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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Que teatro fazer?

Que teatro fazer?*
Olá todos dessa Rede,
Dando continuidade as discussões com relação ao nosso fazer e tomando como ponto de partida uma questão que coloquei: o nosso teatro está a serviço de quem? Que teve contribuição de outros companheiros, como Fábio Resende que afirmou que nosso teatro pode reforçar o que está posto ou desnaturalizar o que está naturalizado, revelando suas contradições; bem como a pergunta do Bravo sobre onde buscaríamos tais respostas e o que faríamos com as mesmas; escrevi algumas linhas, fruto de leituras realizadas no Núcleo Paulistano de Pesquisadores, que tem encontros mensais, coordenado pelo professor Alexandre Mate no Instituto de Artes da Unesp. Trata-se de um texto do camarada Bertolt Brecht, "Pequeno órganon para o teatro", que encontra-se no livro Estudos Sobre Teatro. Desde já convido a todos para que leiam a obra e tirem suas próprias conclusões, afinal trata-se de texto muito rico. Quanto aqueles que já leram (bem como aqueles que não leram) poderão contribuir no debate.
Não pretendo dar conta de todas as questões colocadas por Brecht – e nem sei se teria estofo para tal –, apenas levantarei alguns pontos fundamentais ao nosso fazer, sobretudo aquelas colocadas pelo autor no inicio do texto.
Primeira questão que autor coloca é que teatro é diversão: "É esta a função mais nobre que atribuímos ao teatro" (BRECHT, 2005, p. 127). Entretanto, Brecht vai esmiuçando o que considera diversão no teatro em nossa época atual, afinal se o teatro é supérfluo, proporciona prazeres simples e complexos; quanto mais diversificado e contraditório, maior seu "poder de intervenção" (p. 129), daí a necessidade de não descuidarmos da dramaturgia e do mundo que levamos para a cena, já que a fábula, seja para Aristóteles ou para Brecht, é "a alma do drama". Depois o autor aborda sobre a dramaturgia dos antigos, que continuam a nos emocionar. Mas se continuam como importantes foi porque "arranjamos uma compensação na beleza da linguagem dessas obras", isto é, em seus ornamentos. No entanto, há um certo "desacerto" histórico, que tem nos afastado do prazer que pode provocar o teatro. Caberia, portanto, sabermos o que nos diverte hoje. Brecht alerta: "somos filhos de uma era científica. O nosso convívio como homens (...) está condicionado, pela ciência, dentro de dimensões completamente novas" (p. 132).
Segundo Brecht, uma nova sensibilidade e um novo pensamento não chegam às massas porque a burguesia não permite, pois os burgueses utilizaram a ciência para subjugar e manter sua supremacia. Aqui entregamos a palavra a Brecht: "A classe burguesa, que deve à ciência a sua prosperidade, prosperidade que transformou em domínio ao tornar-se sua beneficiária exclusiva, não ignora que, se a perspectiva científica incidir sobre suas realizações, isso representa o fim do seu domínio" (p. 134).
E a arte e a ciência existem "para simplificar a vida do homem" (p. 135), a primeira relacionado a sua subsistência e a segunda para divertir. Assim, Brecht pergunta: qual será o teatro que divertirá os filhos da era científica? Um teatro crítico, que destina-se aos técnicos (em suas diversas áreas de conhecimentos), agricultores e revolucionários, que não podem esquecer seus interesses enquanto nos assistem, por isso precisamos entregar-lhes "o mundo aos seus cérebros e aos seus corações, para que o modifiquem a seu critério" (p. 135). Faz-se necessário o teatro associar-se com aqueles que estão impacientes por mudanças, daí a necessidade de nos encaminharmos "para os subúrbios das cidades" (p. 136). É importante dizer que subúrbio aqui não é apenas uma questão geográfica, mas refere-se também a todos que estão à Margem, independente do lugar onde estão, afinal os grandes centros urbanos hoje abrigam cada vez mais uma população marginalizada e que querem mudanças, portanto ele se refere a uma classe social. E se em um primeiro momento essas pessoas não compreenderem nossa arte, não é falta de interesse, é porque, talvez, precisemos aprender com elas e saber de suas necessidades. "É que todos aqueles que parecem tão distantes da ciência o estão, com efeito, pela simples razão de serem mantidos a distância" (p. 136), mas são esses os filhos de uma nova era científica. O que Brecht nos pede é que produzamos um teatro divertido em que a própria produtividade seja o tema. "O teatro tem de se comprometer com a realidade, porque só assim será possível e será lícito produzir imagens eficazes da realidade" (p. 136).
Como está ficando longo vou parando por aqui, mas o autor aborda outras questões: faz uma crítica do teatro de sua época – não podemos esquecer que Brecht faleceu em 1956 – escreve sobre o ensino, estranhamento ou distanciamento, música no teatro etc. Por fim, é importante dizer que hoje temos muitos grupos fazendo já esse tipo de teatro, por outro lado, é sempre importante voltarmos a essas questões, pois existe ainda um ensino e uma máquina ideológica perversa que continua a apregoar que o único teatro que existe é dentro de uma perspectiva burguesa.
Fonte: BRECHT, Bertolt. Estudos Sobre Teatro. Trad.: Fiama Pais Brandão. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
* E-mail enviado para o e-grupo Teatro de Rua no Brasil em 21/04/11
Adailtom Alves

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