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quinta-feira, 1 de julho de 2010

As artes sob pressão

As artes sob pressão

O Tá na Rua  se solidariza totalmente com a luta pela permanência do CICAS. Não podemos fechá-los, mas aumentá-los.  Estamos vivendo o fim do mundo e centros como estes significam o inicio da construção do futuro novo.  Todos  nós vivemos em sobressalto.  Noticias como  estas nos chegam  a todo momento. A historia  segue seu  trajeto, inevitavelmente! Temos de sobreviver ao desastre para nos  reconstruirmos  depois.

Amir Haddad
Tá na Rua – RJ

Foto: projetocicas.blogspot.com

Este editorial é um protesto! Um protesto contra as perseguições abusivas por parte do aparelho estatal contra as artes populares. Aqui nos restringimos ao campo das artes, mas poderíamos estender para tudo que é popular. Chegamos a primeira década do século XXI e os artistas populares e a arte que produzem continuam relegadas ao esquecimento ou sofrendo constantes ameaças.
Perseguição aos artistas, fechamento ou ameaça de fechamento de espaços culturais geridos por coletivos, rígida fiscalização, atores apanhando da polícia, proibição de eventos em praças públicas, tudo isso ocorrendo em 2010 em diversos lugares do Brasil. O que está ocorrendo? Retornamos à ditadura? Vivemos sim uma ditadura do mercado. Assim, toda e qualquer arte que se coloca como contra hegemônica, vem sofrendo perseguições. A constatação é dura, mas a realidade pode ser ainda muito mais.

O Centro Independente de Cultura Alternativa e Social (CICAS), situado no Jardim Julieta, zona norte da cidade de São Paulo, fez três anos de excelente trabalho no dia 18 de março de 2010. Todo seu trabalho é desenvolvido em um espaço que ficou anos abandonado pelo poder público. Lá é (ou era) possível encontrar uma biblioteca, um estúdio de gravação, oficinas gratuitas de capoeira, teatro de rua, inglês, iniciação musical, desenho, além de um cine clube, tudo mantido graças a iniciativa de alguns jovens abnegados e as parcerias que construíram nesses três anos.

Entretanto, "na última sexta-feira, 11/06/2010, durante plena atividade, as pessoas que se encontravam no CICAS e todos os móveis e equipamentos do espaço foram removidos a força. Fomos despejados do CICAS através de uma ação indevida e violenta da subprefeitura de Vila Maria/Vila Guilherme, apoiados pela Polícia Militar e a Policia Civil Metropolitana, agindo sem mandado de despejo ou qualquer outro tipo de documento" (Retirado do blog: WWW.projetocicas.blogspot.com). Depois veio o aviso de que o espaço seria derrubado e foi evitado (ou adiado) porque diversos coletivos, movimentos, políticos e a imprensa apoiaram e se mobilizaram pela permanência do CICAS. O apoio veio de todo o Brasil, sintetizado na epígrafe que abre esse texto. Seria importante nominar os coletivos que apoiaram, entretanto foram muitos e poderíamos cometer alguma injustiça deixando algum de fora.
Esta não é uma ação isolada ou pontual. Ainda na cidade de São Paulo podemos citar outros exemplos de projetos voltados à atender a comunidade e a população em geral e que vem sofrendo com ações repressivas. A II Trupe de Choque, que ocupou a "Usina de Compostagem de Lixo de São Mateus, desativada há vários anos" (retirado de Carta divulgada pelo grupo), de 2005 a 2009, por meio de projeto do Fomento quis retornar a esse lugar, que continua abandonado, mas até o momento têm sido impedidos. Outro exemplo: Durante o I Encontro de Mamulengo em São Paulo, mesmo com autorizações da subprefeitura da Sé e da CET, durante a abertura a fiscalização foi três vezes a Praça do Patriarca, ameaçando 'baixar' com a polícia para levar material dos mestres mamulengueiros que vieram de diversas partes do país para esse encontro.

Mas isso não se restringe a São Paulo. Em Fortaleza atores apanharam da polícia em praça pública, além disso, incitaram o público a agredirem também. Em Porto Alegre, diversos grupos que ocupam uma ala de um hospital psiquiátrico abandonado, vem sofrendo ação de despejo. As artes estão sob pressão, sofrendo diversas agressões. Mas não todas as artes, afinal algumas megas produções ou mesmo jovens artistas que se enquadram na ditadura do mercado tem sido apoiado com muito dinheiro, como é o caso da jovem cantora Mallu Magalhães que está autorizada, por meio da Lei Rounet, a captar R$ 778 mil para a turnê de seu segundo disco, lançado por uma grande gravadora.[1]Enquanto isso as artes populares sofrem com despejos, falta de apoio e reprimendas policiais. E ainda há quem acredite que vivemos numa democracia!



Publicado originalmente em A Gargalhada nº 16, junho/julho de 2010, editorial p. 2.




[1]A notícia pode ser encontrada no site: http://www.abril.com.br/blog/blogfonico/tag/mallu-magalhaes/consultado em 15/06/10.

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