Antes de
começar a escrever fiquei pensando como definir o almanaque comemorativo de 25
anos do Grupo Off Sina. Me dei conta que não dá para definir em uma palavra,
mas em duas que se confundem e se interagem no mesmo significado e importância
para a história dos artistas de rua e do Teatro e Circo no seu todo:
Ancestralidade e Linguagem.
Partindo da
ultima, o que lemos é a síntese do começo de uma pesquisa e uma necessidade:
necessidade de praticar o que mais se ama, nesse caso, a arte, com todos os
seus percalços e seus questionamentos. Questões levam a curiosidade e a
curiosidade faz brotar a necessidade de se aprofundar na arte que exercemos. Quanto
mais perguntas e mais inquietações, nasce á linguagem. Assim é o retrato deste
almanaque que complementa o primeiro, onde o inicio desta linguagem nasceu da
inquietação e da procura de novas possibilidades. Assim o estudo do seu
ofício proporcionou ao Off Sina
encontrar uma linguagem própria, baseando sua caminhada na descoberta do circo
teatro e se esgueirando pela ancestralidade do palhaço. O cuidado com essa
linguagem é narrada com carinho nas páginas que descrevem o nascimento de um
espetáculo, no caso o Tremelicando, desde a concepção dos artefatos musicais
construídos e do entendimento dessa arte através do contato com o casal de
palhaços Treme Treme e Currupita. É busca, é proposta e é resgate da memória
que não está escrita, mas que é presente. Ai entra a ancestralidade no modo
representar, “tão antigo e tão
contemporâneo – Amir Haddad”, pois é a perpetuação da memória dos antigos
bufões, mambembes e circenses, que nasceram antes de nós e que serão depois de
nós. O palhaço de rua, o circense e os atores de rua já existiam antes mesmo da
Grécia. Nascemos com a necessidade de se manifestar e daí em diante não mais paramos. Somos antes do Egito ou das antigas
civilizações e continuamos após elas. Da idade do ouro até os dias de hoje,
saltando junto com a natureza. E é isso que encontramos neste almanaque, um
passeio entre passado e presente, referências da herança que recebemos pelos
que antes trilharam estes caminhos, gastando suas solas de sapatos.
Poderia ser
uma revista, poderia ser um livreto, mas a escolha de ser almanaque é mais do
que acertada. Almanaque na sua origem árabe representa a memória registrada em
matérias, informações, fotos, humor e brincadeiras. O almanaque é não é uma
invenção moderna, mas é de tradição antiga milenar e ancestral. O resultado não
poderia ser outro e cumpre sua função. De maneira leve, simples e direta é
fermento para contribuir com a nossa memória pública ancestral. Parabéns OFF
Sina. Mais 25 anos de puro prazer.
Herculano Dias.
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