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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Intromissões entre olhares dispersos

Cecília Lauritzen J. Campos[1]

Em um fim de tarde, finalizando o VIII Festival Amazônia Encena na Rua, a Cia. Strondum (MG) compartilhou com o público das quadras que envolviam a praça das três caixas d’água seu espetáculo Intro-missão. A companhia atua desde 2003 em Uberlândia, pesquisando a linguagem da dança em suas relações com outras áreas como filosofia e artes visuais, traço da multiplicidade que compõe, igualmente, seus sete integrantes.

O espetáculo se realizou de modo itinerante, realizando um percurso pelos arredores da praça que havia sido o local de início e divulgação. Utilizando-se de bombas, fogos de artifício, ternos, máscaras, um carro de supermercado e muita agilidade, os performers dançavam pelas ruas e calçadas, interrompendo e intrometendo-se no fluxo de carros e pedestres, mesmo que tranquilo, daquele domingo à tarde.

As cenas ou quadros aconteciam formados por duplas e trios espalhados ocupando diversos planos de visão, permitindo inclusive que o público se observasse observando. Ao cruzar uma praça maior – constituída de uma atrativa feira que vendia comidas e artesanatos típicos – o espetáculo viu-se disperso pela dispersão dos próprios espectadores. Uma interrupção para o tacacá, que bem salgado fez retomar o olhar, agora adormecido pelo jambú para a próxima quadra que vinha.

Praticamente na suposta reta final do percurso, uma carreata religiosa atravessa o espetáculo com suas buzinas e som alto, compondo o cenário transgressor que ocupava a rua vagarosa de domingo. O espetáculo induz uma volta ao ponto inicial, a dispersão dessa vez é maior, todos acreditaram que era o fim. Minutos depois, já distraídos pelas próximas atrações que se anunciavam, ouve-se/vê-se vestígios de fogos numa rua próxima. A impossibilidade do todo se concretiza e fica a dúvida: quando termina?




[1] Cursou em 2013 o Mestrado em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atualmente está no Doutorado em Teatro da Universidade do Estado de Santa Catarina. Participa do Coletivo Mapas e Hipertextos, investigando as áreas da dança, do teatro e da performance em suas possíveis relações.

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