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quinta-feira, 17 de abril de 2014

Arte pública em contraposição à repressão do mercado

Adailtom Alves Teixeira[1]
            Estive recentemente na cidade de Londrina/PR, onde ocorreu o XIV Encontro da Rede Brasileira de Teatro de Rua, com fazedores de teatro de 15 estados. Além de debates, foi realizada uma mostra com os artistas da cidade. De lá, fui para Vitória/ES, acompanhar o Curta Cena na Rua, realizado pelo Folgazões Cia. de Artes Cênicas. Na cidade do Rio de Janeiro, vem ocorrendo desde fevereiro desse ano, uma ação nominada de Arte Pública – Uma Política em Construção, realizada por quatro coletivos em parceria com a prefeitura. São eles: Boa Praça, Cia. Mystérios e Novidades, Off-Sina e Tá Na Rua. Além de apresentações de artistas e grupos de diversas linguagens vem sendo realizado encontros semanais para discutir a arte pública na cidade.
            As artes públicas, que pode ser definida de forma sucinta como aquela que está acessível a todos em um espaço público e que faz do transeunte um espectador de arte, tem crescido muito no Brasil. O teatro de rua, em específico, é uma das manifestações que mais crescem em todo o País. Logo, cada uma dessas ações, vem tentando sensibilizar os cidadãos e humanizar as cidades, que tem se tornado cada vez mais agressivas, sobretudo, quando elas próprias entram na lógica capitalista, deixando de serem lugares de convívio para reforçar apenas o viés de mercado e de escoamento de mercadorias. A cidade, ela própria, vem se tornando cada vez mais uma mercadoria. Nessa lógica, de cidade-mercadoria, se inserem os grandes eventos que a transforma em um espaço para tudo, menos para os cidadãos que nelas residem.
A maneira de entender essa lógica perversa se deu recentemente na cidade de São Paulo com o Decreto 54.948 de 20 de março de 2014. Faz tempo que os artistas em São Paulo têm enfrentado problemas para disporem sua arte gratuitamente para os cidadãos. Depois de muita perseguição, apreensão de material ou instrumentos musicais, por conta da Operação Delegada – ainda no Governo Kassab – os artistas se uniram e realizam alguns atos públicos para reivindicarem seu espaço na sociedade. Com muita luta conseguiram um Decreto que veio facilitar o trabalho, mas não se contentaram e conseguiram criar junto à Câmara uma Lei pluripartidária para que pudessem exercer seus ofícios, trata-se da Lei nº 15.776/13. Mas, a mesma gestão em que conseguiram tal proeza recuou e desferiu um tremendo golpe traiçoeiro. O Decreto que regulamenta a supracitada Lei inviabiliza por completo as apresentações, deixando livre para apresentações apenas as nuvens e o cemitério. É a morte das artes de rua.
Existe uma luta em diversas cidades para que se tenham leis que regulamentem o uso dos espaços públicos e para que as autoridades não enquadrem os artistas como marginais. A cidade de Londrina/PR é uma delas; Porto Alegre aprovou recentemente uma lei, esperamos e desejamos que sua regulamentação não tenha a mesma lógica perversa que São Paulo. No Congresso também tramita um Projeto de Lei para regulamentar o uso dos espaços públicos abertos. Importante frisar que todas as leis nada mais são do que um dispositivo para garantir o que já é assegurado na Constituição Brasileira em 5º Artigo: o direito a livre expressão e direito de ir e vir. Seria cômico se não fosse trágico.
Muitos são os artistas e coletivos que vem se reunindo e lutando junto ao Poder Público no intuito de barrar esses absurdos em todo o País. Quando a cidade torna-se mercadoria é preciso disputá-la todo o tempo. Disputá-la para que ela venha servir aos interesses dos cidadãos e não aos interesses escusos do capital.

Escrito para o Jornal Brasil de Fato



[1] Mestre em Artes, graduado em História; Ator e diretor teatral.

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