Cecília Lauritzen J. Campos[1]
Desde 1996 o grupo "Mamulengo
sem fronteiras" (DF) desenvolve seu trabalho, cujo surgimento se deu a
partir da convivência com o mamulengueiro e mestre Chico Simões - Mamulengo
Presepada. Coordenado pelo brincante Walter Cedro, o grupo pesquisa e dá vida a
uma das importantes manifestações populares brasileiras, o Mamulengo. O
espetáculo "Exemplos de Bastião" apresentado na noite de 23 de julho
de 2015 na praça das três caixas d'Água em Porto Velho - Rondônia, fez parte da
programação que integrava o VIII Festival Amazônia Encena na Rua.
A peça conta as aventuras de Bastião
em busca de conquistar o amor de Rosinha do Bole Bole e a permissão de seu pai,
Capitão João Redondo, para selar um compromisso. Na companhia de sua burrinha
Relâmpago, Bastião enfrenta situações adversas, combatendo monstros e bichos,
mas sobretudo, deixando explícito em seus atos sua honestidade e valentia.
O espetáculo que havia antecedido a
apresentação do Mamulengo havia deixado boa parte do público, em especial o
infantil, em estado de euforia. A disposição das três arquibancadas instaladas
pela organização do festival dificultou, em certa medida, uma parcela do
público que não conseguiu espaço com visibilidade no chão da praça para
assistir ao espetáculo. No entanto, em poucos minutos de espetáculo havia se
instaurado um ambiente novo, que diferia da euforia proposta pelo momento
anterior, e que atravessava as possíveis dificuldades de visualização das cenas.
Este ambiente instaurado passou a
estabelecer relações que engajaram o público na conjuntura dos universos que
ali coexistiam, do lado direito o universo de Bastião e do lado esquerdo o
universo dos músicos-tocadores-brincantes-atuadores. Nesse sentido, o
espetáculo apresenta com maestria o elemento musical para além da sua função de
ambientação, incluindo-o como elemento dramatúrgico intrínseco à narrativa.
Diante do clima proposto pelas cenas
em "Exemplos de Bastião", aquilo que se fez mais presente em termos
de reverberação, foi a sua capacidade de convidar e engajar o público, chegando
a provocar em uma parcela do público adulto o rompimento com determinadas formas convencionadas de
participação e comportamento. Além da
maestria da visualidade e da musicalidade com que o espetáculo foi
levado, Bastião e seus companheiros de história deixaram exemplos que
contagiaram aquele ambiente, deixando
para o segundo plano as implicações da disposição espacial.
[1] Cursou em 2013 o Mestrado em Artes Cênicas pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atualmente está no Doutorado em
Teatro da Universidade do Estado de Santa Catarina. Participa do Coletivo Mapas
e Hipertextos, investigando as áreas da dança, do teatro e da performance em
suas possíveis relações.
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