pesquisa, ficou um mês trabalhando e desistiu do trabalho e o grupo ficou sem forças pra continuar o Pra Seu Governo.
O grupo tinha uma carta na manga que era montar A Lata de Lixo da História, do Roberto Schwarz, uma adaptação d`O Alienista, de Machado de Assis. Convidaram Yacov Hillel para dirigir, mas na leitura ele diz que não gosta do texto e propõe um texto que ele gosta muito: Vem buscar-me que ainda sou teu, do Soffredini. O grupo discute muito, tem uma divisão e, por causa da aceitação da montagem, o Rubens Brito sai do grupo. O grupo aceitou montar em primeiro lugar, porque o texto era muito bom, em segundo, por que o Yacov propôs montar com os atores que estavam participando do Pra seu governo, sem entrar mais ninguém.
O resultado foi muito bom de crítica, mas montado no Teatro Célia Helena, na Liberdade, não foi bem de público. Fizeram algumas viagens e foi bem, mas era um espetáculo difícil de adaptar para um palco italiano e tiraram de cartaz.
Como trabalho de transição montaram Foi bom, meu bem?, o primeiro texto profissional do Abreu, com direção de Ewerton de Castro. O trabalho falava da formação sexual do brasileiro, da relação homem e mulher, da solidão e de encontros e desencontros. Ficou mais de um ano em cartaz e foi um grande sucesso de público.
Enquanto apresentavam o Foi bom, meu bem?, começaram um nova pesquisa chamada Projeto ABC. O objetivo era fazer um espetáculo sobre o ABC Paulista, isso em 1979, e sobre o movimento operário liderado por um sindicalista chamado Lula.
Para entender o que acontecia naquela época, resolveram pesquisar a formação do operariado brasileiro. Através de um jornalista do Diário do Grande ABC que tinha feito uma matéria sobre a greve na Tecelagem Ipiranguinha, em 1906, em Santo André, conseguiram entrevistar um velho aposentado, com quase noventa anos, que tinha participado da mesma.
Depois, com a ajuda e orientação do historiador Edgard Carone, começaram a entrevistar operários que haviam participado das greves de 1917 e da revolução de 1925. Depois entrevistam os comunistas que criaram vários sindicatos depois de 30, os migrantes que chegaram nas décadas de 50 e 60 e, finalmente, alguns operários e sindicalistas que participavam das greves do ABC.
O Abreu começa a escrever o texto e vai apresentando para o grupo. Ele já estava na pagina 70 e ainda continuava com os anarquistas. O grupo resolve dividir o trabalho em três etapas: os anarquistas e a chegada dos operários europeus; os migrantes que vieram trabalhar na indústria automobilística e os operários que foram formados do encontro dessas duas vertentes.
Pronto o primeiro tratamento do texto sobre os anarquistas, Bella Ciao, o grupo decide não montar o trabalho. Os motivos foram vários, mas o maior erro na opinião do Calixto, foi que apenas ele e o Abreu participaram da pesquisa de campo e, portanto, tinha um envolvimento e uma emoção que os outros não tinham. Pesou, também, a questão dos papéis. Foi bom, meu bem? era um trabalho para 7 protagonistas. Alguns atores acharam que não tinha bons papéis para eles. Foi bom, meu bem? era uma comédia e, por causa do sucesso, o grupo queria outra comédia. Na votação Bella Ciao perdeu por 4 a 3 e Calixto saiu do grupo.
Luis Alberto de Abreu a partir da pesquisa sobre os migrantes escreve Cala a boca já morreu e começa uma nova fase do Mambembe onde os atores definem a montagem. Em todas as fases o Mambembe montou espetáculos de qualidade, mas, agora, as possibilidades de trabalho para cada ator passou a nortear essa nova fase.
Nessa fase, que Calixto não participou, foram montados Besa-me Mutcho, de Mario Prata, Minha nossa, de Carlos Alberto Soffredini, e Conversando sobre sexo, uma adaptação de Mario Prata de um livro de Marta Suplicy.
O Conversando sobre sexo foi feito junto com o Pod Minoga, com direção de Flávio de Souza e, com esse espetáculo, o grupo inaugurou o seu espaço. O espetáculo não fez sucesso e não foi bem de crítica e o grupo começou a enfrentar tempos difíceis.
Desarticulado o grupo ainda monta Inimigos de Classe, com direção de Márcio Aurélio, apresentando no Centro Cultural, mas depois decidem não levar o grupo adiante.
Nessa fase os atores passaram a escolher os textos e sua maior preocupação era a sobrevivência. Nessa época Calixto sai do grupo. Montam "Besa me Mutcho" de Narciso Prata e "Minha nossa" de Sofredini. Com esse espetáculo o Mambembe inaugura um espaço, o espetáculo não dá certo e montam "Inimigos de Classe" com direção de Marcio Aurélio. O grupo deixa de ser grupo e passa a ser um elenco. Se juntam com o "Pó de Minoga" pra outra montagem e depois disso decidem não levar o grupo à diante.
Calixto que saiu do Mambembe se junta com atores do Circo XX, um grupo de Porto Alegre, e monta Bella Ciao que foi um dos espetáculos mais premiados no teatro paulista.
Depois do relato de Calixto abriu-se uma discussão que girou em torno da estrutura dos grupos e da diferença entre viver da bilheteria e receber uma verba para desenvolver um projeto. Essa discussão leva a outra, a questão do público. O grupo discute sobre a relação que temos agora com o público e sobre o fato de que nosso público é a classe trabalhadora da qual nós também fazemos parte.
Fábio Resende da Brava Companhia conta que no Sacolão das Artes- Parque Santo Antônio, na Zona Sul, há algum tempo fazem temporadas dentro do galpão do grupo com espetáculos próprios e de grupos convidados. Conta que o público além de aumentar vai se tornando crítico dos espetáculos e que em todas as apresentações se abre uma roda de debates.
Marcos Pavanelli, do Núcleo Pavanelli reflete sobre a nossa necessidade de informar o público o que nós, grupos de teatro popular estamos fazendo. Conta que o grupo está se mudando novamente para o Tucuruvi para retomar o trabalho nessa comunidade e que pensa que uma das formas das pessoas participarem das atividades do grupo é com a desmistificação do artista como um ser especial.
Alexandre Mate também faz uma reflexão de que o discurso que os grupos têm muitas vezes não está colocado artisticamente nos seus espetáculos nem na relação que tem com o público.

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