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quinta-feira, 17 de abril de 2014

Aqui, a psicologia é outra!

Disse o mais instigante revolucionário da Vila Mara. O senhor negro não parava de gritar: é revolução! Ele tomou conta da praça durante a apresentação do Oigalê e, mesmo longe, contribuiu com o Baile dos Anastácio. Na cena, surge um fiscal, meio animal-policial urrando pelos cantos. Cara feia! Malvado, todo encasacado. E não é que ele assustou! O senhor negro revolucionário não calou, mas falou baixo: AQUI, A PSICOLOGIA É OUTRA. O senhor não gostou daquela presença. Era, de fato, ameaçadora. Mas tinha razão. E como tinha! Esse poder armado não nos representa! A psicologia é outra. É mais livre, menos sacana. É mais nós, menos tu. É mais sóis.

Esse texto segue assim meio falado. Um bate papo. Participar da VIII Mostra de Teatro São Miguel Paulista foi, de fato, deslumbrante. Eu reencontrei o começo. Retornei ao lugar onde comecei a fazer teatro. Lá mesmo, na Praça do Casarão, ao lado da Estação Vila Mara. Na época (2010), fui participar da Mostra Lino Rojas com o Grupo de Teatro Popular Vem Cá Vem Vê. Nossa! Foi a maior e melhor vergonha da minha vida. Obrigado, Alexandre Menezes, por ter me agregado, por ter compartilhado essa alegria. Depois, em 2014, volto ao mesmo lugar com o Grupo Cafuringa. Mais uma alegria. Mistura de encontro e despedida.

Minha passagem por São Miguel Paulista foi muito importante. Pisei, em São Paulo, no bairro mais nordestino. Conversei com meus conterrâneos. Lembro agora de um senhor natural de Carpina/PE. Ele ficou imensamente grato por ter conhecido Joãozinho (boneco feito por Mestre Saúba) e, tomado pela felicidade, nos presenteou com cinco cervejas super-geladas. Evoé! Por sinal, a tarde do dia 12 de abril foi muito OXENTE! O Grupo Garajal levou o Ceará e o maracatu mais lindo do Brasil.
        
         E a rua? Sempre generosa. Costumo dizer que é a minha melhor professora. A apresentação de Cafuringa foi bacana. Dessa vez, tivemos a honra e de receber o grande cantor Ernesto Tururu. Sucesso absoluto em toda América Latina, ele, o grande sedutor dos pampas, fez uma incrível (óóóóóóóóó) apresentação. De repente, ele surge numa árvore e salta do galho mais alto para cair dentro de um minúsculo copo. Em seguida, se dirige ao microfone e, assediado pelo público eufórico, canta a música Yo quiero mim atrepar num pie de côco. Olhe, tirando o exagero, foi quase isso.

Bicho, o Buraco arrasou. Os laranjinhas fizeram ótimo trabalho. Destaco a hospedagem dos grupos. Escolher um local onde todos possam brincar, comer, dormir e acordar juntos... poxa, é muito saudável. Não precisa nem reservar salas de hotel para criar rodas de diálogo. Não. Todos já estavam em permanente diálogo, trocando experiências e desfrutando da harmonia. O sítio, lá na Serra da Cantareira, foi uma excelente escolha. Que o diga as manhãs de sol, as noites de sinuca e os dias de cachaça. Com direito a churrasco gaúcho embalado pela eufórica torcida argentina. Pronto, é isso. Menos hotel e mais sítio.

Penso que a primeira década do século XXI, proporcionou aos grupos de Teatro de Rua uma maior interação. Vários são os festivais, inúmeras são as mostras e encontros de grupos e/ou movimentos espalhados por todo o Brasil. Essa circulação é muito gostosa, sobretudo, quando os amigos/parceiros trocam convites e fazem desses encontros uma grande festa, uma celebração. Essa agitação é vital. AGITAÇÃO. Gosto dessa palavra.

O crime não está em agitar, mas em permanecer imóvel. Uma sociedade que não se agita é como um charco, suas instituições se estagnam e apodrecem. Inútil, portanto, é tentar reprimir a agitação, envolvendo-a nas malhas do libelo acusatório. Tudo passa sobre a face da terra e debaixo das estrelas, os impérios, as tiranias, os carrascos. Mas a agitação nunca passará. Nem que haja a consumação dos séculos de que falam os profetas bíblicos. É que ela, a agitação, se nutre de uma paixão. A paixão da verdade. (Francisco Julião, Cambão.)

Enfim... ficam algumas palavras para ilustrar a imensidão do encontro. Beijo e abraço em todos, em especial, aos meus amigos cafuringas. O remédio da saudade é sorrir!


Vitória de Santo Antão, abril de 2014.

Pablo Dantas.

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