Por LINO ROCCA
Passados alguns dias após a nossa maravilhosa Mostra de Teatro de Rua, organizada pela Trupe Olho na Rua, fica a sensação que um Brasil vivo não sucumbiu à normalidade das coisas.
Idéias, discussões, visões e posicinamentos foram o que tivemos durante esses dias fantásticos de convivência teatral.
Escrevo essas palavras pensando no dia de encerramento e no arrebatamento causado na coletividade presente e indagações surgem a todo instante. O que aconteceu? Como o fluxo de energia fluiu de forma tão consistente? O que se, pois em marcha nesse dia "mentes conscientes" ou "mentes libertas"?
As três apresentações consecutivas que ocorreram primeiro com trabalho de palhaços do Circo Teatro Rosa dos Ventos com sua força cômica, logo em seguida o Cortejo ditirâmbico "politicus"da Cia Antropofágica e apresentação do que poderíamos chamar de Tragédia urbana do "Homem Cavalo e Sociedade Anônima" da Cia Estável nos levaram há um caminho duplo percorrido quase simultaneamente entre a "catarse coletiva" e "consciência política".
Fico pensando de como uma ação tem um poder tão avassalador e me lembro sempre das palavras de Boal que parafraseio aqui: "a consciência livre é mais poderosas do que mil bombas".
Daí, aos poucos, vou me aproximando do nascedouro do nosso Teatro Ocidental com os suas Grandes Dionisias que aglutinavam toda uma coletividade para irem ao Théaton, " lugar onde se vai ver", durante dias, o dia todo para assistirem e se sentirem refletidos nas comédias, dramas satíricos e tragédias ali postas, proporcionando a esta coletividade uma Liturgia que em grego significa, "trabalho público", ou seja, uma ação comum à todos.
È a partir daí, que busco uma ligação com ocorrido em Santos à força do universo lúdico como potencia libertadora de consciência e do processo de alienação.
Lúkács, no meu entender, em alguns dos seus textos sobre a produção Estética Marxista se utiliza do termo "particular" para determinar o sujeito histórico, creio que neste dia em Santos utilizando o mesmo termo, pudemos evidenciar o que chamaria de uma "particularização desalienada" onde o particular se tornou coletivo e o coletivo se tornou particular.
Tomando a percepção do outro como princípio de libertação da consciência presumo que ao nos identificarmos com a comunidade local, casebres, malditos e esquecidos pelo mundo capitalista, o fetiche "mercadoria" que marcar os nossos corpos se desmanchou inteiramente.
Creio que quando entramos no "jogo lúdico dos palhaços", adentramos no "ditirambo politucus" e experimentamos a tragédia urbana de ser um "homem cavalo", nos colocamos como consciências livres no sentido coletivo da existência, e, nos igualamos diante da indignação de um sistema balizado pela exploração do homem pelo homem.
Penso e relembro ecoando, ainda, potente no meu ser os risos livres de corpos libertos, os ditirambos contemporâneos que nos levaram a cantar as mazelas da opressão juntamente com marchinhas de carnaval e sátiras musicais do nosso Teatro de Revista. A Internacional Socialista aos brados retumbantes dilacerava a mixórdia situação de Pinheirinho. A população marginalizada sentada nas arquibancadas assistindo um pedaço da sua realidade. MAGIA!!
Enfim, uma Liturgia de Libertação tomou as ruas de Santos através de nós, artistas do mundo, redimensionando o nosso sentido estético com a nossa ação política.
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