Adailtom Alves Teixeira[1]
Criado em 2003 na cidade de
Sorocaba/SP, o Grupo Teatral Nativos Terra Rasgada singrou o Brasil para
participar do I Festival Matias de Teatro de Rua, realizado pela Cia. Visse
Versa de Rio Branco/AC. O Festival convidou grupos das cinco regiões do Brasil
e o Nativos apresentou seu novo espetáculo Rua
Sem Saída nos dias 14 e 16 de julho de 2015. A primeira apresentação se deu
no Centro da Juventude do Recanto dos Buritis e a segunda no Novo Mercado
Velho. As pessoas da comunidade e do centro histórico puderam fruir uma
pesquisa de, pelo menos, dois anos sobre a organização das cidades.
O espetáculo faz uma alegoria sobre o
cemitério/cidade, onde o que está em jogo é a sociedade: o poder dos
mandatários perpetuados politicamente e auxiliados por instituições religiosas,
escolares, que convencem e pacificam; quando o convencimento não resolve entra
em cena a coerção, a força impera para manter o status quo.
Se na comunidade apresentada houve muitos
olhares curiosos, porém acompanhada à distância, no centro a imensa roda de
pessoas irmanou a todos e todas nos aspectos discutidos em cena. Muitos são os
achados do grupo em suas alegorias e metáforas, como a comparação entre túmulos
e apartamentos, a justiça natimorta, bem como as questões lançadas sobre o “por
quê temos que pagar para acreditar em Deus” ou por que o túmulo do preconceito continua
vazio.
Em tempos de muita publicidade acerca
da ideia da pátria educadora, a educação, que habita um dos túmulos
cenográficos (mas não apenas), é uma aposta de mudança, de uma possível virada.
No entanto, não há ingenuidades, os artistas do Nativos sabem que a saída não
pode ser a educação que temos hoje. Sandra Buh, uma das produtoras do festival
e professora na rede pública estadual do Acre e que está em greve por melhores
condições de trabalho resumiu o sentimento dos demais educadores ao ver o
espetáculo: “É isso! É por isso que estamos lutando.” Ou seja, se a educação
pode ser a mudança, ela própria precisa ser modificada. E essa é a aposta do
espetáculo Rua Sem Saída.
A personagem do ex-escravo, também
morto, mas perpetuado em comunidades como a que foi apresentada o espetáculo,
obedece ao Barão, mas descobre a parceria e a possibilidade de mudança via
educação. Enquanto a transformação social não vem, resta-lhe a astúcia que todo
popular conhece bem, seja para sobreviver, seja para debochar do poder. Em
cena, o escravo que é sempre tratado aos berros, prepara o mate do seu senhor,
o barão, mas antes acrescenta-lhe mijo à cuia.
Acompanho a trajetória do Nativos
Terra Rasgada a alguns anos e fica patente o seu crescimento, a sua pesquisa. É
certo que o espetáculo ainda vai crescer bastante, pois falta em alguns
momentos mais jogos entre os atores e com o público, como tudo é recente, em
alguns momentos ainda estão presos ao texto. Outro ponto que deve ser lembrado
é que fica a sensação de dois finais, o rock como discurso do grupo e a tomada
do cemitério pelos mendigos (populares). Entretanto, nada disso prejudica a
beleza e força de Rua Sem Saída.
Importante registrar a direção de Flávio Melo e a dramaturgia de João Bid, bem
como a igualdade do time de atores: Bruna Santini, João Pereira Mendes Junior, Juliana
Prestes, Rodrigo Zaneti, Samir Jaime, Stefany Cristiny Moreiral Melo, Tom
Ravazoli e Vitor Henrique da Silva. Por fim, o crescimento musical demonstra a
seriedade com que tem trabalhado estes artistas sorocabanos.
[1]
Professor da Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Rondônia; mestre
em Artes pelo Instituto de Artes da UNESP; ator e diretor teatral.
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