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domingo, 20 de abril de 2014

O Carnaval Depois do Carnaval

Foi o melhor titulo que pude encontrar para falar da maratona que fizemos entre as praças, nos preparando para o grande momento na Cinelândia, quando estaremos ofertando para a cidade todo o trabalho que desenvolvemos nestes três meses.
Em quatro dias seqüenciais, os grupos curadores do Projeto Arte Pública se encontraram e visitaram as praças onde o evento tomou corpo e força e proporcionou aos quatro grupos intensificarem mais seus laços em harmonia e trabalho. Podemos disse que montamos uma partitura carnavalesca, dividindo os dias em alas, que passaram pela grande passarela pública que denominamos de Cidade Maravilhosa, para fechar e coroar o projeto em uma grande Apoteose.

Dia 09 de Abril, Ala Saens Peña:

O Abre Alas da nossa passagem, Praça Saens Peña. O anfitrião, a galera do Boa Praça, que nos recebeu com grande brado e ansiedade. A bucólica tarde tijucana abriu com sol a passagem dos artistas de rua neste dia. Começamos com um grande cortejo que circundou a fonte, indo em direção ao ponto da nossa roda. O primeiro grupo a abrir a gira foi a Cia Mystérios e Novidades, com os seus atores nas alturas. Tambores no alto e as baianas dançando em sincronia nas pernas de pau. Depois foi a vez do Tá Na Rua, poetizando a praça com seus atores pulando e dançando com o público. Para a praça, onde a geração veterana era grande, ofertamos a história do Ébrio, obra do cantor e compositor Vicente Celestino, que estava presente nos lábios destes jovens seiscentistas. Depois encaminhamos o público para á frente da pequena lona do Boa Praça onde o Off Sina se apresentou presenteando o público com uma pequena grande amostra do Circo de uma Nota Sol, onde até as moedas cantam. O dia foi caindo e nós nos despedimos da Praça Saens Peña. Como disse André, um dos curadores e responsáveis pela praça: "É só o começo de uma grande celebração para a cidade."

Dia 10 de Abril, Ala Praça Tiradentes:

Segunda ala do nosso carnaval depois do carnaval. O anfitrião do dia, o Grupo Tá Na Rua. Definida a dramaturgia, começamos com o cortejo que deu alô para está histórica praça por onde grandes artistas puseram seus pés e cantaram em nas suas salas de espetáculos. Abrimos caminho homenageando Chiquinha Gonzaga e cantando "O Abre Alas que Eu Quero Passar, Sou da Lira não posso negar, sou Arte Pública, não posso negar". Circundamos toda a praça, convidando o povo para nos acompanhar. Ao entrar no meio, fomos recepcionados pelo Mestre Amir Haddad que discursava para a cidade, afirmando que "Nós somos as forças desarmadas da cidade. Somos proposta, não somos protesto!"

O primeiro a abrir a gira do dia foi o Grupo Off Sina. O Casal Banda Café Pequeno e Currupita tocavam no meio da praça e convidavam os espectadores a se encaminharem para seu pequeno circo, onde o picadeiro público estava montado. E o casal começou, brincou, cantou e dançou. Currupita tocou uma linda sinfonia de sinos com a música "Asa Branca" de Luis Gonzaga. Após o Off Sina, o Boa Praça deu sua graça para a praça.  Xodó anunciava enquanto Será o Binidito? se preparava. O isqueiro do Gilmar, morador de rua, desapareceu e apareceu nas mãos do mágico André Garcia. Logo após, distante foi chegando a Cia Mystérios e Novidades, tocando e anunciando que a "Lá Vem a Barca Trazendo o Povo" em suas pernas de pau. Os atores dançavam e declamavam poesia. Edmilson Santini, de pé no chão, recitava seu cordel anunciando que "A Arte Pública, peste anunciada, já era realidade sacramentada e comprovada." Caminhando para o final da ala da Tiradentes, a Mystérios e Novidades soltou seus bichos e homenageou a Arca de Noé do Tá Na Rua. Amir fechou a gira, falando com a população que os artistas de rua são a possibilidade para um novo mundo. "Forças Desarmadas". Cantando "Boa Noite Amor", nos despedimos saudando o Rio de Janeiro.


Dia 11 de Abril, Ala Largo do Machado:

Anfitrião do dia, Grupo Off Sina. Os curadores do largo do machado contam a história da praça, manifestada nos corpos dos artistas presentes. Depois, como não poderia deixar de acontecer, fizemos o nosso cortejo da ala, contornando o lindo chafariz que jorrava seus jatos de água e onde os raios do sol transformavam pingos em pingentes coloridos. Foi com alegria que festejamos o Largo do Machado, praça das flores, praça dos pipoqueiros e balões coloridos. Seguindo a dramaturgia da ala, a Cia Mystérios e Novidades abre a roda. Roda bonita, roda boa, roda quente. Roda abençoada por Yemanjá, rainha e orixá do mar. Depois entra o Tá Na Rua, dançante, brincante. Fé na beleza encantadora de Oxum, humor presente na praça, com os pobres na Praia de Ramos arrancando risos e o desfile de moda do morro arrancando aplausos. Em uma cidade abatida por um ataque de nervos, o número da "Valsinha", de Chico Buarque, mostra como a cidade pode ser diferente. Terminando a gira, Richard Riguetti, "apresesuntador" da ala anuncia que a família Boa Praça vai entrar no picadeiro do Circo Pinico Sem Tampa do Off Sina. E eles entram, com alegria. Janaína Michalski declama com harmonia sua poesia que é um lindo tratado sobre a Arte Pública e a importância dos artistas de rua. Está fecha o dia com Amir mais uma vez conversando com a população e afirmando que nós somos "Uma proposta para a cidade, não somos um protesto. Somos as forças desarmadas do Rio de Janeiro, uma possibilidade para a cidade em caos." Mais uma vez nos despedimos da  população e da cidade cantando juntos "Boa Noite Amor, Meu Grande Amor"


Dia 12 de Abril, Ala da Praça da Harmonia:

Ultima mas não derradeira ala. Grupo Anfitrião Cia Mystérios e Novidades. A barca da Harmonia saiu em cortejo da sede do grupo em direção a praça. Chegamos circundando o coreto e levantando poeira. A gira começou ao som da Fanfarrada e seu som dos mares do caribe, com muito mambo e muita caliência. A praça toda parecia com as feiras da Idade Média, com os comerciantes vendendo seus produtos e os artistas ofertando sua arte. O Off Sina foi o primeiro da gira dos curadores a se apresentar, saudando os mestres da antiga arte da palhaçaria Treme Treme e Currupita. O coração no alto do circo Pinico Sem Tampa descreve a emoção desta arte milenar. Depois o Boa Praça, com a geração que vem por ai, muito presente em Pedro Coelho e suas gags de iniciante e já veterano do palco público. Depois o Tá Na Rua, homenageando a Cidade Mulher, poesia pura de Noel Rosa e terminando o dia, a Naveloca dos navegantes da Cia Mystérios e Novidades.

Foram estas as alas que abriram caminho para a apoteose no dia 24 de Abril, na Praça Cinelândia. Apoteose essa que não é a finalização de um desfile, mas a continuação do movimento Arte Pública que não vai parar, assim como SOS artistas públicos que continuaram a fazer o que sempre fizerem antes do projeto e que continuaram fazendo após o projeto, levando harmonia para os espaços abertos da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Ogunhê axé namaster evoê. 


Herculano Dias

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