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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Carta do CNFCPà Secretaria Especial de Ordem Pública (desocupação deárea pública - Getúlio Damado)

Bom dia,

Repasso mensagem da companheira Daniele, destacando mais uma repercussão do caso SEOP x Getúlio Damado.

Mesmo com toda essa repercussão não temos nada garantido no território da cidade maravilhosa. Existem várias Getúlios na cidade que estão sendo barbarizados pela atual gestão. Leiam SEOP - Secretaria Especial de Ordem Pública.

Abraços,
Richard
Em breve postaremos o resultado alcançado junto a FRENTE PARLAMENTAR PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA CULTURA E DA COMUNICAÇÃO.


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Rio de Janeiro, 08 de abril de 2011
Ofício n° 020/CNFCP/IPHAN


Do: CNFCP
Para: Secretaria Especial da Ordem Pública
Assunto: Notificação para desocupação de área pública – Getúlio Damado
Senhor Secretário,

            Tomamos conhecimento de que no dia 1º de abril, a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, por intermédio da Secretaria Especial da Ordem Pública, teria notificado o artista Getúlio Damado para desocupar o local onde está instalado o seu ateliê, na esquina das ruas Leopoldo Fróes e Francisco de Castro, em Santa Teresa. A referida notificação apontaria como irregular a ocupação, "com módulo não autorizado", e estabelece o prazo de 15 dias para o artista desocupar o local, sob pena de apreensão, "sem prejuízo de multas previstas e de comunicação à Polícia", no caso da ocorrência de crimes previstos no Código Penal.
            O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular não poderia silenciar diante dessa medida, pois entende que Getúlio Damado e seu ateliê em Santa Tereza se integram à paisagem cultural da cidade, qualificando-a, na condição de monumento vivo de referência afetiva e simbólica. Consideramos que, da mesma maneira que cabe aos poderes públicos a defesa e a preservação dos monumentos construídos, os personagens vivos que constituem a identidade e o patrimônio de um bairro, de uma cidade e de uma nação merecem toda atenção e zelo que pudermos dispensar.
            Nesse sentido, vimos externar nossa preocupação, destacando que Getúlio Damado é considerado hoje um dos maiores artistas contemporâneos em atividade no Rio de Janeiro, conforme já afirmaram os irmãos Fernando e Humberto Campana, designers brasileiros de projeção internacional, e dezenas de especialistas no assunto. Seu bonde-ateliê é um importante ponto turístico da cidade e está instalado no local há 25 anos.
Getúlio certamente pertence à linhagem do artista Gentileza, que jamais poderia ser confundido com aqueles que sujam as paredes e os muros desta cidade: suas palavras permanecem, reverberam, encantam quem chega ao Rio de Janeiro, e alimentam o sonho dos habitantes por uma vida mais fraterna, por um mundo melhor. Getúlio, com sua arte singular, é essência de valor cultural do bairro de Santa Teresa, tantas vezes sujeito à violência urbana que desqualifica áreas importantes e históricas da cidade maravilhosa, e, ao contrário, projeta uma visão positiva do lugar.
            Em seu espaço exíguo, ao longo de 25 anos de trabalho, Getúlio desenvolveu uma obra de estética personalíssima, com o aproveitamento de materiais os mais diversos que lhe chegavam às mãos, num exemplo de criatividade e alerta para os problemas ambientais que preocupam a sociedade contemporânea. Trata-se, portanto, de um artista cuja força está também na presença atuante, na relação direta com os moradores e visitantes do bairro.
            De maneira análoga a um Mestre Vitalino, que se projetou para todo o Brasil em sua bancada na Feira de Caruaru, as peças criadas por Getúlio em seu modesto espaço nas calçadas de Santa Teresa passaram a integrar coleções públicas e privadas. Este Centro realizou, em seu Programa Sala do Artista Popular, a exposição Veja, ilustre passageiro: bondes de Getúlio Damado, de 05 a 30 de abril de 2000, e adquiriu obras do artista para a coleção permanente do Museu de Folclore Edison Carneiro. E seus trabalhos já foram exibidos em circuitos internacionais de exposições, graças ao reconhecimento dos renomados irmãos Fernando e Humberto Campana.
             No nosso entendimento, essa retirada representaria, sem dúvida alguma, um sério prejuízo para o artista, mas acima de tudo seria a perda de um personagem cativante do patrimônio vivo que faz de Santa Teresa e, claro, do Rio de Janeiro, bairro e cidade singulares. Diante do exposto, pedimos a essa Secretaria que reconsidere tal notificação, permitindo que o artista mantenha ali seu ateliê de modo regular.
            Certos da atenção e convictos da sensibilidade da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro para com a questão, colocamo-nos à disposição.

Atenciosamente,

Claudia Marcia Ferreira
Diretora
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/
Departamento de Patrimônio Imaterial/ Iphan



Saiba mais sobre o artista em:

Link "Acervos digitais / Sala do Artista Popular / Catálogos SAP - digitar "Getúlio Damado" e continuar busca.

Link "Acervo / coleções / Museu de Folclore Edison Carneiro / Sala do Artista Popular.


Ilmº Sr.
ALEXANDER VIEIRA DA COSTA
Secretário da Ordem Pública
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro

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