Adailtom Alves Teixeira[1]
Aristóteles afirmava que “o homem é único animal que ri” e
Millôr Fernandes complementava: “e é rindo que mostra o animal que é”. Os
integrantes do grupo Dona Zefinha, de Itapipoca/CE são herdeiros de uma
tradição milenar que, ao longo da história fez reis, rainhas, burgueses e,
principalmente, os populares rirem. São representantes dos bobos, menestréis,
arlequinos e palhaços. Artistas que dominam a palavra, o corpo, a voz e tocam
diversos instrumentos musicais.
Trata-se de um grupo familiar que foi criado ainda na década
de 1990 e leva o nome da mulher que cuidou na infância dos três irmãos Ângelo
Márcio, Orlângelo Leal e Paulo Orlando. A trupe mantém em repertório diversos
espetáculos, administram um espaço cultural na cidade de Itapipoca/CE e
auxiliam na realização do Festival de Inhamuns/CE. Além do trio, fazem parte
dos espetáculos apresentados a atriz Joélia Braga e o músico Samuel Furtado.
Dona Zefinha participou da oitava edição do Amazônia Encena
na Rua, uma criação do Imaginário e, hoje, realizado pelo Sesc. O grupo brindou
o público com dois espetáculos: O circo
sem teto da lona furada dos bufões, um musical infantil, mas que agrada a
todas as idades; e O casamento de Tabarim,
farsa medieval adaptada por Orlângelo Leal que mistura versos de cordel, música
e outras obras teatrais.
As apresentações ocorreram nos dias 25 e 26 de julho na Praça
das Três Caixas d`Água na cidade de Porto Velho/RO. O público, se não foi o
maior é certo que foi um dos maiores durante a programação e ninguém arredou
pé, pois o domínio dos menestréis é enorme, tanto cênico, como na relação
direta com o público. Os artistas fazem da praça sua sala de estar. Prova disso
foram os comentários do público: “são ótimos”! “que diabo mais esquisito” e
continuavam a gargalhar.
No espetáculo Tabarim,
a chave cômica gira em torno da esperteza, da malandragem desse personagem
arquetípico, que busca nos golpes, em sua astúcia a possibilidade de uma vida
menos dura, com pouco trabalho. Daí a ideia de casar com uma mulher rica, mas
nem sempre as coisas ocorrem conforme o desejo, já que tem que enfrentar
Méfisto, que virá buscar a alma da amada. Misto de Briguela e Arlequino, Tabarim
se safa dos problemas que provoca e até daqueles que não buscou para si.
Já o Circo sem teto...
rende homenagem aos circos populares, sobretudo os pequenos circos, nos quais
os palhaços são fundamentais. Cabe destacar que as criações musicais são
riquíssimas, muito bem arranjadas e executadas. Fica evidente que o manancial da
cultura popular brasileira é fonte inspiradora, mas também espaço de construção
do repertório do grupo, aliado ao estudo e ao rigor técnico, presente nos dois
espetáculos apresentados no Amazônia Encena na Rua. Que esses artistas
continuem a provocar o riso e a inspirar outros arteiros mundo a fora.
Fotos: Agenda Porto Velho
[1]
Professor da Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Rondônia; mestre
em Artes pelo Instituto de Artes da UNESP; ator e diretor teatral.
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