Como escrevi anteriormente, no Acre levantaríamos a
proposta da cidade do Rio de Janeiro sediar um dos próximos encontros da RBTR,
precisamente no espaço do Hotel da Loucura, no Engenho de Dentro
ACRE
No Acre, articuladores
se reuniram para o XIII Encontro da RBTR. O Encontro não aconteceu na cidade de
Rio Branco, capital do estado, o que posso dizer que foi muito bom, pois nos
encontramos na no Espaço Cultural que estava sendo inaugurado, na Zona Rural,
espaço da Área Viva, que estava aos cuidados do Grupo Vivarte (grupo
responsável pela produção do encontro), longe do centro urbano e perto dos
moradores rurais, descendentes dos antigos seringueiros da região. Não dormimos
em quartos, acampamos e nos separamos em grupos para preparar café, almoço e
jantar. Não vou colocar enfeites, dizer que tudo foi perfeito. No local mesmo
havia problemas em relação á estrutura, do local não estar completamente
pronto. Mas depois de um tempo passado, fazendo uma analise mais afastada, digo
que não poderia ter sido diferente. Primeiro que não é fácil fazer produção
desde porte, devidos aos entraves burocráticos das políticas culturais e das
dificuldades que os agentes culturais da região norte sofrem devido ao
pensamento reinante dos órgãos de cultura local e pelas próprias dificuldades
sociais que os moradores da região sofrem.
As
dificuldades nos ajudam a pensar e nos colocar em sintonia com as
possibilidades que podemos criar. Foi assim neste encontro, dentro da mata, em
contato com a terra, onde tivemos as reuniões, as apresentações de grupos de
teatro de rua dentro da mata, onde o céu de noite virava um manto costurado com
estrelas, convivendo, trocando
experiência e participando dos rituais celebrados pelos indígenas da Tribo
Hunikuin, do Rio Envira. Ali, no meu entender, começa a ficar evidente como
conjugar diálogos, celebração e apresentação nos encontros, de entender mais
ainda quem nós somos e como nós somos, pensamentos e questionamentos que já
sondavam o Encontro em Brasília. Por isso ressalto a importância do encontro do
Acre, como foi e aonde foi realizado. Não posso deixar de parabenizar o Grupo
Vivarte pelo esforço de realizar o evento, assim como não posso de deixar de
homenagear o Núcleo Pavanelli que tinha chegado um mês antes e contribuiu
solidariamente para a realização do encontro.
Atores
públicos que publicamente se ajudam. E
ali, cercado pelas árvores, dentro do circulo construído para os nossos rituais
e assembléias, firmamos que os próximos encontros da RBTR na seqüência seriam
Londrina, e, proposta levantada e defendida por articuladores da Rede, Rio de
Janeiro, na Zona Norte da cidade, Hotel da Loucura, Engenho de Dentro.
SEU ANTÔNIO
De poucas
falas e marcado pelos anos de trabalho na região. Seu Antônio é proprietário de
uma pequena casinha, dentro da Área Viva, construída com seu suor e onde
durante mais e trinta anos viveu com sua esposa que “hoje tá juntinho de deus
Nosso senhor”. Seu Antônio começou na
labuta cedo, com oito anos já ajudava a família trabalhando no seringal.
Simples, humilde e solidário, pois não teve nenhuma dúvida em ceder a energia
da sua casa para que pudesse ter eletricidade no circulo onde as reuniões,
celebrações e apresentações aconteceriam.
“Luz por aqui é ainda novidade, pois passei mais da metade dos meus anos andando
no escuro das trilhas, com ajuda de lampião ou com a luz da lua” – me
confidência.
Praticamente,
quase todo dia teve um espetáculo no encontro do Acre, e Seu Antônio esteve
presente em todas as apresentações, impecável, na sua melhor roupa de festa.
Miúdo em tamanho, chegava no seu passinho calmo, sentava nas cadeiras de
troncos e junto com seus vizinhos que pareciam brotar de dentro da floresta,
apreciava cada momento das peças.
No ultimo
dia de apresentação, sentado ao meu lado, observando os atores trabalharem com
o mesmo olhar calmo e curioso do primeiro trabalho apresentado, escuto sua voz
serena emitir a seguinte frase: “Como é bunito o teatro...”
Opinião de
um cidadão, cidadão publico, cidadão da floresta, cidadão do mundo...
Haux Haux
Herculano Dias
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