Por Antônio Sobreira
O pressuposto desse texto é que qualquer política pública estatal é sinônimo de dependência e escolha por uma autonomia discutível.
Não existe autonomia plena para os que se remetem ao público e ao coletivo. Dependemos de suas respostas, de seus dinheiros e de suas acolhas. Ser um intelectual ou artista autônomo é algo que não existe, pois atuamos por eles e eles que nutrem em alteridade sobre os passos que devemos seguir.
ProaCs, Rounets, editais de cultura e fomentos diversos feitos por governos ou Estado nos atrelará sempre ao Estado, mesmo se nossos trabalhos sejam anti-estatais.
O conceito de arte pública não foge desse pressuposto de ser alicerçado na política estatal. A maneira mais purificada, pudica e higiênica para se sentir devidamente reconhecido é que os recursos que chegam às mãos dos artistas sejam os da classe trabalhadora.
O conceito de arte pública está atrelado ambiguamente aos espaços públicos e à concessão dos governos à nossa atuação. Não se quer dizer com isso que não devamos infernizar os governos e Estado com demandas por verbas. Também é de certo modo cego aceitar que quando 90% de nossa renda vir do Estado, não somos autônomos.
A arte pública nos exige formalização, tal qual qualquer benevolência eufêmica do Estado. Se fosse possível escolher, a única dependência que deveríamos desenvolver é a do público. Como nossos trabalhos os tocam e como eles podem nos financiar a fazer algo que os alimentam a uma mudança deles e de nós mesmos.
Do ponto de vista de liberdade e arte pública, a conservadora política pública denominada Vale Cultura, se liberado o direito do trabalhador oferecer seus créditos a grupos e movimentos culturais autônomos, seria um modo mais honesto conosco do que vivermos de políticas de editais.
Se o trabalhador pudesse dispor de seus recursos e tivesse nitidez para direcionar seus créditos, isso seria mais nobre do que depender de editais públicos.
A parte frágil da argumentação de arte pública está no fato da dependência do Estado. Em ambos os caminhos, somente uma coisa nos salvaria de ser colaboracionistas com o Estado. Esta coisa é entender que estamos num processo histórico que deve funcionar pensando que os trabalhadores nos reconheçam e apostem em nossa tentativa de viver dentro do Estado, sem ser o Estado.
Nós temos muitas frentes. Algumas mais transformadoras positivas do que outras. Cada grupo de artistas faz o que está ao seu alcance e possibilidades. Em uma análise histórica não há espaço para revoluções ou mudanças sociais radicais e positivas. Vivemos tempos de revoluções conservadoras.
Nosso papel não é o de reforçar conservadorismo de esquerda ou de direita. Embora mais urgente do que nunca seja uma afetação geral contra a injustiça social, por enquanto, só podemos servir de tempero à insatisfação dos trabalhadores.
Não somos, nem parece correto nos colocar na ponta de lança de uma mudança de valores! Fazemos o que é possível sem invalidar esforços alheios aos nossos, dos quais concordamos.
O Pombas Urbanas nos contou que ao meio de insegurança sobre a comunidade aprovar ou não o trabalho deles pediram que num dia de um cortejo as pessoas que concordavam com eles que estirassem uma pano ou tecido branco em suas janelas. Eles se surpreenderam com a quantidade de casas que embora nunca os tivessem vistos nos projetos, estavam com suas manifestações singelas expostas em suas casas.
A meta plausível que está a frente das possibilidades de alguns grupos é bem menor que essa! De outros grupos é muito mais ampla que isso! E todos esses caminhos devem ser respeitados.
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